Loot Rascals é o primeiro jogo da recém-criada Hollow Pounds, o novo estúdio fundado por Ricky Haggett, um dos criadores de Hohokum. Diferente deste, em que a atenção era dar liberdade ao jogador sem um objetivo específico, Loot Rascals investe em um jogo mais tenso e com um objetivo claro. Alcançá-lo, entretanto, irá dar muito trabalho a quem quiser aceitar o desafio.
A história é bem doida e serve apenas como pano de fundo para o jogo. Seu personagem é meio que um mecânico espacial a caminho de um novo acampamento de verão que está sendo instalado em alguma galáxia. Você foi enviado para verificar o que aconteceu com o Big Barry, um robô/armazém que levava uma substância para os preparativos do acampamento, e que repentinamente parou de fazer contato com a central, sendo provavelmente danificado durante a viagem.
No caminho, sua aeronave é interceptada por uma lua e você vai parar em um ambiente hostil, cheio de monstros. Para complicar, existe uma besta pan-dimensional, chamada The Thing Below, que soube do Big Barry e da substância (que também caíram nesta lua) e tem intenções de, em posse deles, dominar mais esta dimensão. Ela te mantém presa na lua para que você lute contra os monstros, te ressuscitando toda vez que você é derrotado, enquanto ganha tempo se acostumando à nova dimensão. Seu objetivo então é encontrar o Big Barry e escapar dessa loucura.
A arte do jogo é um de seus destaques. Ela é bem colorida e toda estranha, mas de uma maneira positiva. É de um estilo cartunizado que me lembra alguns desenhos (também estranhos) do Cartoon Network. A arte combina muito com a bizarrice que são os monstros do mundo, com destaque para The Thing Below, inspirada em Cthulhu, monstro da obra de H. P. Lovecraft.
Loot Rascals é formado por dois componentes principais: exploração e gerenciamento de cartas. Você precisa escapar de 5 áreas, cada uma gerada proceduralmente, ou seja, elas são diferentes em cada jogada, inclusive se você morrer. É necessário que você explore a área em busca do portal de saída, sendo que você tem um limite de 250 turnos para fazer isso. Passados esses turnos, monstros poderosos começam a surgir e sua morte é quase certa.
As áreas são como um tabuleiro. Sua superfície é composta de hexágonos, sendo que a cada hexágono que você atravessa é subtraído um turno seu. O mapa da área é oculto e você vai revelando-o conforme caminha, adicionando um elemento surpresa (bem como sorte) à exploração. Inimigos também se movimentam pelo tabuleiro a cada turno e, eventualmente, vocês podem se cruzar em um hexágono. Quando isso acontece, tem início o combate.
O combate é uma mecânica importante e cujas regras merecem atenção, pois nem sempre é vantajoso partir pra luta. Seu personagem possui uma quantidade de vida, bem como um valor de ataque e defesa, baseado em cartas que você equipa (mais sobre elas à frente). O inimigo possui apenas um valor, seu poder, que corresponde tanto a sua vida quanto seu ataque. Quando você ataca, o valor de seu ataque é subtraído do poder inimigo, que morre caso chegue a zero.
A regra que merece atenção é quando o inimigo ataca. Neste caso, o valor de ataque do inimigo é dividido pelo valor de defesa do seu personagem. O resultado dessa operação é a quantidade de dano que será subtraído de sua vida. Casos em que a divisão retorna um resultado menor do que 1 correspondem a uma porcentagem de chance de você ser ou não atingido. Desse modo, nem sempre uma alta defesa é garantia de invencibilidade.
A vitória em um combate geralmente te recompensa com uma carta derrubada pelo inimigo, entrando no segundo componente principal de Loot Rascals. As cartas são os meios pelos quais você evolui seu personagem e cria estratégias de sobrevivência. No início, você pode equipar no máximo 10 e manter mais 6 cartas em estoque.
As cartas possuem efeitos variados. As mais comuns aumentam seu poder de ataque ou defesa. Algumas podem vir com modificadores ou restrições, por exemplo, aumentar o poder da carta à direita em +1 ou zerar seu valor se colocada em uma posição ímpar do seu deck. Existem também cartas variadas que podem afetar o ambiente ou te dar algum tipo de poder, como fogo e teletransporte.
O gerenciamento e a variedades das cartas trazem um elemento bem profundo de estratégia ao jogo e, em minha opinião, é o que tem de melhor em Loot Rascals. Brincar com a posição delas e gerenciar com quais ficar e quais descartar irá tomar muito do seu tempo, algo necessário caso você queira sobreviver às áreas mais avançadas.
É aí que entra um problema do jogo: sua dificuldade. Loot Rascals é um roguelike, então, alta dificuldade e permadeath são esperados (se você morrer, não importa em que área esteja, você volta para a primeira e perde todas as suas cartas). No entanto, a dificuldade do jogo para mim está desbalanceada, com o jogador tendo que contar muito com a sorte em cair num mundo que drope boas cartas, essenciais tanto para o combate quanto para escapar de situações ruins.
A partir da terceira área o poder dos inimigos é muito alto, então, se você não teve muita sorte nas cartas obtidas em áreas anteriores, é bem provável que você sofra bastante para escapar ou morra no primeiro combate. Além disso, como é tudo aleatório, é possível que, em poucos turnos, você encontre um inimigo muito mais poderoso que você logo na primeira área. Com isso, pelo menos em meu caso, o jogo acabou se tornando um desafio cansativo e com pouco incentivos para fazer tudo de novo várias e várias vezes.
O jogo possui uma parte multiplayer que funciona de maneira assíncrona e criativa. Explico. Quando você morre, o inimigo que te matou rouba uma de suas cartas (daí o nome "loot rascals", ou "patifes pilhadores" em português). Esse inimigo vai para o mundo de outro jogador e, caso este o mate, recebe sua carta. Neste momento, é dado ao outro jogador a possibilidade de decidir entre devolver a carta a você ou mantê-la consigo, sendo que ambas as opções possuem suas vantagens e desvantagens.
Caso o outro jogador decida devolver a carta a você, eventualmente, um espectro seu aparecerá no jogo e ajudará este jogador, podendo servir de escudo ou complementar o ataque a um inimigo mais forte. Caso o outro jogador decida manter a carta, você aparecerá no mundo dele como um espírito vingativo e irá caçá-lo para um combate. Como as cartas roubadas pelos monstros geralmente são as melhores, essa decisão nem sempre é fácil, sendo que minha experiência com o jogo mostrou que os jogadores são fominhas e quase nunca devolvem suas cartas.
O jogo em si é bem divertido e a mecânica de gerenciamento de cartas é de uma dinâmica e profundidade muito boa. Existem ainda outras mecânicas menores de exploração, combate e sub-quests que adicionam ainda mais elementos estratégicos, além de um quadro de líderes para aqueles de espírito competitivo. O jogo apenas peca em sua dificuldade desbalanceada, que acaba desanimando no longo prazo. É também um jogo que seria perfeito no Vita, sendo uma pena não haver uma versão para o portátil.
Veredito
Loot Rascals mistura exploração e gerenciamento de cartas, criando um roguelike com toques de estratégia bem profundos. A mecânica das cartas para melhorar seu personagem é algo muito bem feito, cheio de dinamismo e variedade, sendo fundamental para avançar em áreas mais perigosas. Sua dificuldade, entretanto, é desbalanceada, dependendo muito da sorte em cair em uma área agraciada por boas cartas, o que nem sempre acontece, se tornando cansativo. No geral, é um jogo que vale a pena conhecer, embora possa te desanimar em poucas partidas.
Jogo analisado com código fornecido pela desenvolvedora.
Veredito
Veredict
Loot Rascals is a mix of exploration with card management, resulting in a roguelike game topped with deep strategy mechanics. Using cards to improve your character is a well-done mechanic, providing a wide range of possibilities that are fundamental further in the game. However, Loot Rascals have a high and unbalanced difficulty, and you have to count on luck to arrive in a new area filled with good cards. In general, it is a game worth checking out, even though it may discourage you of keep playing it after a few tries.