Não, leitor, você não está enganado. Você está realmente lendo uma nova análise de Burnout Paradise, mais de três anos depois do jogo ter sido lançado. Isso levanta algumas perguntas: por que a demora para analisá-lo, e por que fazer essa análise agora? A resposta para a primeira é um tanto sem graça: não há motivo para essa demora. A análise foi sempre "deixada pra depois", e chegamos onde estamos hoje. A resposta para a segunda pergunta é mais interessante: mesmo três anos depois, Burnout Paradise ainda se firma como um dos melhores jogos de corrida de todos os tempos, e como um dos melhores jogos da geração como um todo. É injusto que um jogo tão excelente não tenha uma análise apropriada no Playstation 3 Brasil.
Para quem não o conhece, Burnout Paradise (BP) foi lançado exatamente dia 22 de janeiro de 2008 e foi o primeiro jogo da cultuada série para o Playstation 3. Alterando a fórmula consagrada nos jogos anteriores de Playstation 2, BP trouxe um mundo aberto para ser explorado livremente. O jogo se passa na fictícia Paradise City, uma cidade de tamanho considerável e com um design fantástico (mais sobre isso depois). Vários eventos estão espalhados pela cidade, sempre em cruzamentos com semáforos, mas inicialmente não aparecem no mapa. Você deve explorar a cidade para achar os eventos e então iniciá-los. É um sistema que estimula muito a exploração e permite que você conheça bem a cidade e veja quão bem feita ela é.
O design de Paradise City é bem variado, tendo desde uma praia (ótima para manobras e saltos impossíveis), passando por uma densa região central, com tráfego intenso, até uma região montanhosa com longas e largas rodovias ótimas para acelerar seu carro ao máximo. Todas as ruas da cidade têm nomes próprios, mostrando o nível de detalhe que a Criterion Games, desenvolvedora do jogo, imprimiu nele. Todas as ruas podem ser "dominadas" de duas formas: cada uma tem um tempo pré-estabelecido para ser percorrida do começo ao fim, e você pode bater esse tempo em todas elas e compará-lo aos de seus amigos da PSN.
As ruas também podem ser dominadas usando o Showtime, a câmera cinematográfica de batidas que é uma das características da série. Você pode ativar o Showtime em qualquer rua, a qualquer momento, e então tentar bater o recorde daquela rua. Ao contrário dos jogos anteriores da série, nos quais você batia uma vez e observava as consequências, aqui o objetivo é ir destruindo tudo pela frente, enquanto conseguir avançar, usando o botão de "boost" para dar saltos com seu carro progressivamente destruído, batendo em tudo que encontrar. É um sistema divertido e totalmente opcional no jogo, o que mostra que o foco de BP realmente é correr, e não bater.
Falando em bater, cada batida do jogo é uma ocasião especial e espetacular. Quando se bate, o jogo ativa câmeras cinematográficas, que mostram em câmera lenta o seu carro sendo destruído e suas partes voando para todos os lados. É de encher os olhos. Os gráficos do jogo são muito bons, mesmo tantos anos após seu lançamento, mostrando construções e carros bem modelados e com superfícies reflexivas.
Explorar a cidade em busca de eventos também permite que você descubra outros segredos de Paradise City. Há algumas áreas "secretas", que ficam fora das ruas e rodovias e que foram feitas especialmente para você se divertir. A Quarry é uma área com rampas altas que permitem saltos monumentais; o Airfield é um campo de aviação abandonado que permite que você literalmente voe pelo cenário, e ainda há uma área de terra onde é possível fazer ralis com seus amigos.
Também há itens "colecionáveis" em Paradise City. Há dezenas de outdoors espalhados pela cidade, e você pode atravessar e destruir cada um deles. A maioria deles está em lugares óbvios, mas alguns são realmente difíceis de serem alcançados e você deve explorar muito as redondezas e utilizar de toda a sua habilidade para chegar neles. Também há várias centenas de portões amarelos espalhados pelo jogo, que indicam caminhos secretos ou atalhos para corridas, e também há uma dezena de estacionamentos que podem ser "escalados". Cada um deles tem várias rampas no topo, e elas permitem que você dê saltos épicos, com direito a câmera lenta e ângulos variados. Cada um desses itens colecionáveis é registrado em seu perfil, então para os completistas, BP é bastante longevo.
Você pode correr livremente pela cidade, mas o objetivo principal do jogo é completar os desafios. Você inicia o jogo com uma licença (como uma carteira de habilitação) de iniciante, e a cada evento completado, vai ganhando pontos para avançar para a próxima licença. Os eventos incluem corridas, nas quais há somente um ponto de origem e um de destino: você pode fazer o caminho que quiser pela cidade, mas o jogo te recomenda um caminho ideal e indica durante a corrida em quais ruas virar para seguí-lo; eventos de stunt, o melhor de todos na opinião do autor: você deve percorrer a cidade realizando manobras em rampas e derrapando, mantendo a barra de boost cheia. Há um limite de tempo, mas mesmo após seu fim você pode continuar se realizar manobras em lugares diferentes e mantendo o boost cheio. Por fim, há os eventos de força bruta, Road Rage e Marked Man, nos quais você deve destruir oponentes em um certo limite de tempo, ou sobreviver em um caminho enquanto outros tentam destruir você.
Ao ganhar eventos e novas licenças você é premiado com novos carros, que vão diretamente para a sua garagem ou que devem ser conquistados na força bruta. Esses carros são colocados na cidade e aparecem aleatoriamente perto de você, e ao encontrá-los você deve bater neles até que eles sejam completamente destruídos, e assim eles serão seus. É uma forma estimulante de ganhar novos bólidos e oferece uma sensação maior de satisfação saber que você ganhou eles na raça.
Há dezenas e dezenas de carros no jogo, cada um único e especial para determinadas situações. Os carros são divididos em três tipos, e o principal variante entre eles é o boost: os de stunt são carros especialmente feitos para fazer manobras como saltar, girar no ar (o famigerado barrel roll) e assim por diante. O boost desses carros pode ser usado a qualquer momento, e é recarregado ao realizar alguma manobra. Os carros de velocidade são os mais rápidos do jogo, e seu boost só pode ser usado quando completamente cheio e é recarregado ao dirigir na contra-mão das ruas. Por fim, os carros de força são os maiores e mais pesados do jogo. São lentos e difíceis de controlar, mas é muito difícil bater em um, tirá-lo da pista ou destruí-lo. Seu boost é recarregado ao bater nos outros e destruí-los.
Paradise não seria o que é hoje sem os conteúdos adicionais (DLCs) que o jogo recebeu ao longo de sua existência. No início, quando foi lançado, BP era um bom jogo, mas que tinha algumas falhas incômodas, como não permitir que um evento fosse reiniciado imediatamente caso fosse perdido: você deveria voltar ao lugar onde o iniciou para começar tudo de novo. Em corridas que percorriam a cidade isso era desgastante. O jogo também não tinha variação de tempo, era sempre a mesma hora do dia. Alguns outros bugs também atrapalhavam a jogatina, fazendo com que BP fosse recebido de forma "morna" pela crítica e pelo público.
O comprometimento da Criterion fez isso mudar. Ela liberou diversas atualizações gratuitas para o jogo, não somente para corrigir falhas mas também para adicionar (muito) conteúdo. Inicialmente não havia suporte a troféus no jogo, mas eles foram adicionados em pouco tempo. Eventos agora poderiam ser reiniciados com poucos cliques do direcional digital. O jogo recebeu um sistema de ciclos de dia e noite altamente customizável, e com um modelo de iluminação excelente, fazendo com que a experiência de jogar de dia e de noite realmente fosse diferente. Novos carros foram adicionados, novos eventos online também, e passou a ser possível usar custom soundtracks, ou seja, você poderia ouvir as músicas do HD de seu videogame no jogo. Falando em músicas, a seleção musical de Paradise é fenomenal, com músicas dos mais variados gêneros, de Guns and Roses tocando a música homônia à cidade, passando por Avril Lavigne (!) e indo até Adam and the Ants, ícone dos anos 80. Todas as músicas encaixam perfeitamente no jogo, e dirigir ao som delas é muito prazeroso.
A maior adição, contudo, veio com a inclusão de motos ao jogo. Inicialmente foram disponibilizadas duas, e outras duas podiam ser conquistadas. Elas mudam radicalmente a forma de jogar BP: os controles são diferentes dos carros, você consegue sentir que elas são mais leves e ágeis. Elas aceleram muito rápido e chegam a velocidades incríveis, e dirigir com elas pela auto-estrada I-88 ou pelas trilhas nas montanhas é um prazer único. Elas podem ser empinadas à vontade, e ao contrário dos carros, que não possuem motoristas, um motociclista a controla. Você pode escolher um homem ou uma mulher para pilotar sua moto, e cada um deles, além das próprias motos, possuem dezenas de cores para serem escolhidas. As animações dos pilotos são ótimas, é possível vê-los girando a mão e mexendo o pé para "trocar de marcha" (não há câmbio manual em BP, todos os carros são automáticos) ou olhando por cima dos ombros, para trás, procurando os adversários. As motos mudam totalmente a forma de jogar BP, e mudam pra melhor: é quase um jogo novo, com dezenas de eventos específicos para motos, além de uma licença própria.
Como se não bastasse a quantidade maciça de conteúdo adicional gratuito, BP também recebeu diversas adições pagas para aqueles dispostos a gastar mais uns trocados com o jogo. Carros especiais foram lançados, alguns deles especiais e temáticos, imitando o carro de Caça-Fantasmas ou o DeLorean de De Volta Para o Futuro (esse, inclusive, possui uma característica única: com um aperto de um botão ele passa a flutuar, tal qual o do filme, e você pode literalmente voar pela cidade deixando uma trilha de fogo). Versões miniaturas de alguns dos carros (e de uma moto) também foram criadas. Eventos novos também foram lançados, como o Cops and Robbers, uma espécie de captura de bandeira online.
Mas o melhor ainda estava por vir: uma área nova, Big Surf Island, foi adicionada ao jogo, conectando-se ao mapa normal por meio de uma imensa ponte na região da praia. Essa área é gigantesca e possui muitos eventos novos, outdoors e portões amarelos próprios para serem descobertos, sem contar uma licença específica. Alguns dos carros especiais lançados, como a versão miniatura do DeLorean, vieram com esse DLC, fazendo dela uma compra quase obrigatória para os fãs do jogo. A ilha é ideal para quem gosta de saltar e fazer manobras, e possui diversos prédios que podem ser escalados e saltados. É diversão praticamente ilimitada.
Jogar Paradise sozinho por si só já é excelente, mas jogar online é ainda melhor. BP possui um dos melhores sistemas online de todos os jogos. Você consegue achar jogos sempre de forma fácil e rápida, e sem entrar em nenhum menu do jogo. Através do direcional digital se acessa o Easy Drive, um menu que aparece no canto e não bloqueia nada do jogo, e nele se pode conectar quase que instantaneamente a outros jogadores. Há centenas de desafios online, para 2 a 8 pessoas, como realizar manobras em lugares específicos ou ir do ponto A ao ponto B em certo tempo. O autor, em todo o seu tempo de jogo, nunca teve problemas para encontrar outros jogadores e nunca enfrentou lag, mesmo com outras 7 pessoas participando da mesma "sala".
Como se não bastasse ter conteúdo para uma vida toda, BP foi acompanhado durante muito tempo por um ótimo podcast em vídeo da Criterion, chamado Crash TV. Nele os produtores do jogo davam dicas sobre ele, mostravam as novidades que estavam por vir, discutiam sugestões dos fãs e criavam esquetes engraçadas, no típico humor inglês. Era bem divertido e acrescentava bastante à experiência e ao valor do jogo.
Burnout Paradise é um jogo espetacular. É difícil listar falhas nele após as correções liberadas por updates ao longo de sua existência. Caso essa análise fosse feita no lançamento do jogo, a nota seria reduzida, sem dúvidas, mas hoje ela é mais do que merecida. Ao que se propõe, Paradise é um jogo fenomenal e é discutivelmente o melhor da categoria. Ele não tenta competir com simuladores como Gran Turismo ou Forza: ele é quase um jogo de aventura sobre rodas, que não se leva a sério e cuja principal proposta é divertir o jogador com velocidades insanas e manobras impossíveis. Ele cumpre isso com maestria, e por isso é recomendado como um dos jogos obrigatórios dessa geração.
Hoje em dia ele pode ser comprado (fisicamente ou através da PS Store) na versão Ultimate, que contém o jogo e todos os DLCs, por um preço módico (menos de 30 dólares), facilitando ainda mais a sua decisão de comprá-lo, caso ainda não o tenha feito até o final dessa análise. Acredite: Paradise é sensacional, e você deve jogá-lo. Caso os elogios não bastem, saiba que com todos os DLCs o jogo oferece nada menos que 98 troféus para serem obtidos, então para vocês, caçadores, ele é um prato mais do que cheio. Burnout Paradise é uma refeição completa.