Jogos baseados em animes costumam sofrer com algumas dificuldades. Por mais dinâmicos que os jogos possam ser, existe uma grande dificuldade de permitir que o jogador viva batalhas tão emocionantes quanto as presenciadas a cada episódio ou ter um enredo que consiga manter o carisma dos personagens originais. Para o bem e para o mal, Sword Art Online: Lost Song mantém boa parte da essência do anime que o inspira, sendo tanto seu maior mérito quanto o que não o permite ser um jogo ainda melhor.
A premissa da série Sword Art Online é simples: Kirito, o protagonista, é um jovem apaixonado por um novo gênero de jogos, os VRMMORPGs (Virtual Reality Massive Multiplayer Online Role Playing Games), no qual o jogador “mergulha” no jogo e cuja premissa é permitir uma imersão ainda maior do que a vista nos MMOs atuais. Lost Song ocorre um pouco depois da segunda metade de Sword Art Online II (segunda temporada do anime), no jogo conhecido como ALfheim Online.
As semelhanças com o anime, entretanto, acabam por aí. Lost Song segue a continuidade estabelecida pelos outros jogos, Infinity Moment, exclusivo de PSP no Japão e que veio para o Ocidente como a primeira metade do segundo jogo, Hollow Fragment, lançado para PS Vita em 2014 e que teve um remake lançado no primeiro semestre de 2015. Lost Song melhora ambos os jogos anteriores da série em todos os aspectos, mas ainda não é um jogo muito acessível para quem não é fã da série.
Uma das primeiras características do jogo que capturam a atenção do jogador é o quão bonito e vivo seu mundo parece. Não que os gráficos sejam espetaculares, mas a ótima trilha sonora e alguns bons efeitos ajudam muito. Como tenta emular o aspecto de um “MMO Offline”, a quantidade de inimigos nos campos é vasta e diversas vezes o jogador cruzará com partys controladas pela Inteligência Artificial lutando com os monstros do jogo. A navegação do jogo incorpora alguns elementos interessantes, como a possibilidade de voar pelo cenário (pouco intuitivo no começo, mas bem divertido após se adaptar) além de caminhar, o que torna a exploração muito mais ágil e um foco do jogo, diferente de Hollow Fragment, que praticamente lhe incentivava a não explorar os cenários.
O combate é, talvez, a parte mais importante do jogo. Ele parece simples inicialmente, com um ataque forte e um ataque fraco e esquiva/defesa, além das skills que cada personagem pode aprender. O jogador pode controlar apenas um dos membros da Party, não ficando, dessa vez, preso a Kirito (é possível, inclusive, criar um novo personagem, embora a história vá continuar tratando como se o jogador estivesse no controle de Kirito), podendo controlar qualquer um dos 17 personagens disponíveis (a party é composta pelo jogador e mais dois personagens controlados pela IA). Todos possuem uma vasta gama de equipamentos e skills customizáveis.
O primeiro e talvez mais irritante problema do jogo, entretanto, aparece justamente no combate. Por tentar emular um MMO, SAO possui uma quantidade quase absurda de comandos, sendo necessário algumas combinações nada intuitivas em um combate com ritmo acelerado, como ter que segurar R1+O para defender ou guardar a arma para poder usar uma das magias, já que só as skills de combate podem ser usadas com as armas em mãos, fora ter que usar o Touchpad do PS4 para ativar o menu de itens. Isso ajuda em tornar os combates visualmente dinâmicos, mas é frustrante em diversos momentos quando se está cercado de vários inimigos e é quase impossível se curar. Adicione a isso uma câmera extremamente sofrível e o jogo quase consegue estragar uma de suas características mais divertidas.
Outra das características da franquia Sword Art Online que, infelizmente, acabou se transpondo foi a história, por diversas vezes mais confusa do que deveria. Todos os personagens têm bons momentos e falas divertidas, mas em outros parecem acometidos de uma dificuldade enorme de criar linhas de diálogo coerentes em um plot que se enrola e repete mais do que necessário. A tradução, pelo menos, não é a tragédia que foi em Hollow Fragment e o jogo não sofre com sérios problemas gramaticais como antes. Felizmente, Lost Song não se leva tão a sério e, mesmo com seus problemas, é uma história muito divertida se ignorados os seus problemas.
O resto da estrutura do jogo é comum a qualquer outro JRPG: diversas dungeons para explorar (que sofrem de designs pouco criativos, mas existem aos montes), quantidades gigantescas de side-quests com uma certa variedade e chefes que são versões gigantes de inimigos comuns. A quantidade de assets repetidos acaba incomodando um pouco, mas a variedade de inimigos é bem grande, o que evita que o cansaço alcance o jogador logo. Existe ainda um hub/cidade central a partir da qual as quests são obtidas, equipamentos são customizados e todo o resto.
Existe ainda um modo online, liberado após a conclusão da primeira ilha (o jogo é dividido em várias ilhas acrescentadas ao jogo após a primeira expansão de ALfheim Online, Svart Alfheim), na qual é possível completar diversas quests e raids em conjunto com outros jogadores, normalmente para partys de 4 jogadores (a maior raid é feita para 16 jogadores). É um bom complemento e, junto com o modo PvP, acrescenta ainda mais conteúdo a um jogo já cheio dele.
Sword Art Online: Lost Song não é nenhum jogo revolucionário ou que coloca novos padrões para os Action RPGs, mas é uma experiência divertida e leve, que deve agradar aos fãs do gênero e, principalmente, aos fãs da franquia. Com a já anunciada sequência Hollow Realization a caminho, é de se esperar que a série continue a evoluir e passe a ser não só um agrado aos fãs do anime/light novel, mas também dos jogos em si.
Veredito
Sword Art Online: Lost Song é um divertido RPG de ação que ainda sofre com alguns problemas ao tentar emular a série que o inspirou. Com a presença de vários personagens da franquia, o mesmo acaba por ser um ótimo jogo para os fãs de SAO, mas um pouco difícil de recomendar a quem não possui muito apego a ela.
Jogo analisado com código fornecido pela Bandai Namco.