A série Sniper Ghost Warrior pode ser considerada, dentro do mundo dos vídeo games, o equivalente a um jogador de futebol conhecido como "a eterna promessa". A cada nova iteração o jogo promete maior liberdade, melhores gráficos, mecânicas de jogo refinadas e uma história envolvente. Mas, assim como o jogador de futebol, Sniper Ghost Warrior 3 acaba tropeçando em sua ambição, e mais uma vez nos entrega um produto muito aquém do anunciado.
Apesar do nome, Sniper Ghost Warrior 3 traz poucas semelhanças com relação a Sniper Elite 4, a não ser, obviamente, o fato de que em ambos os jogos controlamos um atirador de elite munido de um rifle de precisão. Fora isso, a proposta de cada jogo é diferente, principalmente pelo fato de que, enquanto Sniper Ghost Warrior 3 faz enorme esforço para ser levado a sério, Sniper Elite 4 pouco ou nenhum empenho tem para isso, focando totalmente na diversão do jogador.
Sniper Ghost Warrior 3 faz uso de mecânicas muito interessantes, como as de plataforma, por exemplo. Em algumas missões é preciso escalar até o topo de colinas, pendurando-se em rochas, pulando sobre vãos entre pedras, esgueirando-se por passagens estreitas com abismos a seus pés, tudo isso para encontrar uma melhor posição para eliminar os alvos. Infelizmente, pelo fato do jogo (mal) rodar a 30 fps, é comum o jogador ficar com as vistas bastante cansadas, por conta da constante movimentação da câmera nesses momentos de plataforma.
Outra boa mecânica, e muito útil, é o modo de observação, que destaca objetos importantes no mapa, inimigos à vista, pontos de escalada, além de itens colecionáveis e caixas com suprimentos.
O drone também é uma ferramenta importantíssima à disposição do jogador. Com ele é possível (quase necessário, na verdade) marcar os inimigos pelo mapa, facilitando muito a conclusão de cada uma das missões. O problema reside em seus controles. A sensação é a de se estar pilotando um helicóptero com um elefante atrelado ao trem de pouso por uma corda, tal é a falta de controle que se tem sobre o drone.
O enredo, como dito, é simplório e totalmente previsível. Os personagens são extremamente apáticos, com o carisma equiparável ao de uma almôndega de berinjela, o que torna a imersão ainda mais dificultosa, já que não há ligação emocional com nenhum dos personagens, seja o protagonista ou os coadjuvantes.
A história foca na relação não tão diplomática entre dois irmãos. Depois de uma missão frustrada na região fronteiriça entre a Rússia e a Ucrânia, um deles é capturado enquanto o outro misteriosamente é deixado ao léu. Este último parte para uma jornada de busca, ao mesmo tempo tentando superar as diferenças entre os dois. Seguindo os rastros do irmão raptado, o protagonista vai parar na conflitante região do Cáucaso, mais precisamente, na Geórgia.
O desenrolar do jogo se dá por meio de quatro atos, nos quais, além das missões principais, há outras secundárias, como ajudar a população local a se livrar das garras de membros de milícias separatistas, eliminar alvos de alta periculosidade, bem como outras atividades menores, como procurar por colecionáveis e juntar suprimentos para aprimorar os armamentos ou desbloquear novas armas e equipamentos.
À disposição do jogador estão três áreas ao todo, que funcionam como pequenos mundos abertos à exploração. Os cenários, além de genéricos, são graficamente horrendos — como o é, aliás, todo o jogo. O visual em momento algum parece ser de um jogo rodando em um console da geração atual. A vegetação não tem vida, as plantas não se movem; o sistema de sombreamento é extremamente simples, isso quando o há; o terreno, seja com terra, neve, lama ou rocha, tem texturas opacas e chapadas, sem grandes detalhes; e, acima de tudo, os personagens humanos parecem mais plastificados do que uma animação em stop motion feita com bonecas Barbie.
As missões, em sua grande maioria, são bastante simples. O jogador deve invadir uma base inimiga ou um vilarejo tomado por separatistas, evitar a todo custo ser detectado, interrogar ou eliminar um alvo, ou pegar documentos, e sair do local também sem ser avistado. De início, o jogo até flui bem dessa maneira. A jogabilidade com as armas é boa, especialmente com a sniper. Mas a repetitividade das missões não demora a cansar, e depois de poucas horas o jogo parece estar patinando sempre no mesmo lugar, dando ao jogador a sensação de um rato de laboratório correndo insistentemente em uma roda, sem sair do lugar.
Para chegar até as missões, é possível se deslocar usando o veículo ou os pontos de viagem rápida, caso o jogador já os tenha desbloqueado. E é exatamente aí que temos um dos principais problemas de Sniper Ghost Warrior 3: as telas de loading. O tempo de carregamento, tanto para iniciar o jogo como para transitar de uma região a outra, chega a levar absurdos cinco minutos.
Mas os problemas de performance não param por aí. Bugs de colisão, como árvores e demais objetos que parecem ser etéreos; inimigos que simplesmente desaparecem a uma distância muito grande (salvo nos casos em que a própria missão coloca o jogador a grandes distâncias dos inimigos, aí sim eles aparecem normalmente), o que, de qualquer forma, é um erro capital em se tratando de um jogo focado no combate de longa distância; checkpoints que muitas vezes parecem randômicos, colocando o jogador em um ponto extremamente distante daquele em que estava antes de vir a óbito; além de problemas com o salvamento do jogo (em um dado momento, o jogo simplesmente excluiu o progresso salvo no console, problema que felizmente foi contornado com o cloud save disponível para membros da PlayStation Plus). Não obstante, no momento do lançamento desta análise, o jogo encontra-se impossível de ser platinado, pelo simples fato de que a atualização 1.03 excluiu um dos alvos a serem eliminados em uma das missões secundárias, impedindo a obtenção de um troféu.
Nem mesmo as legendas em português escaparam. Em alguns momentos as falas são legendadas em espanhol, o que pode atrapalhar a compreensão do jogador, já que não há dublagem em português.
Por fim, o jogo não possui nenhuma forma de interação multiplayer, o que, sinceramente, a esta altura do campeonato, não tenho certeza se é algo realmente ruim, em vista de todos os problemas encontrados no jogo. Pelo menos dessa forma fomos poupados de mais uma frustração.
Veredito
Sniper Ghost Warrior 3 não é necessariamente um péssimo jogo. As mecânicas de tiro são boas, e os momentos de plataforma e escalada também o são. Mas os problemas de performance, como bugs que fazem inimigos distantes desaparecerem, o sistema de checkpoints e salvamento pouco confiáveis e totalmente corruptíveis, além das telas de carregamento ridiculamente longas, somados à história rasa e aos personagens sem carisma algum, fazem de Sniper Ghost Warrior 3 uma experiência, no mínimo, sofrível.
Jogo analisado com código fornecido pela City Interactive Games S.A.
Veredito
Veredict
Sniper Ghost Warrior 3 is not necessarily a bad game. The shooting and platforming mechanics are good. But performance issues, such as bugs that make distant enemies simply vanish, the unreliable and totally corruptible checkpoints and save systems, plus ridiculously long loading screens, along with shallow story and characters with no charisma at all, make Sniper Ghost Warrior 3 a suffering experience.