Marvel’s Avengers – Review

A tendência dos jogos como serviço não parece que desaparecerá tão cedo, da mesma forma como battle royales continuam a todo vapor. Desde o surgimento de Destiny e o foco de vários títulos num modelo de jogo recorrente que sempre induz um retorno a ele, mais e mais jogadores tem se entregado a esse modelo. Talvez em mesma proporção, muitos outros se juntam ao time “do contra”, torcendo o nariz para ambos os gêneros em destaque no momento mesmo sem ter uma razão clara para isso.

De toda forma, é possível afirmar desde já que o sucesso estrondoso desses modelos induziu várias publishers a investir em ter o seu próprio battle royale ou seu jogo como serviço. Logicamente, nem todo jogo do tipo lançado teve o sucesso almejado, independente da proposta ou pedigree de sua desenvolvedora. E é nessa onda que a Square Enix e a Crystal Dynamics lançam Marvel’s Avengers, uma proposta de jogo como serviço usando um universo que não poderia estar mais em alta do que os grandes heróis da Marvel.

Com o grande sucesso dos personagens da Marvel no cinema, era óbvio que um grande projeto desse universo chegaria em grande pompa ao mundo dos games. Talvez tenha demorado mais do que o esperado ou não tenha sido da forma como muitos queriam, mas é preciso dar o braço a torcer de que um jogo dos Vingadores era quase necessário.

A ideia aqui é simples: criar um universo próprio dos Vingadores em um videogame, que tenha uma jogabilidade divertida, mantenha o jogador sempre interessado nele, cresça constantemente e seja um hit para agradar um mercado maior. Já adiantando o resultado disso, Marvel’s Avengers é um ótimo jogo e consegue entregar um título em bases sólidas para crescer ainda mais com o potencial imenso que possui.

Marvel's Avengers

Tudo começa no Dia-A, uma comemoração da existência dos Vingadores enquanto planejam apresentar uma proposta de energia limpa e renovável para o futuro. O projeto encabeçado por George Tarleton, Monica Rappaccini, Bruce Banner e Tony Stark pretendia revolucionar o mundo de alguma forma, mas sofreu falhas catastróficas enquanto Taskmaster atacava São Francisco. O resultado disso é uma explosão imensa que dizima a cidade, mata milhares e cria uma onda de contaminação que afeta os sobreviventes com mutagênicos, criando inumanos com características únicas.

Com inúmeras vidas pagando por uma possível negligência dos heróis mais poderosos da Terra e o peso do fracasso, os Vingadores, diante de uma dura derrota, desistem de seus postos e vão viver no isolamento. A instituição AIM (IMA) surge das cinzas das empresas Stark e planeja um mundo onde os heróis não fazem mais parte dele. Cinco anos depois, Kamala Khan, que também estava presente no Dia-A e se tornou uma inumana, continuava incessantemente buscando a verdade sobre o que aconteceu naquele dia, até acabar caindo em uma trama que coloca sua vida em risco e mostra uma verdade ainda não revelada sobre tudo o que aconteceu.

A campanha principal se passa na busca de Kamala pelos membros da equipe debandada dos Vingadores, com provas que podem mudar tudo o que se pensava pelo Dia-A. Enquanto isso, a AIM planeja uma cura para os inumanos, que na verdade é muito mais do que isso. Enquanto os heróis se juntam novamente e segredos vão sendo revelados, um inimigo terrível começa a assolar o mundo e, mais uma vez, cabe aos Vingadores a segurança da Terra.

Marvel's Avengers

A história de Marvel’s Avengers se passa num universo próprio, sem relação com os enredos dos filmes ou quadrinhos, mas fortemente inspirada por esse material. A campanha deve durar em média 10h para ser concluída e, acredito, é muito melhor do que pode parecer.

Mérito disso se deve ao fato de Kamala ser uma mortal em meio a deuses, mas mostrando a esses que mesmo os poderosos podem cair. As falhas dos Vingadores originais os derrubaram, mas a inumana atua como uma espécie de cola para os cacos restantes ali. Encontrar cada membro dos Vingadores mostra a insistência de Kamala em não desistir de algo que mesmo os imensos heróis abandonaram. No final, a mesma se encontra numa posição de ser uma grande heroína, aceitando um fardo que talvez jamais imaginava e se tornando a Ms Marvel.

Ainda que não seja uma história absolutamente inovadora e fantástica, funciona muito bem para o princípio aqui. Apresenta um motivo para esse heróis existirem, cria um universo plausível para o estilo de jogo e ainda honra o legado vindo das histórias em quadrinhos. Essas 10 horas são apenas o início de algo muito maior para o jogo e o título jamais pode ser baseado apenas nisso.

Marvel's Avengers

As missões da história são divididas em aquelas solo, com conteúdo voltado totalmente à narrativa, cheia de momentos explosivos e épicos como em Uncharted, e também em missões cooperativas de múltiplos objetivos. Enquanto esse primeiro tipo são diretas e repletas de cutscenes reforçando o ponto narrativo, as do segundo tipo já familiarizam o jogador com o que estará disponível após a conclusão da campanha, fornecendo mapas abertos ou corredores mais afunilados, com diversos tipos de inimigos, objetivos distintos, mecânicas diferentes e mais.

Como já dito, a campanha é apenas uma fração do que o jogo pode oferecer. Maior parte de seu conteúdo é liberado após a conclusão da mesma. O “endgame” aqui tem uma própria linha de missão específica, que vai ser usada para introduzir inúmeros fatores relativos a ele. Tendo por base jogos do mesmo tipo, Marvel’s Avengers tem, já no seu princípio, conteúdo satisfatório e interessante, além do que títulos como Anthem, Destiny e Destiny 2 ou o primeiro The Division tinham a oferecer.

Apesar dessa variedade, eventualmente a repetição será notada no jogo, como em qualquer outro do tipo. Entretanto, aqui é algo mais notável em pontos específicos. Os mapas não tem muita variação, mesmo visual. Existem 5 tipos diferentes de cenários e suas modificações internas, mas, após horas dentro do endgame, é possível perceber que não há mudanças além de uma floresta, montanhas, outra floresta queimada e instalações da AIM. É mais fácil notar a reutilização de assets pela falta de variação deles.

Marvel's Avengers

Com exceção de uma boa variedade de inimigos base, os cenários são os mais nítidos nessa reutilização. Também temos a pouca quantidade de chefes finais. Sem entrar em detalhes, apenas quatro inimigos são reutilizados na porção final do jogo, e dois desses são máquinas gigantes. Observando as inúmeras possibilidades que o universo Marvel pode proporcionar, esse números são baixos demais.

Entretanto, há uma quantidade satisfatória de conteúdo que acaba amenizando essa repetição, seja a falta de variação inicial ou estrutura de missão. Atividades novas vão sendo reveladas e níveis mais extremos aparecem com elas. A dinâmica das ações dos Vingadores contra a AIM vai se alternando em cada tipo de missão diferente, incrementando mais da organização S.H.I.E.L.D. nessa parte do jogo e outros aliados. Algumas missões, em níveis mais elevados, vão forçar jogadores a trabalharem em equipe para cumprir os objetivos necessários, como nos Cofres Secretos de Nick Fury.

Ainda assim, adentrar no endgame é uma tarefa divertida. Evoluir seu herói com diversos tipos de equipamentos até chegar ao máximo possível é uma etapa que dispensa observar o que realmente acaba equipando em cada personagem. Essa fase é praticamente um levelup, onde só é preciso usar o que tiver nível de poder maior e, a princípio, supõe que o sistema de equipamento é simples demais. Ao chegar no ápice, aí sim começa a busca por montar combinações e padrões, misturando bônus, vantagens e mais para personalizar cada herói para tipos variados de combate. E, agora sim, entramos no ponto alto de Marvel’s Avengers.

Marvel's Avengers

Enquanto avança pela história, a campanha vai direcionando o jogador com quais personagens vai sendo possível usar. Ao adentrar na Iniciativa Avengers (o conteúdo pós-jogo), todos os heróis estarão disponíveis para jogar. Ao todo, será possível jogar com os cinco membros fundadores, Capitão América, Thor, Hulk, Viúva Negra e Homem de Ferro, além da estreante Ms. Marvel. Cada herói tem uma jogabilidade totalmente diferente, com características únicas, habilidades próprias, assim como pontos positivos e negativos.

Claro que cada um tem seus traços únicos preservados aqui. Capitão América e seu inseparável escudo ou Hulk e sua força monstruosa, não há praticamente semelhanças entre os heróis além da estrutura de gameplay definida. O combate é dividido em ataques corpo a corpo e ataques à distância, com cada herói possuindo ao menos uma habilidade para cada tipo. Como exemplo, apesar do Hulk ser principalmente um personagem focado em ataque a curta distância, ainda é possível arremessar pedras e inimigos para ter alguma efetividade com inimigos que se encontram mais longe. Homem de Ferro, ao contrário, possui um arsenal bem maior para atacar longe de uma zona de combate, mas também consegue ser efetivo no corpo a corpo.

Essa diferenciação cria pelo menos seis formas possíveis para se jogar, indo além do combate. Se movimentar pelos mapas do jogo também apresenta as características únicas de cada herói. Homem de Ferro e Thor podem voar e tem alcance e mobilidade maior no ar. Enquanto isso, Viúva Negra e Capitão América fazem uso de seus portes atléticos para uma movimentação acelerada no chão. Mesmo aqui é possível ver como isso é importante na construção do jogo, reforçando a experiência única de cada personagem.

Marvel's Avengers

Junte ao combate as várias habilidades e customizações possíveis no jogo. Liberar todas essas opções requer chegar ao nível 50 de cada herói, o que desbloqueia todas as melhorias possíveis. Entretanto, será preciso moldar como jogar. É possível criar builds distintas, como uma Ms. Marvel que atua como healer ou um Homem de Ferro focado em ataques com laser e alta probabilidade de tontear inimigos. Reforçando isso, os atributos de equipamentos dá inúmeras possibilidades para que o jogador brinque e cria ainda mais formas de jogar, focando em algo ou abrangendo algum estilo.

Importante apontar algo aqui. Mesmo que tenha sido dito anteriormente sobre uma certa repetição de assets, não há como questionar a repetição de gameplay em Marvel’s Avengers ou qualquer outro jogo assim. Não é uma experiência que você alcançará tudo após 20 ou 30 horas e poderá seguir para outro jogo. Jogos como serviço querem que o jogador seja recorrente nele e se mantenha preso de alguma forma, criando com isso um repetição de todo conteúdo disponível. Seja Destiny, The Division, Fortnite ou qualquer outro jogo assim, é impossível uma desenvolvedora criar conteúdo suficiente que seja inédito após 100 ou 200 horas de jogo.

Há muitos pontos positivos em Marvel’s Avengers que criam, no mínimo, uma experiência divertida usando um universo em alta na cultura atual. Ainda assim, é preciso apontar defeitos existentes além dos já citados. Como em outros jogos assim em seus respectivos lançamentos, há bugs e pequenos problemas existentes. Desde falhas com matchmaking, balanceamento no sistema de combate, bugs em cenários e com inimigos e outros mais. O jogo não foi lançado num estado perfeito de polimento, mas também não há, após as mais recentes atualizações, nenhum problema que realmente impeça o jogador de aproveitar o título.

Marvel's Avengers

Se a parte técnica era problema na beta do mês anterior, isso claramente foi solucionado aqui. Ainda é possível perceber algumas quedas na taxa de quadros por segundo do jogo, mas isso acontece principalmente em situações de stress imenso, como inúmeros inimigos em tela ao mesmo tempo e com vários efeitos ativados ao mesmo tempo. O visual também parece melhorado, garantindo uma experiência gráfica de boa qualidade. Ponto positivo para a dublagem aqui, seja em português ou a original, em que é perceptível que as vozes dos dubladores casam bem com os personagens. Apesar disso, é comum observar erros de legendas, tradução de palavras ou adaptação ao português.

Algo sempre comum ler, principalmente para nós brasileiros, são perguntas se o título justifica seu preço de lançamento. Levando em consideração as promessas já feitas para o futuro do jogo, como mais atividades, novos personagens e mais histórias, Marvel’s Avengers fornece de imediato conteúdo suficiente para mais de 80 a 100 horas se divertindo com os seis personagens no momento. Adicione a essa conta mais algumas dezenas de horas se aprofundando no endgame com seus amigos. Observando ainda que todo esse conteúdo futuro que realmente importa virá sem custo algum e será financiado por microtransações opcionais que somente interferem em aspectos cosméticos, o potencial de ter um título para se divertir por meses é imenso.

Marvel’s Avengers talvez seja o jogo como serviço mais fácil de agradar qualquer tipo de jogador e se torna ainda mais interessante ao se aprofundar no mesmo. O universo usado é carismático o suficiente para gerar interesse a princípio, mas seus pilares bem fundamentados, como gameplay, atividades e bom sistema de progressão, mantêm o jogador instigado a ir além, experimentar mais e se divertir bastante cooperativamente. Muitos de seus problemas podem ser ajustados, como já aconteceu com outros jogos do tipo no passado, e há um potencial imenso que esses mesmos jogos nunca apresentaram.

Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Square Enix.

Veredito

As falhas recorrentes em jogos do gênero não tiram o brilho de Marvel’s Avengers. Além de um potencial sem igual, um universo bem apresentado, jogabilidade afiada e possibilidade de aproveitar de maneiras diferentes por inúmeras horas, o título da Crystal Dynamics pode alcançar, de forma geral, o sucesso que outros jogos conseguiram apenas em um público mais restrito.

84

Marvel's Avengers

Fabricante: Crystal Dynamics

Plataforma: PS4

Gênero: Ação

Distribuidora: Square Enix

Lançamento: 04/09/2020

Dublado: Sim

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Veredict

The recurring failures in games of the genre do not take the shine from Marvel’s Avengers. In addition to unparalleled potential, a well-presented universe, sharp gameplay and the possibility to enjoy in different ways for countless hours, the Crystal Dynamics title can achieve, in general, the success that other games have achieved only in a more restricted audience.