Metal Gear Survive

Desde de que foi anunciado, Metal Gear Survive já era um título controverso: é o primeiro jogo da série a ser desenvolvido sem nenhuma influência de Hideo Kojima, responsável pela criação do conceito e enredo que definiram a franquia Metal Gear. Além de sua ausência, a proposta envolvendo “zumbis” oferecida por MG Survive destoa do gênero de ação e espionagem explorado na série desde seus primórdios. Tudo isto serviu como incentivo para que muitos fãs já o considerassem a ovelha negra de toda a série, condenando de uma vez por todas o destino de toda a franquia. A verdade é que todos estavam certos desde o início.

Definitivamente a pior coisa oferecida por Metal Gear Survive é seu enredo, que além de curto, não oferece nenhuma das características comumente encontradas em outros jogos da série (incluindo spin-offs como Metal Gear Rising). Aqui, somos apresentados ao protagonista (cujo gênero, nome e aparência são definidos pelo jogador), ex-soldado do grupo de mercenários MSF, fundado por Big Boss, e que acaba sendo recrutado por Goodluck, líder de uma organização de pesquisa, para adentrar um buraco de minhoca rumo à “Dite”, uma dimensão paralela dominada por “Andarilhos”, criaturas humanóides semelhantes a zumbis com cristais seus corpos.

O objetivo principal da missão é buscar por sobreviventes de uma unidade militar chamada Caronte, que havia sido enviada àquele local para coletar dados que explicassem a ocorrência dos diversos buracos de minhoca que ameaçam o planeta Terra, assim como um misterioso vírus que transforma todos próximos a estes locais em Andarilhos.

A narrativa não se desenvolve de uma forma que prenda a atenção, e flui de maneira muito direta, sem causar nenhuma reflexão ao jogador ou abordar temas mais sérios. Aqui o conceito de bem e mal está totalmente definido, diferente do que vemos em jogos como Metal Gear Solid 2: Sons of Liberty. Isso anula completamente a possibilidade de reviravoltas, tornando o jogo extremamente previsível e tedioso. As referências ao universo do jogo são muito escassas e parecem estar ali apenas para justificar a escolha do título. Desta forma, não é necessário conhecimento algum da franquia para jogá-lo.

Os personagens secundários só estão ali para falar pelo protagonista, que apesar de ter gênero, nome e aparência definidos pelo jogador, é completamente mudo. Não existe desenvolvimento algum desses personagens e, durante sua jornada, certamente você irá esquecer o nome de cada um deles.

Outro fator que remove bastante o brilho da campanha é a ausência das inúmeras e longas cutscenes que costumavam ser utilizadas. Além de serem a marca registrada da franquia, elas adicionavam um tom cinematográfico único aos jogos da série. Grande parte dos diálogos é realizado por meio de imagens estáticas com textos interpretados por péssimos dubladores com atuações sofríveis. A tamanha falta de cuidado neste aspecto apenas evidencia que o time de desenvolvimento teve problemas com o orçamento destinado ao jogo.

A progressão da campanha é decepcionante e por diversas vezes você estará repetindo a mesma sequência de tarefas para progredir: coletar dados sobre a região; ir a um local para resgastar um sobrevivente (que passará a morar em sua base); proteger uma broca de um certo número de hordas de inimigos por um determinado tempo; coletar cristais de energia; proteger entrepostos de inimigos para torná-los pontos de acesso rápido. As sidequests por sua vez são apenas variações das missões principais da campanha e surgem aleatoriamente pelo mapa, colaborando para tornar o jogo ainda menos diversificado.

Em termos de jogabilidade, Metal Gear Survive conservou diversos aspectos de Metal Gear Solid V, como a movimentação e combate, se assemelhando mais a um pacote de expansão do que um título isolado. Houve a inclusão de necessidades como fome e sede que, se não atendidadas devidamente, podem causar penalidades nas barras de vida e vigor do personagem, tornando-o mais vulnerável. Uma pequena observação sobre a barra de vigor é que ela é consumida ao realizar quase todo tipo de atividade, incluindo se rastejar pelo chão e andar abaixado. Tal mecânica raramente causará preocupação, uma vez que temos à nossa disposição animais e uma fonte de água ao lado da base principal. Foi incluída ainda a capacidade de se ficar doente e sofrer fraturas e sangramentos que afetam negativamente alguma ação do personagem. Semelhante a Fallout 4, podemos coletar quase tudo à nossa volta para utilizar como material para a construção de armas, munição, equipamentos, armadilhas e unidades de defesa, como cercas com arame farpado. Existe ainda uma árvore com skills que podem ser aprendidas conforme elevamos o nível do personagem ao coletar energia Kuban, que pode ser obtida ao eliminarmos inimigos.

O arsenal de armas de fogo continua vasto e houve a inclusão de armas de combate corpo a corpo, como facões, martelos e machados. Em nossa base, podemos inclusive aplicar efeitos e propriedades elementais a esses armamentos, como dano de fogo, elétrico ou explosivo. Infelizmente, o combate físico é extremamente tedioso, uma vez que é possível construir unidades defensivas como cercas ou grades e atacar os inimigos facilmente por elas. Existem poucos veículos que podemos encontrar e utilizar, como Walk-Gears e carros, porém, após alguns minutos de uso, eles se auto-destroem.

Outra mecânica que foi trazida de volta em MG Survive é a possibilidade de construir, aprimorar e administrar o centro de operações, semelhante a o que era feito na Mother Base no jogo anterior. Aqui somos capazes de criar uma imensa gama de instalações como tanques de tratamento de água, enfermaria, fazendas de animais ou hortas caseiras. Podemos delegar tarefas aos sobreviventes resgatados para que administrem a base, coletem recursos ou tratem dos feridos. Algumas destas atividades exigem dezenas de horas para serem concluídas e continuam a ser executadas mesmo após o jogo ter sido encerrado, semelhante alguns jogos mobile. É essencial uma boa organização, tanto da base quanto dos sobreviventes, para se defender do ataque de hordas de inimigos, apesar destes ataques acontecerem com pouca frequência.

Existem áreas no jogo chamadas de cinzas, que são tomadas por uma névoa de poeira tóxica que reduz bastante o campo de visão, e cobrem cerca de 80% do mapa no jogo. Nelas, há hordas gigantes de inimigos, materiais e baús contendo novas receitas para fabricar armas, equipamentos e instalações novas para a base. Os baús são facilmente achados, já que emitem uma forte luz através da névoa e, para abri-los, é necessário realizar um pequeno mini-game para não alertar inimigos próximos de sua presença.

À primeira instância é totalmente desorientador vagar pelas regiões tomadas pela névoa e por muitas vezes você se perderá completamente. Sua localização atual não é exibida no mini-mapa por conta de interferência da poeira e a única forma de orientação é por meio de uma bússola holográfica, que surge ao redor do personagem ao ficar imóvel por alguns segundos (tal mecânica em momento algum é explicada ao jogador). Caso o jogador consiga retornar para sua base, a região que explorou será adicionada ao mini-mapa e não haverá mais interferência nestes locais.

Apesar de simular uma ótima situação de sobrevivência, o maior problema encontrado ao se explorar as cinzas é a necessidade de se utilizar um tanque de oxigênio. O ar se esgota muito rapidamente e, mesmo que seja um artifício usado para obrigar o jogador calcular a forma de sua abordagem e quais recursos deverá priorizar coletar, acaba tornando o jogo cansativo e tedioso, uma vez que o jogador será obrigado a voltar à base somente para recarrecar o tanque de oxigênio para continuar sua exploração. Isto é feito centenas de vezes caso se deseje obter progresso.

Os inimigos são muito pouco variados (inclusive esteticamente), e sua inteligência artificial não oferece desafio nenhum ao jogador. É possível eliminar de forma furtiva um Andarilho que esteja ao lado de outros e não ser notado, devido ao limitado campo de visão que possuem. A velocidade deles é extremamente lenta, nem sendo necessário correr para fugir, e por conta disso podemos flanqueá-los facilmente e eliminá-los com um único golpe de faca pelas costas (tática que funciona com quase todos os inimigos). Eles não atravessam portas, esbarram em qualquer coisa que veem pela frente e não alcançam locais elevados. Imagine a seguinte situação: você alerta uma horda de 20 inimigos, que passam a te perseguir. Basta construir uma única unidade de cerca à sua frente e todos irão se amontoar nela, sem nem ao menos tentar dar a volta para flanquear o jogador. Dessa forma, basta atacar utilizando uma lança e, depois de alguns segundos, você terá eliminado a horda por inteiro.

O modo multiplayer é onde MG Survive mais se destaca, e é extremamente divertido jogá-lo entre amigos. Aqui deve-se sobreviver a diferentes números de hordas enquanto se protege um determinado objeto, em um time de até quatro jogadores. É possível fazer inúmeras táticas com seus amigos para se defender dos inimigos, tornando a comunicação bastante importante aqui. Podem surgir objetivos secundários que garantem ao jogador recursos como armas, veículos e outras utilidades para sobreviver às ondas. Recompensas obtidas aqui podem ser levadas para o modo single player e vice-versa. O maior problema em relação ao Multiplayer é a falta de modos para se jogar. Até o momento em que a análise foi escrita, existem somente dois e não há previsões para a inclusão de modos PvP como deathmatch, team deathmatch e derivados. Existe ainda o fato do modo campanha não poder ser jogado em co-op, o que coloca em dúvida a necessidade de estar conectado aos servidores do jogo a todo instante para se aproveitar o título.

Apesar de utilizar a avançada Fox Engine e de rodar a 60 FPS, o jogo graficamente é muito instável e conta com poucos ambientes belos e bem construídos. Os biomas são quase idênticos aos encontrados em The Phantom Pain, porém não conseguem atingir o mesmo nível técnico de detalhe e realismo. Vale lembrar que a maior parte do jogo está tomada pela névoa de poeira que, semelhante ao primeiro Silent Hill, está ali apenas para ocultar falhas de renderização e impedir que o jogador perceba problemas nas texturas. Ainda assim é comum ver atrasos na renderização do cenário e dos objetos. A trilha sonora é quase inexistente, porém há a possibilidade de construir torres de rádio que transmitem músicas de outros jogos da Konami, como Castlevania e Contra.

Uma última observação que precisa ser tomada é a respeito do uso abusivo de microtransações dentro do jogo. Um exemplo disso é que, para se desbloquear um espaço extra de save, é necessário cerca de 1000 SV coins (por volta de 30 reais). O mesmo é cobrado por um slot extra para se criar um time de coleta de materiais dentro do jogo. É possível ainda comprar lootboxes que entregam desde materiais até armas raras ao jogador, oferecendo a ele uma vantagem significativa na campanha e no multiplayer. Existem ainda bônus que duram um determinado tempo e que duplicam a experiência obtida ao se eliminar inimigos.

Veredito

Metal Gear Survive não é necessariamente um péssimo jogo de sobrevivência, pois possui diversas mecânicas e conceitos interessantes que poderiam ter sido mais bem explorados, de forma a entreter o jogador. Seu enredo por sua vez é medíocre e confirma o quanto Hideo Kojima era essencial para a construção e desenvolvimento da série. Infelizmente, grande parte dos elementos característicos da franquia se encontram ausentes aqui, e os poucos que restaram só existem como um lembrete ao jogador de que está jogando um título pertencente à saga Metal Gear. O único motivo da existência deste título é a vontade da Konami lucrar em cima dos incontáveis fãs da série e, se você se encontra entre eles, faça um favor a si mesmo e não destrua seus sentimentos pela franquia ao jogar este jogo, que ironicamente mais se assemelha a uma máquina de pachinko.

Jogo analisado com código fornecido pela Konami.


 

Veredito

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Veredict

Metal Gear Survive is not necessarily a poor survival game, because it has several interesting mechanics and concepts that could have been better explored in order to entertain the player. Its plot is mediocre and shows how Hideo Kojima was essential for the construction and development of the series. Unfortunately, many of the elements of the franchise are absent here, and the few that remain exist as a reminder to the player that he is playing a title belonging to the Metal Gear saga. The only reason for this title is Konami’s willingness to cash in on the countless fans of the series and, if you are a fan, do yourself a favor and do not destroy your feelings for the franchise by playing this game, that ironically resembles a pachinko machine.