Um grupo rebelde de resistência, uma poderosa organização em busca de um minério de valor imensurável e do controle de todo um planeta, ilhas flutuantes e belos cenários naturais ameaçados por estruturas industriais agressivas… você provavelmente já deve ter visto esta descrição em algum outro lugar, mas neste caso é um resumo que delimita bem o escopo narrativo de Windfolk: Sky Is Just The Beginning, shooter independente (desenvolvido pela Fractal Fall e distribuído pela Gammera Nest SL) de ação e aventura em terceira pessoa cujas principais mecânicas estão pautadas em dois pontos principais: voo com jetpack e combate aéreo.
No controle de Esen, basicamente a única personagem da trama a ser bem representada, o jogador precisará atravessar 8 níveis em diferentes regiões do planeta para desmantelar os planos nefastos dos vilões, sempre personificados por um de seus líderes, Rusell, que, curiosamente, não ganha quase nenhum destaque ao longo de toda a campanha. Os diálogos e embates verbais se dão, quando muito, pelo comunicador da heroína, canal também pelo qual ela recebe as orientações e designações de seus superiores. Uma das características mais evidentes da trama de Windfolk é a pouca interação com os inimigos para além do combate distante e dos diálogos remotos.
Também não ajuda, em termos de engajamento, o fato de que grande parte dos diálogos de contexto se dão ou quando estamos esperando a indicação da missão em si, ou quando já estamos a caminho dela. Para nós, brasileiros, a coisa se resume a tentar compreender o texto em inglês ou espanhol, e prestar atenção no que está acontecendo é quase que um esforço a mais, já que no final das contas, nada do que é dito faz tanta diferença assim para o cumprimento dos objetivos, quase sempre muito simples: ir até certo local, vencer os inimigos ali, e seguir adiante para o próximo ponto de interesse. Vez ou outra há tarefas diferenciadas, como proteger um comboio ou fugir de uma caverna em desmoronamento, mas no geral, a missão é óbvia e sem qualquer nuance mais complicada de se entender, mesmo que o jogador não se preocupe com qualquer orientação.
Ainda que alguns dos ambientes principais da aventura sejam amplos e abertos, Windfolk é essencialmente um jogo bastante linear, cujo incentivo para a exploração livre é tênue e se resume a coleta de alguns documentos que contam um pouco mais sobre a lore do universo do game. Mais uma vez, um extra criado para que o jogador possa se aprofundar mais naquele mundo, mas que pouco se vale do incentivo da busca. Sequer há um troféu para coleta de todos os documentos, por exemplo. De forma mais objetiva, explorar o ambiente é só uma escolha vazia do jogador, já que o game não oferece praticamente nenhuma recompensa para isso.
O ambiente em si, por sua vez, é um incentivo para apreciação sem pressa. Sim, é um jogo com modelagem relativamente simplificada e evidentemente sem tantos detalhes quando comparado a produções de grande orçamento. Mas o estilo artístico adotado que flerta um um design flat e abusa das cores fortes e vibrantes se mostra especialmente muito agradável aos olhos, potencializado por um sistema de iluminação, por vezes, ousado. Se é verdade que há pouco o que se ver nos inimigos e não há muita vida ao redor, as paisagens naturais são especialmente belas ao se olhar para o horizonte. De perto, contudo, nem tanto. A colisão com água e outras superfícies é bastante simplória e a fluidez da animação de caminhada fica bastante aquém do que se poderia esperar para a geração.
O mesmo vale para a questão sonora. A ambiência é quase inexistente e os efeitos de tiro e de voo são genéricos. Ao mesmo tempo, o trabalho de vozes é bem-feito, a música minimalista dentro de cada fase é bem resolvida ao alternar entre os momentos de mais intensidade (quase de aventuras oitentistas) e outros de contemplação, com direito a alguns instrumentos de sopro que dão um toque especial quase tribal à trilha. Não espere por canções que ficarão na sua cabeça o dia todo, mas a soma das partes resulta em uma mixagem competente e, para o escopo da produção, bem resolvida.
Já no que tange o cerne do gameplay, os primeiros minutos do jogo já oferecem uma boa noção do que iremos fazer do começo ao fim da campanha: primeiro, voar e flutuar com nosso inseparável jetpack, e depois enfrentar hordas de inimigos em combates aéreos usando armas de energia, arsenal que até o final da campanha será composto por 3 armamentos diferentes, cada qual com seus ataques normais e um especial com tempo de cooldown, e para esses momentos de enfrentamento, há ainda um indispensável comando de esquiva para diferentes direções e um escudo de energia para respiro.
Dentre esses dois momentos, a mecânica de voo são essencialmente muito confortável e a mais bem resolvida. Funciona com muita fluidez sem quaisquer frescuras ou meandros, e dá bastante liberdade de movimentação tanto para o translado de um objetivo para outro como nos momentos de ação direta. Em Windfolk, voar é fácil e muito divertido. Há inclusive algumas missões específicas de corrida (individual, claro) aérea passando por pontos, ou portais, pré-estabelecidos. Para quem jogou LEGO Marvel Avengers, são missões exatamente iguais às de time attack na área aberta de Nova Iorque, por exemplo. O sistema é também semelhante à sensação que se tem voando em Anthem, mas feito de forma muito mais simplificada e, talvez por isso mesmo, mais divertida.
Por outro lado, o combate é uma mistura de sentimentos: mirar no ar é muito mais simples do que poderia parecer, e há uma margem bastante grande para o acerto direto. Lutar contra dezenas de inimigos não é essencialmente um problema exatamente porque acertá-los não carece de tanto esforço assim. Mas são momentos muito pouco inspirados, com basicamente dois tipos de inimigos somente: outras pessoas que também estão equipados como nós, mas que raramente conseguimos vê-los mais de perto. Na grande maioria do tempo, são somente pontinhos móveis na tela que temos que derrubar. Em dado momento há torres de defesa, ou aeronaves, mas são a exceção que confirma a regra. Ao nos aproximar desses inimigos, aliás, percebemos modelos genéricos, quase estáticos e sem qualquer personalidade. Não a toa, é mais fácil visualizá-los pelo ícone que os identifica como soldados comuns ou de ataque elétrico do que pelo boneco em si.
Esses trechos de batalha são, portanto, só sequências que acabam sendo modorrentas não pela falta de ação, mas pela repetitividade da dinâmica e dos inimigos. Quando se aproxima do final da jornada e os inimigos – os mesmos – ficam só mais resistentes, a coisa fica ainda mais enfadonha, e a sensação inevitável é a do desejo que tudo acabe logo não pelo perigo da derrota, mas por tudo aquilo adicionar muito pouco à experiência como um todo. Aliás, em termos de dificuldade, Windfolk é uma aventura bastante tranquila, e talvez só a missão final possa oferecer um desafio um pouco maior. No geral, ao se dominar o sistema de esquiva (que é bastante simples e não foge de qualquer outro similar de outros games), é possível sobreviver a quantos inimigos surgirem.
A dificuldade baixa somada a uma campanha relativamente rápida – algo entre 3 e 4 horas, se o foco for mantido – tornam Windfolk um jogo que não dura tanto. Um segundo modo, o Arcade, ajuda a aumentar a vida útil da produção, apresentando outras 8 missões de sobrevivência contra ondas de inimigos ou corridas de velocidade. Mas somadas, elas não duram mais que 1 ou 2 horas, dependendo da ganância do jogador em superar as marcas de bronze, prata e ouro. Novamente, nem mesmo as conquistas exigem demais aqui. A platina, para os colecionadores, é rápida e também relativamente fácil, dependendo somente do jogador experimentar cada um dos modos e usar bem as armas que são disponibilizadas.
Como um todo, Windfolk: Sky Is Just The Beginning é um jogo simples, divertido e bem-resolvido, mas também oferece pouco em termos de conteúdo, e que aproveita suas melhores mecânicas de forma tímida. O fato de ter duas missões de poucos minutos dedicadas ao voo não altera a realidade de que havia muito mais potencial para isso. Na segunda metade da campanha há um momento bem interessante nesse aspecto, mas continua parecendo pouco. A boa notícia é que se sentimos falta dessa maior exploração do sistema, significa que ele é bom o suficiente para queremos mais dele.
Ao mesmo tempo, as arenas de combate parecem saturadas ao extremo, e poderiam ser melhor espalhadas pelos belos cenários do game, que em grande parte servem só de corredores nos quais pouco prestamos atenção. Os inimigos são o extremo oposto de algo memorável, e essa falta de personificação do desafio e do inimigo tira um pouco da gravidade da aventura. Isso significa que Windfolk é leve e tranquilo, quase terapêutico, mas poderia se arriscar um pouco mais em picos mais extremos, e principalmente valorizar a si mesmo e a suas melhores características.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Fractal Fall.
Veredito
Windfolk: Sky Is Just The Beginning oferece uma aventura leve, relativamente curta e sem grandes complicações. Com mecânicas simples e bem executadas, traz diversão nos sistemas de voo, mas um combate sem muito brilho. Artisticamente, tem mais altos do que baixos, enquanto narrativamente fica devendo ao explorar pouco o mundo que ele mesmo criou.
Veredict
Windfolk: Sky Is Just The Beginning offers a light, relatively short and hassle-free adventure. With simple and well executed mechanics, it brings fun in the flight systems, but a combat without much shine. Artistically, it has higher than low, while narratively it owes little to exploring the world it created himself.