Like a Dragon: Infinite Wealth – Review

No começo de novembro publiquei aqui na PSX Brasil uma pequena prévia do que podíamos esperar de Like a Dragon: Infinite Wealth. O conteúdo presente na demo já tinha sido o suficiente para me deixar querendo mais e, caros leitores, é com muita alegria que digo que aquilo não foi capaz de me preparar para o quão incrível, divertido e emocionante é Infinite Wealth.

Like a Dragon: Infinite Wealth se passa 4 anos após os eventos de Yakuza: Like a Dragon e Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name. Logo de cara acompanhamos como tem sido a vida de Kasuga Ichiban e seus amigos. Após se tornar o Herói de Yokohama, ele tem tido dias tranquilos que se resumem em trabalho e um pouco de diversão, até que, inesperadamente, se vê alvo de uma grande fake news e sua vida acaba virando de cabeça pra baixo. No meio disso tudo, Ichiban descobre que sua mãe está viva, morando no Havaí e parte para Honolulu na missão de encontrá-la. A partir daí, Ichiban e seus amigos irão se envolver em uma trama intrigante e com diversas reviravoltas pelo submundo do Havaí.

Desde Yakuza: Like a Dragon, a RGG tem trazido temas mais próximos do nosso dia a dia para suas tramas. Enquanto no sétimo game o grande foco era as zonas cinzas da sociedade, aqui somos apresentados a difícil realidade daqueles que cometeram crimes e querem voltar para a sociedade. Em Infinite Wealth acompanhamos um pouco da dificuldade que os ex-yakuzas tem enfrentado após a Grande Dissolução que acabou com o Clã Tojo e a Aliança Omi. Um outro tema bastante utilizado são os da fake news e em como nessa era da internet ficou tão fácil em divulgar informações sem procurar saber de sua veracidade ou, apenas, distorcer fatos. São assuntos cotidianos que acabam sendo muito bem trabalhados na trama principal e que trazem bons questionamentos.

Como já dito, grande parte da ação de Infinite Wealth se concentra na ilha de Honolulu, no Havaí. Temos aqui o maior mapa da franquia repleto de lugares para visitar como lojas, restaurantes e locais de minigames. Explorar Honolulu é gratificante, pois sempre há itens espalhados pela cidade que podem variar de consumíveis e alimentos a até equipamentos e CDs de música. Além disso, também podemos fazer amizade com os habitantes da cidade através do recurso Aloha Links. Kasuga, sendo o poço de carisma que é, pode sair cumprimentando os moradores para dar início a uma amizade ou, em alguns casos, se meter em conflitos para ajudar pessoas em apuros. Isso acaba influenciando no desenvolvimento da personalidade de Ichiban, um recurso já visto em Yakuza: Like a Dragon, no qual todas as ações que tomamos geram pontos de carisma, bondade, paixão, confiança, intelecto e estilo.

E para acompanhar nosso herói por essa jornada teremos não só a volta de antigos amigos, como a chegada de novos companheiros. Infinite Wealth nos introduz ao taxista Tomizawa e a esperta Chitose. Para completar, o próprio Dragão de Dojima se junta ao nosso time.

O combate de Like a Dragon: Infinite Wealth passou por diversas melhorias, trazendo mais introdução dinâmicas — uma marca da franquia — e momentos de QTE. Temos aqui algumas das lutas de chefes mais criativas que já vi e que trazem algumas mecânicas exclusivas. Seguindo a premissa do combate em turnos, agora podemos movimentar nossos personagens dentro de um determinado raio durante a batalha. Isso permite criar novas estratégias de combate, uma vez que dependendo do seu posicionamento será possível criar combos encadeados juntos de seus aliados. Se aproximar de um objeto como uma garrafa de vidro, uma bicicleta ou um barril de óleo permite realizar um ataque com arma podendo, em alguns casos, resultar num ataque em área. Esse pequeno detalhe traz um dinamismo muito bem vindo para o combate e nos faz pensar em novas possibilidades o tempo todo.

Ainda falando do combate, houve também a adição do Medidor de Frenesi, um recurso que permite utilizar as Tag Team Actions, golpes especiais poderosos que são executados por dois ou mais membros da equipe. Por último, temos a adição do modo Massacre que consiste em entrar em combate contra grupos bem mais fracos e, ao pressionar o botão L2, seu time executará um ataque que acabará com todos os inimigos rapidamente. Esse recurso rende menos experiência, mas é ótimo para farmar itens, uma vez que os drops não são reduzidos.

Infelizmente um pequeno problema visto em Yakuza: Like a Dragon acaba persistindo aqui: a falta de um atalho durante as batalhas para a sujidex, o bestiário do game. Por diversas vezes precisamos testar todos os tipos de habilidades para lembrar qual é a fraqueza daquele inimigo, algo que seria facilmente resolvido se pudéssemos ter um acesso rápido às fraquezas de um inimigo já registrado. Entretanto isso não diminui em nada a diversão que o combate proporciona.

E se estamos falando do combate não podemos deixar de fora as famosas Ocupações. Infinite Wealth traz novas ocupações exclusivas de personagens, como taxista, herdeira e assassina e outras que podem ser desbloqueadas através da Alohappy, uma excêntrica agência de viagens que oferece as mais diferentes atividades pelo Havaí. Realizar uma delas trará inspiração suficiente para que nossos heróis pensem e desbloqueiem uma nova ocupação. Algo muito parecido com as excelentes Revelations vistas em outros títulos da franquia. Há ainda o retorno de algumas ocupações do game anterior e a novidade desse sistema fica por conta da Herança de Habilidades. Como o próprio nome já diz, esse recurso permite trocar de ocupação e escolher quais habilidades você quer herdar de outra. Por exemplo, Ichiban inicia com a ocupação de freelancer e ao mudar para herói, pode escolher qualquer habilidade já desbloqueada para herdar, podendo chegar a um total de cinco habilidades básicas e uma essência — os supremos do game. O que irá limitar a quantidade que você poderá escolher será seu nível de vínculo e entra aqui mais uma mecânica que recebeu novidades.

Seguindo seu antecessor e ainda com fortes inspirações na franquia Persona, os vínculos estão de volta e muito mais fáceis de se desenvolverem. Podendo chegar até o nível 100, Ichiban pode fortalecer sua amizade com seus companheiros realizando atividades como cantar no karaokê, jogar dardos, desafiar o grupo em uma partida de poker, entre outras, dando presentes ou através das Parcerias de Copo, Bate Papos em Grupo e, por último, através do excelente Bingo de Vínculos, que consiste em realizar conversas a pé com um determinado amigo. Esse recurso permite desenvolver a personalidade dos personagens de uma maneira muito natural e orgânica. É divertido sair pela cidade em busca de preencher as cartelas, pois os diálogos rendem momentos leves e descontraídos, é como fazer parte daquela equipe e estar curtindo um rolê com eles.

Uma outra grande marca da franquia são suas substories. Elas seguem presentes em Infinite Wealth, como sempre divertidas, absurdas e nos permitindo encontrar alguns velhos conhecidos. Realizá-las não só renderá experiência e pontos de personalidade, como também poderá desbloquear novos integrantes do Disque Ajuda, o sistema de summons já visto em seu antecessor. As substories também irão nos apresentar a duas mini campanhas: a Ilha Dondoko e a jornada Mestre Sujimon. É isso mesmo, Infinite Wealth traz um pequeno Animal Crossing e Pokémon dentro das suas atividades opcionais.

Na jornada Mestre Sujimon iremos almejar nos tornar o maior treinador de todos. Ao finalizar um combate, em alguns casos, será possível tentar capturar o Sujimon derrotado dando presentes e demonstrando seu amor. Haverá também raids espalhadas por toda Honolulu, cada uma focada em determinados tipos de Sujimon. Para deixar tudo ainda mais parecido com a franquia da Nintendo, será possível desafiar outros treinadores e líderes de ginásio. Tudo isso almejando enfrentar a poderosa Elite dos Quatro. A criatividade do time da RGG ultrapassa os limites ao adicionar um sistema de gacha, onde gastamos tickets que podem ser facilmente adquiridos ao passar por Pontos Suji e derrotando os treinadores espalhados por toda Honolulu. É a mistura perfeita de Pokémon com um bom e velho gacha de celular — mas longe de ser tão punitivo quanto um.

Já a Ilha Dondoko é para aqueles que curtem simuladores e buscam relaxar ainda mais durante sua jornada por Infinite Wealth. Seu objetivo é fazer com que a ilha volte a seu antigo esplendor e pare de ser um lixão para os piratas. Controlando Ichiban será possível limpar diferentes áreas, coletar insetos e pescar. Com os recursos coletados por meio dessas atividades, podemos fabricar diversos itens e, assim, começar a transformar a ilha em um resort permitindo que diversos personagens, alguns até famosos, venham visitar o mais novo cantinho de Ichiban. Teremos até mesmo uma casa para decorar, dormir e acompanhar a passagem dos dias. A Ilha Dondoko, assim como os famosos minigames de cabaré de Yakuza 0 e Kiwami 2, é capaz de proporcionar horas de gameplay fora da campanha principal.

Dentro do universo paralelo que são as substories será possível desbloquear três novos minigames: a entrega maluca, onde assumimos o papel de um entregador de aplicativo; o clique suspeito que consiste em fotografar fotos suspeitas enquanto andamos de bondinho; e o E-romance, uma espécie de Tinder hilária. É uma quantidade de conteúdo opcional absurda e recompensadora.

A partir de um determinado capítulo, a trama de Infinite Wealth passa a ser dividida entre Honolulu e Yokohama, numa dinâmica parecida com o que foi visto em Yakuza 0. Por consequência nossa party também passa por essa divisão e entra aqui uma das grandes surpresas do game: a possibilidade de jogar com o Dragão de Dojima. Kiryu, assim como Ichiban, tem seus próprios vínculos, bingos de vínculos e parcerias de copo. Doente e com seus dias de vida contados, Kiryu possui, no lugar do desenvolvimento de personalidade, uma lista de pendências. Durante seus capítulos as substories passam a ser substituídas pelas Recordações do Dragão, uma coleção de lugares que quando visitados ativam lembranças referentes aos outros games. É uma verdadeira carta de amor para os fãs de longa data, uma vez que eles relembram diversos momentos dos outros games e aproveitam para canonizar algumas substories e minigames. Até mesmo os spin-offs da franquia não foram deixados de fora. Preencher a lista de lembranças não só é divertido e nostálgico, como também contribui para o Despertar do Dragão.

Como já dito na preview de Infinite Wealth, Kiryu possui uma ocupação exclusiva chamada Dragão de Dojima. Vindo diretamente de Yakuza Kiwami, podemos alternar o estilo de combate entre Brigão, Acelerado e Bestial. Completar as Recordações geram pontos de alma, técnica e corpo, os quais por sua vez melhoram os estilos mencionados anteriormente, permitindo que Kiryu volte aos seus dias de glória. Uma outra maneira de conseguir tais melhorias é através dos Assuntos Inacabados, a antiga complete list. Por fim, ao atingir determinados níveis, podemos liberar as Parcerias de Vida, eventos especiais os quais valem a pena ser conferidos.

No que tange a parte visual, Infinite Wealth é deslumbrante. Passear por Honolulu chega a ser relaxante com sua belíssimas paisagens. Sem contar que as cidades são ainda mais cheias de vida, com NPCs realizando as mais diferentes atividades. Tudo isso é acompanhando, na minha opinião, da melhor trilha sonora da franquia. As músicas são excelentes, principalmente as de combate e exploração de dungeons. Por falar em dungeons, a RGG fez um ótimo trabalho nas que estão presentes no game. A cereja do bolo fica por conta das duas dungeons opcionais que são divertidas de explorar e geram boas recompensas. O fato delas serem geradas randomicamente a cada visita torna a exploração ainda mais prazerosa.

O grande problema de Infinite Wealth é seu fator replay. Infelizmente a decisão de manter o New Game+ e duas novas dificuldades presas como conteúdo pago das edições mais caras é bastante desanimador. A possibilidade de comprar o upgrade existe, mas ainda assim gera revolta, uma vez que o NG+, quando existente em games do gênero, sempre é parte do seu jogo base. Isso já havia acontecido no Japão quando Yakuza: Like a Dragon foi lançado e é triste ver que tal política continua prevalecendo. Se esse upgrade fosse apenas os itens de boost, as duas novas ocupações e a side story extra, a reação dos fãs seria bastante diferente.

Like a Dragon: Infinite Wealth abre com chave de ouro o início de 2024 e, com certeza, é um dos melhores RPGs do ano. Fico feliz em dizer que o game cumpriu e, até mesmo, superou todas as minhas expectativas. É uma das produções mais ambiciosas da RGG, trazendo uma história linda, sabendo dosar momentos de tensão, leveza e emoção. Seu combate é viciante e a quantidade de conteúdo extra chega a ser absurda. É um game que saúda aqueles que começaram a jornada por Yakuza: Like a Dragon ao mesmo tempo em que dá um abraço caloroso nos fãs de longa data.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela SEGA.