Dying Light 2 – Stay Human é facilmente um dos jogos mais aguardados de 2022. O sucessor do melhor título já desenvolvido pela Techland sofreu um pouco até alcançar seu lançamento, com diversos adiamentos e até tendo sumido do mapa por um tempo, mas finalmente está entre nós e promete trazer novamente o universo de combates brutais e parkour para seus fãs.
Após mais de 15 anos dos eventos de Harran e da jornada de Crane, Dying Light 2 muda um pouco a perspectiva e dá novos ares ao jogo apresentando a cidade de Villedor e um novo protagonista. A intenção é que o jogo não seja uma sequência direta em termos de história, mas sim uma nova jornada no mesmo universo.
O jogador agora acompanha Aiden, um peregrino que aprendeu a viver fora dos muros das grandes cidades e que decide voltar para a última delas remanescente na busca por sua irmã, Mia. Em Villedor, Aiden descobre que sua jornada dependerá de muito mais do que só seguir uma pista, mas estará em meio aos conflitos das facções da cidade que disputam seu controle, descobrirá os resquícios da GRE e como interferiram com sua família e ainda será responsável por diversas ações que gerará consequências por toda a cidade.
A cidade de Villedor é disputada por facções de Sobreviventes que planejam uma coexistência pacífica, os Pacificadores que agem em prol de todos com viés militar e rigidez e os Renegados, que de forma abandonada e isolada, tentam garantir sua sobreposição de qualquer maneira. Há uma certa trégua que mantém cada facção no seu local, mas é algo frágil e sempre afetada por qualquer disputa, como mostrará no jogo. Além disso, obviamente, os infectados estão por toda parte, sendo quase algo orgânico ao cenário e uma ameaça constante.
A evolução natural de um jogo quando uma sequência chega é visto aqui. Diversos aspectos são aprimorados e entregam agora uma experiência muito mais coesa como um todo, principalmente a história. Se a Techland saiu de Dead Island onde o nível de roteiro e narrativa era quase nulo para criar uma história aceitável em Dying Light, agora isso é exponenciado ainda mais na sequência. A evolução disso passa agora principalmente pelo sistema de escolhas e consequências que vão afetando os rumos da narrativa, com o jogador tendo que tomar decisões que podem impactar para cada lado das pessoas da cidade. O peso de cada consequência é muito bem acertado aqui, entregando destinos improváveis e soluções diversas, como mortes ou não de personagens importantes e até o destino de locais inteiros do mapa.
Com a ajuda desse sistema, a história de Aiden é muito bem entrelaçada com o mundo e seus personagens. Eventualmente, o jogador terá que se relacionar com diversos personagens do jogo, principalmente das duas primeiras facções comentadas, e tomará partido, com isso alterando os próximos passos de sua história. Por exemplo, decida ficar do lado dos Pacificadores em alguma disputa e siga o caminho deles para alcançar um objetivo, mas de forma diferente de como seria com os Sobreviventes. Apesar disso, há uma linha definida para a história e ela acontecerá de toda forma, mas os caminhos serão distintos e que depois se juntarão no resultado final da campanha, com finais diferentes para o protagonista e outros personagens.
Se a história já recebeu sua parcela de evolução, o mundo da série sofreu aqui uma grande repaginada. O sistema de dia e noite ainda é crucial, mas bastante diferente do que era antes. Se no primeiro jogo o dia era o momento de atividades e a noite vista apenas como um ponto de fuga, tudo foi remodelado para que o jogador consiga usufruir melhor de cada ciclo. Dying Light 2 entrega um peso específico para cada parte, com o dia sendo um momento mais ameno no combate e mais facilitador na exploração, mas bem menos recompensador. Já a noite, repleta de inimigos perigosos à solta, acaba entregando os recursos mais valiosos e também os momentos mais eletrizantes.
Parte disso é explicado por como Villedor controla a infecção. Na cidade, todos já estão praticamente infectados e controlam o vírus mediante a luz solar, luz ultravioleta e consumíveis. Um dispositivo mostra o quão próximo de uma transformação o indivíduo está, sendo necessário estar sempre exposto a algum dos agentes que controlam isso, inclusive Aiden. Sendo assim, o jogador pode explorar a noite e locais fechados longe desses pontos de luz, mas por tempo limitado.
Enquanto o dia é mais corriqueiro para qualquer atividade e os infectados estão reclusos em ambientes fechados, à noite, quando os monstros estão soltos, o jogador pode adentrar as estruturas, agora menos protegidas, na busca de pilhar recursos importantes para o sistema de criação do jogo. De toda forma, como dito, há limites para isso e a noite é sempre um fator de risco extremo, tanto pelos monstros ou pela infecção a ser controlada no próprio jogador.
Essa mudança em fazer da noite tão importante ou mais do que o dia cria uma maneira melhor de aproveitar o mapa em ciclos diferentes de tempo. Cada um com sua vantagem e desvantagem, mas que colocará o jogador a explorar nos dois períodos e não mais apenas em 1 como no primeiro jogo. A noite não é mais sua inimiga mortal, mas extremamente útil se usada da melhor maneira para coleta de recursos. Há ainda atividades únicas de cada período, com algumas relacionadas aos infectados exclusivas da noite e outras, como os desafios de parkour, melhores para o dia.
Além disso, explorar em cada ciclo tem impacto na evolução. Aiden precisará de inibidores para aperfeiçoar seu fôlego e vida. Para isso é preciso procurar caixas que possuem os inibidores e, normalmente, ficarão em prédios repletos de infectados, que são mais fáceis de invadir à noite, ou em atividades mais complexas e noturnas, como eliminar as anomalias causadas pelo vírus. De toda forma, o progresso do jogador fica atrelado à exploração. Fora as recompensas vindas de missões concluídas, ir atrás de melhorias é algo fundamental para conseguir principalmente mais pontos de fôlego, o que vai permitir acessar estruturas de demandam um parkour mais extenso.
A construção de Villedor passa muito pelas atividades disponíveis. Ainda no esquema de escolhas e decisões, várias atividades vão estar relacionadas a isso. Libere o acesso a uma caixa d’água e decida para quem entregar o controle da mesma para ter recompensas distintas. Os Pacificadores ajudarão com mudanças pelo mapa que vão facilitar o combate com inimigos, enquanto os Sobreviventes vão privilegiar as transições via parkour. Essas decisões podem pesar na exploração, já que algumas áreas não são tão providas de muitos pontos de parkour e outras repletas de prédios importantes e infectados poderosos que serão mais facilmente derrotados com facilitadores para isso.
Outro aspecto melhorado no jogo é o sistema de criação e aprimoramentos de armas e itens. Os “blueprints” ainda são usados para criação de itens usáveis, como molotovs e kits médicos, assim como os módulos de aprimoramentos de armas. Armas receberão slots de melhorias mediante sua raridade e podem receber esses módulos de forma distintas. Por exemplo, você pode criar um facão que tenha tanto um ataque especial de fogo e um efeito elétrico quando acontecer um golpe crítico.
Cada blueprint ainda pode ser melhorado para uma versão melhor dele usando materiais. Isso também afeta a economia do jogo e dá mais valor às diversas tranqueiras que o jogador recolhe por Villedor. Entretanto, isso aqui é algo que acontece apenas para a existência de um farm de materiais, principalmente dos que são conseguidos de infectados exclusivos, como corredores ou cuspidores. Lembra da história daquelas 500 horas de conteúdo? Então, saiba que a maior parte desse tempo é na busca dessas melhorias, realizando tarefas aleatórias pelo mapa e recolhendo colecionáveis.
Quanto ao combate e parkour, marcas registradas do primeiro jogo junto com o cooperativo, estes continuam ótimos. Entretanto, algo relacionado a isso e que não é muito bem usado são as habilidades. O básico desses dois pilares continuam funcionais, com as armas e golpes tendo um peso do impacto entregando resultados brutais, além da movimentação sendo bastante fluída de forma vertical e horizontal no parkour. De toda forma, é possível ver que a tentativa era fazer com que as habilidades relacionadas aos dois fossem mais integradas, o que não acontece aqui, e temos um resultado que quase sempre é apenas o uso cru de ambos, sem muita aplicação de destaque que poderia vir de habilidades mais úteis.
Fora bugs de algumas habilidades que não funcionam como deveriam, como o pulo duplo, várias tem uma função reduzida e com efetividade esquecível. Poucas vão ser realmente de impacto e outras não faço ideia de como viraram habilidades. Um bom exemplo é a opção de escorregar enquanto corre, que agora é uma habilidade a ser adquirida sem muito sentido e que talvez devesse fazer parte do movimento normal de Aiden.
Apesar disso, combate e parkour funcionam lado a lado e de forma agradável, mas gostaria de ter visto mais evolução aqui. Além das melhorias do combate para inimigos humanos, que agora desviam, defendem e até fingem golpes, muito ainda é similar ao jogo anterior. Assim como os outros pontos levantados até aqui, Dying Light 2 fez uma melhor organização dos aspectos que movem o jogo ao invés de incrementar novidades. Isso não é necessariamente ruim, já que nada deixa de funcionar como um todo e entrega uma experiência melhor em todas as partes do que no primeiro jogo, mas deixa de lado qualquer fator novidade. Sendo assim, podemos falar que a inclusão do paraglider talvez seja a maior novidade no jogo como um todo.
Algo que realmente me incomodou foi como a Techland ainda continua tratando seus chefes e as batalhas contra o mesmo. Para quem jogou Dead Island há 10 anos atrás, saiba que a estrutura é praticamente a mesma. Pegue um inimigo qualquer e seus movimentos sem mudar nada, coloque numa arena qualquer e fixe sua barra de vida (com 3x mais vida que o normal) no topo da interface. Com 4 jogos similares, seria de esperar algum tipo de melhoria aqui e nada aconteceu. Um estúdio que já mostrou talento em diversos aspectos e melhorias consideráveis em outros precisa dedicar um mínimo possível a mais numa questão tão básica assim.
Um ponto importante é abordar Dying Light 2 como um jogo da antiga geração por base, mas com uma versão aprimorada para os novos consoles. Observando do lado visual, já temos um bom salto em qualidade quando comparado ao primeiro jogo e ainda melhorias técnicas (60 quadros por segundo, raytracing e 4K) no PS5, o que faz dessa versão a mais recomendada. Ainda assim, quem aproveitou o primeiro jogo apenas no PS4 e fará o mesmo com a sequência, também terá um título que evoluiu durante esse período. Poucos bugs tradicionais de mundo aberto foram encontrados e a maioria pode ser corrigido facilmente com atualizações, como o personagem enroscar vez ou outra durante o parkour.
Uma vantagem do PS5 é o uso do Dual Sense de forma agradável e não forçada. O uso dos gatilhos não é um peso excessivo como em alguns jogos e o feedback tátil é agradável quando surge vez ou outra. Mesmo assim, só a opção de aproveitar o jogo a 60fps já é o maior benefício possível. Junte isso com uma boa novidade, para nós brasileiros, a localização total do jogo, com boa dublagem e trabalho de textos.
Infelizmente não consigo falar aqui do modo cooperativo, um dos grandes destaques do primeiro jogo. A versão para review não foi disponibilizada com a função, que virá apenas no patch de lançamento. Apesar disso, concluí o jogo em 41 horas, realizando a campanha principal, algumas missões secundárias e pelo menos um tipo de cada atividade de mundo aberto. Com base nisso, acredito que algo próximo de 100 horas realmente seja a duração para completar o jogo e todas suas tarefas secundárias.
Dying Light 2 – Stay Human é muito mais um aprimoramento de todas as mecânicas do primeiro jogo e faz isso apenas rearranjando o que já existia de forma excelente e sem precisar de soluções mirabolantes aqui. Ainda que falte novidades e pequenos problemas aqui e ali, a Techland entrega de forma sólida um dos títulos mais aguardados do ano.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Techland.
Veredito
Entregando uma grande melhoria do primeiro título, mas faltando com muitas novidades, Dying Light 2 Stay Human é bastante divertido, brutal, recompensador e um jogo de qualidade excepcional quando se trata de mundo aberto. Pequenos problemas ainda existem aqui, mas a Techland consegue, com sucesso, honrar o hype ao redor do jogo.
Veredict
Delivering a huge improvement on the first title, but lacking with new features, Dying Light 2 Stay Human is quite fun, brutal, rewarding and a game of exceptional quality when it comes to the open world. Minor issues still exist here, but Techland successfully manages to live up to the hype surrounding the game.