Tomb Raider

Tomb Raider já foi sinônimo de videogames. No final dos anos 90 e início dos anos 2000, era difícil encontrar alguém que não conhecesse Lara Croft. Porém, com o passar do tempo a série foi perdendo a sua força, com títulos cada vez menos interessantes, caindo em um certo esquecimento. Uma revitalização foi tentada com Lara Croft and the Guardian of Light, um grande sucesso de crítica mas não um sucesso de vendas. Tomb Raider tinha tudo para estar fadada ao ostracismo, e coube à Crystal Dynamics fazer uma última tentativa de salvar Lara Croft. Tomb Raider, o jogo recém lançado, conseguiu isso e muito mais. O jogo não é apenas excelente; é um sério candidato ao melhor jogo deste ano.

 
Tomb Raider (TR) é um reboot da série, trazendo uma Lara Croft jovem e inexperiente em sua primeira expedição arqueológica em busca do mítico Reino de Yamatai, no Japão, onde supostamente habitava Himiko, a “Rainha-Sol”. Porém, o navio onde Lara e seus companheiros estavam é surpreendido por uma imensa tempestade, é destruído e acaba encalhado. Lara consegue chegar até uma praia, mas logo é capturada por nativos da ilha que não tem boas intenções para ela e para seus amigos.
 
Lara é aprisionada e preparada para morrer, mas com um esforço descomunal ela consegue escapar de suas amarras, mas esse é apenas o início do seu calvário. Lara se desprende da corda que a amarrava ao teto e cai de uma altura considerável, e ao chegar no chão sua barriga acerta em cheio um pedaço de ferro pontiagudo que a perfura de lado a lado. Quando o ferro atravessa Lara, eu imediatamente soltei um grito de dor e fiz careta sem perceber. O jogo possui diversas cenas em que Lara sofre assustadoramente, e você irá sentir cada uma das dores dela como se fossem suas.
 
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O foco na história é um acerto grande do jogo. Baseando-se em mitos do mundo real e uma ficção interessante (graças ao roteiro escrito por Rhianna Pratchett), TR consegue envolver o jogador e fazê-lo se importar com Lara, vendo-a crescer e se desenvolver no decorrer de sua jornada. No início Lara é uma criança, alguém que desconhece a dura realidade da vida. Conforme o jogo avança, Lara amadurece a olhos vistos e está no caminho para se tornar uma mulher adulta e bem resolvida.
 
Não só Lara foi bem desenvolvida. Os seus companheiros de navio também são interessantes, e apesar de nem todos serem simpáticos, você consegue entender a motivação de cada um deles e cria laços de afeição durante a luta para escapar do inferno onde se encontram. Os vilões do jogo também são bem caracterizados, e em algumas cenas você irá repudiá-los tanto quanto Lara e vai querer matar cada um deles, sem dó nem piedade. Há certos resquícios de Resident Evil 4 nos vilões, um culto bizarro liderado por um psicopata.
 
A ambientação do jogo é fantástica. A ilha de Yamatai oferece praias, montanhas, cavernas e vilas japonesas antigas para serem exploradas, e tudo é muito bonito e bem feito. Os gráficos e os efeitos de iluminação e partículas (especialmente os efeitos de fogo) são de primeira linha. A ilha é dividida em regiões e você as explora de forma linear conforme a história avança: TR não é um jogo open world, mas você pode voltar a todas as regiões que já visitou anteriormente através do sistema de acampamentos do jogo.
 
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Cada região possui um ou mais acampamentos, locais onde Lara descansa e onde você pode realizar algumas atividades especiais. É nesses locais que você pode customizar as suas habilidades e as suas armas, e é onde pode usar o sistema de Fast Travel para revisitar regiões já exploradas, viajando entre os acampamentos instantaneamente.
 
Tudo que você faz no jogo rende um de três tipos de recompensas: pontos de experiência (XP), salvage e partes de armas. O XP, ao ser acumulado, permite que você suba de nível e possa ativar uma nova habilidade dentre as 3 ramificações oferecidas. Você pode melhorar habilidades de caça, combate e exploração. Salvage são peças usadas para customizar e melhorar as suas armas. Inicialmente você possui apenas itens e armas precárias, mas conforme avança no jogo obterá novos tipos e poderá incrementá-los. As partes de armas permitem que você crie novas armas melhores e mais avançadas.
 
A sua primeira arma é um arco-e-flecha, e ele é de longe a melhor arma do jogo. Assim como em Far Cry 3, Crysis 3 e outros, o arco permite que você acerte inimigos de longe e de forma silenciosa, permitindo que você limpe uma sala sem ser detectado. Conforme você avança no jogo e encontra novas partes de armas o seu arco vai se desenvolvendo até se tornar um arco de competição, uma máquina tecnológica de morte e dor que você amará usar. Como se isso não fosse o bastante, também é possível usar salvage para construir flechas de fogo e flechas explosivas, ambas com grande potencial de destruição e diversão.
 
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O gameplay do jogo não deixa a desejar em nenhum aspecto. Seja usando o arco ou alguma das outras armas do jogo, seja explorando o cenário, pulando e se pendurando onde for possível, você sempre irá sentir que “está no controle”. A movimentação de Lara é bastante natural e algumas regras tradicionais de jogos de tiro em terceira pessoa são mudadas e melhoradas em TR. Lara pode se esconder atrás de objetos e barreiras, para não ser vista por inimigos, mas você não precisa apertar nenhum botão para isso. Quando há algum inimigo perto, Lara se abaixa sozinha e se movimenta agachada, e quando chega próxima de uma barreira ela se esconde sozinha. Basta mirar a sua arma para ela se levantar um pouco e você poder ver onde atirar. É uma mecânica elegante e inteligente.
 
Mas nem só de tiroteios é feito o jogo. Para atravessar algumas salas você terá que resolver puzzles, e no geral eles são muito bem feitos. A maioria deles exige que você reflita antes de agir, e vários deles fazem uso de física, que forçam você a planejar e ter um timing preciso para não falhar. Falando em puzzles, os melhores do jogo estão em tumbas secretas que podem ser exploradas em busca de recompensas especiais. Algumas dessas tumbas possuem desafios de deixar o cabelo em pé, mas ao resolvê-los a sensação de “meta cumprida” é sensacional.
 
Para ajudar no combate e na exploração, TR oferece o “Survival Instinct”, um modo que deixa a tela em preto-e-branco e destaca os inimigos na tela e os objetos de interesse do cenário. É algo bastante similar ao Detective Mode da série Batman: Arkham, mas aqui essa funcionalidade não pode ser usada o tempo todo; ela só funciona se você estiver parado, pois ao se movimentar o efeito dela desaparece. Ela é muito útil para matar inimigos sem ser descoberto e para explorar as regiões em busca de colecionáveis, mas ela deixa o jogo um tanto mais fácil.
 
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Falando em colecionáveis, dada uma das regiões do jogo possui dezenas deles a serem encontrados. De início nem todos os itens podem ser obtidos, mas conforme você avança no jogo e obtém novos equipamentos poderá explorar melhor cada lugar. Você pode encontrar objetos antigos que podem ser visualizados em 3D, assim como documentos e diários de outros exploradores. Todos esses colecionáveis possuem uma narração, seja de Lara descrevendo o objeto ou o autor do diário lendo o que escreveu, mostrando que o valor de produção do jogo é alto e a atenção aos detalhes está em todo lugar.
 
Tomb Raider é um jogo de ação e nesse aspecto o jogo também se sai espetacularmente bem. Há muitos momentos de alta tensão, em que você irá ficar na ponta de sua cadeira, prendendo a respiração e tentando acompanhar tudo que acontece. Há muitos momentos de tirar o fôlego, cheios de explosões, fogo, prédios caindo e muito mais. O jogo não tem medo de ser cinematográfico e faz isso com orgulho e vigor. A inspiração de Uncharted é clara, mas não chega a ser uma reverência ou uma cópia. Chega a ser irônico que os primeiros jogos de Tomb Raider inspiraram a série Uncharted, e essa por sua vez agora serve de inspiração para TR.
 
Outra inspiração legal de TR é na série Dead Space. Todas as cenas de morte de Lara são violentas e brutais, e muitas delas são totalmente asquerosas. Lara apanha muito, é esmagada, cortada, dilacerada, perfurada e muito, muito mais. A Crystal Dynamics não teve dó nenhuma de fazer Lara sofrer em TR, e você irá sofrer junto dela quando ela morrer.
 
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Há vários outros detalhes que fazem o pacote de TR ser um produto tão bem feito. Os menus são todos em “3D”, parecendo hologramas que podem ser movimentados com o analógico direito. O menu principal é animado e as diversãs opções mostram diferentes partes da região do naufrágio do navio, e quando as ondas ficam fortes os respingos caem na tela e escorrem por ela. O modelo visual de Lara também evolui conforme o jogo avança: Lara se suja de lama, terra e sangue, e suas roupas se rasgam e ficam assim até o final do jogo, novamente lembrando Batman: Arkham.
 
Nem tudo é perfeito, contudo. Há alguns aspectos menores que eu gostaria que fossem diferentes, mas que não afetam muito a avaliação do jogo. O mapa do jogo poderia ser 3D, pois algumas seções são muito verticais e o mapa achatado não ajuda muito nessas horas. Algo similar ao mapa de Metroid Prime, do GameCube, seria perfeito. Também faz falta a presença de um mini-mapa, pois na busca por colecionáveis você terá que abrir e fechar o mapa a todo instante, e um mini-mapa num canto da tela ajudaria muito.
 
Algumas seções semi-interativas são difíceis de controlar. Por exemplo, em mais de uma ocasião Lara cai em barrancos ou rios, e você deve desviar para os lados para evitar uma morte sangrenta. Nem sempre Lara irá se desviar na velocidade que você gostaria, ocasionando uma morte e uma volta ao último checkpoint. Por sim, a taxa de frames às vezes não consegue ficar estável e quedas são visíveis. Elas não são frequentes, mas acontecem.
 
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Porém, essas são reclamações menores. A minha reclamação de verdade é em relação ao modo multiplayer. Tomb Raider é um jogo quase perfeito, mas seguindo uma tendência horrenda da indústria foi criado um modo multiplayer para estender a vida útil do jogo. O problema é que esse multiplayer é muito, mas muito ruim mesmo e não vale nenhum minuto do seu tempo.
 
Você pode escolher jogar com a equipe do navio de Lara ou com os vilões cultistas do jogo, e toda aquela estrutura de customização de armas, skills, perks e etc de Call of Duty estão aqui. O problema é que o modo não é nem um pouco divertido. Ele é simples, sem graça e, pra piorar, não funciona direito. Nas minhas sessões eu presenciei um multiplayer muito bugado, com um lag absurdo, muito lento (com quedas constantes de frames) e com inimigos que se teletransportavam pra todo lado, possivelmente resultado do lag. Eu mal conseguia acertar alguém, e quando o fazia parecia ser obra do acaso. Não pretendo chegar perto desse modo nunca mais, e recomendo que todos façam o mesmo.
 
Ignorando a existência do multiplayer, Tomb Raider é um jogo maravilhoso e que será um sério candidato a melhor jogo de 2013. A experiência de jogar, de acompanhar Lara no seu crescimento, é excelente do começo ao fim. Inspirando-se nos melhores elementos de jogos como Uncharted, Far Cry 3, Resident Evil 4, Dead Space, Batman: Arkham Asylum e outros, Tomb Raider conseguiu criar uma fórmula própria que funciona muitíssimo bem. Jogue Tomb Raider, se ainda não o tiver feito, e se prepare para ficar muito ansioso pela sua eventual continuação. Eu sei que já estou.
 
 


— Resumo —

+ Ambientação excelente
+ Gameplay ótimo
+ Puzzles inteligentes
+ Desenvolvimento dos personagens
+ Evolução pessoal de Lara
+ Muitos colecionáveis

Multiplayer é um lixo
Quedas ocasionais da taxa de frames
 Algumas seções semi-interativas
Falta de um mini-mapa

 

Veredito

95

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