The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV – Review

Ciclos. Em um dado momento de The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV, Valimar, o imponente Ashen Knight, fala para o protagonista do jogo (e seu Awakener) Rean Schwarzer que ele parece estar constantemente se colocando em situações similares e que a vida funciona em diferentes ciclos.

É uma pequena frase dita por um dos mais importantes personagens da série e que pode passar batido pela maioria dos jogadores que se depararem com Trails of Cold Steel IV, mas é uma frase que, dentro do contexto, diz muito sobre o porquê a série é tão querida e tem se tornado cada vez maior ao redor do globo.

De várias maneiras, CSIV é o fechamento de vários ciclos iniciados há mais de uma década pela série. Enquanto a série teve seu início ainda nos anos 80 e uma outra trilogia nos anos 90 (conhecida como Gagharv), muito do que é conhecido atualmente como a série Trails/Kiseki, teve início com The Legend of Heroes: Trails in the Sky, jogo para PSP que criou o universo centrado no continente de Zemuria que é explorado até hoje, lançado em 2004.

The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV

A partir dali, o trabalho de Toshihiro Kondo (então diretor e hoje produtor da franquia) e do roteirista Hisayoshi Takeiri (além do programador Takayuki Kusano, que hoje é o principal diretor de Trails), passaria a seguir uma fórmula relativamente segura para os seus jogos, tradicionais RPGs de turno com alguns elementos novos de posicionamento, mas muito mais focado em entregar uma boa história do que revolucionar mecanicamente o gênero.

E entregar uma boa história é o que eles sempre conseguiram fazer. Ao longo da trilogia de Liber (país na qual Trails in the Sky se passa), a duologia de Crossbell (importante cidade-estado de Zemuria) até a atual quadrilogia de Erebonia (Império que representa uma das duas grandes nações do continente), várias linhas narrativas foram sendo construídas, todas levando a um único ponto final: Trails of Cold Steel IV.

The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV

Isso significa que o que temos aqui é a conclusão de 14 anos de um longo desenvolvimento narrativo, de intrigas políticas entre poderosas nações de um continente, conflitos interpessoais e, principalmente, resolução para vários dos pontos que cativaram os fãs da série ao longo do tempo. Isso faz com que CSIV seja um jogo bem difícil para novatos se importarem, mas um jogo obrigatório para os fãs de longa data (e difícil discutir sem entrar em pouco de spoilers dos jogos anteriores).

Então, se você é novo para a série e não quer saber nada sobre ela (já que precisaremos falar um pouco sobre elementos dos jogos anteriores), fica aqui a nossa recomendação de que jogue. Trails é uma das melhores franquias de RPGs da história, estando em par com qualquer outra que você possa pensar e o seu desenvolvimento de personagens e narrativa é capaz de rivalizar com qualquer outra série do mercado. Se você é fã, mas quer evitar spoilers, por menores que sejam, então: jogue. Vai valer a pena.

The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV

Trails of Cold Steel IV começa duas semanas após o final de Trails of Cold Steel III, com o ‘The Great Twilight’ (ou O Grande Crepúsculo) sendo iniciado após Rean Schwarzer, nosso protagonista, assassinar a Holy Beast após ser dominado pelos poderes do Ogre dentro de si dada a sua raiva com os sacrifícios de Millium e Prince Olivert e servir como sacrifício para libertar toda a maldição de Erebonia sobre a população do império.

Com o seu plano sendo um aparente sucesso, o Chanceler Gilliath Osborne e os seus fiéis Ironbloods, resolvem seguir em frente com os últimos passos para completar o seu plano em conjunto com os Gnomes e a sociedade Ouroboros. Para isso, é declarada a Operation Jormungandr, um plano para engolir Zemuria em uma guerra gigantesca que causará o fim do mundo, a começar pelo avanço do Império contra a Republic of Calvard.

Com Rean, talvez a única pessoa capaz de servir de catalisador para forças opositoras dominado pelo poder do Ogre e preso dentro do Black Workshop e o imperador Eugent III hospitalizado, Osborne parece livre para finalmente, como ele prometeu, escrever o final do conto de fadas em tinta negra de medo e desespero.

The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV

O que ele não esperava é que uma jovem de cabelo bem rosa e personalidade bem forte emergiria para guiar a Class VII de volta ao seu lugar. Ao acordarem após os eventos do final do jogo anterior, Juna Crawford, uma das alunas de Rean na Class VII de Thors branch campus, assume o “controle” da equipe, guiando tanto os seus colegas quanto os membros da antiga Class VII e amigos de Rean em busca incessante por uma forma de resgatar o instrutor e encontrar uma forma de entender e impedir os planos de Osborne e Ouroboros.

Ao longo da jornada, vários elementos que os veteranos da série encontraram em Trails of Cold Steel II retornam. Se CSIII era uma clara alusão e reinterpretação de CSI, CSIV faz o mesmo com CSII. Isso vai desde o (necessário) retorno aos locais vistos nos Field Studies de CSIII, com os mapas sendo levemente expandidos para trazer novos elementos, a exploração de várias regiões de Erebonia, visitas a Shrines espalhados pelo oeste de Erebonia e Crossbell e várias e várias Divine Knight battles.

Essa estrutura funciona muito bem. Revisitar os locais que você conheceu no jogo anterior e ver como ele está sendo afetado pelos preparativos do império para a guerra com Calvard cria a atmosfera de urgência que o jogo quer, com o efeito da maldição sendo bem perceptível para o jogador à medida que a narrativa avança, dando o mesmo peso e impacto de cada novo capítulo que CSII tinha durante os eventos da guerra civil ereboniana.

The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV

Isso não quer dizer que a narrativa seja perfeita. Talvez a grande crítica que muitos jogadores têm feito a Cold Steel é o quanto a Falcom passou a incorporar elementos de magia, sacrificando um pouco os elementos sociopolíticos que tornaram Liberl e Crossbell tão queridos.

Enquanto há uma certa falácia nisso (existiam claros elementos de magia em ambas), é inegável que CSIII e o CSIV especialmente se apoiam fortemente nesses elementos, com o ar de magia sendo presente a cada passo da narrativa. Adicionando ainda coisas mais “anime” como a importância e “força” da amizade e é compreensível algumas das críticas a série, ainda que seja difícil de concordar totalmente com elas.

Mas, muito como em CSII, o êxito da narrativa não se dá só pela sua estrutura, mas pelo quanto o jogo é focado em bons momentos de desenvolvimento de personagem. Isso fica claro desde os primeiros momentos, com Juna se mostrando quase como uma “versão feminina” do Rean, energizando e direcionando os esforços dos seus colegas e predecessores, ocupando dentro da dinâmica da sua equipe o mesmo lugar que o instrutor tinha na original e se colocando como a protagonista de CSIV.

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Isso serve não só para mover o plot, mas mostra o quanto Juna, inicialmente uma garota que odiava o império e não ia com a cara do Rean, mudou e cresceu, o prisma através do qual é possível observar as dúvidas da Class VII original e como eles sentem falta do seu amigo, além da notória evolução pela qual Altina passou e o efeito que ele teve e tem em Kurt, Ash e Musse.

Aliás, enquanto a sombra da equipe original está sempre presente, são os novatos que são os donos do show. Alisa, Jusis, Machias, Gaius, Elliot, Laura, Fie, Sara e especialmente Emma ainda estão ali para dar suporte aos novatos, em momento algum eles realmente dominam os holofotes. Esse papel cabe a nova Class VII e a Rean e todos executam os seus papéis à perfeição.

Isso se torna ainda mais notório porque, como observado antes, CSIV fecha todo o arco narrativo desses últimos 14 anos e, com isso, personagens bem queridos pelos fãs voltam a dar o ar das graças aqui. Enquanto eles não ocupam o papel de co-protagonistas nem nada, a presença dos Bracers de Liberl e dos membros da SSS adicionam bastante a narrativa, mostrando o quanto o universo de Zemuria é integrado entre si e como a ameaça da guerra entre Erebonia e Calvard afeta o restante do continente.

The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV

Nesse ponto, é importante elogiar e criticar a NIS America, responsável pela localização do jogo. Enquanto alguns personagens sofreram com a mudança de dubladores (graças a pandemia), com a Laura especialmente sendo pra pior, o cuidado em trazer de volta os dubladores dos personagens de Liberl é muito bem-vinda e ajuda bastante no ar de continuidade que o jogo tem.

A localização como um todo parece ter sido feita com bastante cuidado, mas ela não é perfeita. Existem alguns erros de digitação e problemas com o enquadramento do texto em certos momentos (nunca na história principal), mas nada que afete muito gravemente ou que não possa ser corrigido posteriormente através de patches.

Considerando o quanto de texto isso significa (CSIV consegue ser ainda maior que CSIII, que por sua vez já era um jogo enorme), é impressionante que a NISA tenha conseguido trazer o jogo tão rapidamente para o Ocidente. Um outro ponto que precisa ser elogiado é o trabalho feito pelo Sean Chiplock dublando o Rean, com essa sendo uma das atuações mais impressionantes não só da carreira dele, mas em JRPGs como um todo.

The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV

Fica claro então que, em termos de história, CSIV é o ápice da quadrilogia atual e merece, facilmente, ser citado no mesmo patamar que outros clássicos da série como Trails in the Sky SC e Ao no Kiseki. O fato do jogo conseguir amarrar várias das pontas soltas que a série tinha e estabelecer elementos a serem explorados no futuro (tanto com o recém-lançado no Japão Hajimari no Kiseki quanto com o que vier pela frente) é assombroso, recompensando os fãs pelo investimento e prometendo ainda mais para o futuro.

Onde CSIV menos mexe estruturalmente é no seu combate. CSIII já era basicamente o ápice do que a série poderia entregar em um RPG por turnos, então CSIV não tenta mexer muito na fórmula para não estragá-la. Como no anterior, os movimentos em combate são mapeados para diferentes botões, dando maior agilidade ao combate (ainda que as animações ainda sejam relativamente lentas e eu realmente recomende usar o High-Speed Mode). O mesmo se aplica para as Divine Knight battles, que seguem o mesmo padrão estabelecido desde que elas foram incorporadas lá em CSII como grandes set pieces em pontos importantes dos capítulos.

Todos os elementos únicos da série como o sistema de Orbments, Arts, Crafts e S-Crafts está de volta, assim como a adição do jogo anterior, as Battle Orders. Talvez a grande “novidade” seja o retorno das Lost Arts que existiam em CSII que estão presentes aqui também, Arts especiais e super-poderosas que precisam do uso de toda a sua barra de EP para serem lançadas.

The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV

A estrutura de combate segue a mesma e, com isso, o trabalho da Falcom parece ter sido mais dedicado a balancear o combate. Algumas Orders de certos personagens foram enfraquecidas, com o jogador podendo evoluí-las ao completar certos Chest Trials (outro elemento introduzido em CSII), além de ser bem notório o quão mais difícil se tornou causar o estado de Break nos inimigos, o que faz com que os combates se tornem mais desafiadores e exijam sua constante atenção.

Uma parte de CSIV que, estranhamente, incomoda é a sensação de que os loadings do jogo estão maiores. O jogo usa a mesma estética visual do anterior, só que com mapas um pouco maiores, o que faz com que o PS4 base acabe demorando um pouco mais do que os jogos anteriores para carregar, especialmente após certas batalhas. Os loadings não são longos, mas chamam a atenção.

Falando na parte visual, CSIV é claramente o jogo mais bonito da série, ainda que fique claro o seu orçamento relativamente limitado em comparação com outros JRPGs. O jogo ainda possui um estilo bem próprio que o destaca dos demais, o que torna a experiência como um todo bem agradável aos olhos. Junte a isso a trilha sonora absolutamente espetacular e, com folga, a melhor dessa meta-série e os fãs deverão curtir bastante a experiência.

The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV

Da mesma forma que CSII pega CSI e o evolui, CSIV consegue fazer o mesmo com todos os elementos de CSIII. Quando o seu antecessor foi lançado no ano passado, era difícil imaginar que a sequência fosse entregar em todas as promessas que a narrativa apresentava. Havia muito a se fazer, várias pontas a serem amarradas e a necessidade de se estabelecer o terreno para o futuro.

Mas, de alguma forma, Trails of Cold Steel IV não só consegue igualar o jogo anterior, mas o supera imensamente. O que temos aqui é mais uma prova do porquê a Nihon Falcom é uma das melhores desenvolvedoras de JRPGs da atualidade, conseguindo encerrar essa fase da saga e estabelecer os caminhos para o futuro, tudo enquanto entrega um título que em momento algum cai de qualidade ou deixa de satisfazer as expectativas em torno dele.

Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela NIS America.

Veredito

The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV é um excelente JRPG e facilmente um dos melhores que o gênero apresentou em uma geração rica em ótimas experiências. Seu combate por turnos foi afinado à perfeição e a sua narrativa é um fantástico exemplo de como recompensar os jogadores por investirem tempo ao longo dos vários jogos da franquia, encerrando a meta-série e estabelecendo o terreno para o futuro da melhor forma possível.

100

The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV

Fabricante: Nihon Falcom

Plataforma: PS4

Gênero: RPG

Distribuidora: NIS America

Lançamento: 27/10/2020

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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Veredict

The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV is an excellent JRPG and easily one of the very best the genre has to offer in a generation which was rich with great experiences. Its turn-based combat has been finely tuned to perfection and its narrative is a fantastic example of how to reward players for investing time throughout multiple games, ending the metaseries and setting the stage for the future in the best way possible.