Uma das maiores vantagens que os jogos indies nos trazem é a oportunidade de observar uma maior liberdade criativa por parte dos estúdios. Já tivemos inúmeros exemplos disso ao longo dos anos, principalmente em jogos despretensiosos e que acabaram surpreendendo pelas novidades aplicadas. Boa parte dessa liberdade seria restrita em títulos de alto orçamento ou que não podem arriscar com sua base de fãs.
Kingdom Two Crowns é um bom exemplo disso. Lançado ainda em 2018 para o Playstation 4, o jogo é uma mistura de micro gerenciamento e aventura sidescroller, mostrando uma arte pixelada agradável e um sistema de progresso diferenciados. É um título que, a princípio, seria difícil ver a mesma fórmula aplicada em jogos de grande orçamento.
A premissa do jogo é simples e compreendia nos primeiros 10 minutos. O jogador toma o papel de um monarca em sua montaria que vai em busca da reconstrução de seu reino, não tendo muitos detalhes sobre seu passado ou eventos anteriores. Ao chegar em um local, o jogador precisa começar a recrutar aldeões e destiná-los a diferentes atividades, enquanto tenta construir um novo forte e as necessidades do mesmo.
Algo interessante aqui é a simplicidade para o gerenciamento do jogo e de suas terras. Tudo é centrado em 3 fatores, sendo o de recrutar seguidores, construir as melhorias do local e conseguir fundos. Quase sempre um desses fatores se liga a outro, como uma melhoria de um tipo de soldado o faz usar sua lança para pescar e, com isso, ganhar uma moeda extra para seu rei. A arrecadação de fundos é sempre oriunda de eventos relacionados aos aldeões, como caça, pesca, fazendas, exploração e mais. Essas mesmas moedas são o que garantem a evolução do seu reino.
Entretanto, nem tudo se resume a apenas cuidar do seu novo reino. Aqui a ameaça é sempre constante e vem na forma dos Greed, monstros que saem de portais e vão atacar sua cidade quando a noite cai. O intuito é sempre tentar se defender dos ataques, que vão ficando pior a cada dia que se passa, até conseguir juntar força suficiente para contra-atacar. O progresso consiste principalmente em resistir a isso enquanto tenta evoluir seu reino local até avançar pelas ilhas do jogo.
Essa dinâmica da necessidade rápida da troca de recursos e evolução, junto com a defesa da base e o planejamento de um ataque faz o jogo ter um ritmo bem intrigante. Um detalhe negativo disso é a exploração, que acaba por quebrar um pouco balanço. O jogo todo funciona sidescroller, ou seja, você se desloca apenas horizontalmente e para os dois lados. Imagine ter que explorar a extrema direita do mapa e depois ter q voltar para o centro de sua base, se preparar e aí explorar a extrema esquerda. Eventualmente isso irá acontecer várias vezes ao longo da sua jogada e, mesmo que sua montaria possa acelerar o processo, acaba se tornando bastante cansativo com o tempo.
Há eventos que vão acontecendo durante cada mapa. Uma nova montaria pode surgir, recursos inesperados e úteis são encontrados e mais. Mesmo que de forma mais predefinida, isso ainda acaba surgindo como opções extras ao seu reino e que valem um empenho a mais aqui.
Algo a ser elogiado é a parte artística do jogo, não apenas o estilo pixelado. As mudanças de clima, estações, eventos como névoa e chuva ou até mesmo o ciclo de dia e noite são um deleite aos olhos. Realmente o trabalho visual é bastante agradável.
Ainda que o jogo já tenha sido lançado há quase 2 anos atrás, seu suporte tem sido excelente desde então. Há 2 expansões temáticas que dão uma nova vida ao jogo. A primeira é a Shogun, que leva o título para um ambiente oriental, inspirado no Japão Feudal. Aqui é incluído também visual do mapa, NPCs, monarcas distintos, montarias, atividades extras e mais. Tudo seguindo a mesma qualidade artística de antes.
A outra expansão, e talvez a mais interessante, é a Dead Lands, com tema trazido de Bloodstained: Ritual of the Night. A obra de Koji Igarashi cede aqui certo background já apresentado assim como novos reis, montarias únicas, estilo artístico e muito mais inspirado no jogo.
Dead Lands talvez já apeteça o desejo de qualquer fã de Bloodstained e Castlevania em experimentar Kingdom Two Crows, mesmo que apenas pelas inspirações artísticas a princípio. Entretanto, é fácil juntar isso ao que o jogo realmente oferece e se perder por horas ali.
Há muita qualidade suficiente para que novatos e veteranos no estilo se aventurem no jogo, porém, alguns fatores podem desanimar ambos. Mesmo que simplista, o jogo não te mostra vários detalhes, cabendo ao jogador deduzir como algumas funções funcionam. Certas melhorias, recursos e até mesmo a oportunidade de contra-atacar não são explicadas ou até mesmo difíceis de descobrir como realmente funcionam.
Como o jogo vai ficando cada vez mais agressivo com o passar do tempo, tentar entender tudo demandará bastante do processo de tentativa e erro, o que pode causar certa frustração. Por exemplo, você pode ter construído uma boa base do seu reino, mas precisa expandir para a próxima ilha e não sabe como. Enquanto isso, os Greeds ficam mais agressivos e é fácil começar a perder recursos ou demandar ainda mais tempo de evolução, o que pode acarretar na perda do reino e precisar recomeçar novamente, mas com esse conhecimento adquirido. Isso logicamente vai aumentar sua jogabilidade, mas também várias horas perdidas em algo que seria melhor usado com um pouco mais de explicação.
Ainda que notáveis, poucos pormenores existem aqui. Para os mais puristas, a simplicidade pode ser um problema, já que uma maior complexidade do jogo só acontece devido ao ritmo mais acelerado e em estágios avançados da campanha. A exploração, como já dito, se torna cansativo com o tempo e acaba por ser monótona ao fim de cada estágio do jogo.
As expansões temáticas e o micro gerenciamento do seu reino ainda são excelente e valem a pena ser conferidos. Os defeitos encontrados podem ser ignorados e, com mais experiência no jogo, vários até minimizados. Aos fãs do estilo e também dos temas artísticos adicionados, Kingdom Two Crowns é um título que deve agradar bastante. Outro grande benefício no jogo é a oportunidade de poder jogar cooperativamente local e online com seus amigos, o que facilita bastante o sistema de exploração.
Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Raw Fury.
Veredito
Apesar de alguns deslizes no design de exploração e nos conceitos mais avançados do jogo, Kingdom Two Crowns se beneficia imensamente do seu estilo artístico, das expansões temáticas recebidas, principalmente Dead Lands inspirado em Bloodstaind, e na simplicidade da jogabilidade, sendo uma boa pedida aos fãs do estilo.
Veredict
Despite some slips in exploration design and the game’s more advanced concepts, Kingdom Two Crowns benefits immensely from its artistic style, from thematic expansions received, mainly Dead Lands inspired by Bloodstaind, and from the simplicity of the gameplay, being a good game to fans of the style.