O PlayStation original é o console que mais necessita de jogos refeitos. Ao longo dos anos, isso nos mostrou ser verdade com Crash Bandicoot, Spyro e até Final Fantasy VII. Mas uma série que precisava de remakes era Resident Evil. Em 2019, tivemos o remake de RE2 que, além de ser excelente, levou o prêmio de melhor jogo do ano pelo nosso site. Algo natural seria um remake de RE3 e, pouco mais de um ano depois, a Capcom nos entrega justamente isso.
Muitas vezes sou direto antes de iniciar a análise, portanto já digo de antemão que Resident Evil 3 é excelente. Porém, da mesma forma que seu antecessor, é difícil classificá-lo apenas como um remake. Em ambos os casos gosto de dizer que são reimaginações. A meu ver, remaster é o jogo idêntico ao original, porém com gráficos polidos levemente (adaptados a uma resolução maior). Remake é ainda o jogo igual ao original, mas com gráficos totalmente refeitos e mudanças sutis na jogabilidade, por exemplo (mas a história e a proposta ainda são as mesmas, por um lado). Já reimaginação é pegar a base do jogo e colocar no liquidificador. RE3 é uma reimaginação, a rigor.
Ou seja, Resident Evil 3 ainda conta com várias coisas do jogo original, como a base de seu enredo, os personagens e muitos outros elementos. Mas há diferença, como os elementos da história, a estrtutura geral do título e, é claro, o seu gameplay. Dito isso, RE3 é um jogo novo para todos os públicos: seja para aqueles que aproveitaram o original quanto os que nunca jogaram.
Resident Evil 3 segue a história de Jill Valentine. Depois dos acontecimentos na mansão do primeiro jogo, Jill está prestes a deixar Raccoon City, porém algo inesperado acontece: a cidade inteira é tomada pelo vírus. Não só isso, mas um monstro chamado Nemesis tem como objetivo eliminar os S.T.A.R.S. (unidade especial que Jill faz parte) e fará de tudo para que isso se torne realidade. Ao longo do caminho e fugindo de Nemesis, Jill encontrará Carlos, Mikhail e Nicholai – personagens que serão importantes para a história.
Em outras palavras, a base da história ainda é a mesma, mas a maneira que ela é contada e como certos elementos acontecem diferem bastante do original. Cabe a você, quando jogar, ver o que mudou. Mas já digo que o que foi apresentado me agradou. Outro ponto em relação à história é que RE3 possui legendas em português do Brasil, mas infelizmente ainda não há dublagens em nosso idioma.
O gameplay de RE3 é muito parecido com o de RE2 por motivos óbvios, mas há uma adição aqui: com R1, você pode realizar um desvio que, se for no momento certo, permite que Jill faça um contra-ataque no inimigo. Isso pode ser feito em qualquer tipo, seja um zumbi comum ou o próprio Nemesis.
Falando em Nemesis, em determinados momentos ele estará perseguindo o jogador. A mecânica é similar ao Tirano de RE2, mas Nemesis é muito mais inteligente e implacável. Conforme a história avança, Nemesis ficará cada vez mais forte. Por exemplo, no início, ele é parecido com o que você viu na demo, caso tenha jogado: apenas segue Jill e pode dar socos. Um pouco mais adiante, Nemesis já estará com a sua característica Rocket Launcher.
Em questão de novidades, RE3 apresenta basicamente esses dois elementos em seu gameplay (Nemesis e a esquiva). Você ainda salvará o jogo em máquinas de escrever, organizará os itens no baú, usará ervas para se curar, combinará itens como pólvoras para criar munição e assim por diante. Falando em munição, é algo que simplesmente não faltará aqui na dificuldade Padrão (normal): se usar de forma consciente e precisa, terá sempre de sobra para eliminar basicamente todos os zumbis que ver pelo caminho.
Outro ponto que necessita de destaque em RE3 é que você não fica explorando uma região por muito tempo. Por exemplo, boa parte da campanha de RE2 acontece na delegacia para, enfim, ir a outros locais que também exigem exploração. RE3 possui uma Raccoon City a ser explorada (como você viu na demo), assim como outros ambientes. Mas há momentos que são “passageiros” e após avançar, você não consegue retornar para o “mapa” anterior. Em RE2, mesmo quase no fim do jogo, era possível voltar para a delegacia. Não que isso seja ruim em RE3, mas a exploração é forçada indiretamente ao jogador porque você nunca sabe quando poderá andar por essa área novamente.
Além de Jill, Resident Evil 3 possui Carlos jogável em determinados momentos da história. Não é algo forçado, apesar de parecer: jogar com Carlos é algo natural e funciona como um segundo personagem de verdade. O que quero dizer com isso é que você terá que encontrar munição, aprimoramentos das armas, aumentar o espaço do inventário e coisas do gênero para Carlos. Não é algo simples e direto, você realmente joga um tempo considerável com ele e precisa se equipar conforme.
Resident Evil 3 é um jogo relativamente curto. A campanha, em nossa primeira vez e jogando na dificuldade Padrão, levou 5h para ser finalizada pelo tempo cronometrado pelo próprio game. No entanto, em tempo “real” (por ter carregado saves e explorado bastante as áreas), levou algo em torno de 7 a 10h no máximo. Dito isso, novamente, não é uma campanha longa, mas não dá para dizer que é pequena.
O que aumenta bastante o seu replay é que, ao terminar o jogo pela primeira vez, uma espécie de loja é destravada. Essa loja vende diversos itens que podem ser usados nas próximas vezes que rejogar a campanha. Para obter o “dinheiro” para comprá-los, é preciso completar determinadas conquistas in-game. Essa loja é uma jogada genial que faz você querer rejogar a campanha para destravar tudo que conseguir. E mesmo se você não for daqueles que gosta de jogar em dificuldades altas, muitas coisas não são atreladas a elas – podem ser feitas no mais fácil.
Como os outros títulos da RE Engine, Resident Evil 3 possui gráficos incrivelmente belos. Mas há algo que merece destaque aqui: os efeitos sonoros. Pisar em cacos de vidro, saber de onde vem o zumbi pelo som e até mesmo escutar o barulho característico dos Mr. Charlie (colecionáveis que estavam na demo e, é claro, estão no jogo completo) é algo fora de série. Recomendo fortemente que jogue com fone de ouvido ou, se tiver acesso, a algum som surround.
De forma geral, RE3 é excelente e recomendadíssimo. Para compensar a sua longevidade, a Capcom oferece no pacote o multiplayer RE Resistance. Não vou ser hipócrita: sinto muita falta do modo Mercenaries. Mas RE Resistance é um multiplayer interessante.
O maior problema de RE Resistance, de longe, é a sua curva de aprendizado. O tutorial leva cerca de 10 minutos e mesmo depois de terminá-lo haverá muita coisa que só aprenderá jogando.
A premissa básica de RE Resistance é que são até 5 jogadores em uma partida de 4×1. O jogador solitário é o chamado de “mastermind” que basicamente precisa eliminar os quatro sobreviventes através de armadilhas e monstros, enquanto assiste a tudo por câmeras. Os sobreviventes devem escapar do local antes que o tempo acabe.
O gameplay dos sobreviventes é o mesmo de RE2 e RE3, com a adição de que cada um dos personagens jogáveis possuem habilidades exclusivas. Por exemplo, January pode desativar as câmeras temporariamente. Enquanto isso, Valerie pode marcar no mapa as coisas importantes que precisam ser encontradas para avançar na partida.
O fluxo do jogo acontece em três áreas seguidas que devem ser avançadas pelos sobreviventes. Por exemplo, em uma área é preciso encontrar todas as peças da estátua do Raccoon. Feito isso, você pode seguir para a próxima área. O mastermind só vence a partida se o tempo esgotar, enquanto que os sobreviventes só vencem se conseguirem sair a salvo do local. Eliminar zumbis e concluir os puzzles aumenta o tempo, enquanto que matar (mas com ressurgimento) os sobreviventes diminui o tempo. Para exemplificar melhor, o cronômetro começa em 5 minutos, sendo que matar um zumbi aumenta em 10 segundos, enquanto que completar um puzzle acrescenta outros 30 segundos.
Um dos problemas de RE Resistance é entender as vantagens e desvantagens de todos os sobreviventes, pois são muitas. Outro problema são os “Umbrella Credits” obtidos nas partidas. Você encontra isso pelo mapa e, com eles, pode comprar uma arma melhor ou item que esteja precisando (uma erva, por exemplo). Se você não comprar uma arma melhor quando isso for possível, pode custar a partida, pois em um dado momento, o objetivo para os sobreviventes pode ser destruir espécies de Bionúcleos Vermelhos. Eles são bastante resistentes e, se você não está com uma arma melhor, já pode declarar vitória ao mastermind. São coisas que você aprende a lidar após algumas partidas, mas como dito, é uma curva de aprendizado relativamente longa. Isso pode afastar os menos dedicados.
Além disso tudo, temos os chamados Pontos de Resultados (PR) que são dados aos jogadores após cada partida. PR pode ser usado para obter vários tipos de pacotes de Baús que custam diferentes quantias de PR. Esses pacotes de Baús podem oferecer habilidades passivas ou opções cosméticas para serem usadas nas partidas. Vale ressaltar que PR só é ganho jogando partidas e não pode ser comprado com dinheiro real.
Porém, os impulsos de PR podem ser comprados com dinheiro real. Eles aceleram a taxa de ganho de PR para todos os participantes da partida. Se vários jogadores usarem impulsos de PR, os efeitos se acumulam. Impulsos de PR podem ser ganhos no próprio jogo ou, como dito, adquiridos com dinheiro real.
Por fim, RE Resistance contém apenas quatro mapas e seis sobreviventes. Considerando que Jill Valentine será adicionada como uma sobrevivente em breve, é esperado que a Capcom adicione mais conteúdo ao jogo no futuro.
De uma forma geral, RE Resistance não é ruim, pelo contrário – gostei de sua proposta. É um multiplayer que tenta oferecer algo diferente e que ainda seja na “vibe” de Resident Evil. Para os mais dedicados, RE Resistance pode se tornar bastante viciante ao compreender tudo que o jogo oferece. Mas para aqueles que preferem um multiplayer mais básico, com regras simples e diretas, vão se decepcionar. Mas, como prometi não ser hipócrita: trocaria fácil o Resistance por um Mercenaries – e com um multiplayer online e offline, é claro.
Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Capcom.
Veredito
Resident Evil 3 é mais um excelente título da Capcom. Apesar de ser um pouco curto, possui um desafio na medida certa e incentiva o jogador a terminá-lo mais de uma vez. A história continua interessante e o gameplay é basicamente o mesmo de Resident Evil 2 Remake com algumas melhorias (o que não é algo ruim). Os gráficos e os efeitos sonoros são incríveis. Para compensar a curta campanha single-player, a Capcom nos trouxe o multiplayer RE Resistance, que possui uma proposta interessante e é uma ótima adição ao pacote, porém sua longa curva de aprendizado pode afastar alguns jogadores.
Veredict
Resident Evil 3 is another excellent Capcom title. Despite being a little short, it is challenging and encourages the player to finish it more than once. The story remains interesting and the gameplay is basically the same as in Resident Evil 2 Remake with some improvements (which is not a bad thing). The graphics and the sound effects are incredible. To make up for the short single-player campaign, Capcom presents us with the RE Resistance multiplayer, which has an interesting proposal and is a great addition to the package, but its long learning curve can keep some players away.