Há algo muito bom e que merece ser elogiado no trabalho recente da PQube. Responsável por trazer títulos asiáticos menores que em outros tempos jamais sequer sonhariam em aportar por terras ocidentais, é fácil encontrar pequenas jóias pouco polidas dentro do portfólio da distribuidora britânica que mesmo com limitações técnicas e de orçamento merecem a atenção do jogador.
Dusk Diver é mais uma dessas jóias e uma bem surpreendente como um todo. Desenvolvido pelo estúdio taiwanês JFi Games, trata-se de um RPG de Ação com combate bastante inspirado pelos famosos musou da Omega Force e que mistura bem algumas ideias mais clichês com algumas variações interessantes que, mesmo não atingindo todo seu potencial por claras restrições orçamentárias, ainda compõem um jogo bastante competente.
A primeira coisa que chama a atenção é o quão diferente a ambientação do jogo é em comparação ao que estamos acostumados a ver. Se passando no bairro de Ximending, parte do distrito de Wanhua em Taipei, Taiwan, ele traz uma série de pequenas distinções no seu cenário que fazem dela bem diferente do que costumamos ver, seguindo um estilo similar a como a série Yakuza apresentava o distrito de Kamurocho ao jogador.
Você controla uma jovem estudante colegial chamada Yang Yumo que em razão de uma série de coincidências e eventos estranhos acaba se envolvendo com poderosos guardiões e precisa ajudá-los a enfrentar perigosas criaturas chamadas de Chaos Beasts para evitar que o mundo seja destruído por essas entidades vindas de outra dimensão.
É uma premissa simples e bem interessante, muito por se valer de vários conceitos da mitologia chinesa para contar a sua história. Os guardiões são, na verdade, deuses vindos do reino de Kunlun (mito baseado nas montanhas de mesmo nome na Planície do Tibet, de certa forma equivalente ao mito grego do Monte Olimpo) e que são encarregados de proteger o mundo dos fantasmas vindo da realidade do caos, aqui representadas pelas Chaos Beasts.
A história não é o ponto mais forte de Dusk Diver, mas ela é contada competentemente, muito por essas peculiaridades e inspirações que o tornam diferente de um RPG de Ação mais comum. O fato dos guardiões assumirem formas pequenas e fofas quando estão acompanhando Yumo em Youshanding (uma espécie de Reino do Caos inspirado por Tron) traz alguma leveza ao jogo e as interações entre a protagonista e os guardiões que vão aparecendo na história fazem dela uma experiência divertida, mesmo que não seja perfeita.
Há uma constante sensação de ser tudo muito estranho e peculiar, talvez com o grande sinal disso sendo o fato de Yumo e os quatro guardiões se reunirem em uma loja de conveniência (que funciona como o hub central) administrada por um urso de cerâmica (a Boss) e os outros três Kunlunians assumirem as formas de um pequeno leão, um vampiro vegetariano e um peixe quando não estão em suas versões humanas. Esse constante sentimento de peculiaridade é bem utilizado para trazer uma constante leveza e diversão ao jogo, mesmo que existam problemas.
A maior parte dos pontos negativos que se pode apontar são coisas simples mas que acabam agindo como sinais das limitações mencionadas antes. Uma delas é que justamente por ser tão clichê é fácil ver exatamente para onde ela está indo, fazendo com que, para um RPG, Dusk Diver tenha uma história muito simples, apesar de merecer ser parabenizada pelo quão rápida a história se desenvolve (o jogo tem pouco mais de 10 horas). Divertida, mas muito simples e que não justifica por si só a recomendação.
Outro problema é que o jogo sofre com alguns erros notórios em sua localização. Por mais que a escrita seja boa, existem vários erros de concordância e digitação no jogo, com textos que não se encaixam bem nas caixas de diálogo ou, pior ainda, linhas de programação aparecendo no lugar onde deveria ter um diálogo. Um outro problema é que o jogo não reconhece que se está jogando a versão localizada quando o PS4 está em PT-BR e exibe o texto em mandarim, sendo necessário mudar o idioma do console para inglês para poder ter a versão correta.
Felizmente, o combate consegue equilibrar as coisas, sendo tão bom e divertido quanto a história, mesmo que também tenha suas (várias) limitações. Enquanto Yumo explora Youshanding, ela precisa enfrentar as Chaos Beasts, algo que ela consegue por, convenientemente, absorver parte dos poderes dos guardiões e se tornar capaz de colocar em prática os golpes que ela aprendeu assistindo filmes de kung-fu. É sério.
Como dito, o combate é bem similar ao que se vê em um musou. Yumo possui um combo principal usando o ataque leve (quadrado) que pode ser encerrado em vários pontos com resultados distintos usando o ataque forte (triângulo). Além disso, o jogador tem acesso a um ataque especial dos guardiões usando um dos pontos da barra de SP, os quais também variam quando combinados com o ataque forte a depender do ponto do combo em que ele é utilizado.
É um sistema bem simples sem grandes variações, com os maiores combos contando com seis golpes, então não espere ver nada tão profundo quanto um Devil May Cry ou Bayonetta, mesmo que exista alguma variedade nos inimigos. No entanto, a possibilidade de alternar entre os três guardiões durante o combate, cada qual com suas próprias características permitem que o combate se mantenha divertido o suficiente e as missões são curtas, evitando que a repetição, que seria de se esperar em um jogo assim, não se torne algo tão grave.
A possibilidade de alternar entre os guardiões fatora em uma outra coisa que o jogo sabe fazer muito bem e de forma bem direta que é a evolução dos personagens. Ao longo das missões, Yumo vai ganhando pontos de habilidade que podem ser usados para comprar melhorias para ela e para os guardiões, aumentando ataque, defesa, energia, tempo de reação e outras características da personagem. Além disso, quanto mais Yumo usa os guardiões maior se torna a ligação entre eles, permitindo que Yumo realize missões secundárias que destravam novos ataques para eles.
A evolução dos guardiões é especialmente importante porque cada um dos três possui características distintas. Leo é mais forte dos três, capaz de causar mais dano do que os demais, Bahet tem um alcance maior e ataques mais rápidos e La Viada é a melhor dos três em lidar com os escudos dos inimigos, tornando extremamente necessário que os três estejam sempre com os poderes evoluídos e te obrigando a constantemente alternar entre eles.
Além disso, existe um terceiro fator na evolução dos personagens que são as missões secundárias e a exploração de Ximending. Ao percorrer as ruas da cidade, é possível encontrar vários cidadãos precisando de ajuda e ao fazê-lo, o jogador aumenta o poder do D.ARMS, uma transformação temporária que aumenta exponencialmente a força da Yumo. Além disso, a Boss muitas vezes oferece missões secundárias para o jogador que, após completadas, dão um desconto maior nos itens de cura oferecidos na loja.
Além disso, Ximending conta com vários pontos para comer, com diferentes bônus para o jogador em combate e aumenta a ligação com os guardiões, além de contar colecionáveis que trazem pontos de habilidade e máquinas de gacha que dão outros colecionáveis e novas roupas para os personagens.
Por melhor que seja explorar o mapa e o quão divertido o combate consegue ser, o jogo sofre com alguns problemas técnicos, com a câmera muitas vezes não funcionando muito bem e quedas constantes de framerate ao se explorar a cidade, algo que, felizmente, não afeta tanto o combate, apesar de também acontecer.
Por outro lado, o jogo tem um senso artístico bem único e distinto, sendo bem colorido e agradável de se olhar, com um combate bem espetacular e vibrante, algo que é enriquecido pela trilha sonora bem condizente com o jogo e bem agradável de se ouvir, apesar de nenhum dos dois torná-lo muito memorável.
O pacote completo, então, torna Dusk Diver um bom jogo em que o conjunto acaba tornando-o uma grata surpresa e um jogo muito divertido e que merece ficar no radar de fãs de RPGs de Ação buscando algo distinto, curto e recompensador.
Veredito
Fazendo um ótimo uso da sua inspiração em Musous no seu combate e contando uma história agradável e rápida que em momento algum estende a sua duração mais do que deveria, Dusk Diver é um jogo de origens e inspirações surpreendentes para entregar um produto completo e divertido, mesmo que limitado e com problemas técnicos.
Jogo analisado no PS4 padrão com cópia digital fornecida pela PQube.
Veredito
Veredict
Making a great use of its inspirations on musous in its combat and telling a good and fast story that never extends its duration beyond what it should, Dusk Diver is a game with surprising origins and inspirations that manages to deliver a fun and complete product, even though it is limited and with some technical issues.