The Walking Dead: Uma Nova Fronteira – Episódio 5: Da Forca

ATENÇÃO: O TEXTO ABAIXO CONTÉM SPOILERS DOS EPISÓDIOS ANTERIORES. SE VOCÊ NÃO JOGOU, RECOMENDA-SE DISCRIÇÃO

O episódio final da terceira temporada de The Walking Dead: Uma Nova Fronteira, Da Forca, vem nos lembrar do conceito que deu origem à série: os muertos. Uma horda zumbi invadindo a comunidade da Nova Fronteira mostra que a ameaça ainda existe e que sua presença continua simbolizando tragédia e caos, algo já conhecido pelos fãs de série.

O episódio anterior, independente da última escolha do jogador, encerrou marcado por violência, opressão e morte de alguns personagens, com um cliffhanger um tanto quanto clichê que deixou os jogadores em dúvida com relação ao destino de Kate, pois ela bateu o caminhão que dirigia em um tanque de gás, causando uma explosão e abrindo espaço para a entrada dos muertos na comunidade.

Da Forca tem início em meio ao caos instalado em Richmond, com os personagens presos num fogo cruzado entre os membros violentos da Nova Fronteira e a horda zumbi que avança descontroladamente. Além de toda a confusão, chega também o momento da "lavagem de roupa suja", principalmente entre os membros da família García, cujos relacionamentos sofreram abalos ao longo da jornada.

Existem alguns momentos de ação, até com a inclusão de um QTE diferente (porém, ainda sem nenhuma dificuldade em ser executado). O episódio, no entanto, dá mais espaço para o desenvolvimento das relações entre os personagens, sendo bem carregado em diálogos. Praticamente todos os personagens mais importantes tem um momento a sós com o Javi, e suas reações podem variar (de maneira bem sutil) de acordo com as decisões e ações tomadas ao longo da temporada.

Esse foco em bastante diálogo serve para dar um fechamento à história, encerrando as pontas soltas deixadas ao longo da temporada. No entanto, para decepção e raiva de alguns jogadores, nem tudo fica resolvido, deixando claro que haverá uma continuação, seja na forma de um DLC (o que eu acho mais provável), seja na forma de uma quarta temporada. Embora eu até entenda o motivo, é difícil, como consumidor, não se sentir um pouco "enganado" por essa decisão da Telltale.

Por ser um episódio final de temporada (e em se tratando de The Walking Dead), existe aquela insegurança com relação à sobrevivência dos personagens principais. A Telltale acaba usando disso como um recurso ao longo deste episódio, colocando Javi e Cia. em situações críticas, com suas vidas em risco, deixando o jogador com o coração na mão esperando pelo pior. Esse sentimento de aflição talvez tenha sido o ponto alto do episódio.

Recomendo que este episódio final seja jogado mais de uma vez, pois existe um momento chave na segunda metade dele que afeta o desfecho da história. Isso faz com que o jogador possa seguir por um caminho que leva a cenas muito mais emocionantes e satisfatórias, ou por outro que é muito seco e direto. Ao rolar dos créditos finais, é dado um pequeno resumo das decisões tomadas com diferentes personagens, uma forma de a desenvolvedora mostrar que a história é adaptada a suas escolhas.

Por ser o episódio de encerramento, faço aqui um balanço geral desta terceira temporada, sendo a recomendação ao fim da análise a nota para ela como um todo. Tivemos uma ótima estreia, com um episódio duplo incrível, mas que acabou não se sustentando nos seguintes, deixando a história cada vez mais morna e sem muita emoção. Foi um início que elevou a expectativa de muitos jogadores a um patamar muito alto, exigindo um nível de excelência que a desenvolvedora não conseguiu manter, o que pode ter contribuído em uma decepção maior do que deveria.

Esta temporada, no entanto, não foi um desastre. O tema dela era "família" e isso foi uma constante em todos os episódios, tanto em flashbacks quanto no tempo atual. Independente de haver uma trama maior com os elementos já usados e reusados de conflitos, opressão e traição, o ponto central era o Javi e sua família. Era em mostrar que, apesar de desavenças e valores diferentes, o sangue falava mais alto para mantê-los unidos.

Considero que a Telltale avançou, mas ainda precisa de mais investimento em criar roteiros ramificados, fazendo com que as decisões afetem de maneira considerável o rumo da história, e não somente como os personagens se comportam. Gostaria também que mudassem o estilo de escolha dos diálogos. Muitas vezes, o texto das escolhas não era claro e o Javi dava uma resposta diferente da que eu imaginava, pelo bem de manter a coerência do roteiro. Algo interessante já existente em jogos de outras desenvolvedoras seria substituir os textos por sentimentos ou ações, por exemplo, decidir em dar uma resposta raivosa, calma, dúbia ou ficar calado.

Por fim, vale uma crítica (que não é nova) ao formato atual dos jogos da desenvolvedora. Já se tornou um padrão episódios de uma hora e meia de duração, focados na narrativa ao invés de exploração e quebra-cabeças dos adventures convencionais. Isso talvez auxilie os desenvolvedores no processo de produção, porém, a meu ver, acaba diminuindo a interação e o grau de importância que os jogadores dão aos personagens. Sinto que deveriam voltar a trazer mais opções de diálogos e exploração de itens do cenário, de modo a oferecer mais contexto narrativo a cada jogo (algo que Life is Strange fez de maneira muito satisfatória). Não me importaria de pagar um pouco a mais para acesso a histórias mais completas e desenvolvidas.

Jogo analisado com código fornecido pela Telltale Games.