Exoprimal – Review

Quando Exoprimal foi revelado, em março de 2022, confesso que a primeira impressão que tive foi aquela clássica frase: “Mas para que isso?!”. Realmente, Exoprimal é um jogo polêmico. Não apenas pela esquisitice de combinar a temática de dinossauros com a tecnologia de exotrajes avançados, mas por chegar em um momento onde muitos fãs da Capcom aguardam, ansiosamente, na esperança por um anúncio do retorno de uma de suas franquias mais clássicas.

De cara, muitos verão isso como o maior “defeito” de Exoprimal, pois ele já nasceu carregando uma cruz bastante pesada por não ser o jogo sobre dinossauros da Capcom que boa porte dos gamers gostaria de ver. Apesar disso, os que conseguirem desvinculá-lo desse estigma ainda poderão encontrar um título divertido, principalmente quando desfrutado na companhia de amigos. Claro que, nem por isso, Exoprimal está livre de problemas. Então minha ideia aqui é destrinchá-lo de forma justa, apontado seus pontos altos e baixos, mas jamais o criticando simplesmente pelo sentimento de “ah, por que fizeram isso ao invés de Dino Crisis?!”.

Exoprimal se passa em um futuro não tão distante, no ano 2043, em uma realidade onde a humanidade foi quase extinta, após um evento cataclísmico abrir fendas no espaço e tempo, que culminaram com uma invasão de milhares de Dinossauros. Para enfrentar essa ameaça, a Aibius, uma empresa líder na exploração de um combustível de alto desempenho, chamado de Hi-Xol, decide apostar em um programa de desenvolvimento de exotrajes de combate.

Dentre esses exocombatentes está Ace, nosso protagonista, um membro do esquadrão dos tubarões-martelo. Durante uma de suas missões para investigar um incidente na Ilha de Bikitoa, a nave da equipe sofre um acidente, e é misteriosamente transportada três anos para o passado por uma inteligência artificial avançada, chamada de Leviatã. Essa IA recruta exocombatentes de todo o mundo para participar de simulações de jogos de guerra contra dinossauros, na intenção de coletar informações que possam aprimorar a eficiência dos exotrajes para serem usados no futuro.

Ao longo de sua estadia forçada na Ilha, a equipe consegue reunir evidências que dão a entender que um propósito maior pode estar por trás dos jogos de guerra. Afinal, o que causou o evento de 2040? Qual seria o segredo dessa Ilha? E qual o verdadeiro motivo do Leviatã realizar seus jogos de guerra sempre repetindo o mesmo dia no passado?

Essas perguntas serão respondidas através de um modo história que, em Exoprimal, funciona de uma maneira um pouco diferente do tradicional single player. Todo o desenvolvimento da história é revelado conforme você joga partidas multiplayer. A cada quantidade predeterminada de partidas concluídas, você terá acesso à novas cutscenes e informações de campo através de arquivos de áudio e texto.

Também há gatilhos em sua progressão que liberam missões especiais dentro do modo multijogador, o que não deixa de ser uma ideia interessante, mas que na prática não funciona muito bem. Porque o maior problema de Exoprimal está em sua limitação de conteúdo.

Nas primeiras horas do game, fiquei bastante entediado com a pouca variação de mapas e objetivos. Mas isso foi mudando conforme progredi na história. Após um certo tempo, Exoprimal se tornou um jogo bem mais envolvente, ao introduzir novos objetivos, maior intensidade e variedade de inimigos, e até missões cooperativas para 10 jogadores. Só que para chegar nesse ponto foram necessárias horas e mais horas de repetição, algo que, infelizmente, muitos jogadores não terão motivação, nem paciência, para desbloquear.

Para agravar mais esse problema, você só conseguirá jogar partidas com objetivos mais avançados se for pareado com jogadores de nível próximo ao seu. Se por acaso houver jogadores novos no mesmo lobby, isso fará com que suas partidas fiquem limitadas aos objetivos iniciais do jogo.

No momento do lançamento, apenas o modo Sobrevivência Jurássica está disponível. Neste modo, times de 5 jogadores competem em partidas multijogador que mesclam elementos de PVE com PVP, criando situações bastante frenéticas e também dinâmicas. Cada partida é dividida em 5 objetivos aleatórios, e a equipe que os concluírem primeiro será decretada a vencedora. Os 4 objetivos iniciais acontecem sempre no sistema PVE. Esses objetivos variam desde o tradicional modo de sobrevivência, passando por defesa de pontos de controle, eliminação de alvo de alto valor, dentre outros.

No quinto objetivo é quando as coisas se tornam um pouco mais agitadas, onde o elemento de PVP entra em cena. Durante essas fases, os times se enfrentam em objetivos competitivos, tendo sempre que lidar com IA ao mesmo tempo. Uma das características mais divertidas de Exoprimal é quando assumimos o controle de um dinossauro para invadir o mapa do time inimigo e atrapalhar seu progresso.

Para os que não quiserem participar das partidas PVP, a Capcom deixou a possibilidade de escolher a forma com que prefere jogar a última rodada. Antes de organizar a partida, você poderá priorizar partidas onde o último objetivo será apenas de PVE, de PVP ou aleatório. Caso opte pelas partidas aleatórias, receberá um multiplicador bônus de 20% sobre o seu ganho de pontos de experiência ao final de cada partida.

Um outro multiplicador de bônus de experiência também é concedido à equipe vencedora. Isso traz para Exoprimal um grande foco no conceito de trabalho em equipe. São 3 classes principais: tanque, suporte e ofensiva. Para cada classe, há também algumas subclasses. Os tanques são responsáveis por fortalecer a defesa da equipe e atrair a atenção dos inimigos; o suporte faz o papel de médico e também de imobilizar seus adversários; já a ofensiva, como o nome bem diz, é responsável pela linha de frente, eliminando os inimigos o mais rápido possível.

As classes possuem ótima sinergia, por isso é de suma importância que sua equipe seja bem equilibrada. Por exemplo, um time sem suporte terá baixíssima chance de sucesso, assim como uma equipe repleta deles ficará com um dano quase insignificante. Esse é um dos pontos fortes de Exoprimal, mas também é onde mora um de seus problemas. Por mais que você seja um jogador acima da média, dificilmente conseguirá fazer a diferença sozinho. Com isso, depender de jogadores aleatórios pode tornar sua jogatina extremamente frustrante, ao passo que as equipes organizadas por parties terão enorme vantagem.

Caso você queira aproveitar melhor sua jornada por Exoprimal, é extermamente recomendado que o faça junto a alguns amigos, não só para tornar sua experiência menos decepcionante, mas também pela enorme quantidade de risadas que vocês poderão compartilhar. Porque, dentro de toda sua bizarrice, Exoprimal se mostrou surpreendentemente divertido.

Alguns momentos durante a partida beiram a comédia, como as situações onde ondas e mais ondas de milhares de raptores despencam de um buraco aberto no céu, ou quando você é arremessado violentamente por um tricerátops ensandecido. Além disso, também há uma base sólida de gameplay em Exoprimal. As mecânicas funcionam muito bem. Mesmo jogando com uma classe de suporte, que causa pouquíssimo dano, você ainda poderá terminar a partida como o jogador mais valioso. As subclasses de combate corpo a corpo são bem interessantes, afinal, espancar dinos com seu punho de aço ou esfacelá-los com uma katana é muito divertido. Nas subclasses que fazem uso de armas de fogo, a sensação de atirar também bastante satisfatória.

O problema é que, por mais que o gameplay apresente todas essas qualidades, o sistema de progressão do jogo é bem limitado. Além de quase toda a história ser presa ao progresso de seu personagem, a maioria de itens obtidos como recompensa são cosméticos. Até temos algumas subclasses para serem liberadas conforme subimos de level, assim como alguns modificadores e uns poucos itens de arsenal. Mas não há melhorias para armas e para os exotrajes além disso, tampouco habilidades adicionais.

Claro que, desde o início, a Capcom jamais escondeu que a proposta de Exoprimal é a de ser um jogo contínuo, onde as atualizações trarão mais conteúdo, como variações de subclasses e novos modos de jogo. Para cada temporada, um passe premium poderá ser comprado. Confesso que não sou adepto à prática de passes de temporada em jogos pagos, mas, em Exoprimal, todos os itens são apenas cosméticos, não oferecendo nenhum tipo de vantagem para os que optarem por adquiri-los.

Também já foi anunciado pela Capcom que as próximas atualizações trarão crossovers com franquias clássicas da desenvolvedora, como Street Fighter e Monster Hunter. Esse tipo de conteúdo abre um leque de alternativas para o jogo, e será fundamental para garantir que Exoprimal consiga se manter em evidência por mais tempo.

Algo muito elogiável em Exoprimal é sua parte técnica. O design gráfico e de áudio é muito bom. E mesmo a decisão de dublar a voz do Leviatã por meio de inteligência artificial, deixando todo o restante das vozes no áudio original, por mais que seja estranha, não chega a prejudicar o jogo. Todo o conteúdo é legendado em português brasileiro, o que além de facilitar a compreensão da história, também ajuda bastante na navegação pelos menus.

A performance no PS5 é excelente. Há pouquíssimas quedas de frames, mesmo em momentos quando a tela está infestada por dinossauros, ao mesmo tempo que os jogadores fazem uso de diversas habilidades. Um ponto negativo fica por conta de alguns tempos de carregamento mais longos, levando à cansativas esperas entre as partidas.

Se antes de começar a jogar Exoprimal minhas expectativas eram baixíssimas, no fim das contas o resultado foi positivo. Só que em seu estado atual, por mais que sua base de gameplay seja sólida, falta conteúdo que justifique seu investimento em Exoprimal. No entanto, isso pode mudar em um futuro próximo caso a Capcom consiga manter o jogo atualizado, renovando constantemente seu conteúdo.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Capcom.