Poucas franquias de entretenimento são capazes de produzir a quantidade de conteúdo lançado sob o selo Warhammer. Seja na ambientação medieval dos cenários de Warhammer Fantasy ou no futuro distópico de Warhammer 40K, desde 2014 a sensação que se tem é de que a cada dois ou três meses temos um novo jogo completamente diferente sendo lançado sob o selo do famoso wargame.
Space Hulk: Tactics, novo jogo da Focus Home Interactive e desenvolvido pela Cyanide Studios, é baseado na mitologia de Warhammer 40K (e no jogo de tabuleiro do mesmo nome) e coloca o jogador em um RPG Tático que busca simular as batalhas entre Space Marines (talvez a mais icônica classe desse universo) e Tyranids da maneira mais próxima do jogo de tabuleiro possível, dando possibilidade de escolher de qual dos lados você quer lutar dentro doo Space Hulk, cada qual com suas vantagens em relação ao outro.
SH:T possui duas campanhas bastante robustas, cada qual contando um dos lados da guerra, sendo elas a campanha dos Blood Angels, uma tropa de cinco Space Marines que são encarregados de destruir o Space Hulk por dentro antes que ele colida com um planeta, e os Genestealers, facção dos Tyranids cujo único objetivo é destruir os Space Marines antes que eles destruam ou escapem da nave.
No geral, ambas as histórias foram escritas com bastante cuidado e contam com uma quantidade considerável de tutoriais e diálogos para não só apresentar aquele universo e as suas regras (tanto de jogo quanto de ambientação) para os novatos quanto para os fãs inveterados e o roteiro em si faz o suficiente para te manter investido nos acontecimentos da história, só não espere uma história com grandes crescendos emocionais ou personagens carismáticos e marcantes. Felizmente, diante da grande quantidade de diálogo, o jogo conta com legendas em português, facilitando assim a compreensão da história.
O gameplay tem uma estrutura básica com algumas pequenas variações a depender da campanha escolhida. Os jogadores se movem pelo Space Hulk através do mapa e, em determinados pontos específicos, entram em combate com a outra facção. Essas batalhas se dão em um grid típico de um RPG Tático, com cada personagem da equipe tendo uma determinada quantidade de Action Points (AP) para usar por turno, seja andando, se posicionando, usando itens, habilidades ou atacando, com direito a um menu de ações bem semelhante ao de XCOM.
Enquanto a estrutura básica é a mesma, as diferenças de cada campanha mais do que justificam jogar as duas. Se você escolher jogar com os Blood Angels, prepare-se para uma experiência bastante cautelosa e metódica. Os Space Marines se movem muito mais devagar, possuem menos AP (4 contra 6 dos Genestealers), e cada ação precisa ser bem pensada, já que você vai estar constantemente na defensiva, contando com um longo arsenal de armas e técnicas para te manter sempre atento aos inimigos constantemente se jogando em cima de você e o objetivo principal das missões foge do tradicional “erradique os seus inimigos”, se focando mais em escapar das áreas dentro do tempo estabelecido. Como até mesmo virar custa AP, cada movimentado é importante e há um constante ar de tensão ao longo de cada missão.
Enquanto isso, ao se jogar com os Genestealers o ritmo é bem mais acelerado, com uma movimentação muito mais rápida pelo mapa e cujo único objetivo é jogar tudo que você tem contra os seus inimigos. Com a possibilidade de constantemente invocar novos personagens, mais action points e o foco voltado para o combate físico e em derrotar seus inimigos, a segunda campanha passa uma sensação completamente diferente da primeira, por mais que a estrutura básica de gameplay continue essencialmente a mesma.
Não só essa mistura da movimentação em grid com a apresentação e sistema de ações funciona muito bem, mas existem alguns adições como o sistema de cartas, através do qual é possível ganhar mais AP, aumentar a força dos seus ataques, conseguir acertos garantidos, entre outros vários bônus, além da possibilidade de aprimorar armas, equipamentos e essas cartas com recursos coletados nos mapas, além de poder melhorar as estatísticas dos membros do seu esquadrão e customizar cada detalhe deles. SH:T conta ainda com uma referência a sua origem como um RPG de mesa, com várias ações sendo definidas por um rolar de dados, que em vários momentos parecem viciados para te prejudicar.
Um pequeno detalhe que é bem único de Space Hulk: Tactics é a possibilidade de se jogar em primeira pessoa. Por mais que, na prática, isso não adicione em muita coisa, no máximo ajudando a aumentar a tensão do jogo, já que a intenção realmente é jogar com a visão isométrica, até para facilitar na hora de planejar os seus movimentos e ações, é através dela que é possível o cuidado que foi dedicado aos ambientes e a atmosfera que, em conjunto com os icônicos designs de Warhammer 40K, realmente ajudam a dar o clima para o jogo.
Apesar disso tudo, SH:T está longe de ser uma obra-prima. Além do roteiro não ser lá muito especial, como dito, os controles conseguem tirar boa parte do proveito do jogo já que são bem pouco responsivos e diversas vezes acabam resultando em decisões equivocadas que geram sério prejuízo (o que chega a impressionar, considerando a natureza do jogo), sendo especialmente ruins no modo em primeira pessoa, o que também não é ajudado pelo fato dos corredores sem bem apertados e a movimentação custar muito AP, tornando o ritmo do jogo lento ao ponto do tédio em alguns momentos. Além disso, a inteligência artificial é bem fraca, várias vezes simplesmente fugindo do combate, mesmo quando você está à beira de alcançar o seu objetivo. Por fim, a dublagem é, no máximo, decente, sendo um toque agradável mas nem um pouco memorável.
No geral, o que temos aqui é um jogo que deve agradar em especial aos fãs de Warhammer 40K, em especial de Space Hulk, e a fãs ávidos de RPGs Táticos que já esgotaram suas outras opções. A adição de um modo de batalhas offline, um modo de criação de missões e um online em que é possível lutar com outras facções dos Tyranids e dos Space Marines. Todas dão um pouco mais de longevidade ao título, mas você dificilmente vai encontrar outras pessoas com quem jogar, focando mais nas campanhas que, por si só, são suficientes para sustentar o título como um todo.
Veredito
Com uma boa história, belo visual e gameplay divertido, Space Hulk: Tactics é um bom jogo que falha apenas por sua péssima inteligência artificial e alguns problemas com os controles, mas que ainda assim oferece uma boa experiência para os fãs de Warhammer 40K e de RPGs Táticos.
Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Focus Home Interactive.
Veredito
Veredict
With a nice story, nice visuals and fun gameplay, Space Hulk: Tactics is a good game that fails only on its awful AI and some issues with its controls, but it still offers a good experience for fans of Warhammer 40K and Tactical RPGs.