Final Fantasy XII: The Zodiac Age

Onze anos. Do seu lançamento original, em 2006, como um dos últimos grandes jogos do PlayStation 2 e um dos últimos grandes JRPGs do período de ouro do gênero, até o lançamento de sua remasterização agora em 2017, muitos dos padrões pelos quais jogos são julgados e o que se espera deles mudou.

É um bom sinal então que, mesmo após um conturbado período de desenvolvimento (que acabaria se tornando corriqueiro para os jogos da série), Final Fantasy XII tenha sido lançado com uma visão tão à frente do seu tempo. Fortemente influenciado pela explosão de popularidade dos MMORPGs no começo dos anos 2000, FFXII buscava fazer algo que parecia impossível naquela época: trazer para os jogos single-player a experiência de explorar um mundo vivo e vibrante que os primeiros MMOs começavam a apresentar.

 


 

Com o lançamento de Final Fantasy XII: The Zodiac Age para PlayStation 4, é fácil perceber o quanto ele é um jogo que, como poucos outros daquela geração, envelheceu muito bem. É uma quebra com as tradições mais esperadas da franquia Final Fantasy, uma verdadeira visão do que o futuro poderia trazer e que, apesar de muito criticada pelos fãs mais tradicionais na época do seu lançamento, ao longo dos anos tem tido o seu valor cada vez mais reconhecido.

Uma das primeiras sensações que se tem ao iniciar o jogo é de familiaridade. Muito disso vem do fato de FFXII se passar em Ivalice, um dos mundos mais explorados e especiais da série, mas também de, já nas primeiras horas, vermos tudo o que se espera de um jogo tradicional da série. Black e White Mages, Moogles, Chocobos, Airships, cristais… Tudo em um mundo medieval com diversos toques de magick e tecnologia.

 


 

Há uma grande contribuição nessa sensação de “aconchego” que é dado pela fantástica qualidade gráfica alcançada nesta remasterização. Se ainda dá pra perceber que se trata, obviamente, de um jogo que originalmente lançado para PS2, uma vez que não foi reconstruído como alguns remakes recentes, todas as animações, modelos, ambientes e cutscenes ganharam um acabamento de último nível, que supera alguns jogos lançados na geração passada. Contribuem ainda para essa sensação a trilha sonora, que foi toda reorquestrada, dando um charme ainda maior para uma das mais belas trilhas da franquia.

Essa sensação de conforto serve como uma ótima maneira para introduzir aos poucos as novidades e surpresas que FFXII tem. Um dos seus grandes méritos foi a introdução do sistema de Gambits, uma série de ordens que podem ser dadas aos personagens, cada uma sendo ativada quando um determinado critério é atingido, seja quem ele vai atacar ou curar e de qual maneira isso será feito.

 


 

O principal objetivo desse sistema de combate fica bem claro: dar mais agilidade às batalhas e torná-lo o mais próximo possível de um RPG de Ação, sem acabar completamente com o sistema de turnos, já que ainda existe uma barra a ser preenchida antes de realizar cada ação, e ainda dando ao jogador bastante controle sobre as ações de todos os personagens da party. E, dado o fato de que funciona à perfeição, é um pouco assombroso que o sistema de gambits não tenha sido usado novamente, já que ele é a perfeita evolução da tradicional Active Time Bar.

A união entre o sistema de gambits (e seu combate mais ativo) com o fim dos encontros aleatórios (todos os inimigos aparecem na tela, sem qualquer surpresa em momentos inoportunos) e um dos mais belos e ricos mundos já construídos pela Square-Enix torna Final Fantasy XII uma das mais impressionantes experiências de “mundo aberto” (no sentido de se estar livre para explorar e alcançar os locais como quiser, do que a atual concepção de uma área gigantesca, sem loadings) que se poderia ter naquele período.

 


 

É possível ir andando de praticamente qualquer lugar no mapa até outro, já que Ivalice inteiro é uma série de grandes áreas interconectadas e, em razão da redução enorme dos tempos de loading nessa remasterização, acaba sendo mais agradável do que em muitos outros jogos lançados no atual “boom” de jogos de mundo aberto. Outra coisa que contribui e muito para isso é o acréscimo de um modo para dobrar ou quadruplicar a velocidade do jogo (movimento e combate, não tendo qualquer efeito nos diálogos e cutscenes), que é extremamente útil e, depois de poucas horas, acaba se tornando o padrão para a exploração do mundo.

As melhorias gráficas e técnicas não são a única novidade que chegam ao Ocidente pela primeira vez com esse remaster. The Zodiac Age se refere a uma das mudanças extensivas que um jogo da série já recebeu em um relançamento e que havia se mantido exclusiva do Japão desde o lançamento de Final Fantasy XII: International Zodiac Job System, que é a total remodelação da maneira como a evolução dos personagens funciona no jogo.

 


 

Se no jogo original havia um grande tabuleiro no qual o jogador comprava as licenças que desbloqueavam as melhorias para os personagens (da capacidade de equipar determinados equipamentos, a usar habilidades e magias ou novos espaços para gambits), aqui eles passam a ser divididos em 12 diferentes jobs, mais uma tradição da série, cada qual representado por um signo do zodíaco. Essa ligação é um eco das tradições da chamada Ivalice Alliance (o conjunto dos seis jogos que se passam em Ivalice, sendo os três jogos da série Tactics, Final Fantasy XII, Revenant Wings e Vagrant Story), sendo que os summons do jogo, chamados de Espers, são os mesmos de Final Fantasy Tactics e também estão ligados aos signos.

Dos tradicionais Monk, Black Mage, White Mage, Knight e Archer, a variações de jobs clássicos como Red Battlemage, há uma especialização maior e uma responsabilidade maior nas escolhas tomadas na evolução de cada um dos seis membros da party, sendo possível escolher até dois jobs para cada um (o primeiro no começo do jogo e o segundo mais à frente). É através desse sistema também que são liberados os espers e os quickenings, ataques especiais e poderosos exclusivos de cada um dos personagens (que, apesar de liberados assim, não estão vinculados a um dos jobs).

 


 

A possibilidade de dobrar a velocidade que os personagens usam, aliás, é mais uma das novidades que eram exclusivas da versão International do jogo e que chegam agora com Zodiac Age ao resto mundo. Além disso, temos o acréscimo do Trial Mode, uma série de desafios de combate que dão ao jogador recompensas que podem ser utilizadas na campanha principal, e do Weak Mode, modo no qual os personagens não evoluem do level 01.

Mesmo com todas as qualidades que o tempo preservou e, de certa forma, até as tornou mais pronunciadas, o grande destaque de Final Fantasy XII ainda está em sua história. Tomando um pouco menos do tom apocalíptico que permeia boa parte dos jogos da série, aqui temos uma trama muito mais sóbria e política, envolvendo a guerra entre os impérios Rozarria, situado no continente mais à Oeste de Ivalice, e Archadia, situado no continente mais à Leste, lar dos principais antagonistas do jogo, e o reino preso entre eles: Dalmasca, ponto onde se desenrola a maior parte da trama e lar dos protagonistas.

 


 

O grande mérito de toda a narrativa que guia FFXII é que não há uma sensação constante de necessidade de salvar o mundo todo, mas sim de resolver o conflito central no qual os seis personagens principais estão envolvidos e, se não há porque seguir em frente para salvar o mundo, o roteiro trabalha maravilhosamente para manter o jogador compelido a descobrir os próximos passos e desenvolvimentos da trama, em especial por apresentar alguns dos mais carismáticos e interessantes personagens que a franquia já viu.

Se Vaan é um dos protagonistas mais descartáveis que se pode encontrar por aí, tudo isso é contraposto pelo quão incríveis são os outros cinco membros da party (a princesa Ashe, em busca de recuperar seu trono, o capitão Basch, e sua busca por redenção, os piratas aéreos Balthier e Fran, sempre procurando por novos tesouros, e Penelo, a amiga de infância de Vaan que torna a existência do protagonista muito mais aturável) e vários dos outros personagens que se apresentam ao longo da trama. Nenhuma motivação parece vazia e todas as ações têm peso e consequência.

 


 

No fim das contas, por mais que muitas remasterizações pareçam (e sejam) vazias ou desnecessárias, felizmente este não é o caso. Há algumas coisas para se reclamar (como a inexistência de pelo menos um theater mode de Final Fantasy XII: Revenant Wings, a sequência exclusiva para DS, ou o fato de só existir a opção de audio em inglês ou japonês e legendas apenas em inglês), mas remasterizar a versão International do jogo e todas as melhorias que ela traz, além de acrescentar outras novidades, foi uma decisão incrível e que deveria permitir que Final Fantasy XII: The Zodiac Age tome o seu devido lugar nas discussões sobre qual é o melhor jogo da franquia.
 

 

Veredito

Final Fantasy XII: The Zodiac Age é a remasterização que um dos melhores, mas menos badalados, RPGs de todos os tempos merecia. Se o seu lançamento no final do ciclo de vida do  PS2/começo da era PS3 o fez passar despercebido por muitos, essa é a oportunidade ideal para experimentar um jogo que, apesar da já mais de uma década desde o seu lançamento original, envelheceu maravilhosamente e supera, com facilidade, a grande maioria dos jogos lançados nos últimos anos.

 

Jogo analisado com cópia digital fornecida pela Square Enix.
 

Veredito

95

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Veredict

Final Fantasy XII: The Zodiac Age is a well deserved remaster of one of the best, yet most underrated, RPGs of all time. If its original release at the end of the PS2 life cycle/beginning of the PS3 era made it fly under the radar of many, this is the perfect opportunity to experience a game that, even a decade after its original release, aged incredibly well and surpass, with flying colors, many of the games released in the past few years.