Recomendar Zero Time Dilemma por si só é uma tarefa difícil. ZTD é o capítulo final da trilogia Zero Escape,formada pelos jogos 999 (Nintendo DS e iOS) e Virtue’s Last Reward (Vita e 3DS), sendo absolutamente necessário ter jogado ambos para se aproveitar o título. Pessoas que já concluíram os jogos anteriores provavelmente aguardam ansiosamente ZTD e precisam apenas de uma confirmação sobre a qualidade do título (dica: excelente). Pessoas que não conhecem a série, eu terei que usar essa análise para convencê-las a jogar toda a trilogia e evitar possíveis spoilers dos três jogos.
Os jogos da série Zero Escape são Visual Novels com partes “Escape the Room”, que consistem de uma sala fechada com diversos quebra-cabeças. É necessário explorar essas salas para encontrar diversos itens e pistas sobre o que deve ser feito e, muitas vezes, é necessário uma forma de pensar diferente para encontrar as soluções. Há uma variedade impressionante nos quebra-cabeças presentes em ZTD, apesar de que alguns partilham de temas semelhantes e, no geral, achei também mais fácil do que o encontrado em jogos anteriores da série. Uma vez que todos os quebra-cabeças sejam resolvidos, a sala fechada se abre e a história prossegue, no entanto, o progresso da história também está aliado a decisões importantes do jogador.
Zero Time Dilemma se passa em um abrigo nuclear no meio de um deserto onde nove pessoas foram presas por uma pessoa misteriosa. Para escapar do abrigo é necessário obter pelo menos seis X-Passes, que são essencialmente senhas para se abrir a porta de saída. No entanto, um X-Pass só é divulgado quando uma pessoa morre, portanto, pelo menos seis das noves pessoas precisam morrer para que as outras escapem. Não bastasse isso, a porta só abre uma única vez e permanece assim por apenas 30 segundos e as pessoas que perderem a chance de escapar permanecerão presas no abrigo.
As nove pessoas são divididas em três trios e o jogador acompanha a história pelo ponto de vista do líder de cada time: Carlos, Q e Diana. Muitas vezes esses líderes precisarão tomar decisões que colocam a sua própria vida ou a vida das outras pessoas em jogo, sendo esse um dos grandes pilares da história de ZTD: O “Decision Game”. As decisões impostas pelo jogo são, em muitos casos, binárias e muitas contêm sérias consequências para o que ocorre na trama como um todo. No entanto, em algumas decisões também é levado em conta a sorte do jogador, criando mais possibilidades do que um simples “sim ou não”. Honestamente, essas foram minhas decisões favoritas do jogo.
É possível escolher um dos três times e acompanhar uma de várias “cenas” que demonstram o que ocorre com cada time. Cada uma das nove pessoas possui um bracelete que não pode ser removido e, em certos intervalos de tempo, administra uma droga sonífera que apaga as memórias dos últimos 90 minutos. Portanto, em um primeiro momento, é quase impossível discernir quando cada cena individual acontece e só após algumas horas de jogo que a estrutura dos acontecimentos ficam mais entendíveis, tanto para o jogador quanto para as nove pessoas.
A história tem muitos momentos de tensão, mas parte da eficiência desses momentos se perde por causa de dois fatores. Primeiro, para se compreender toda a trama e a razão por trás do Decision Game é necessário explorar todas as possibilidades da história, diminuindo o peso de algumas decisões individuais. Eventualmente, o jogador irá precisar realizar novas escolhas para prosseguir na história, no entanto, dentro do contexto do jogo,algumas dessas escolhas continuam sendo diabolicamente difíceis de serem feitas. A segunda razão que causou a perda do impacto de algumas cenas é que ZTD foi desenvolvido com orçamento baixo e, portanto, as animações dos personagens são mecânicas demais para momentos de terror ou drama.
A história em todos os Zero Escape lida com conceitos de ficção científica, psicologia, física e muito mais, sendo necessário bastante atenção por parte do jogador para entender o que está acontecendo e, no caso de jogadores brasileiros, certa fluência com o inglês. A série também se preocupa bastante em explicar detalhadamente e da maneira mais fácil possível esses conceitos, que muitas vezes assumem um âmbito filosófico, pois ela espera que os jogadores se familiarizem e pensem sobre esses conceitos após um tempo. Simplesmente baseado na cena final de ZTD, eu poderia discutir por horas sobre as possíveis implicações de um único acontecimento e isso também é verdade para os dois títulos anteriores da série.
O parágrafo anterior é apenas uma prova do quão bem construídas as histórias da série Zero Escape são: nenhuma informação é dada ao jogador sem motivo. Quando os jogos finalmente revelam suas verdadeiras histórias, ocorre uma espécie de efeito cascata em que diversos mistérios anteriores começam a fazer sentido e percebe-se que pequenas atitudes ou objetos eram dicas que o jogador, muito provavelmente, não percebeu.
Veredito
Entrar em maiores detalhes acerca do título arriscaria a dar spoilers para aqueles que ainda não conhecem a série Zero Escape. Para os que já tiveram o prazer de vivenciar os dois primeiros títulos, ZTD é uma compra obrigatória e um final digno para a trilogia. Para os que ainda não conhecem a série, conserte isso imediatamente e vá jogar 999 seguido de VLR e então ZTD. Você provavelmente não está preparado para o que está por vir.
Jogo analisado com código fornecido pela Aksys Games.