Star Renegades – Review

Fazer um bom roguelite é difícil. Existe uma série de elementos que precisam ser considerados para fazer com que um jogo que exige tanto de um sistema que gera seus elementos aleatoriamente funcione como é preciso para tornar a experiência duradoura e divertida, não importa quais deles apareçam a cada jogatina.

Tentar implementar um sistema assim em um RPG de Estratégia apresenta ainda mais desafios do que pode parecer à primeira vista. Afinal, é preciso aprender com seus erros e implementá-los da melhor forma possível para vencer certas situações, algo que nem sempre é possível com a geração procedural do universo.

Mas qualquer que sejam os eventuais percalços ou “poréns” possíveis, nada impediu a Massive Damage de tentar entregar um bom jogo do gênero com o seu mais novo lançamento, Star Renegades. Publicado pela Raw Fury, ele busca implementar aquilo que a dev aprendeu com Halcyon 6 com uma ambientação sci-fi única e bem interessante.

Star Renegades traz uma curiosa mistura de mecânicas inspiradas por JRPGs clássicos com uma ambientação de ficção científica digna de um filme dos anos 80/90, com bastante neon e tons de rosa. Essa mistura lembra um pouco um outro jogo indie de alguns anos atrás, Cosmic Star Heroine, mas as comparações param nisso, ainda que Star Renegades tenha um nível de qualidade comparável a um dos melhores indies da geração passada.

O jogo se passa em um futuro bem distante onde um grupo de Renegados precisa lutar para salvar a galáxia de uma grande ameaça mecânica chamada Imperium. Essa raça de seres mecânicos busca erradicar toda a vida orgânica da galáxia e cabe aos Star Renegades evitarem o êxito desta missão.

É claro, como se trata de um roguelite, você irá falhar em sua jornada e assim o protagonista, um pequeno drone criado pela cientista suprema desse universo, será teleportado para outra dimensão para avisá-la da vindoura invasão e tentar salvá-la do Imperium, permitindo que o grupo de heróis se junte e tente combater a ameaça.

A narrativa é um dos grandes êxitos de Star Renegades. Enquanto o plot principal não é nada muito fora do padrão, ele traz uma justificativa muito boa para o funcionamento das suas mecânicas, fazendo com que os jogadores tenham uma boa motivação para jogar além do quão divertido é o combate desse mundo.

Mas onde ele realmente brilha é na composição da sua equipe. Os personagens de Star Renegades são bem diferentes do que estamos acostumados a ver em RPGs, algo que se vê logo no começo quando se juntam a ti um robô escritor de romances e uma soldado fã de teorias da conspiração.

Existe um total de 13 personagens diferentes no jogo, cada qual atrelado a uma classe em específico e, de alguma forma, o jogo consegue tornar todos eles únicos e cheios de personalidade, com alguns dos momentos melhor escritos vindo dos diálogos entre eles ao invés dos momentos mais importantes da história em si.

A composição da party é algo bastante influenciado pelos elementos aleatórios do título. Toda vez que você iniciar uma nova run você irá escolher três diferentes membros para a sua equipe. Os personagens disponíveis para seleção vão depender da quantidade de intel que você coletar ao longo de uma run, algo que é conquistado ao derrotar diferentes generais espalhados pelos planetas do jogo.

Ao conquistar um dos planetas, você ganha a opção de escolher um outro companheiro entre dois selecionados aleatoriamente pelo jogo. Esse elemento é importante pois, a depender das suas escolhas, você pode acabar ficando com uma equipe muito focada em um determinado tipo de ataque, mas sem opções para atacar certas vulnerabilidades ou com uma equipe com ataque fraco, mas com parâmetros de defesa mais altos.

O combate é o elemento mais interessante de Star Renegades. Apesar de se considerar um RPG de Estratégia, ele é mais próximo de um título como Grand Kingdom do que um Disgaea, muito pelo combate ser por turnos e em um plano 2D ao invés da tradicional disposição em tabuleiro.

Ainda assim, ele é por turnos, com uma barra determinando a ordem das ações. Cada ataque demanda um tempo para ser executado, sendo necessário saber explorar as fraquezas dos inimigos e acertá-los antes deles poderem atacar naquele turno para maximizar a quantidade de dano que você irá causar ao atordoá-los, o que causa uma quebra no ataque inimigo e os impede de atacar naquele turno.

Algo que Star Renegades faz muito é tornar toda batalha arriscada. Você nunca se sentirá poderoso demais, então se manter atento a quem os inimigos estão buscando atacar e causar atordoamentos é chave para se manter vivo em uma run (e há um limite de quantas quebras um inimigo pode sofrer por batalha). Diferentes personagens têm diferentes habilidades à disposição, capazes de curar ou aumentar sua defesa/ataque e mudar o rumo de uma batalha.

Outro ponto que traz uma importante elemento de estratégia e requer atenção são as diferentes barras de “energia” que você precisa prestar atenção. Tanto os seus personagens quanto inimigos possuem uma barra de Pontos de Vida, Escudo e Armadura. Para causar dano é preciso zerar a barra de escudo e só então causar dano à vida do seu inimigo (a Armadura serve como um modificador que reduz o dano sofrido).

O gerenciamento de todos esses elementos, bem como os ataques especiais e o ritmo acelerado que o combate tem mesmo sendo por turnos é que o torna tão especial. É raro conseguir abusar dos sistemas para tornar o combate fácil, mas isso não quer dizer que você não consiga realizar algumas ações bem espetaculares ao longo das várias runs no jogo.

Outro ponto curioso é que SR é um dos primeiros jogos a tentar implementar algo similar ao Nemesis System de Sombras de Mordor/Sombras da Guerra. É uma abordagem um pouco mais simplista, mas segue a mesma lógica em que, caso você perca uma batalha contra um dos generais, eles são promovidos e se tornam mais fortes para a próxima run.

Derrotar generais irá te trazer mais informações, algo que te ajuda a escolher quais mundos você irá atacar para liberar as forças existentes nele, assim como quais fraquezas você poderá explorar nas batalhas contra esses chefes. Isso é importante pois, em cada jogada, você terá apenas três dias para derrotar o máximo de generais possíveis e coletar o máximo de dinheiro, itens, equipamentos e DNA (o medidor de experiência do jogo).

Durante esses três dias você terá um total de nove turnos (três por dia) para realizar todas as missões de cada área e maximizar o poder da sua equipe antes da batalha contra o Behemoth, o chefe-supremo do Imperium.

Ao final de cada dia você irá pro acampamento, onde é possível subir o nível dos seus personagens e melhorá-los usando as cartas que vão sendo destravadas ao longo do jogo, incluindo a possibilidade de melhor o relacionamento entre membros da party e destravar ataques em dupla e melhorias permanentes para suas estatísticas.

Caberá a você então decidir se prefere priorizar a conquista de mais equipamentos ou derrotar mais inimigos e coletar DNA e intel para tornar sua equipe mais poderosa ou focar em ganhar dinheiro para comprar itens. De qualquer forma, é mais um sistema que funciona de forma espetacular dentro da proposta do jogo, dando propósito a escolha por ser um roguelite.

Por fim, um elemento de Star Renegades que não pode ser deixado de lado é o quão bonito o jogo é. A pixel art do jogo, além das animações durante o combate merecem um destaque especial, sendo tudo muito bonito de se ver em movimento. Mesmo a exploração do mapa que tem um visual mais “low-poly” é bem agradável aos olhos e ajuda bastante a enriquecer a ambientação do título, algo que também é enriquecido pela trilha sonora bem inspirada por synthwave, casando com a estética do jogo.

Dito tudo isso, fica claro que Star Renegades é um título que merece muito destaque, mesmo para quem não costuma ser fã de roguelites (um grupo no qual eu me encaixo). Não existe uma sensação tão grande de frustração ao falhar, havendo sempre o interesse em fazer mais uma run e ver até onde você consegue ir. Se há uma falha a apontar talvez seja o excesso de informações jogados no jogador em um curto espaço de tempo no começo, mas mesmo isso não é suficiente para tirar o brilho do título.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela RAW FURY.