O gênero clássico do survival horror sempre foi um dos meus favoritos nos videogames. O primeiro jogo que tive acesso foi o Director’s Cut de Resident Evil, alguns anos depois do lançamento, e viciei em instantes. Em tempos sem muita internet, poucos títulos com puzzles neste formato e difícil acesso a detonados tornaram um jogo que hoje fazemos em poucas horas em algo que demorei dias para terminar. Apesar de algumas pessoas já até conhecerem o estilo por outros nomes anteriores, como Alone in the Dark, é impossível negar de que este lançamento marcou a história do mundo dos games e criando toda uma tendência. Hoje o gênero já passou novamente por diversas transformações e são poucos os exemplos que seguem em um formato “câmera fixa/retrô” conforme os clássicos.
Além desse primeiro contexto, quero deixar explícito aqui que sou muito fã de Silent Hill. Demais. Daqueles que tem quadro em casa e fica se iludindo em toda conferência de que finalmente teremos algum sinal de vida da franquia além de apenas um capítulo em Dead by Daylight (será que ainda vem aí?). Ainda assim, não “passo pano” e se fazem alguma besteira aponto o dedo, como os diversos problemas que tivemos nos jogos de PS3 e também no segundo filme que não deveria nem existir de tão errado que foi, o Revelations. Estou dizendo isto pois esse não é um review apenas pontuando o que é “ode a algo que gosto” ou sendo extremamente rígido com possíveis exigências ou expectativas.
Disto isto, vamos falar de Tormented Souls, o mais recente jogo do gênero survival horror publicado pela PQube que possui oficialmente inspiração nestes clássicos citados: Resident Evil, Alone in the Dark e, principalmente, Silent Hill. Algo que me pergunto até é se o nome do jogo também foi inspirado em um dos monstros que temos em Downpour, o Tormented Soul.
A história começa quando Caroline Walker recebe uma carta contendo uma foto de duas irmãs e uma misteriosa foto atrás. Tendo uma sensação estranha, decide ir até a mansão de Winterlake para entender esse mistério, seja encontrando quem enviou a carta para ela ou então as meninas da foto. O título foi divulgado tanto para PS4 como PS5, porém no momento tivemos apenas o lançamento na nova geração, já com uma excelente localização em português (apenas legendas).
Antes de iniciar o jogo você tem uma mensagem informando que existirão cenas gore e que caso você não se sinta confortável, mas não prosseguir. Achei interessante o disclaimer pois é algo que gera desconforto em algumas pessoas. Para quem está assustado, aviso que tirando logo no começo onde você acorda nua em uma banheira e com um tubo de ventilação conectado em sua garganta e toda esta parte inicial no banheiro, nada mais foi tão impactante ou muito além do que já vimos em algum outro SH antigo. Na verdade ressalto desde já que o modo que essa cena foi feita foi extremamente desnecessário por diversos fatores. Ela é muito importante para a história, mas poderia acontecer gerando menos desconforto e sem nudez, ainda com diversos elementos de terror.
Não entrarei em mais muitos detalhes da história para não estragar a experiência de ninguém por aqui, mas posso dizer que ela é intrigante e sombria. Seguindo o formato dos clássicos, para se entender completamente tudo que acontece em Tormented Souls é preciso pegar todos os arquivos (files) espalhados pelos cenários, que vão desde prontuários de pacientes até diários de personagens importantes. As poucas cutscenes são intercaladas com conversas diretas com outras pessoas, novamente dando um ar de nostalgia para o estilo. Mesmo que em certos momentos eu já desconfiasse de algumas coisas da história, tive ainda assim umas boas surpresas e com momentos que queria aplaudir de pé.
Quanto aos gráficos, logo no começo achei que a primeira cutscene parecia que tinha uma qualidade de imagem pior que a do jogo em si, que possui uma resolução excelente para a geração atual e consegue entregar muito bem o visual sombrio e a estética desejada no título. É muito legal prestar atenção em detalhes nos cenários que nos clássicos você veria apenas borrões. Esta sensação da cutscene não se repetiu no restante do jogo, podendo ser apenas algo desta primeira cena ou corrigido no período com algum update. Joguei Tormented Souls inteiro ao vivo em nossa Twitch e os gráficos também foram muito elogiados por todos que entraram nas transmissões.
A variedade de inimigos não é tão grande assim, mas condiz com o esperado do tempo de jogo, do gênero e também com a história. Todos os inimigos de alguma forma se encaixam com os acontecimentos em Winterlake. É possível se esquivar de grande parte deles, mas em alguns casos talvez você prefira derrotá-los caso ache que vá passar diversas vezes pelo ambiente e queira evitar algum tipo de dano, afinal, não existem tantas seringas ou kits de cura espalhados. Diversas armas pode ser usadas para derrotar os inimigos, desde um pé de cabra para ataques mão a mão ou um atirador de pregos para uma distância maior. Como todo bom jogo de survival horror, em Tormented Souls também é possível habilitar uma shotgun (escopeta) durante a jogada, então não deixe de explorar bem todo o cenário.
Enquanto derrotar as criaturas e chefes acaba não sendo um grande desafio no título, principalmente por não haver a necessidade de grande economia de munição (terminei o jogo com muita munição sobrando e matei talvez 80% dos monstros), solucionar os puzzles acaba sendo a parte mais complicada em Tormented Souls. Se você acha que os jogos atuais estão com soluções fáceis, pode ter certeza que alguns desafios neste título te deixarão bem irritado. Recomendo fortemente não se aproveitar da fácil busca na internet nos dias de hoje e realmente tentar decifrar cada um dos enigmas que encontrar. Fazia tempo que não encontrava algo que sabia dosar na medida certa a complexidade sem que se tornasse algo chato de tão difícil que haviam colocado.
Falando um pouco sobre dificuldade, não existe variação nível/grau neste jogo (fácil, difícil, etc). Há apenas uma dificuldade e nenhuma outra é liberada ao finalizar uma gameplay. Também até o momento não existe nenhum tipo de unlockable como arma extra ou munição infinita. Todas as partidas são iguais. Existem troféus de terminar Tormented Souls em poucas horas, sem salvar e também sem usar qualquer item de cura e, por isso, ao contrário de alguns dos clássicos, não contarão com a ajuda desse itens extras, dando uma pequena dificuldade extra. Como o título é curto (aproximadamente 8 horas na primeira gameplay e provavelmente menos de 3 ou 4 nas próximas), mesmo que você precise jogar diversas vezes não será uma platina muito demorada, levando menos que 20 horas.
Tormented Souls quis realmente se inspirar e trazer toda a experiência da época de ouro destes jogos que se inspirou. Uma outra prova disso é também ter a opção de comandos no estilo tanque (tank control). Confesso que nunca mais usei este tipo de jogabilidade depois que conheci o modo analógico, mas lembro como fãs antigos gostam disso, então ponto muito forte para este extra. Se você já jogou qualquer outro título de survival horror clássico será impossível não perceber alguma referência, seja na jogabilidade, narrativa ou elementos gráficos. Recomendo que tire suas próprias conclusões com a demo que está disponível na PS Store.
Por muitos anos esperei um título nesse estilo que não fosse apenas uma “cópia forçada” de um clássico ou que parecesse datado ao utilizar gráficos antigos. Tormented Souls é a prova viva de que este formato ainda pode ser muito explorado antes de ser considerado obsoleto e de que é possível trazê-lo muito bem para a nova geração.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela PQube.
Veredito
Dando um belo de um aceno para o saudosismo dos clássicos do survival horror, Tormented Souls une os melhores elementos de todos eles e traz para nova geração uma experiência obrigatória para todos os fãs do gênero, seja para quem busca nostalgia ou não. Surpresa extremamente positiva e torço para que no futuro se torne uma grande franquia.
Veredict
Giving a nice nod to the nostalgia of survival horror classics, Tormented Souls brings together the best elements of all of them and brings to the new generation a must-have experience for all fans of the genre, whether those looking for nostalgia or not. An extremely positive surprise and I hope that in the future it becomes a great franchise.