Dois anos após os últimos momentos tensos da segunda temporada de The Walking Dead, que resultou em múltiplos finais diferentes, a Telltale finalmente retorna com a série, com um início incrível, cheio de reviravoltas e revelações. E já digo logo de cara: vale muito a pena!
Uma Nova Fronteira é a terceira temporada de The Walking Dead, mas também pode ser considerada um ponto de começo para novos jogadores, pois a nova aventura se passa três anos à frente. Mesmo assim, eu recomendo fortemente que sejam jogadas as outras duas temporadas, que são excelentes.
Para os jogadores que vêm acompanhando a série, a Telltale criou diversas possibilidades de você continuar sua jornada mantendo suas decisões anteriores, independente do dispositivo em que as tenha jogado (iOS, Android, PC ou consoles, tanto da nova quanto da geração anterior). Você encontra nesta notícia o passo a passo de como fazer isso.
Caso tenha curiosidade sobre o Gerador de Histórias, um meio criado pela Telltale de decidir como a história se passou nas duas temporadas anteriores, você pode conferir nosso vídeo no início da análise a partir do tempo 01:10. Já deixo claro que ele contém todos os spoilers possíveis destas temporadas.
Como mencionado, a história dá um salto temporal de três anos, aproximando-se do momento atual dos quadrinhos (geograficamente, porém, Clem e Rick se encontram bem afastados). Quatro anos se passaram desde o apocalipse zumbi e começamos a ver a humanidade em reconstrução.
A ameaça dos zumbis ainda está presente, mas começa a se mostrar controlável (o perigo maior são as hordas). É visível o decaimento físico em muitos deles, com a podridão definhando seus corpos. Apresenta-se novo início para a humanidade, com cidades e comunidades começando a se organizar. No entanto, violência, desconfiança e luta pelo poder continuam em alta.
O protagonista dessa vez não é nossa querida Clementine, mas sim, Javier García (ou Javi). A história começa com um flashback dele e sua família logo no início do apocalipse zumbi, possibilitando fazer as primeiras conexões e relacionamento entre os novos personagens. É uma abertura com um toque cinematográfico, apresentando boas doses de suspense e sequências e ângulos de câmera bem feitos.
Após a introdução, a história começa nos tempos atuais e mostra Javi e o que restou da sua família em uma vida errante. É de se espantar que eles tenham sobrevivido até então sem um local fixo, sempre em movimento. Como já é esperado, algo dá errado e Javi é separado do grupo. Depois de alguns acontecimentos tensos, ele conhece a Clementine de uma forma inusitada e parte em procura de sua família. E assim se inicia a nova aventura, em um episódio com poucos instantes de calmaria, recheado de momentos que te deixam sem fôlego.
Como nas outras temporadas de The Walking Dead, as decisões apresentadas ao jogador são urgentes e carregam um peso grande, muitas vezes sendo difíceis de serem tomadas, o que piora quando você possui um limite de tempo para escolher. Muito jogadores criticam que elas não possuem um peso nas consequências em longo prazo, mas é de se entender que esse é o caminho que a Telltale infelizmente adota: suas decisões modelam a jornada, mas o destino final é único.
Ainda no tópico sobre decisões, este episódio, assim como os das séries mais recentes da Telltale, mostra que ela tem tentado, mesmo que minimamente, trazer um pouco mais de conteúdo distinto nas consequências de suas decisões. Perto do fim do episódio você será obrigado a fazer uma escolha cujas consequências serão vistas somente no próximo episódio, mas que provavelmente irão trazer um desdobramento diferente para cada jogador, ainda que saibamos que mais à frente a história venha a convergir novamente.
Para a tristeza de muitos, a Clem tem um papel de coadjuvante na maior parte da história, mas isso não significa que ela tenha sido diminuída. Ao longo do episódio ela se mostra ainda um ponto importante para o desenvolvimento da trama, escondendo muitos segredos. Clem também está bem mais madura e com um coração endurecido, o que chegou a me espantar em muitas cenas e me influenciou a tomar certas decisões negativas controlando o Javi.
Clem ainda é jogável, porém, em partes específicas. Neste primeiro episódio, jogamos com ela em flashbacks que contam sua história nos três anos que se passaram. É aqui que entram as consequências do final da segunda temporada, mas já deixo um aviso: coloque suas expectativas bem baixas.
Dependendo do que você decidiu, o passado é moldado de forma diferente, sendo que cada um irá deixar uma sequela física distinta no corpo de Clem. Cada flashback vai pouco a pouco respondendo a algumas questões, enquanto deixa outras em aberto. Eles têm uma grande importância na história atual e trazem boas surpresas ao jogador.
Javi é um personagem consistente e que provavelmente não irá te decepcionar. A relação dele com sua família, Kate (cunhada), e Gabe e Mariana (sobrinhos) é bem construída e rapidamente você se engaja e se importa com cada um. O passado de Javi é revelado em doses homeopáticas por meio de flashbacks e escolhas de como continuar os diálogos, construindo uma boa conexão e empatia pelo jogador.
A família García recebe um grande destaque neste primeiro episódio, Laços que Unem, mostrando que esse deve ser um importante tema na temporada. Cada um tem sua personalidade e, tendo em vista que os sobrinhos são adolescentes, o relacionamento entre todos rendem muitas cenas de discussões e também um pouco de humor. Vale apontar que Gabe e Clem têm idades próximas, o que me deixa curioso se a Telltale irá explorar algo a mais entre os dois.
Uma Nova Fronteira utiliza a nova engine da Telltale, apresentada em Batman: The Telltale Series. Felizmente, ela possui uma performance relativamente melhor do que foi visto em Batman, com uma notável queda na taxa de quadros em poucas cenas. Um ponto muito positivo é a resposta quase imediata do personagem à ação do botão ou sua escolha no diálogo, dando uma cadência melhor à cena, o que contribui nos momentos de ação/tensão. Fico na esperança de que isso continue nos próximos episódios, algo que, considerando o histórico dos outros jogos da Telltale, tende a decair.
Parece até implicância minha, mas novamente minha crítica cai em cima das legendas do jogo. Dessa vez, todos os textos estão em PT-BR, porém, a tradução é medíocre em várias partes. Muitas expressões ambíguas do inglês são mal localizadas, dando um sentido (ou nenhum sentido) errado ao diálogo e ações. Isso inclusive prejudica na escolha de alguns diálogos ou decisões. Não é algo grave, mas notável o suficiente para me irritar em alguns momentos.
Veredito
Uma Nova Fronteira marca um novo início para a série de The Walking Dead da Telltale e tem um começo muito positivo. Laços que Unem é um episódio extenso, dividido em duas partes, mas que te deixa sem fôlego na maior parte do tempo com suas muitas reviravoltas e revelações. Nossa querida Clem retorna endurecida e desconfiada, com um papel mais de coadjuvante, porém, ainda de grande importância para a trama. Javi, o novo protagonista, e sua família são apresentados e bem construídos no episódio e se mostram fortes o suficiente para tocar esta nova temporada. Novos jogadores podem acompanhar a aventura a partir daqui, porém, recomendo fortemente que joguem as duas anteriores, que são excelentes.
Jogo analisado com código fornecido pela desenvolvedora.