Resident Evil Revelations 2 parecia ter tudo pra dar errado. Poucos tinham fé de que as promessas seriam cumpridas, mesmo que o Revelations original tenha acertado em vários pontos, anos antes. Revelations 2 parecia apressado e indeciso – em partes, ele é. Mas também é o Resident Evil mais fresco em anos.
Parte disso se dá pelo caráter episódico em que foi distribuído. Cada episódio é dividido em uma campanha de até uma hora e meia para cada um dos protagonistas, Claire Redfield e Barry Burton. Os capítulos são bem divididos e têm arcos próprios dentro da trama geral, contando com finais empolgantes e cliffhangers bem planejados.
O sistema funciona particularmente bem quando cada um dos episódios é feito para ser jogado várias vezes e isso funciona para aumentar a empolgação para o episódio seguinte. O resultado é ainda melhor quando re-jogar os episódios antes do novo acaba não sendo necessário, já que cada episódio é melhor que o anterior, um feito difícil de reproduzir. Ou seja, a experiência é boa de qualquer forma – comprando os episódios de forma separada ou esta versão completa.
Uma das melhores novidades de Revelations 2 é a integração entre as campanhas. Resident Evil 6 tratava isso de maneira falsa, em que as campanhas se interligavam, mas nada menos eram que cenas prontas. Já Revelations 2 constrói algo mais real. Ações na campanha da Claire interferem na campanha do Barry, como ativar uma máquina na prisão ou abrir uma porta. Isso estimula o jogador a tentar diferentes resultados e, embora sejam limitados por episódio (com apenas uma exceção significativa envolvendo mais de um), funcionam.
Os controles aqui também receberam uma boa melhora em relação ao Revelations original. Esqueça as acrobacias de Resident Evil 6 – o máximo que você faz aqui é uma esquiva ao estilo de Resident Evil 3 que, junto com a faca, são ótimas aliadas. A munição bem distribuída e atmosfera rica colaboram pra construir um híbrido de muito do que a série já tentou fazer até agora.
Não só da série, aliás. Revelations 2 pega emprestado características de The Last of Us, como o parceiro que não utiliza armas de fogo e tijolos ou garrafas como ferramentas. Granadas dão lugar a garrafas, que, assim como no jogo da Naughty Dog, podem ser combinadas com outros itens em seu inventário. A situação, embora bem parecida, não funciona como um plágio – a Capcom empresta algumas coisas de The Last of Us, mas nunca tenta ser um. O aspecto mais descontraído, com algumas das cenas mais engraçadas que Resident Evil já viu, passam longe da seriedade do mundo pós-apocalíptico de Joel e Ellie.
Revelations 2 não é um jogo adventure no molde clássico da franquia. Existem portas que precisam de chaves que você vai encontrar depois e as áreas certamente são mais abertas que nos últimos jogos da franquia, mas ainda há um caráter de linearidade na exploração. Os quebra-cabeças, porém, existem – mas de forma diferente. Aqui, eles são bem mais ligados ao cenário do que externos: onde carregar uma caixa, por exemplo, e o que se pode fazer com ela fora do caminho; múltiplas soluções para uma porta que se fecha rápido; em que ordem se deve ativar botões escondidos em um cemitério, e por aí vai. É um método que funciona e que consegue agradar igualmente os dois públicos que Resident Evil conquistou em sua longa jornada.
Nesta versão completa, além dos quatro episódios principais, existem dois extras. Ambos são focados nas parceiras – o primeiro em Moira e o segundo em Natalia. O primeiro é definitivamente o melhor dos dois, tanto em história quanto em jogabilidade, enquanto o segundo parece um complemento desnecessário. De qualquer forma, mesmo relativamente curto, Revelations 2 é bem completo em seus quatro episódios principais, estimulando novas campanhas para testar as diferentes possibilidades e destravar vários de seus diversos bônus, como roupas, armas especiais e arquivos secretos.
Além do conteúdo destravável no jogo principal, ainda existe aqui o modo Raid, retornando do primeiro Revelations com algumas modificações. O modo é uma espécie de RPG de Resident Evil, em que seus vários personagens têm níveis, destravam novas habilidades e utilizam pontos para melhorá-las. O modo é muito maior aqui do que era no primeiro jogo, e melhor. O único porém é que, ao menos até o fim do mês, não era possível jogar em rede.
Veredito
Revelations 2 é bem diferente e ao mesmo tempo familiar. Ele traz elementos para a franquia que podem ser muito melhor explorados no futuro, principalmente no próximo jogo numerado, que deverá ter um orçamento e time muito maiores. E, ao julgar pelo final (ou finais), o título parece ter relevância direta no próximo lançamento da franquia. Nem tudo daqui pode (ou deve) ser carregado adiante, mas há o suficiente para agradar a todo tipo de jogador, independente da sua relação com a série, seja fã de longa data, apenas da era clássica ou da moderna, e mesmo aqueles que não gostaram do primeiro Revelations. E com o primeiro episódio sendo vendido separadamente, é bem mais fácil tirar a dúvida.
Jogo analisado com código fornecido pela Capcom.