Dentre todos os contos e lendas originárias de diferentes povos ao redor do planeta, uma das mais famosas são as Lendas Arturianas. Parte de um conjunto maior de histórias de origem celta sobre a história antiga das ilhas britânicas, os feitos do Rei Artur e seus honrados guerreiros, suas buscas pelo Santo Graal e a cidade mística de Camelot são elementos que povoam o imaginário humano até hoje.
É natural então que sejam obras fácil e comumente adaptadas para diferentes produções multimídia, cada qual com sua própria reinterpretação sobre os valores dos honrados cavalheiros da távola redonda e a dinâmica entre eles. Uma dessas interpretações chega agora ao PS5 na forma de King Arthur: Knight’s Tale, um interessante RPG Tático inspirado em clássicos ocidentais do gênero e com uma interpretação bem distinta sobre esses contos.
Desenvolvido pela NeocoreGames e lançado para PC em 2022, é uma rara obra que não te coloca no ponto de vista do rei titular dos contos. Ao contrário, o jogador assume o controle de Mordred, um cavaleiro que é geralmente apresentado nas lendas como um dos estopins para a queda de Artur, algo que também está presente aqui, já que o jogo se inicia logo após Mordred assassinar Artur. Quando ambos são ressuscitados, Mordred é convocado pela Dama do Lago como o único capaz de impedir um Artur corrompido de acabar com Avalon.
É uma história que funciona bem mas que exige um certo conhecimento prévio das Lendas Arturianas para se aproveitar ao máximo. Afinal, o jogo basicamente começa do final da lenda de Artur e usa isso para contar uma narrativa totalmente nova. Caso você tenha esse conhecimento prévio sobre as lendas e sobre seus personagens, você irá gostar, visto o quão bem a narrativa se desenvolve a partir daí e da mudança de perspectiva ao se colocar Mordred no papel de anti-herói.
Merece especial destaque o quão bem escrita é a interação entre os personagens. Mordred é visto como um vilão por grande parte dos outros cavalheiros que você irá encontrar e recrutar para a sua equipe, mas mesmo sabendo o que ele fez em uma vida pretérita, a necessidade de parar Artur acaba unindo guerreiros de visões bem diferentes. Isso é, se você quiser agir assim e não só ser um vilão propriamente dito.
A sua relação com diferentes personagens é baseada num sistema de moralidade presente no jogo, muito similar ao que tantos outros RPGs costumam fazer. Essas decisões afetam dois eixos principais, baseados em duas dinâmicas conflitantes: Tirania x Benevolência diz sobre como você trata os seus súditos; Cristianismo x Paganismo diz sobre a sua relação com as diferentes religiões de Avalon.
A depender do seu alinhamento em cada um desses eixos, é possível recrutar certos cavalheiros, com seu grupo podendo totalizar, convenientemente, um total de 12 guerreiros. Mordred pode dar títulos da corte aos seus aliados, aumentando assim sua lealdade e, com isso, desbloqueando novas habilidades, além daquelas disponíveis nas respectivas árvores de melhorias. Cabe aqui dizer que os membros da sua equipe se encaixam nos já conhecidos papéis de personagens em um RPG, com guerreiros, arqueiros, magos e por aí vai.
Em combate, sua equipe será formada por Mordred e três companheiros em um sistema bem familiar a quem jogou títulos como X-COM, sendo possível andar pelos mapas à lá Miasma Chronicles ou Wasteland. Cada personagem tem pontos de habilidade que podem ser usados em seu turno, com ataques, movimentação e habilidades especiais tendo custos diferentes. Pontos não-gastos podem ser economizados para o turno seguinte, dando maior estratégia às suas ações.
Posicionamento é essencial aqui, com bônus de dano ao atacar seus inimigos pelas costas. Seus personagens e alguns guerreiros inimigos possuem também bônus de defesa por suas armaduras, então é fundamental saber quando e como se expor sem se colocar excessivamente em risco, já que há uma barra de vitalidade cujo dano é “permanente”. O combate é bem funcional e um dos melhores elementos do jogo, te forçando a pensar bastante em suas ações, por mais que elementos aleatórios como precisão de ataques não estejam presentes.
Há um último elemento importante do jogo que é a possibilidade de melhorar a sua base. O jogo te permite transformar todos os castelos existentes ao redor de Avalon, incluindo Camelot, sendo possível construir uma série de instalações diferentes que te permite minerar recursos, treinar seus soldados que não estão na sua equipe principal, melhorar os equipamentos dos seus guerreiros ou recuperar o dano causado a sua vitalidade.
Esse sistema de gerenciamento é bem rico e profundo, sendo bastante afetado pelas decisões que você vai tomando ao longo do jogo. É justamente essa profundidade que talvez afaste jogadores mais inexperientes já que King Arthur: Knight’s Tale não é um jogo amigável para novatos. Basicamente tudo que você fizer terá consequências para as suas ações e saber como gerir o risco x recompensa é fundamental.
Dito isso, se você é um veterano de jogos de estratégia ou RPGs Táticos, você irá se sentir em casa aqui. Há uma profundidade e riqueza absurdas no pacote entregue no PS5, com o esse pacote já vindo com as DLCs disponíveis na versão de PC inclusas. Há ainda um modo roguelite e um Skirmish Mode voltado para o combate, com até um multiplayer 1×1 para se aproveitar no seu sofá.
Fica claro então que King Arthur: Knight’s Tale é um ótimo jogo para um nicho muito específico que são fãs de RPGs Táticos e fãs das Lendas Arturianas. Dito isso, se você se encaixar nesse nicho, você com certeza irá gostar bastante do jogo que é entregue aqui. Cabe dizer que a ambientação é bem rica, com um clima bem opressivo e sombrio que enriquece bastante a narrativa só pelo quão pesado tudo parece.
King Arthur: Knight’s Tale pode não ser um jogo que chega com muito barulho e que não atende a nichos muito populares, mas é um jogo que merece a atenção para fãs de RPGs. Ele tem muito conteúdo e muita diversão a oferecer e aqueles que lhe derem uma chance com certeza não irão se arrepender.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela NeocoreGames.
Veredito
King Arthur: Knight’s Tale é um bom RPG tático com bastante profundidade em seu sistema de combate e de gerenciamento de base, além de uma rica história baseada nas Lendas Arturianas. Se você é fã do gênero e das histórias do Rei Artur, você tirará bastante diversão da enorme quantidade de conteúdo desse ótimo título.
Veredict
King Arthur: Knight’s Tale is a good tactical RPG with a lot of depth in its combat and base management system, as well as a rich story based on the Arthurian Legends. If you’re a fan of the genre and King Arthur stories, you’ll get a lot of fun out of the huge amount of content in this great title.