Análise – Call of Duty: Modern Warfare

A primeira mensagem ao iniciar a campanha de Call of Duty: Modern Warfare é o aviso de que há conteúdo forte e violento, pedindo ao jogador discernimento com o que será experimentado. De certa forma, não haveria notificação mais emblemática para definir tudo o que é mostrado na história do jogo.

Call of Duty pode ser lembrado como uma das franquias anualizadas que mais sofreram ultimamente. Mesmo com bons resultados comerciais e até de crítica, o fator inovação claramente não foi alcançado de maneira satisfatória. Os jogadores frequentemente se queixaram dos jogos com temática futurista demais ou com campanha de baixa qualidade. Bom, tivemos até mesmo jogos sem campanha alguma nessa geração. Ainda que o fator multijogador sempre foi um dos maiores atrativos na franquia, as épicas histórias contadas em alguns jogos ficaram marcadas na memória dos jogadores.

A trilogia original Modern Warfare é talvez o ápice que a franquia alcançou em conteúdo de qualidade. Histórias que contavam com personagens cativantes, ação frenética e eventos inimagináveis criaram experiências únicas e memoráveis para qualquer amante dos jogos de tiro. A edição Modern Warfare de 2019 segue esse mesmo caminho, sendo mais um reboot/reimaginação da trilogia original e bastante focado na realidade atual.

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A história principal gira em torno dos ataques terroristas do grupo extremista “Al-Qatala” e do roubo de armamento químico de uma instalação russa. Enquanto o pobre Urziquistão é afundado numa guerra civil, ataques terroristas pelo mundo começam a irradiar medo e tensão entre outros países da Europa. A CIA usa de inteligência e ações soturnas para contornar a situação, mas se vê em sem saídas quando uma ofensiva não resulta como esperado. Como última opção antes de estourar uma guerra entre Rússia e EUA, a CIA só pode contar com o Capitão Price nesse momento.

Duas coisas a se pontuar de imediato sobre a campanha do novo Call of Duty: realismo e sensacionalismo. Tudo o que é contado ali poderia acontecer de forma verossímil, mesmo sem o adendo de alguma dramaticidade. Os eventos, conflitos, situações sociais e políticas são representações do que vivenciamos hoje. Por mais que já esteja extremamente insosso e gasto, o conflito EUA x Rússia ainda parece ter lenha pra queimar, principalmente ao usar outros elementos juntos a essa história.

A trama é muito bem amarrada e serve de premissa para o futuro da série, o que talvez pode ser até uma nova trilogia ou mais. Os eventos acontecem num ritmo satisfatório e as transições de cutscene pra jogabilidade praticamente imperceptíveis contribuem imensamente pra isso. A primeira hora da história deve cobrir algo perto de 20% de tudo que é apresentado, mas acontece de forma bem natural e tão agradável que parece um filme de ação jogável.

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Os visuais de altíssima qualidade alcançados graças à nova engine da Infinity Ward é um deleite ao olhos. As animações realistas dos soldados junto com o excelente sistema sonoro traz uma imersão como a de qualquer superprodução do cinema. Tudo isso em paralelo ao excelente uso dos personagens principais, criam uma história memorável, que conseguiu se afastar dos eventos épicos do passado, que apenas injetava adrenalina com situações absurdas e nada reais, substituindo por ações com mais realismo e pé no chão.

Sobre o sensacionalismo citado anteriormente, talvez aqui seja algo que acontece em excesso e talvez até desnecessário, prejudicando um pouco a experiência. O aviso informado no início da campanha serve muito mais para preparar o jogador sobre alguns eventos que podem ser presenciados. Tortura, ameaça à mulheres e crianças, assassinato de crianças, crianças sendo obrigadas a matar para sobreviver, ataques químicos a civis, atentados com homens-bomba e muito mais. Tudo isso é usado principalmente como forma de impacto visual. Algumas cenas que possuem eventos citados colaboram tão pouco para a história que poderiam ser retiradas sem nenhum problema.

O fato de usar isso para chamar a atenção do jogador é feito apenas como objetivo visual, induzindo o impacto emocional de momento e, como dito anteriormente, sem um grande impacto na narrativa. Afinal, qual sentido observar homens-bomba nas ruas de Londres sendo que o evento jamais é mencionado na história ou não acontece nada semelhante para reforçar a importância do atentado terrorista de antes? Há ainda fatos históricos alterados apenas para enaltecer um patriotismo americano nessa guerra entre nações, o que não faz o menor sentido o uso disso no contexto apresentado no jogo.

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Ainda que haja bastante impacto visual apenas sensacionalista, a qualidade da campanha é excelente. Abusando da presença do Capitão Price e mostrando um outro lado dos rebeldes de uma guerra civil, o ritmo do jogo é agradável e o desfecho da história deixa um interessante futuro em aberto para a franquia.

Mesmo que a história seja interessante e quase obrigatória acompanhar, Call of Duty sempre foi sobre uma jogabilidade rápida e um gunplay excelente. Felizmente isso está melhor do que nunca aqui. Atirar é um sensação prazerosa, aonde o jogador percebe facilmente o peso da arma, o coice, recuo, diferença de disparo de cada arma diferente. Ajustes no projétil disparado, efeito de gravidade além dos efeitos visuais e qualidade sonora foram melhorados significativamente. Importante dizer que talvez o trabalho sonoro seja uma das maiores evoluções do título, claramente saindo de versões anteriores com som de algumas armas semelhantes a estouro de pipoca e recebendo agora um melhor refinamento nessa área.

As animações realistas e a movimentação peculiar da série contribuem para um ótimo combate, principalmente focado em ir de cobertura em cobertura a fim de chegar ao objetivo, como seria em operações militares reais. Em dificuldades mais elevadas da campanha e até mesmo no cooperativo, arriscar em campo aberto é suicídio. O avanço mais lento por seções do mapa e a constante busca por cobertura é algo que reforça ainda mais a busca do realismo no jogo, fugindo do estigma de eventos espalhafatosos e surreais demais.

Logicamente, boa parcela dos jogadores que procuram um novo Call of Duty todo ano não estão apenas atrás da campanha que o jogo oferece. Vários aficionados pela franquia ou por jogos de tiro entram diretamente no multijogador e esse quase sempre é um dos grandes atrativos da franquia. Nessa parte do jogo há várias ressalvas que tornam a experiência um pouco frustrante.

Há vários modos de jogo disponível no multijogador competitivo, desde o mata-mata tradicional ou atividades com objetivos de captura de base, por exemplo. Há ainda o modo Guerra Terrestre, onde equipes de até 32 jogadores se enfrentam em mapas bem maiores, objetivos espalhados e ainda com uso de veículos. Esse modo é facilmente a grande novidade aqui, mesmo que seja uma cópia do modo conquista de qualquer Battlefield. Entretanto, independente do modo de jogo, o multijogador competitivo apresenta sempre os mesmo problemas.

Sejamos sinceros, o labirinto afunilado com embates acelerados será o mesmo em qualquer COD, independente da versão que irá jogar. A intenção é sempre fornecer ao jogador uma injeção de adrenalina em doses consecutivas, sem muito alarde, tática ou preocupação. A jogabilidade acelerada e o time-to-kill curto nunca deram muita brecha para trocação de tiro. Em suma, o multijogador quase sempre é: se você toma o tiro primeiro, você vai morrer sem muita chance de recuperação.

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Acontece que nessa nova versão, todos os mapas tem um design para favorecer mais cobertura, criando assim uma jogabilidade aonde é mais fácil marcar posições e esperar o inimigo em determinado momento. De certa forma, isso poderia ser mais tático, pena que acaba criando o cenário de “camper”, que fazem os jogadores esperar pacientemente algum inimigo e sempre cria a sensação de medo de avançar.

Há ainda um problema em comum que acontece em qualquer mapa ou modo de jogo. A péssima visualização e pouca sensação do mapa é constante, aonde é possível ser atingido sem saber de onde veio o tiro e percebendo isso somente na killcam posteriormente. Algo que resume o multijogador aqui é o ciclo de nascer, avançar por etapas, morrer sem saber como, recomeçar. Entender o processo de cobertura e focar nisso garante o jogador facilmente um streak de 8 a 10 inimigos sem muito esforço, o que acaba afetando bastante a experiência e criando um ambiente desbalanceado. Lógico que alguns jogadores se adaptam melhor nisso e outros fazem uso diferente de tudo que foi falado, mas o multijogador de qualquer COD continua sendo muito igual e carece de inovações mais impactantes, não com modos de jogo novos, mas sim com uma revisão dos sistema de jogabilidade e ajustes consideráveis, mesmo que isso acabe eventualmente interferindo no núcleo da franquia.

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Além do competitivo e da campanha, o modo Spec Ops é outro modo de jogo disponível aos jogadores. Aqui são realizadas as missões cooperativas em até 4 jogadores contra inimigos controlados pela IA. Em mapas gigantes e com objetivos diversos, os jogadores precisam enfrentar hordas de inimigos cada vez mais agressivos em busca da realização de objetivos propostos. Ainda que divertido e diferente do modo Zumbi de outros jogos da franquia, o cooperativo ainda é bastante desbalanceado. Hordas quase infinitas e ressurgimento de inimigos totalmente aleatório é um incômodo constante. Mesmo assim,Spec Ops e o modo Sobrevivência é talvez a melhor maneira de se divertir com os amigos, mesmo que ainda precise de pequenos ajustes.

Algo que precisamos ressaltar é a inserção do crossplay e crosssave. O progresso do jogo é compartilhado entre qualquer plataforma onde o jogo foi comprado. O crossplay aqui é uma faca de dois gumes. Enquanto é válido e interessante criar um ambiente único para todos os jogadores de qualquer plataforma, isso também acaba por criar algumas barreiras ou até desbalanceamento. Por exemplo, um jogador de PC com mouse e teclado sempre vai ter uma vantagem sobre alguém com algum controle. Ainda há a possibilidade de jogadores de consoles usar mouse e teclado ou ainda controles especializados. De certa forma, o ambiente não é o mesmo pra todos e assim também não é justo. Se um jogador já tem um equipamento que fornece uma vantagem, toda a disputa acaba sendo desleal.

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O sistema de setups e armeiro que os dois modos coop e competitivo compartilham é excelente. O jogador tem liberdade para criar seu equipamento de jogo e ir progredindo separadamente com cada arma, por exemplo. Aparatos, miras, suportes e outros vão sendo liberados quanto mais tempo é dedicado em uma arma específica, criando assim um bom sistema de progressão e afinidade com o equipamento que mais agradar. Ainda sem microtransações, tudo o que é desbloqueado acontece apenas jogando. Entretanto, já sabemos como funcionará o pós-lançamento do jogo e a forma como novos conteúdos chegarão. Sem um season pass, o importante é que todos os jogadores recebam gratuitamente pelo menos o mais importante, como mapas e armas novas, deixando o sistema pago mais para itens cosméticos.

Há vários ajustes a serem feitos no competitivo e no cooperativo, como balanceamento de armas, melhorias nos mapas e ajustes em alguns modos de jogo. A campanha ainda continua como o maior atrativo aqui e realmente vale a pena ser conferida, mesmo com uma duração de 5 a 6 horas. Os jogadores já acostumados com a franquia podem sentir algum impacto nas mudanças do jogo, principalmente no competitivo, mas a entrega de adrenalina e jogo acelerado continua igual aos jogos anteriores.

Veredito

Não há algo que se destaque mais na versão 2019 de Call of Duty do que sua campanha. O excelente uso de alguns personagens, as mudanças fundadas no realismo e o ritmo certeiro garantem uma das melhores histórias em um jogo de tiro. Modern Warfare consegue entregar diversão num pacote completo, mas ainda peca em pequenos detalhes no cooperativo e possui várias ressalvas no competitivo, mesmo com algumas novidades e mudanças.

Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Activision.

Veredito

85

Call of Duty: Modern Warfare

Fabricante: Infinity Ward / Beenox / High-Moon Studios / Raven Software / Sledgehammer Games

Plataforma: ps4

Gênero: Tiro em Primeira Pessoa (FPS)

Distribuidora: Activision

Lançamento: 25/10/2019

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Veredict

There is nothing that stands out more in Call of Duty 2019 than its campaign. The excellent use of some characters, the changes based on realism and the accurate pace guarantee one of the best stories in a shooter. Modern Warfare can deliver fun in a complete package, but still has small details in the cooperative mode and has several adjustments to make in the competitive mode, even with some news and changes.