The Silver Case

O diretor de jogos Suda51 passou a ser conhecido no Ocidente pelos títulos Killer 7 (Gamecube, PS2) e No More Heroes (Wii, PS3), ambos os jogos protagonizando assassinos profissionais e com histórias que surpreenderam jogadores. O que poucos talvez saibam é que Killer 7 é o terceiro jogo dentro da série “Kill the Past” (Mate o passado, em tradução livre) de Suda51 e que o diretor já era conhecido no Japão por vários jogos que não tinham sido localizados.

The Silver Case é o jogo que originalmente inaugurou a série “Kill the Past” e que atualmente também contém os jogos Flower, Sun and Rain (DS), Killer 7 e Ward 25. É importante entender que “Kill the Past” é um tema recorrente e altamente complexo em todos esses jogos, com cada título utilizando uma abordagem drasticamente diferente para o tema.  A atual versão do PS4 ainda conta com dois capítulos inéditos que servem como epílogo para o jogo principal e que também ajudam a ligar o título aos outros da série.

Em The Silver Case, o jogador assume o papel de um investigador na divisão de crimes hediondos, cuja função é prender os piores criminosos das 24 Wards, local onde se passa o jogo, e, se necessário, eliminá-los. A história começa quando Kamui, considerado o pior assassino em série das 24 Wards, escapa e começa a cometer novos crimes, fazendo com que a divisão de crimes hediondos comece a procurá-lo. No entanto, prendê-lo ou eliminá-lo não é uma tarefa assim tão fácil, pois é difícil compreender quem ou o que exatamente é Kamui.

O parágrafo acima só descreve um dos muitos mistérios de The Silver Case e o jogo tem uma maneira bastante única de expor tais mistérios para o jogador.  Normalmente, em jogos, filmes e livros, a quantidade de conhecimento que o leitor tem é quase equivalente ao conhecimento dos personagens principais da obra. Resumidamente, os personagens dificilmente têm mais informações que o leitor e, quando o têm, é feito um esforço para que esse conhecimento seja repassado ao leitor em algum momento.

The Silver Case faz uma abordagem completamente diferente. O personagem que o jogador assume não sabe absolutamente nada (assim como o jogador quando inicia o jogo), sendo que todos os personagens ao seu redor sabem muito mais que você, mas dificilmente irão parar para explicar o que está acontecendo. Nos raros momentos em que explicam algo, é necessário considerar que a explicação é feita do ponto de vista especifico daquele personagem e que a informação transmitida não necessariamente é verdade. Cabe ao jogador interpretar conversas, textos e os eventos que acontecem ao seu redor para tentar compreender o que se passa na história e, mais importante, como ela afeta cada um dos principais indivíduos da trama.

A história é dividida em capítulos, os quais, por sua vez, são divididos em dois grupos: Transmitter e Placebo. Transmitter mostra a história pelo ponto de vista do investigador na divisão de crimes hediondos e consiste na primeira parte de um capítulo. Nesta primeira parte, o jogador tem uma visão interna do caso investigado e observa a sequência de eventos que eventualmente irão levar a sua conclusão. Placebo, o segundo grupo, consiste na segunda parte de cada capítulo e acompanha a história pelo ponto de vista de um jornalista, fazendo com que o jogador tenha uma visão externa do caso investigado. Transmitter e Placebo se complementam, portanto, é absolutamente necessário que sejam jogados de forma intercalada.

The Silver Case é, essencialmente, uma Visual Novel, ou seja, ler será a principal atividade do jogador. Apesar de ser possível controlar o movimento dos personagens em alguns ambientes, estes momentos são bastante breves e basicamente consistem em procurar o local onde a história deve continuar. Dentro do gênero Visual Novel, o texto é o principal (e muitas vezes, único) meio de se repassar informação ao jogador. No entanto, The Silver Case ainda utiliza de muitos truques visuais para repassar coisas que seriam virtualmente impossíveis ou muito mais difíceis apenas com texto.

Pequenas caixas compõem o visual do jogo e estas podem conter texto, filmes, desenhos, caricaturas e mais, fazendo com que este seja um jogo visualmente distinto. Essa variação também não é feita à toa, sendo possível perceber como esses pequenos detalhes complementam a história.

O jogo também não é sem seus problemas. A complexidade da história e do tema “Kill the Past” é algo que pode afastar jogadores e existem grandes chances que você não irá compreender uma grande parte da história em um primeiro contato. Eu próprio não consigo afirmar se entendi completamente alguns dos acontecimentos do final do jogo. Os capítulos dentro do grupo Placebo também costumam ser muito, muito chatos de serem acompanhados devido à forma como são estruturados, levando um considerável tempo para tornarem-se interessantes. Outros momentos da história também irão expor o jogador a quantidades absurdas de informação textual e visual que possivelmente irão garantir uma confusão forte suficiente para durar dias. 

Jogo analisado com código fornecido pela NIS America.