Ion Fury – Review

Quando o crime no estado de Washington se instala e faz com que as autoridades governamentais apliquem a Lei Marcial de forma permanente, as forças militares tomam as ruas da cidade junto com todo um armamento cibernético que inspira o caos e um posicionamento ditatorial. Antes considerado um estado forte por conta da economia e pelo senso de liberdade, a capital dos Estados Unidos chega ao futuro destruída pela tecnologia e vazia de civilidade que antes compunha um cenário de riqueza e de prosperidade.

Liderados pelo Doutor Heskel, o exército cibernético é considerado a forma mais eficiente de se manter o curso da política e da segurança, porém nem todos os cidadãos e militares acreditam ou concordam com a situação do momento e, frente à situação, formam uma força tarefa para combater a organização imposta. O grupo denominado GDF conta com a agente Shelly Harrinson que, em seis meses como integrante do grupo, foi a mulher que mais liderou combates no pelotão se destacando pela sua habilidade com explosivos e pela sua personalidade durona. Mergulhada em um inferno urbano, a agente enfrentará o Doutor Heskel e toda a ordem Marcial para estabelecer um novo começo para Neo Washington.

Ion Fury

Ion Fury é o mais recente título da 3D Realm para consoles e busca trazer para a atual geração de vídeo games uma lembrança dos antigos shooters que conquistaram os jogadores da década de 90 gerando a primeira leva de fãs de jogos de PC. Com ação frenética, elementos de mecânica tradicional, uma jogabilidade brilhante e uma boa dose de diversão, o game da produtora é uma obra bem-vinda e altamente direcionada ao público old school que vai conseguir reconhecer as referências e aproveitar tudo que o jogo tem a oferecer.

Um dos maiores destaques de Ion Fury é sua arquitetura que, antes de organizar os elementos que vão compor o game, tem por objetivo prestar uma homenagem aos grandes jogos de sucesso do gênero como Quake e Doom que popularizaram um novo formato e trouxeram exclusividade para aqueles que optaram por jogar com mouse e teclado.

Os jogadores mais atentos vão perceber que a estrutura de composição do level design é pautada em elementos típicos de um shooter à moda antiga: cenários fechados, corredores estreitos, locais públicos como shoppings, restaurantes, empresas até os banheiros que contém munição e kits de primeiros socorros além da possibilidade de ver a personagem refletida no espelho (quem nunca?). Se jogado com cuidado, é possível perceber claras referências a diversos outros games, mas que não são feitas de forma barata em busca de obter sucesso a partir de trabalhos de outras pessoas, mas sim desenvolvidas com muito cuidado e respeito aos jogos que definiram toda uma era.

Ion Fury

Ion Fury não seria um bom título caso se ocupasse em apenas trazer a nostalgia de jogar jogos de tiro do passado e, nesse sentido, a desenvolvedora mostra um trabalho competente apresentando um game sólido e com muita personalidade não deixando a desejar a nenhum outro da categoria. Todos os fatores técnicos funcionam bem em conjunto e permitem máximo aproveitamento da experiência prezando, principalmente, por uma jogabilidade herdada dos clássicos e bem adaptada aos controles atuais sem perda de funcionalidade.

Os comandos de Ion Fury são seu maior destaque uma vez que permitem avançar pelo jogo com uma mecânica baseada em correr e atirar como aspecto principal e usar itens e realizar ações pontuais como um aspecto secundário. A resposta do controle é efetiva e o público que já conhece o gênero se sentirá confortável ao retomar um controle objetivo e funcional que atende as demandas do jogo. Deslizar pelos estágios como se estivesse em uma pista de sabão, coletar itens flutuantes pulando pelas quinas da parede e se esconder atrás das portas para evitar o inimigo é uma das muitas funcionalidades que estarão disponíveis de imediato.

A questão da homenagem é tão forte no game que mesmo em busca de uma identidade própria, os produtores valorizam o gênero e entregam qualidade junto com nostalgia ao recriarem os comandos da jogabilidade que lembram de uma maneira muito peculiar os controles do lendário Perfect Dark. Exclusivo do Nintendo 64 e lançado no ano 2000, a obra prima provou à comunidade que excelentes shooters poderiam estar presentes em consoles de mesa.

Todo o formato está presente: a movimentação da agente Harrinson (personagem feminino assim como Joanna Dark no título da Rare) os pulos, o agachamento, a sensação do tiro de acordo com a arma e todo um conjunto de ações brilhantemente colocados no jogo com o mesmo “feeling “de antes. Abrir portas ou arremessar granadas tem o mesmo tempo de resposta de Pefect Dark se encaixando perfeitamente no estilo de jogo.

Além disso, outras referências como as cores, os ambientes e os efeitos sonoros são idênticos e constituem uma parte muito legítima da homenagem e também do gameplay apesar de não terem produzido o referido título, é possível pensar que a equipe guardou alguma inspiração do game e implantou um pouco da sua alma como uma agradável referência. O Know-how da empresa que produziu Max Paine e Duke Nukem, aliados ao um estilo e propósito bem definidos, fazem de Ion Fury um jogo obrigatório para os veteranos e um convite aos novos jogadores.

Ion Fury

Os demais fatores técnicos são de igual qualidade e fornecem um forte suporte às dinâmicas sempre mantendo fidelidade à proposta. Os gráficos desse shooter fazem com que os jogadores mergulhem em um misto de passado, pelo visual datado e com texturas borradas, e de presente por conter elementos de fundo e luminosidade que nãos seriam possíveis em uma programação de vinte anos atrás. Essa combinação entre passado e presente é realizada de forma sutil e caprichada que pautadas na questão da referência constroem a particularidade do jogo.

O visual e a jogabilidade formam a base necessária para que tudo funcione e a ação constante de Ion Fury é desenhada conforme você avança pelos ambientes eliminado grupos de inimigos e passando por salas em busca de munição e curas. Quando os oponentes são derrotados, a ação se concentra em realizar pequenas tarefas como ligar geradores, usar elevadores e encontrar cartões de acesso para alcançar outras áreas. Ao completar um objetivo, uma nova horda de inimigos aparece aumentando o desafio de acordo com cada fase. Além das tarefas a serem cumpridas por etapas, diversos segredos como novas armas, itens reservas e munição estão escondidos e ajudam com andamento do jogo para passar por momentos de mais perigo. Ao final de cada estágio, você deve enfrentar um desafio que se baseia no famoso sistema de hordas de inimigos que devem ser eliminados em uma determinada quantidade pondo à prova suas habilidades de tiro e esquiva.

Os oponentes que circulam por todos os cenários não apresentam grande variedade e são compostos de atiradores, policiais e aranhas cibernéticas que organizados em grandes quantidades oferecem um bom grau de dificuldade que resulta em algumas mortes que são constantes desse tipo de jogo. Para enfrentar toda essa legião, a agente Harrinson conta com um arsenal de armas eficientes que inclui pistolas, revólveres, metralhadoras, bestas e armas de mão como granadas e cassetetes. Cada arma possui uma velocidade de tiro e coice específicos que podem ser sentidos na reposta do controle e atingem os oponentes de forma distinta: enquanto o revólver clássico tem velocidade e eficácia equilibradas, o lança granadas é mais lento, porém letal. Outro aspecto marcante da função de tiro é a ausência da mira com zoom que em jogos atuais é uma característica obrigatória, mas que em Ion Fury faz parte da constituição de um aspecto mais “raiz “do jogo.  Assim como todo bom shooter, organizar uma estratégia, coletar munição e itens de cura de maneira eficiente pode garantir mais chances de sucesso em uma missão.

Ion Fury

A trilha sonora embala as missões cheias de ação e é outro aspecto bem trabalhado do jogo que conta com temas de música eletrônica com batidas em um estilo mais retrô, mas que são habilmente atualizadas para um contexto mais contemporâneo para que o game não corra o risco de soar desatualizado. A sonoplastia vai de encontro com a personalidade pensada para o título e conta com sons das armas, com os passos da personagem e elementos particulares como explosões, ações pontuais como apertar botões que, de uma forma coerente, não apresentam a complexidade de grandes títulos que se destacam nesse quesito como Metal Gear The Phanton Pain e Resident Evil, e não fazem feio no contexto em que são aplicadas.

A agente Harrison tem perfil de mulher durona construído pelas atitudes que toma e pelas frases de efeitos que profere geralmente de forma exagerada, mas executadas com um certo tom cômico que não deslegitima e nem desvirtua o trabalho sonoro desenvolvido. Durante os momentos de maior ação, Shelly Harrinson enuncia suas frases de efeito como: “I like the way you die”, We’re done when I say it’s done”, “Die your bastards” além da famosa interjeição norte americana “Boom” especialmente quando o tiro acerta o inimigo com precisão. Todo o conjunto sonoro de Ion fury fecha um pacote equilibrado que ajuda a destacar o que o jogo tem de melhor que é mata-mata constante com toques de nostalgia.

O produto entregue pela 3D Realm vai fazer com que os jogadores tenham à disposição boas horas de diversão principalmente se você for do tipo “completionist”e sair em busca de todos os segredos, troféus e tentar terminar a campanha em todas as dificuldades. Os níveis de dificuldade vão desde o mais fácil até uma modalidade mais extrema em que a munição e a vida é mais escassa e o aglomerado de oponentes torna-se mais letal que o habitual fazendo com que cada novo inimigo que apreça eleve a grau de mortalidade em níveis exponenciais.

Ion Fury

Além desse fator replay, sustentado na base te tentativas e estratégias, o game dispõe de alguns extras que podem ser acessados no menu principal sendo um deles o famoso modo horda em que o jogador é colocado em uma arena para destruir quem aparecer pela frente. A dinâmica desse modo considera a proporção tempo: inimigo, ou seja, além de um número necessário a ser batido, o tempo de permanência na arena é calculado de acordo com os inimigos acertados criando uma situação de tensão típicas desse tipo de jogo.

Sendo um shooter fortemente pautado em um modelo mais antigo, a principal característica de Ion Fury é também seu aspecto mais isolador. Isso porque suas fases, level design e mecânicas seguem um padrão de ação repetitiva que é apreciado pelos jogadores de longa data, mas que estão longe de atender as demandas e configurações dos modelos atuais. Uma participação mais incisiva do jogador, que necessitava explorar todos os cenários em busca de rotas e itens hoje é substituída por elementos de ação ligadas à narrativa proposta por linearidade e decisões pontuais fazendo com que os games se assemelham mais a outras formas de contar um enredo. O fato de Ion Fury não seguir essa tendência é a prova de que a produtora prezou pelo um modelo de jogo em especial atraindo o público para uma experiência completa, satisfatória e competentemente nostálgica.

Veredito

Ion Fury é uma volta ao tempo em grande estilo dedicado aos jogadores “old school” trazendo de volta elementos de shooter clássicos que compõe uma experiência vívida através de uma ótima arquitetura que inclui gráficos, trilha sonora e uma jogabilidade herdada diretamente dos anos 90. A agente Harrinson representa o que o gênero tem de melhor e será uma boa companhia para encontrar o doutor Heskel, mas a própria identidade e propósito do jogo podem afastar o público habituado a cutscenes e linearidade.

80

Ion Fury

Fabricante: VoidPoint LLC

Plataforma: PS4

Gênero: Tiro em Primeira Pessoa

Distribuidora: 3D Realms / 1C Company

Lançamento: 14/05/2020

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Veredict

Ion Fury brings the goold old days back in great style with a classic shooter that offers a vivid experience through a balanced game architecture including graphics, soundtrack and a gameplay inherited from the 90’s. Agent Harrinson represents the best in the genre and is a good company to find doctor Heskel within a frenzy action game. However, players used to cutscenes and linearity can feel uncomfortable with logic and strategy gameplay.


Renan Gaudencio Vale
Renan Gaudencio Vale
Linguista, publicitário professor, tradutor nas horas vagas e acima de tudo um gamer dedicado. Como fã da cultura pop e geek, acredito que os jogos eletrônicos sejam mais que diversão e sim uma representação muito particular no mundo. Jogador há quase 30 anos, entendo o vídeo game como uma experiência única que envolve narrativas profundas, personagens encantadores e um ligação pessoal que constrói um elo único com a emoção. Aprecio os grandes títulos e franquias famosas, mas nos últimos tempos, tenho me dedicado aos jogos indies com muito entusiasmo.