Star Wars Jedi: Survivor – Review

Star Wars Jedi: Fallen Order conquistou sucesso por diversos motivos. Não foi o primeiro jogo com um gameplay mais moderno em que controlamos um Jedi (ou Sith/usuário da Força, que é o caso de Star Wars: The Force Unleashed). Mas foi um jogo que buscou inspirações em diferentes obras de sucesso e conseguiu criar uma identidade própria. Ou seja, o seu combate lembra um pouco os jogos Souls, o estilo remete aos Metroidvanias, sem contar a narrativa com formato similar ao da série Uncharted e assim por diante. O foco no single-player, em uma época que tudo busca ter um multiplayer, também agradou.

Quase quatro anos depois chega a sequência da jornada de Cal Kestis. E não é algo simples: trata-se de um projeto muito ambicioso, buscando trazer inúmeras novidades no gameplay e no enredo. Mas será que o passo dado foi maior que a perna?

Primeiramente, é importante ressaltar que a experiência com Star Wars Jedi: Survivor será muito melhor se você jogar o antecessor. A história acontece de forma direta e assume que você saiba tudo o que aconteceu até o momento. Há um resumo para ajudar a lembrar as coisas, mas quem não jogou, não vai entender muita coisa.

Star Wars Jedi: Survivor acontece cinco anos depois dos eventos de Fallen Order. Cal Kestis já é considerado um Jedi e ainda luta – na medida do possível – contra o Império. Em sua nova jornada, Cal fará amizades, mas também encontrará com as que fez no jogo anterior. Tudo isso enquanto tenta desvendar um mistério do passado, da época da Alta República.

Não vou mentir: a história de Star Wars Jedi: Survivor possui seus altos e baixos. O início é bem bacana, depois pode ficar interessante ou monótono dependendo do seu ponto de vista. Mas algo é inegável: as partes finais são sensacionais. Tudo o que acontece na história chega a um ápice de tirar o fôlego e espero, de verdade, que você não receba spoilers do que acontece – a experiência vale a pena.

E é claro, BD-1 continua sendo uma das coisas mais bonitinhas já criadas do universo Star Wars.

A estrutura de Star Wars Jedi: Survivor é bastante similar ao seu antecessor. Você tem acesso à Mantis (a nave) e pode visitar diferentes planetas conforme a história avança. Mas vamos ser francos: a quantidade de planetas é menor na sequência. O que compensa é que cada um deles possui uma área gigantesca a ser explorada. E quando digo gigante, é enorme de verdade. A escala de Star Wars Jedi: Survivor é algo surreal.

Há uma batalha em específico que você simplesmente perde a noção do que está acontecendo de tão épica. Não só isso, mas há momentos em que você anda tanto pelos locais e nem percebe que logo está literalmente nas nuvens do planeta.

Essa magnitude toda vem com um problema sério: a perfomance. O maior problema (de longe) de Star Wars Jedi: Survivor é a parte técnica. Além de ocupar um tamanho enorme no PS5 (147 GB), o modo Desempenho simplesmente não chega a 60 fps. É muito raro isso acontecer. Diria que a média é algo entre 40 e 50, sendo que em ambientes fechados e com pouca coisa acontecendo é que fica em 60. Não sou expert nesse sentido, portanto uma análise mais completa da Digital Foundry deve destacar esses pontos, mas é nítida a perfomance não ser ideal.

E não é apenas a perfomance. O loading do jogo é exagerado em alguns momentos. Na maior parte, como em um Fast Travel, ele não chega a atrapalhar. Mas, por exemplo, existe um bar importante na história que você visita com frequência. Para acessar esse bar, há uma porta localizada nos fundos. A porta só abre depois que o ambiente é carregado, mas não há nada que indique que isso está acontecendo. A primeira vez que cheguei nesse local, achei que estava trancado. Mas não era isso: estava apenas carregando e levou cerca de uns 20 segundos para abrir.

Há também bugs de texturas, roupas que atravessam o personagem e coisas do tipo. Até o HDR não funciona (e só vai funcionar num futuro próximo). Travamento de verdade só tive um e que reiniciar o aplicativo solucionou. Sejamos justos: problemas desse tipo (ou seja, técnicos) podem ser consertados via patches gratuitos. O jogo está jogável do início ao fim e sem problemas realmente graves. Mas quem for “puro” com esse lado técnico, pode se decepcionar. A Respawn Entertainment já tem um patch previsto para o lançamento e mais devem ser disponibilizados nas próximas semanas.

Como dito, consegui terminar o jogo a tempo para esta análise. Levei 15h para finalizar a campanha no modo Normal, mas basicamente ignorei todo conteúdo opcional existente. Se você aproveitar um pouco e não “correr” como fiz, deve levar em torno de 20h com a campanha. Além disso, Star Wars Jedi: Survivor possui um conteúdo opcional gigantesco. Há inúmeras sidequests (chamadas de rumores), colecionáveis e até chefes a serem descobertos. E já temos um Novo Jogo+ no lançamento. Ou seja, há conteúdo de sobra após finalizar a campanha.

O gameplay de Star Wars Jedi: Survivor é uma evolução natural de Fallen Order. Coisas como o pulo duplo já ficam disponíveis desde o início, sendo que vários upgrades novos são destravados ao longo da campanha. Basicamente, muitos aprimoram a locomoção de Cal Kestis. Não vou detalhá-los, mas vou exemplificar com apenas um para esclarecer meu ponto: o dash aéreo. Em um dado momento, Cal aprende a usar esse movimento apertando bola no ar. Ou seja, você tem o pulo duplo e mais o dash aéreo para alcançar os locais. E não para por aí, há outras habilidades ainda de “locomoção” dessa forma.

Ainda sobre a locomoção mas que não é bem uma habilidade, temos as montarias. Em determinadas situações e lugares, Cal pode usar alguns animais para avançar mais rapidamente. É algo divertido e diferente, mas não espere algo muito elaborado – no fim, é apenas para andar mais rápido mesmo.

Outro ponto importante do gameplay são as posturas. No jogo original, Cal usava seu sabre de luz e aprendia vários combos com ele. Quase no fim da jornada, tínhamos um sabre à la Darth Maul. Em Star Wars Jedi: Survivor, essas duas opções continuam existindo, mas há ainda outras e agora são chamadas de posturas. Cada postura possui sua árvore de habilidades, com vantagens e desvantagens. Pegando as mesmas posturas do jogo anterior, por exemplo, o sabre com uma mão só é mais rápido, mas o duplo permite defender melhor projéteis (entre várias outras diferenças, estou pegando apenas uma diferença rápida e clara). Não quero estragar a sua surpresa e descoberta das mecânicas, mas a postura não consiste apenas nos dois sabres – há mais itens envolvidos nas restantes e que mudam o gameplay consideravelmente.

Ainda de novidade no gameplay, temos os amigos de Cal que ajudam no combate. Segurando R1 e apertando quadrado, se um companheiro estiver presente, ele o ajudará atacando um alvo que você selecionar. É uma mecânica simples, mas que adiciona mais uma opção ao combate.

Tudo isso, é claro, sem contar as habilidades com a Força, seja para pegar objetos e arremessá-los ou deixar seus oponentes confusos. Até BD-1 ganhou novas funcionalidades. Além de hackear inimigos e fazer os inúmeros scans pelo ambiente, BD-1 recebeu algumas mecânicas para solucionar puzzles principalmente.

De forma geral, como dito, a estrutura de Star Wars Jedi: Survivor é similar ao antecessor. Você ainda vai meditar para salvar o jogo e descansar (fazendo os inimigos ressurgirem no processo), seguirá para onde a história o manda e presenciará a jornada de Cal.

O único ponto ruim, além dos problemas técnicos destacados, são os chefes da história. Não me entenda mal: muitos são memoráveis (sem spoilar: vou apenas dizer “nave perfuradora” e me cobre no futuro) e o combate é ótimo. Mas o que acontece é que pelo menos os que estão na campanha principal não fogem da “estrutura humana”, ou seja, não conte com monstros gigantes. Até o AT-ST, que no jogo original se apresentava como uma ameaça, virou uma espécie de inimigo comum.

Por fim, Star Wars Jedi: Survivor merece elogios em sua parte de acessibilidade. Você pode configurar a dificuldade da maneira que preferir e no momento que quiser, por exemplo, ajustar o campo de visão, legendas, assistente de navegação, daltonismo, modo lento e mais.

Star Wars Jedi: Survivor é um excelente jogo e sequência. Os gráficos são sensacionais, trilha sonora fora de série, dublagem em nosso idioma é impecável (da mesma forma que o antecessor), gameplay com novidades o suficiente para parecer outro jogo, campanha com duração na medida certa, muito conteúdo opcional e assim por diante. Por outro lado, o título apresenta uma história que pode ter alguns pontos baixos dependendo do seu gosto (com as partes finais indiscutivelmente sensacionais, porém) e sérios problemas técnicos de perfomance. Com sorte, esse último será corrigido num futuro próximo.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Electronic Arts.