Alguns dos melhores jogos vêm de premissas simples. Em SUPERHOT, o recém-lançado jogo do SUPERHOT Team para Playstation 4, tudo parte da simples idéia de que tudo se move apenas quando você se move. Diferente da experiência visceral e intensa que define boa parte dos jogos de tiro em primeira pessoa, SUPERHOT coloca a estratégia, cadência e planejamento em primeiro lugar e o faz com um sucesso brilhante.
Não há muito o que dizer sobre história aqui. SUPERHOT brinca muito com uma narrativa metalinguística, colocando o jogador no papel de um jogador experimentando um jogo independente de PC. Quanto menos souber sobre a história, melhor, pois o jogo se utiliza muito bem dessa premissa (enriquecida pela maneira como seus menus mimetizam a estética do DOS, dentre outras características comuns dos jogos de PC dos anos 80 e começo dos anos 90), para entregar uma das experiências narrativas mais envolventes dos últimos anos. Felizmente, o jogo está em português (de Portugal, curiosamente, mas ainda assim fácil compreender), o que deve permitir que mais gente possa aproveitar sua história.
A maneira como a ideia base por trás de SUPERHOT funciona entrega bem a origem do jogo. O que nasceu como um protótipo de uma desenvolvedora independente em uma gamejam (reuniões de desenvolvedores para produzir jogos simples, como maneira de aprimorar suas habilidades e ideias), foi refinado e polido ao máximo, sendo extremamente simples de entender, mas muito difícil de dominar.
Talvez o que mais chame a atenção em SUPERHOT no começo seja a sua apresentação visual. O jogo funciona com uma paleta de cores bem simples (simples variações de vermelho, amarelo, branco e preto), o que facilita e enriquece as mecânicas que o jogo apresenta, tornando tudo muito intuitivo. Acrescente a isso o quanto o jogo brinca com velocidade e há uma constante sensação de se estar dentro de uma simulação digna das imaginadas em filmes como Matrix (o que é ainda mais enriquecido pela trilha sonora que contribui bastante para a imersão).
Tudo em SUPERHOT funciona à mercê do jogador. Do movimento e ações dos inimigos ao de projéteis e itens do cenário, tudo se move quando o jogador se move. Seja andar, atirar ou simplesmente mover a câmera, cada mínima ação do jogador precisa ser planejada para evitar fins indesejados, afinal, por mais que teoricamente o jogador possa parar e pensar eternamente cada movimento, tomar uma decisão pode fazer tudo desandar.
SUPERHOT funciona com uma sequência simples de fases que funcionam mais como puzzles do que como tradicionais fases de FPS. Em cada uma delas é necessário derrotar todos os inimigos das salas, sendo que nenhuma delas dura mais de 5, 10 minutos no total. O jogo coloca à sua disposição dezenas de opções de como derrotar os inimigos, seja com armas de fogo (com munição limitada), armas brancas ou combate corpo-a-corpo.
SUPERHOT torna cada item descartável, sendo fundamental saber o momento certo de se livrar de uma arma (quase sempre jogando-a em um dos inimigos para desarmá-los e tomar a arma deles), afinal, é praticamente impossível passar de qualquer fase com uma mesma arma (e nem sempre armas de fogo são resposta correta). Há uma constante apresentação de novas mecânicas até perto do final da campanha, mas nada parece supérfluo, realmente funcionando para enriquecer a experiência do jogador.
O jogo se apoia muito bem na ideia de erro e tentativa, forçando o jogador a experimentar diversas possibilidades para descobrir como passar de cada fase. Felizmente, os loadings duram pouquíssimos segundos e o replay automático após completar cada fase torna a experiência prazerosa e recompensadora. A curva de dificuldade do jogo nunca para de subir, aclimatando bem o jogador antes de colocá-lo em situações intensas e que o manterão constantemente na ponta dos dedos, sendo desafiador sem, em momento nenhum, fazer com que o jogador se sinta incapaz de resolver as situações que lhe são apresentadas.
Apesar da campanha curta (que, aliás, tem a duração perfeita, em momento algum se estendendo além do que deveria), concluí-la libera outros dois modos: o Endless Mode, no qual o jogo lança lança o jogador em diferentes situações para ver até onde ele consegue ir, e o Challenge Mode, uma série de desafios com determinadas limitações e que entregam um desafio ainda maior. Ambos servem para saciar a vontade de mais fases que a campanha deixa, apesar de, após algum tempo, se tornarem um pouco repetitivas, apesar de ainda funcionarem muito bem como complemento e dando mais substância ao pacote.
É difícil dizer isso, mas SUPERHOT não apresenta grandes falhas a serem apontadas. O seu combate funciona quase como um balé, sendo um prazer tanto de participar quanto de assistir. Os desafios que ele apresenta são incríveis e prazerosos de se solucionar e a simplicidade visual do jogo acaba funcionando muito a seu favor, ajudando a diferenciá-lo do mar de jogos independentes pouco criativos e repetitivos, tornando-o um dos mais merecidos destaques desse ano.
Veredito
SUPERHOT é um dos jogos mais imersivos, criativos e divertidos dos últimos anos, sabendo bem das suas forças e maximizando tudo o que se pode tirar delas. É um dos exemplos do quanto videogames podem entregar experiências únicas e inigualáveis por outras mídias.
Jogo analisado com cópia digital fornecida pela SUPERHOT Team.
Veredito
Veredict
SUPERHOT is one of the most immersive, creative and fun games made in the last few years, focusing on its strenghts and maximizing everything that it could take out of it. It’s one of the examples of how much videogames can deliver unique experiences that are unmatched by other medias.