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Análise – YIIK: A Postmodern RPG

Ainda lembro como se fosse ontem: um amontoado de pessoas olhando para o relógio ansiando que marcasse meia noite. Algumas vozes festejavam à distância enquanto outras demonstravam preocupação sobre como ficariam as finanças no dia seguinte. Havia até quem propagasse rumores sobre um possível fim do mundo. A transição para o século 21 não apenas marcou o fim de uma das melhores décadas já vividas pelo homem, mas também representou o fim de uma era moldada pela dificuldade de comunicação entre as pessoas. O que YIIK tem haver com isso? Absolutamente tudo.

Desenvolvido pela Ackk Studios, YIIK (sua devida pronúncia é “why two kay”) é um jogo de RPG 3D  baseado em turnos que tem como principal objetivo resgatar as boas memórias da década de 90. Seu nome é uma referência direta ao famoso bug Y2K, ou bug do milênio, ocorrido com a chegada dos anos 2000, e que afetou negativamente a economia do planeta. O título conta a história de Alex, um típico jovem nerd/hipster, que regressa à cidade de Frankton para morar com sua mãe, após finalmente se graduar na universidade em 1999.

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Apesar do feito, Alex não consegue esconder suas incertezas e frustrações em relação ao futuro e, como consequência, acaba se prendendo demais ao passado, dificultando sua capacidade em formar laços com outras pessoas. É claro que tudo muda logo após Alex testemunhar Sammy, uma garota simpática que acabou de conhecer, ser sequestrada em um elevador por estranhas criaturas através de um portal. Junto de outros cinco amigos que conheceu no ONISM, um fórum de assuntos sobrenaturais na internet, Alex embarca em uma longa e perigosa jornada repleta de acontecimentos bizarros para desvendar o misterioso desaparecimento de Sammy.

O enredo do jogo é divertido, envolvente e mantém um clima semelhante aos títulos da clássica franquia Mother, tomando como inspiração principal Earthbound, sempre alternando entre boas doses de humor e temas profundos como depressão. É completamente impossível alguém que viveu a década de 90 não ser consumido pela nostalgia enquanto joga YIIK, principalmente devido às inúmeras referências e easter eggs que fazem menção a famosas obras da cultura pop.

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Os membros da party são muito bem desenvolvidos e são ótimos representantes das diferentes tribos sociais que estavam emergindo naquela época. O grupo é composto por Michael (um fotógrafo aficionado por teorias da conspiração), Vella (uma jovem prodígio musical capaz de tocar qualquer instrumento), Claudio (um fanático otaku dono de uma loja de CDs), Rory (um garoto introvertido e pacifista) e Chondra (uma garota viciada em dançar e irmã caçula de Claudio).

Tantas personalidades contrastam de forma única e ocasionalmente levantam temas interessantes, gerando divertidas situações ao longo da experiência. Todos os diálogos presentes no game são acompanhados de voice acting, porém a atuação de certos personagens deixa muito a desejar. A campanha dura em média de 30 a 40 horas, podendo se estender através de algumas missões paralelas e infelizmente não possui dublagens ou legendas para o português do Brasil.

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Apesar de interessante, a narrativa apresenta sérios problemas em seu ritmo e, mesmo após diversas horas de gameplay, a sensação de ausência de progresso não abandona o jogador. Um dos principais agravantes para isso é a inserção de diversos diálogos demasiadamente longos, que destoam completamente da situação em questão. A maioria deles são completamente irrelevantes no contexto geral da história e a forma com que os personagens param para ter essas conversas é completamente inverossímil e superficial.

É como se os desenvolvedores de YIIK quisessem, a todo momento, forçar todo tipo de reflexão filosófica, política e metalinguística em cada linha de diálogo proferida pelos personagens. O resultado disso é uma perda total do foco na narrativa principal, que acaba ficando em segundo plano, fazendo o jogador perder pouco a pouco o interesse por ela. No fim, a história acaba caindo em diversos clichês e pode ser que muitos não gostem de sua conclusão.

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O fluxo do gameplay não é dos mais variados e sempre estaremos transitando de uma cidade para outra em busca de pistas sobre o desaparecimento de Sammy. As dungeons presentes no jogo são totalmente lineares e explorá-las enquanto realizamos seus puzzles não é uma tarefa difícil e recompensadora.

Com relação ao combate, temos à nossa disposição comandos básicos como atacar, defender, utilizar alguma habilidade, consumir itens e fugir. Cada time é composto de até 4 personagens, mas assim como em Final Fantasy X, podemos alternar entre outros membros da party, para criar uma estratégia que melhor se adeque a situação. A ordem de ataque durante os turnos, por sua vez, é definida com base na velocidade de cada personagem presente na batalha.

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É inegável que YIIK tenta se manter o mais fiel possível à antiga fórmula pré-estabelecida dos RPGs da década de 90, porém o título peca gravemente ao implementar uma grande quantidade de mini-games para realizar quaisquer ações durante o combate. Antes de atacar, usar habilidades ou até mesmo fugir, o jogador deverá realizar breves mini-games que variam com base no personagem selecionado. Seu desempenho durante esses momentos determinará se o golpe será bem sucedido ou não, e a quantidade de dano infligida nos inimigos.

Os mini-games rapidamente tornam-se repetitivos e quebram completamente a dinâmica das batalhas, aumentando e muito o seu tempo. Para piorar, ao ser atacado o jogador também deverá realizar um mini-game para tentar evitar ou reduzir o dano recebido. Assim, para um simples turno ser encerrado, com quatro personagens de cada lado, é preciso que sejam cumpridos no mínimo de 8 mini-games podendo se elevar para 20, em certas situações.

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Os grupos de inimigos são bem variados e totalmente fora do padrão, como placas de trânsito, tartarugas samurais e até mesmo lhamas douradas que abrem portais para múltiplas realidades. Infelizmente, eles não oferecem muito desafio e derrotá-los não exige nenhum tipo de estratégia complexa por parte do jogador.

Os combates são muito cansativos em função da falta de balanceamento entre a vida dos inimigos, que é desnecessariamente extensa, e o dano causado pelos membros de sua party, que é muito baixo. Mesmo com personagens em nível elevado e devidamente equipados com os melhores itens disponíveis, as batalhas tomam muito tempo para serem encerradas. A soma de tudo isso com a mecânica dos mini-games faz com que os confrontos tenham uma média de 10  a 15 minutos – isso se tratando de inimigos normais, que aparecem aleatoriamente para desafiar o jogador.

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O sistema de aumento de nível de YIIK é definitivamente um dos piores já implementados dentro de um jogo de RPG até então. Ao invés dos personagens subirem de nível automaticamente, ao acumular uma certa quantidade de experiência nos combates, como na maioria dos RPGs, YIIK vai de extremo oposto a esse conceito. Inicialmente é necessário que o jogador entre na “Mind Dungeon”, acessível somente pelos save points, um local metafísico dentro da mente do próprio Alex, que se assemelha a uma torre com vários andares.

Cada andar abriga 4 portas com números que variam de 0.5 até 2 e é aqui que tudo se complica: ao interagir com uma das portas, o jogador terá a opção de adicionar o valor daquela porta permanentemente a um atributo específico de seu status. Por exemplo, se o jogador entrar em uma porta que possui o número 1, e selecionar HP como atributo, esse último será elevado em um ponto.

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Só após interagir com todas as portas, uma a uma, ele poderá seguir para o próximo andar da torre. Para isso é necessário pagar uma taxa de 100 pontos de experiência e então todas as etapas envolvendo as portas são repetidas, até que o jogador não tenha mais experiência acumulada para avançar pela mind dungeon. É completamente desnecessário e inaceitável ter de passar por tudo isso apenas para alterar alguns status básicos de nosso personagem e o tempo gasto durante todo o processo é o suficiente para afastar qualquer fã assíduo de RPGs.

Certamente algo que logo chama atenção em YIIK é o seu belíssimo design gráfico. O game abusa de tonalidades saturadas, completamente baseadas na paleta de cores do clássico Atari, para criar ambientes retrô únicos e estonteantes. Cada cenário parece tirado diretamente das antigas capas de vinil psicodélicas e surreais da década de 80, que farão o jogador sempre parar para apreciar uma nova área descoberta. O time de desenvolvimento sem dúvidas merece uma salva de palmas por toda a sua pesquisa para retratar os anos 90 de  uma forma nunca vista antes.

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O jogo possui um acervo muito variado de músicas e efeitos sonoros desenvolvidos em 8-bits, que replicam perfeitamente a nostalgia da era NES/Master System. Infelizmente, a trilha sonora não é tão agradável e em certos momentos (como nas batalhas) consegue se tornar extremamente irritante. Apesar disso, algumas músicas ainda conseguem se destacar graças às contribuições de nomes famosos, como Toby Fox (Undertale) e Hiroki Kukuta (Secret of Mana).

Veredito

YIIK tem uma história interessante e um conceito excepcional, que talvez funcionassem melhor se o jogo fosse idealizado como uma visual novel. Infelizmente como um RPG deixa muito a desejar, uma vez que acaba se perdendo na tentativa de inovar as mecânicas dos consagrados títulos dos quais busca inspiração.

Jogo analisado com código fornecido pela Ackk Studios.

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Veredito

50

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Veredict

YIIK has an interesting story and an exceptional concept, that could’ve worked better if the game was idealized as a visual novel. Unfortunately, as an RPG, it doesn’t work so weel since it ends up losing itself in an attempt to innovate the mechanics of the classic titles from which it draws inspiration.