EA Sports WRC – Review

Em se tratando de jogos de Rally, minha jornada começa em 2000, entrando na série de jogos Colin McRae Rally. Colin McRae foi um renomado piloto escocês, cinco vezes campeão mundial no Reino Unido e tinha um estilo único de condução, sempre veloz e preciso. Sua parceria no mundo dos jogos começou em 1998. McRae acabou falecendo em 2007, após um acidente de helicóptero, deixando um legado não só no mundo real e também para os jogos e fãs de Rally.

Os jogos Colin McRae Rally implementaram inovações no mercado de games, adicionando jogabilidade inédita para a época, gráficos até então evoluídos e a experiência com a famosa imersão, adicionando  uma série de jogadores que perduram até hoje. Essa evolução e história estão associadas Codemasters, com 25 anos assumindo o posto de referência no desenvolvimento do estilo de corrida. A adrenalina da corrida off-road, com terrenos diversificados, diversas condições climáticas e o desafio da velocidade sempre atraíram minha atenção. Jogos de Fórmula 1 até então eram limitados, sempre seguindo padrões de jogabilidade e pistas.

O mesmo diria dos jogos da NASCAR. Jogos de Rally, sempre estiveram associados aos controles precisos, a sensação do movimento e das manobras, o sistema de física até então avançado, dentro das limitações de desenvolvimento para a época, tudo isso sempre exigiu um nível de estratégia do jogador. Chegando em 2023, temos o resultado de uma evolução de mais de 20 anos de processos diversos de desenvolvimento com EA Sports WRC, agora utilizando todo potencial do Unreal Engine, implementando etapas maiores de Rally com rotas muito mais longas, 200 no total em 17 locais do WRC, sempre com réplicas reais das estradas.

Os mais de 70 veículos apresentam um sistema híbrido, compatível com o esporte na vida real, exigindo que jogadores ajuste o comportamento e o equilíbrio do veículo em cada estágio, com decisões que englobam utilizar potência demais que drenará a bateria mais rápido ou adotar uma abordagem mais controlada, evitando altas velocidades. Cada decisão afeta o processo e desempenho na corrida de uma forma nunca observada antes. O sistema de manuseio dinâmico, realmente proporciona uma experiência autêntica, com a sensação em asfalto, aerodinâmica e frenagem muito mais realistas.

Jogos de Rally, com o passar do tempo, tornaram-se ainda mais desafiadores. Verdadeiros simuladores de corrida, exigindo um alto nível de jogabilidade e coordenação por parte do jogador. EA Sports WRC não foge desse nível de exigência, porém, a acessibilidade, mesmo ainda desafiadora, é sentida. Se você quer apenas experimentar uma corrida de Rally sem grandes preocupações ou utilizando o máximo de ajustes necessários para vencer, a opção é sua. Porém, obviamente, seu nível de performance e vitórias será bem maior com a dedicação e ajustes, sejam dos veículos e até mesmo de sua equipe.

Para tal, o jogo libera uma série de ferramentas personalizadas , proporcionando experiência de condução de acordo com seu nível de habilidade. São ajustes finos que ajudam e muito nos desafios e pistas dos mais diferentes terrenos, com o controle de frenagem antibloqueio , controle de ação e muito mais. Outra adição de acessibilidade, é a forma como a descrição do percurso é elaborada, evitando uma linguagem complexa utilizada no Rally, para termos mais simples que seu copiloto dita durante a corrida.

Cada carro se comporta de maneira diferente, com mecânicas e físicas únicas, como exemplo, os carros do Rally e Rally 1 apresentando tração nas quatro rodas. Além disso, os climas diferentes produzem desafios diversificados, com corridas na primavera, verão, outono ou inverno. Pistas repletas de neve ou em momentos de chuva são complexas, o carro literalmente sai da pista com frequência, principalmente nas curvas e aceleração em retas associados a curvas fechadas.

A visibilidade em uma pista a noite com chuva, com a visão dentro do veículo é bem ruim, aumentando ainda mais a tensão do jogador. Em diversos momentos me vi com o corpo inclinado para frente, tentando “enxergar” o que estava adiante. A transição entre a visão de câmera ajuda na melhor abordagem para cada jogador. Sempre preferi a visão atrás do veículo, porém, notei que EA Sports WRC funciona melhor com a visão interna do veículo.

O áudio realiza um trabalho de imersão espetacular, com cada barulho do motor, marcha, colisão incríveis. Os copilotos também atuam como verdadeiros guias, com a direção pausada e clara entre as rotas. No entanto, sem uma dublagem em PT-BR , alguns jogadores terão dificuldade em lidar com as instruções e o jogo de forma geral. São muitos e muitos itens para leitura, ajustes, instruções, instruções em áudio, tudo em inglês.

EA Sports WRC disponibiliza uma série de modos: Career (Carreira), Championship (Campeonato), Momentos (disputas icônicas do passado e presente), Clubs (Clubs) , Quick Play (Partida rápida), Time Trial (Modo contra o tempo), Rally School (modo treinamento), Builder (projeto de carros) e Customisation (Modo de customização).

No modo carreira, o que mais gostei, criamos nossa própria equipe, competindo nos 3 níveis existentes WRC Júnior, WRC E WRC 2. O sistema de progressão é bem longo e profundo, passando por diversas temporadas, gerenciando nossa equipe e tomando algumas decisões importantes para nosso progresso. O nível Júnior é o mais recomendado para iniciantes, com o WRC 2 exigindo um nível de habilidade mais elevado. Neste modo, contamos com patrocinadores, que ficarão satisfeitos ao participar de eventos históricos e demais situações propostas. Como consequência, subimos de hierarquia, no entretanto, manter o orçamento dentro do controle é fundamental, até mesmo para o corte e administração de sua equipe.

Outro que é destaque é o “Moments”, contendo eventos recentes e nostálgicos para os fãs de Rally, com atualizações frequentes. É uma das melhores adições do jogo, permitindo uma experiência única dentro de momentos memoráveis na história do WRC.

O sistema de personalização engloba desde nosso piloto ao carro, com a seleção de motor, peças e mecânicas, com peças desbloqueadas durante o modo carreira do jogo. O resultado final (no meu caso) pode ser um tanto quanto duvidoso, mas o tempo permite que jogadores entendam melhor o processo de construção e personalização. Dentro do modo carreira também temos um processo de tomada de decisões e personalização que devem ser executados com equilíbrio.

O jogador, por exemplo, precisa executar uma tarefa por semana do calendário proposto. Da mesma forma, existe a necessidade de recrutar membros para sua equipe, optar pela aquisição de um veículo já pronto (o que requer bastante dinheiro) e lidar com seus engenheiros. O orçamento é generoso para a aquisição do veículo, porém, os danos frequentes nos veículos podem dar “dor de cabeça”. Os modos partida rápida e campeonato são os mais “acessíveis” para aqueles que não querem esquentar a cabeça com diversos elementos de personalização. No modo campeonato, encontramos um seguimento mais simples, com eventos que consistem em quatro corridas, englobando consertos rápidos do carro na garagem.

No quesito desempenho, EA Sports WRC  exige velocidade e concentração, com alguns problemas visuais que soavam bem estranhos durante a gameplay e desviavam minha atenção. O primeiro deles, era dentro das cutscenes antes da corrida, com tremedeiras visuais, problemas nos personagens fora do veículo, situações visuais inconsistentes. Segundo, quedas de frames que já havia observado no desempenho de Dirty Rally 2.0. Detalhes de ambientação como texturas de folhas, itens, parecem problemáticos, além de notáveis problemas nos modos noturnos e com chuva. Os carros, apesar de apresentarem visuais detalhados, não garantem a evolução de destaque que esperaria. Possuem sistema de reflexão e iluminação, com interiores e seus detalhes, soando “um retorno ao passado” e não o primor visual que esperaria ao jogar no PS5. São diversos problemas pontuais que provavelmente serão corrigidos com patchs futuros (assim espero).

EA Sports WRC é uma belíssima homenagem a história da WRC, complementa-se com um sistema de corridas e personalizações amplos, modos diversificados, mantendo a experiência envolta em novidades e em contínuo progresso para o jogador. Implementações gráficas necessárias estão ausentes, algo que esperava em um título para atual geração de consoles. A falta de uma tradução certamente afastará jogadores ou limitará aqueles que necessitam da leitura e compreensão das diversas propostas de mecânicas e seguimentos de administração de equipes e simulares. Não é tão impressionante quanto deveria ser, mantendo a experiência em “território conhecido”.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Eletronic Arts.