Quando falamos em anualização de franquias de jogos, sempre pensamos primeiro nos jogos de esporte ou nas grandes franquias de tiro. A sua maneira, Sword Art Online passou pelo mesmo processo. Desde o lançamento de Hollow Fragment em 2014, todos os anos vimos o lançamento de pelo menos um jogo da franquia, tornando cada vez mais fiel a representação de um MMO “offline”. Sword Art Online: Hollow Realization, lançado para PlayStation 4 e PS Vita pela Bandai Namco Entertainment, é mais um passo na direção correta e faz mudanças significativas em um curto espaço de tempo.
Colocando o jogador dessa vez com o controle unicamente de Kirito, o protagonista da série, Hollow Realization faz algo novo nos jogos da série: contar uma história totalmente nova, se passando em um novo VRMMORPG não apresentado nem nas light novels nem nas duas temporadas do anime, e dando continuidade à linha temporal dos jogos (que difere um pouco do canon da série).
Felizmente, SAO:HR faz uma série de coisas muito agradáveis tanto para os fãs da série quanto para os jogadores novatos. O jogo oferece uma série de opções e oportunidades para o jogador se aprofundar e recapitular os acontecimentos de Hollow Fragment e Lost Song, não sendo necessário um conhecimento prévio dos personagens ou dos jogos para se poder aproveitar a experiência.
O mundo novo de Ainground apresentado pelo jogo Sword Art: Origin (para os não-iniciados, os jogos da franquia tentam emular a sensação do jogador controlar uma pessoa jogando um MMORPG em realidade virtual) é muito charmoso e vivo. Sempre há uma quantidade considerável de jogadores ou de monstros na tela, capturando muito melhor do que nos jogos anteriores a sensação de estar em um MMORPG. Os fãs ainda sentirão um tom de familiaridade com os ambientes, por ser baseado no mundo apresentado na primeira temporada (e no primeiro jogo), Aincrad.
E é nos terrenos de Ainground que o jogador encontrará uma vasta quantidade de conteúdo. Uma história principal que demanda algumas dezenas de horas (cerca de 40) para ser concluída e a gigantesca quantidade de side-quests deve manter o jogador ocupado por muito tempo. Infelizmente, não existe variedade nas missões, se resumindo a matar X inimigos ou coletar Y itens. Completar essas side-quests é bem simples, sendo bem fácil de fazer enquanto se avança na história, rendendo bons pontos de experiência e dinheiro com facilidade.
Realizar as side-quests são só um bônus pois, considerando só a quantidade de tempo que o jogador passará andando pelos mapas completando as missões da história principal e a dificuldade baixa do jogo, a necessidade de grind nesse JRPG é praticamente inexistente. Existem também alguns problemas com o design das missões, nem sempre ficando muito claro pra onde o jogador deve ir e o que deve fazer quando chegar no lugar.
Existem outras coisas a se fazer, mais notoriamente o sistema de afeição com os personagens do jogo, que permite ao jogador desenvolver seu relacionamento por meio de conversas simples ou conversas mais pessoais em pontos específicos das cidades, e até conversas na cama (com os personagens vestidos, é claro), mas o sistema é mais um gimmick do que algo muito relevante. É possível recrutar através desse sistema quase qualquer personagem que você encontre em Ainground, dado que o jogador tenha tempo e paciência para tal.
Existem alguns pontos em que SAO: HR brilha e esses são em sua história e em seu combate. Por mais que tenha um ritmo lento no começo, acompanhar Kirito e seus amigos explorarem Sword Art: Origin e desvendarem os mistérios por trás da NPC Premiere é intrigante e divertido, contando quase sempre com um tom bem leve nos diálogos. Aproveitar a história requer bastante leitura, pois os diálogos são contados em forma de visual novel e o áudio está em japonês, mas o jogo foi traduzido para português, contando com um texto muito bem escrito e localizado, apesar de alguns poucos erros de digitação.
A cereja do bolo aqui é o combate. Hollow Realization chega o mais próximo possível de emular o sistema de combate de um MMORPG, sendo possível não só mapear skills pros botões de face e diferentes combinações deles com o analógico, mas existindo também uma barra de skills (mapeada para o touchpad do PS4) para a qual é possível mapear e acessar as outras habilidades e itens. O combate é em tempo real, sendo que combates com inimigos mais difíceis exige uma boa noção de timing para não torná-los mais difíceis do que o necessário.
As habilidades são adquiridas ao aumentar o índice de proficiência de Kirito com as armas e usar os pontos ganhos com a evolução desses níveis comprando essas habilidades. Existe também um sistema de combos, esquiva, parry, combinações de skills e um multiplicador de dano que, em geral, se beneficiam da combinação dos ataques do jogador com os do resto da party para causar grandes quantidades de dano. Fica claro que houve bastante cuidado em tornar o combate o mais desafiador e rico possível e, em suma, o jogo tem sucesso, com um grande porém.
A Inteligência Artificial dos membros da party é atroz. É mais do que comum o jogador iniciar o combate e os seus companheiros ficarem observando (ou só um deles entrar na batalha) sem tomarem qualquer ação por si mesmos ou atacarem inimigos aleatórios na tela sem qualquer preocupação com defender. É possível dar ordens para guiá-los, mas a obrigação de ter que ficar agindo como babá da party pode ser frustrante e cansativo em um jogo cuja premissa é ter um combate com o ritmo mais acelerado possível. Isso tudo funciona muito melhor nas raids online (para até 4 jogadores e quatro companheiros controlados pela IA), mas são muito poucas para ser um feature muito grande do jogo.
Ao longo do jogo é possível ainda elogiar determinados comportamentos e incentivar que as personagens se comportem de determinada maneira. Os resultados demoram a aparecer mas são bastante benéficos a longo prazo, mas é recomendado que o jogador sempre se mantenha em dias com suas poções e itens de cura, pois mesmo os personagens de suporte nem sempre se importam tanto com a idéia de curar um companheiro prestes a morrer, preferindo curar alguém com 90% do seu HP.
O jogo roda bem no PS4, com alguns raros slowdowns no framerate. Os modelos de personagens e dos inimigos são muito bonitos, mas os ambientes são bem pouco inspirados e fica claro que alguns assets foram reaproveitados de Lost Song. É uma evolução em relação ao jogo anterior, mas não será confundido com nenhuma obra-prima técnica do console.
Mesmo com seus problemas, Sword Art Online: Hollow Realization é um ótimo jogo para os fãs, com uma boa história e ótimo combate que supera a IA fraca, mas que não deixa de ser acessível para os outros jogadores em busca de um JRPG para passar o tempo. É o melhor jogo da franquia até hoje e uma fácil recomendação para os fãs do anime e dos jogos anteriores. Também há bastante conteúdo pela frente, inclusive gratuito, o que deve manter os jogadores engajados por ainda mais tempo.
Veredito
Obrigatório para os fãs de Sword Art Online e acessível para os novatos, Hollow Realization é um passo na direção certa e captura muito bem o espírito e o combate de um MMORPG, tudo envolto em uma divertida história.
Jogo analisado com código fornecido pela Bandai Namco Entertainment.