Terra-Média: Sombras de Mordor

Terra-Média: Sombras de Mordor é um jogo ousado. Ele ousa em explorar e expandir o universo criado por Tolkien, formando uma nova IP e abrindo mão de utilizar em seu título as palavras "Senhor dos Anéis". Ele também ousa em utilizar mecânicas de gameplay de duas franquias famosas, ao mesmo tempo em que encontra sua própria identidade. E eu preciso confessar: matar Uruks é uma delícia!

A história do jogo se passa entre O Hobbit e Senhor dos Anéis, começando exatamente quando o exército de Sauron retorna e domina Mordor. Você é Talion, um guerreiro de Gondor cuja função é vigiar e proteger o Portão Negro, a entrada para Mordor. Durante a invasão do exército de Sauron, liderado pelo Mão Negra, Talion é capturado e passa por um ritual macabro em que sua mulher e filho são degolados na sua frente. Talion também é degolado, mas é ressuscitado por um espírito de vingança que se une ao seu corpo, dando a ele grandes poderes. Seu objetivo então é um só: vingança.

No caminho para a vingança, Talion vai aos poucos descobrindo sobre o passado do espírito com quem divide seu corpo, incluindo suas motivações pessoais. Além disso, é dada ao jogador a oportunidade de se aprofundar na história da formação dos Anéis do Poder e da ascensão e queda de Sauron, contando, inclusive, com a participação de Gollum em alguns momentos.

Durante a jornada são apresentados alguns personagens secundários. Eles são bem poucos e suas histórias e desenvolvimento na trama se dão por meio de missões obrigatórias. Devo dizer que eles são bem “esquecíveis”, com exceção de Torvin, o anão caçador. Ele possui humor sarcástico e um bom astral, fazendo com que as poucas missões ao seu lado valham a pena. Não é a toa que o primeiro DLC de história do jogo seja com mais missões de caça a serem feitas com ele. Arrisco a dizer que uma possibilidade de multiplayer cooperativo seria muito bem-vinda.

O jogo apresenta uma baixa variedade de inimigos. Temos os Uruks, uma raça mais feroz de Orcs e os principais inimigos do jogo; Caragors, feras de quatro patas espalhados por Mordor, que atacam tanto a você quanto aos Uruks; Graugs, criaturas gigantes que lembram Trolls; e, por fim, Ghûls, pequenas criaturas que atacam em grupo à noite. Existem outros animais que povoam Mordor e os arredores e que podem ser mortos, mas fazem apenas parte do ambiente.

Duas características se destacam como sendo o ponto alto do jogo. A primeira delas é o combate. À primeira vista, lembra a mecânica utilizada nos jogos da série Arkham de Batman: você aperta quadrado para o ataque básico e triângulo para contra-atacar. O jogo, entretanto, procura sua própria identidade, oferecendo muito mais opções para estender o combate. Conforme você vai "combando", é possível realizar movimentos novos como, por exemplo, executar um inimigo de maneira violenta ou dar um poderoso golpe no chão para paralisar os oponentes.

Você pode utilizar três armas, tendo em vista uma abordagem de combate diferente. Existe a espada Urfael, para o confronto mano-a-mano, a adaga Acharn (que, na verdade, é a espada quebrada do filho de Talion), para uma aproximação stealth, e o arco Azkâr, pertencente ao seu espírito, utilizado no combate a longa distância. Cada uma possui habilidades que vão sendo desbloqueadas conforme se avança na história e também podem ser melhoradas utilizando Runas, que garantem bônus, como recuperação de vida, melhoria de ataque, ou proteção contra certos tipos de golpes, por exemplo.

Além das armas, é possível ampliar as opções de combate se aproveitando do ambiente. Você pode utilizar o arco em determinados barris ou fogueiras para causar explosões; pode atirar em colmeias para espantar inimigos; pode quebrar jaulas ou atrair Caragors para gerar o caos no campo de batalha – ou até mesmo montar em um desses seres e partir para o confronto; mais para frente na história, é possível marcar e controlar inimigos, fazendo com que eles batalhem ao seu lado. As opções de abordagens são extensas e vão sendo apresentadas aos poucos, tornando o combate extremamente divertido e trazendo sempre um gosto de novidade.

O segundo ponto alto do jogo é o chamado Sistema Nemesis. Existe uma hierarquia entre os Uruks, que os divide entre soldados, capitães e warchiefs. Cada Uruk possui um design, fraquezas e forças gerados randomicamente e pode subir na hierarquia por meio de eventos causados direta ou indiretamente pelo jogador. Capitães e warchiefs são mostrados ao jogador numa tela que lembra um tabuleiro, sendo que os inimigos mais ao topo são os mais poderosos.

Os inimigos mostrados no tabuleiro aparecem no começo como sombras. Para conhecê-los é necessário obter informação, seja interrogando determinados soldados ou escravos, seja encontrando documentos espalhados no mapa. Ao obter informação, é possível saber em que área o inimigo se encontra, bem como suas forças e fraquezas. Vale mencionar que é possível encontrar esses inimigos durante batalhas mesmo sem ter obtido nenhuma informação sobre eles (isso é algo até comum), já que eles se movimentam pelo mapa de maneira independente, gerando o elemento surpresa em vários confrontos.

Um destaque do Sistema é que os inimigos possuem memória, ou seja, se lembram de confrontos anteriores com Talion, podendo fazer piadas de mau gosto caso tenham matado Talion ou caso você tenha fugido anteriormente. Há também alguns que fazem comentários ao nível de inteligência dos Orcs, chegando a ser cômico. As opções de diálogo são bem diversas, se relacionando muito bem em cada disputa.

Quando um inimigo te mata, ele fica mais poderoso, podendo assumir posições mais altas na hierarquia. Quando você mata um capitão ou warchief, seu espaço fica vago no tabuleiro e você obtém uma Runa para equipar nas armas. Conforme o tempo avança ou caso você morra, ocorrem diversas movimentações na hierarquia, com inimigos ocupando posições vagas ou até mesmo entrando em confronto entre si para ocupar um cargo mais alto.

Um pouco depois da segunda metade do jogo é que o Sistema Nemesis atinge seu ápice. Nesse ponto, além de poder matar o inimigo, são dadas novas opções, como marcá-lo como aliado, ou como emissário de ameaças de morte para outros capitães e warchiefs. E aqui começa a diversão. Você pode auxiliar um soldado a galgar os postos até chegar ao topo; pode causar confronto entre capitães rivais; pode infiltrar Uruks na hierarquia para mais tarde fazer com que traiam seu superior, dando vantagens na batalha; pode até mesmo criar seu próprio exército de Uruks comandados por você. E caso as coisas fiquem entediantes, há a opção de despachar os Uruks aliados próximos com estilo: explodindo suas cabeças.

Graficamente, o jogo está muito bonito. Há uma redução com relação aos gráficos de cutscenes, mas é algo bem leve e quase imperceptível. As áreas para exploração são pouco variadas, mas estão bem desenhadas e oferecem espaço para diversas abordagens no combate. O jogo apresentou poucos gargalos com relação ao desempenho. A queda no framerate ficava mais notável quando eu estava em alguma Fortaleza cheia de inimigos e resolvia causar uma explosão.

O trabalho de captura de movimento foi bem feito, tanto nos diálogos quanto nas cenas de ação – Talion possui uma ampla gama de animações em combate. Vale mencionar que o ator que interpreta Talion é Troy Baker. Sim, ele, de novo.

Com relação à trilha sonora, eu particularmente achei que o jogo se aproxima mais do estilo de música existente em God of War do que em Senhor dos Anéis, com um tom épico, batidas e vozes em coro. As músicas se encaixam bem no contexto da história, mas nenhuma chega a ser memorável. O áudio também ficou muito bom, incluindo alguns detalhes legais utilizando o alto falante presente no controle de PS4 quando, por exemplo, você caminha por entre arbustos ou atrai um inimigo.

Deixo uma informação adicional com relação à localização do jogo em PT-BR. O jogo está dublado e legendado em português apenas na PlayStation Store brasileira. Comprei minha versão na Store americana e não veio opção nem de áudio nem de legendas em português. Portanto, caso você deseje conferir o jogo em nosso idioma, procure comprar a versão física brasileira ou a digital na Store brasileira.

Um dos problemas do jogo é com relação à variedade, como destacado em alguns pontos da análise. Não temos muitos personagens para interagir, ficando restritos às missões obrigatórias do jogo. Há pouca variedade de classes de inimigos, embora isso seja compensado nos Uruks com o Sistema Nemesis. As missões secundárias também variam pouco em seus objetivos, podendo se tornar repetitivas. Em compensação, o que salva o jogo de não ser entediante é o combate. Apesar de haver missões repetitivas, você decide a forma como vai realizá-la, criando diferentes estratégias e explorando o cenário. Em mais de trinta horas de jogo, eu ainda consigo pensar em abordagens diferentes para fazer uma missão ou criar novas maneiras de gerar o caos em um combate, e isso é bem motivador.

Apesar de elogiar muito o combate e o Sistema Nemesis, preciso deixar registrada minha decepção com a luta final e com a maneira que a história se encerra. Infelizmente não posso entrar em muitos detalhes para não dar spoilers, mas já aviso para não deixar as expectativas muito altas.

Finalizando, vale ressaltar a diferença entre as versões para PS3 e PS4. Como noticiado aqui no site, ela possui um dos piores desempenhos técnicos para o PS3. Eu não cheguei a jogar a versão de PS3, mas por causa desses resultados recomendo que deixem para explorar a Terra-Média na nova geração.

Veredito

Apesar de muitas vezes ser comparado a Assassin’s Creed e à série Arkham de Batman, Terra-Média: Sombras de Mordor é um jogo de ação extremamente divertido e competente, que soube criar sua própria identidade. O combate e o Sistema Nemesis são marcantes e fazem com que o jogo nunca fique entediante. A história, salvo algumas adaptações, se encaixa muito bem no mundo criado por Tolkien e preenche alguns buracos deixados entre O Hobbit e Senhor dos Anéis. É um convite à exploração da Terra-Média de um jeito que nenhum outro jogo da franquia conseguiu executar, sendo altamente recomendável.

Jogo analisado com cópia digital adquirida na PlayStation Store americana.

Veredito

90

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