Lara Croft. Eis um personagem que conquistou uma legião de seguidores desde sua primeira aparição, em meados dos anos 90, mas sua popularidade ainda hoje causa bastante controvérsia. Após estrelar os nove títulos pilares da franquia Tomb Raider, disponíveis entre as três gerações do PlayStation, além de figurar em praticamente todos os outros formatos de mídia, Lara Croft agora encara um novo desafio: lançar uma nova franquia no crescente mercado de jogos digitais. Lara Croft and the Guardian of Light é o primeiro título protagonizado pela personagem desde sua aquisição pela gigante Square Enix, e as diferenças entre este título e quaisquer Tomb Raider que você tenha jogado são notáveis.
A história do jogo é bastante simples, servindo apenas como um pretexto para interligar os níveis. No coração da América Central, Lara está em busca de um artefato ancestral conhecido como Mirror of Smoke. Ao encontrá-lo, Lara é rendida por mercenários que inadvertidamente libertam Xolotl, deus asteca das trevas. Junto a ele, Totec — guardião da luz que havia enclaustrado Xolotl há dois mil anos — também acorda de seu torpor. Incrédulo quanto à capacidade da estranha, mas corajosa, mulher à sua frente, Totec desenvolve uma aliança com Lara para que Xolotl seja detido antes do amanhecer. Após a introdução, os jogadores assumem controle de Lara Croft de maneira jamais vista antes na franquia.
A câmera isométrica limita o repertório de movimentos da moçoila, mas em contrapartida torna a jogabilidade muito mais rápida, dinâmica e intuitiva que você possa imaginar. Embora exista um foco exponencial no combate, o jogo também oferece bastante exploração e plataforma, acompanhados de uma boa quantidade de armadilhas e quebra-cabeças. A inclusão de um segundo personagem pode parecer desnecessária a primeira vista, considerando-se que ambos compartilham a maior parte das habilidades. Em tempo, as principais diferenças entre Lara e Totec são suas armas e acessórios únicos, o que instiga a dependência mútua em jogos cooperativos.
Lara Croft está, naturalmente, acompanhada de seu inseparável par de pistolas e seu gancho magnético. Em contrapartida, Totec carrega uma lança e um escudo. A interação entre os dois personagens se faz especialmente necessária para a navegação dos cenários. Em um exemplo prático: Totec pode segurar seu escudo acima da cabeça, permitindo que Lara tome impulso do mesmo para alcançar uma plataforma mais alta e depois utilizar o gancho para ajudar Totec a subir também. A comunicação entre os jogadores controlando os personagens prova ser crucial, para que ambos raciocinem da mesma forma e resolvam as situações rapidamente a fim de manter o ritmo do jogo constante.
Embora o coração do jogo esteja no modo cooperativo, um modo para um jogador foi incluído. Ao invés de ser acompanhada por um parceiro dotado de inteligência artificial, como acontece em outros jogos, Lara segue a jornada sozinha. Logo no início, Totec oferece sua lança à Lara Croft antes de partir numa direção oposta. Os quebra-cabeças são alterados sutilmente para que possam ser resolvidos por um personagem apenas, então a navegação básica pelos cenários se mantém, essencialmente, a mesma.
Os quebra-cabeças normalmente são bastante simples, exigindo rapidez de raciocínio e manipulação de elementos da física do jogo, incluindo os eternos painéis de pressão. Alguns dos quebra-cabeças (principalmente os encontrados em Challenge Tombs) vão fazer os jogadores pensarem um pouco em como resolvê-los, mas não existe nenhum particularmente difícil ou impossível de resolver. E, mesmo quando o fracasso é fatal, o jogador é apenas penalizado com uma perda razoável em sua pontuação, podendo retornar ao jogo em poucos segundos.
As Challenge Tombs supracitadas são salas opcionais, mas que os jogadores vão querer resolver em prol das recompensas. Existem diversos tipos de colecionáveis no jogo, incluindo artefatos e relíquias. Estes são fundamentais para o simples sistema de aprimoramento de personagens presente no jogo. Cada personagem pode equipar dois artefatos e uma relíquia, cada qual com seus modificadores próprios. Artefatos alteram atributos como dano e resistência, enquanto relíquias oferecem melhorias superiores, como regeneração e velocidade. Para manter o equilíbrio em jogo, as relíquias só são ativadas quando os personagens acumulam pontos suficientes para preencher o Relic Meter; qualquer dano que o personagem sofra quando a relíquia estiver em jogo inativa ela e esvazia completamente o Relic Meter.
O arsenal disponível no jogo também é notável, ao longo do jogo diversas armas são acrescentadas ao inventário dos personagens. Essas armas secundárias, entretanto, não possuem munição ilimitada. Abaixo da barra de energia do personagem existe uma barra azul, que mede o nível de munição universal do personagem. Cada arma têm seus próprios atributos, então a duração dessa barra é variável: armas fracas e rápidas podem ser usadas inúmeras vezes, ao passo que um lança-mísseis poderá ser usado duas ou três vezes apenas. Ao esgotar a barra de munição, o personagem automaticamente equipa sua arma padrão, podendo voltar a utilizar quaisquer das armas secundárias após ter recarregado sua barra de munição.
Os quatorze expansivos níveis do jogo também oferecem uma série de desafios diferentes cada, como realizar certas ações em tempo pré-determinado, encontrar objetos secretos e atingir pontuações altas. A realização destes desafios é devidamente recompensada, o que instiga um fator replay muito bom — especialmente se considerarmos que o jogo leva torno de cinco horas para ser finalizado na primeira vez.
Embora rode a 720p, alguns borrões e falhas gráficas podem ser percebidas, mas como um todo o jogo se sai muito bem e agrada os olhos. Os modelos dos personagens não possuem animações faciais, e é aceitável, levando-se em consideração que a câmera isométrica tornaria este um recurso desnecessário, mas é no mínimo cômico acompanhar as animações onde os desenvolvedores tentaram ocultar essa ausência através das câmeras. Ainda sobre a interface audiovisual, o jogo novamente conta com o talento vocal de Keeley Hawes como Lara Croft, embora a entonação geral dos diálogos seja intencionalmente mais drámatica do que anteriormente. A trilha sonora não conta com nenhuma composição nova; houve uma grande reciclagem de músicas compostas para os três últimos títulos da franquia Tomb Raider, o que talvez peque pela repetição, mas não podemos considerar este um aspecto negativo pois são trilhas muito boas e a seleção é adequada para os cenários aos quais elas foram associadas.
A utilização da câmera isométrica só ocorre com maestria pois vem acompanhada de um excelente sistema de controles, bastante diferente do utilizado nos jogos em terceira pessoa, mas não menos responsivo ou eficaz. Existe, sim, uma curva de aprendizado, mas uma vez que os jogadores estejam habituados com os controles, a diversão estará garantida através da resolução de quebra-cabeças e tiroteios frenéticos.
Embora os rankings online já estejam funcionando, a versão atualmente disponível na PlayStation Store não oferece suporte ao modo cooperativo online, mas sabe-se que ele está sendo desenvolvido e será implantado via patch num futuro próximo. Além disso, existe um cronograma que prevê cinco diferentes pacotes de conteúdo adicional até o final do ano. Três deles devem ser níveis novos, com quebra-cabeças e desafios únicos, e os outros dois devem apresentar personagens jogáveis de outras franquias. Os detalhes ainda são escassos, e os personagens não foram divulgados ainda, mas supostamente Kain e Raziel, da também popular franquia Legacy of Kain, chegarão à atual geração através de um dos pacotes.
A estreia Lara Croft no terreno dos jogos digitais ocorreu de maneira impensável, mas sem sombra de dúvida resultou em um dos melhores títulos disponíveis nos serviços até o momento. É cedo para medir o impacto que essa nova franquia terá na já estabelecida série Tomb Raider, mas os principais objetivos da equipe foram atingidos: encontraram uma maneira de experimentar coisas novas e diferentes com Lara Croft sem correr grandes riscos, e, ao mesmo tempo, permitir que os fãs recebam uma dose extra de Lara Croft nos hiatos entre lançamentos. Até mesmo os mais céticos dos jogadores podem se surpreender com este título — especialmente se forem abertos à jogos que instigam cooperação e trabalho em equipe.
Nunca fui um fã de Tomb Raider. Mesmo tendo jogado diversos jogos da série, desde o Playstation original, passando pelo Dreamcast até o Playstation 2, a série nunca conseguiu me cativar. Sempre parecia faltar algo, e em Guardian of Light parece que encontrei esse algo. O jogo conseguiu me agradar muito além das minhas expectativas.
A visão isométrica é interessante e trouxe literalmente uma nova perspectiva pra série. Os puzzles são divertidos e as fases foram bem elaboradas, e a jogabilidade é simples e eficiente. O jogo é ótimo no single, mas é realmente excelente no multi. Os puzzles ficam diferentes quando se joga de dois, e o desafio é ainda maior. Esse jogo foi um tiro certeiro da Crystal Dynamics, e espero que mais desse mesmo estilo venham por aí.