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Tharsis

Imagine um jogo cruel, que te faria roer as unhas de tanta tensão e, na maioria das vezes, faria você morrer de raiva. Assim é Tharsis, uma mistura de estratégia em turnos e jogo de tabuleiro ambientado numa nave espacial em uma jornada rumo a Marte. Produzido e distribuído pela Choice Provisions, responsável por produções aclamadas como a série Bit.trip e o recente Laserlife, tudo aqui gira em torno de gerenciamento de riscos.

A premissa do jogo é ótima, principalmente para quem, como eu, gosta de temas relacionados à ficção científica e suspense. Justamente para garantir essa sensação de suspense, característica de viagens rumo ao desconhecido, tudo o que acontece com a nave e sua tripulação durante uma partida é aleatório. Em outras palavras, não adianta conhecer as regras e detalhes do jogo e tomar decisões baseadas nesse conhecimento, o game nos torna reféns de nossa própria sorte e isso talvez seja seu principal ponto negativo.

A jornada começa com uma pequena cena de corte como introdução, logo depois temos um tutorial que nos explica as regras e mecânicas básicas do jogo mas nem de longe nos prepara para o que está por vir (deem uma olhada no vídeo acima, onde estão filmadas minhas primeiras tentativas). No fim desse tutorial, independente do que façamos, a nave é atingida por uma chuva de meteoritos e dois integrantes da tripulação acabam morrendo. A partir daí somos abandonados nos confins do espaço sideral à mercê do desconhecido. É onde o jogo começa pra valer.

O sistema de jogo é simples e de fácil compreensão. Controlamos uma tripulação composta por quatro astronautas, cada um com uma especialização diferente, capaz de garantir alguma vantagem para os demais tripulantes. Eles estão confinados em uma nave dividida em sete módulos, cada módulo desempenhando uma função específica, como reparo da nave ou suprimento de comida. O objetivo é sobreviver a dez turnos, fazendo a nave chegar até Marte antes de ser destruída e com pelo menos um dos astronautas vivo.

Parece fácil? Acredite, não é. Nossa única certeza em Tharsis é que morreremos incontáveis vezes antes de conseguirmos atingir o objetivo. O que acontece é que a cada turno acontecem eventos aleatórios que afetam um ou mais módulos, causando dano à nave e/ou aos astronautas. Se os pontos de vida da nave (que não são muitos) chegarem a zero ou se todos os astronautas morrerem (incrível como eles são frágeis), é game over.

Esses eventos possuem uma espécie de número alvo e, para que o problema seja sanado, esse número deve ser reduzido a zero. Aí vemos a característica de jogo de tabuleiro de Tharsis. Por exemplo, uma falha no sistema de controle de vôo, capaz de causar três pontos de dano à nave a cada turno, tem um número alvo igual a 23. Enviamos um astronauta até o módulo em questão (cada astronauta pode rolar certo número de dados, que varia de um a cinco), e digamos que ele tenha quatro dados disponíveis e consiga um 3, dois 4 e um 6, totalizando 17. Subtraindo 17 de 23, podemos reduzir o número alvo para 6. Com isso, devemos decidir se enviamos outro membro da tripulação ao mesmo módulo na intenção de solucionar o problema e evitar o dano ou se lidamos com o dano e usamos os demais astronautas para resolver problemas ou realizar tarefas em outros módulos da nave. Há ainda a possibilidade de re-rolar os dados uma vez (um dos astronautas tem a habilidade de fazer isso duas vezes) caso o resultado não seja favorável, mas sempre existe a possibilidade das coisas piorarem.

Ainda existe outro porém, mais um presentinho de Tharsis para os jogadores. Cada problema traz consigo um potencial para que coisas ruins aconteçam com o astronauta destacado para resolvê-lo. Exemplo: um evento que causa dois pontos de dano à nave por turno com número alvo igual a dezoito não é nada muito assustador, exceto nos casos em que tirássemos 4, 5 ou 6, situações em que o astronauta sofreria dano ou os dados seriam destruídos. Portanto, podemos ter inúmeros eventos com potencial para destruir a nave acontecendo ao mesmo tempo e metade dos resultados possíveis traz consequências ruins. Ocasionalmente, os melhores resultados são também os mais punitivos. Ou seja, os números que podem lhe salvar são também os que podem acabar com seu jogo.

Há uma maneira de se proteger contra esses números amaldiçoados: enviar um dos astronautas ao laboratório da nave, rolar os dados e conseguir ao menos um resultado igual ou maior que cinco. Fazendo isso, você consegue uma assistência (podemos ter no máximo três). Assistências são capazes de anular uma consequência negativa resultante de uma rolagem de dados. Importante destacar que o tripulante selecionado para essa tarefa não pode ser utilizado até próximo turno. Aliás, uma vez que enviemos qualquer um dos astronautas para realizar alguma tarefa, não há como desistir e só poderemos utilizá-lo novamente no turno seguinte. É preciso pensar bem antes de tomar qualquer decisão.

Para piorar as coisas, a cada novo turno, além de ter que lidar com os novos eventos, os tripulantes perdem um dado. Se seu mecânico rolou quatro dados no turno anterior, nesse ele só rolará três. Para repor seus dados, você deve alimentar a tripulação, tarefa quase impossível nesse cenário catastrófico. Para conseguir comida, devemos enviar os astronautas a um determinado módulo e conseguir três resultados iguais nos dados. Difícil, a não ser que seus tripulantes comam a carne de outros tripulantes mortos (ou recém assassinados).

Aliás, canibalismo é uma mecânica essencial ao jogo. Não há como chegar a Marte sem lançar mão desse recurso. No início, não é possível utilizar os corpos dos tripulantes como alimento. À medida que avançamos no jogo e uma sequência interminável de problemas assola a nave, o nível de stress dos astronautas vai subindo e quando ele atinge determinado patamar, essa mecânica é liberada. Apesar de parecer chocante, comer os coleguinhas (sem trocadilhos) é bastante útil, pois com a barriga cheia teremos uma mão completa de dados no próximo turno.

A cada turno vencido, Tharsis nos apresenta um pouco mais de sua história, contando sobre a tripulação, sua missão em Marte e os acontecimentos após a catástrofe. Tudo isso é feito através de pequenas cenas de corte. A ideia se encaixa perfeitamente ao jogo, mas acaba se mostrando repetitiva. Após sucessivas derrotas, turno após turno, ficamos extremamente entediados com as mesmas histórias aparecendo na tela. Graças aos deuses existe a possibilidade de apenas pularmos estas cenas.

Como dito no primeiro parágrafo, o principal aspecto do jogo é o gerenciamento de riscos. A cada turno a nave é afetada por diversos problemas, que acontecem de forma aleatória. Além de resolver esses problemas, devemos nos preocupar com a manutenção dos pontos de vida da nave, com o número de assistências que nos protegem de jogadas indesejadas, com o suprimento de comida da tripulação e o nível de saúde de cada astronauta. Lembrando que tudo isso deve ser feito através da rolagem de dados e levando em conta que o número de dados que temos à disposição por turno é bastante escasso, obviamente se torna impossível dar conta de tudo a todo momento. Inevitavelmente iremos tentar e falhar inúmeras vezes antes de conseguirmos atingir o objetivo. Cada insucesso, porém, irá nos ensinar o que deve ou não ser feito nas variadas situações com que o jogo nos confronta. Aprenderemos gradativamente quais são as melhores decisões a serem tomadas. Ainda assim, não existe fórmula pré-definida para vencer, uma vez que a sorte é um fator primordial em Tharsis.

Daí decorre o principal ponto negativo do jogo. Enquanto o aspecto de gerenciamento de riscos proporciona um desafio extremamente recompensador, o fato do destino da missão depender em grande parte da sorte nos dados acaba por frustrar os jogadores. Veremos que em muitas situações é preferível conviver com um problema menor e cuidar de outros afazeres do que resolvê-lo e estar sujeito a um evento que pode destruir sua nave no próximo turno.

Veredito

Tharsis é cruel e extremamente desafiador. Por vezes nos sentiremos, como diz o ditado, entre a cruz e a espada. Seremos constantemente forçados a tomar decisões difíceis em meio a situações limite. A premissa de gerenciamento de riscos se encaixa perfeitamente ao ambiente em que o jogo se desenrola. O fato de nosso destino estar sempre nas mãos da sorte, por mais que conheçamos o jogo e tomemos decisões sensatas, é seu principal aspecto negativo. No fim das contas, ganhando ou perdendo, só há uma certeza: Tharsis está sempre no controle.

Jogo analisado com cópia digital fornecida pela Choice Provisions.

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