Styx é um título um tanto quanto injustiçado. Styx: Shards of Darkness é na verdade a sequência de Styx: Master of Shadows (confira sua análise aqui), lançado em 2014 e que provavelmente passou despercebido por muitos jogadores, mesmo tendo sido dado grátis no plano Playstation Plus em julho de 2015. A série inclusive é um spin-off/prequel de outro jogo mais desconhecido ainda, o RPG Of Orcs and Men, lançado em 2012. Com essa análise, espero fazer justiça ao pequeno goblin e tentar despertar o interesse dos jogadores pela série.
Vamos começar falando sobre o personagem. Styx é o anti-herói que todo mundo aprende a gostar. Ele é um goblin coçador de traseiro que adora fazer piadas sarcásticas, cheias de humor negro, deboche e conotação sexual, tanto consigo quanto com os outros (li por aí o chamarem de o "Deadpool dos games"). Ele é de um estereótipo tão forçado que acaba sendo carismático e suas piadinhas com certeza irão arrancar um sorriso de sua boca. Seu "ganha-pão" é praticar roubos – e assassinatos, se a ocasião exigir. No mundo em que o jogo se passa, ele tem seu destaque por ser o único goblin capaz de falar.
Styx é de estatura baixa e de um corpo frágil. Desse modo, ele se especializou em infiltração e furtividade, já que sua morte é quase certa em um confronto direto. Ele também possui a capacidade de gerar clones de si próprio, ter um senso mais apurado do ambiente e ficar temporariamente invisível, poderes concedidos pelo uso do Amber, um tipo de líquido mágico do mundo do jogo e que funciona quase como uma droga, devido a suas propriedades viciantes.
O primeiro jogo, Master of Shadows, conta as origens de Styx e vale a pena ser conferido, pois traz um enredo cheio de surpresas e reviravoltas. No entanto, não é necessário ter jogado o primeiro para poder aproveitar Shards of Darkness. Apenas para contextualizar, basicamente, sua origem foi também a causa do nascimento da raça goblin e sua infestação como uma praga pelo mundo. Isso deu início a conflitos sociais e culminou com as outras raças (humanos, elfos e anões) buscando o extermínio goblin. A história de Shards of Darkness se passa neste contexto, com Styx ainda sendo um desconhecido.
Vivendo em Thoben, a cidade dos ladrões, Styx segue sua vida de roubos e malandragens. Apesar de se achar o melhor dos ladrões, ele é passado para trás por outro gatuno ardiloso em uma de suas "coletas". Com o orgulho abalado, Styx quer um acerto de contas, nem que para isso ele precise fazer a mais inusitada das alianças a uma humana caçadora de goblins. Isso acaba o levando a Korrangar, a cidade dos Elfos Negros, e serve como ponto de entrada a uma trama maior: um conflito envolvendo elfos, goblins e um novo objeto de poder, o Quartz.
A história, um ponto muito positivo no primeiro jogo, acaba sendo de pouca relevância em Shards of Darkness. O roteiro dessa vez é fraco e sem muitas reviravoltas, o que acaba não empolgando. O final, apesar de uma luta bem bacana, deixa lacunas em aberto. Em minha opinião, o que mais prejudicou foi a falta de um bom antagonista (se é que posso dizer que existiu um). Na verdade, com exceção de Styx, nenhum dos outros personagens é memorável, todos com motivações bem rasas e sem muito desenvolvimento. Aqueles que conhecem o primeiro jogo talvez se decepcionem um pouco com a direção desta sequência.
O jogo segue o gênero do Stealth e é aqui que ele brilha (ou afugenta os jogadores). Como dito, Styx é um personagem frágil, então todas as missões se baseiam altamente em furtividade, em realizar suas ações sem ser descoberto. Neste aspecto, o jogo tem um nível bem alto, sendo que qualquer pequeno deslize e você é detectado. É possível tentar a fuga ou entrar em combate direto (no esquema de apertar quadrado no momento certo), porém, é altamente provável que você morra no processo. Desse modo, o jogo pode ser um desafio frustrante para os que não têm paciência.
Aceite o fato: você vai morrer, e muito. E vai xingar e o Styx irá te xingar também (é sério!). No primeiro jogo, isso era muito frustrante, não pelo fato de perder em si, mas sim pelo loading extremamente demorado. Felizmente, a desenvolvedora se preocupou com isso em Shards of Darkness e trouxe um carregamento mais otimizado. Há agora um loading demorado que ocorre apenas no início de cada missão. Depois disso, morrer ou recarregar um checkpoint é feito de forma rápida. Serve também de auxílio valioso a possibilidade de fazer um quick save ao pressionar o botão de direita no D-Pad.
Não foi apenas o loading que melhorou. A utilização da Unreal Engine 4 trouxe muitas outras melhorias técnicas. Os gráficos estão muito bons, principalmente na parte de iluminação, um conceito importante no jogo. Os personagens também possuem uma modelagem e textura melhores, bem como movimentação mais fluida. Ambientes e cenários de cada missão estão lindos e bem detalhados, com estruturas de dimensões gigantescas. Outro aspecto positivo foi a inclusão de várias cutscenes durante o jogo, e não imagens estáticas, como foi no primeiro. É possível notar um carregamento tardio de texturas no início de cada missão, mas não é nada grave.
Apesar das melhorias, ainda existem alguns problemas. A IA do jogo em algumas ocasiões é problemática e espero que melhorem isso com futuros patches. Há problemas de colisão entre inimigos e também objetos do cenário, gerando casos de desvantagem injusta quando, por exemplo, um inimigo fica "caminhando" em frente a uma parede e você consegue passar despercebido. Há casos também em que o inimigo, ao entrar em estado de alerta, não sai do lugar ou fica dando voltas.
Por falar em inimigos, há ainda pouca variedade deles. Como no primeiro jogo, novos inimigos vão sendo adicionados em cada missão, trazendo alguma característica nova que aumenta a complexidade e te obriga a se adequar em suas abordagens furtivas. Um exemplo são os anões, capazes de sentir o cheiro do Styx, mesmo ele estando escondido. Além de inimigos, há também perigos do próprio ambiente, como esporos venenosos que estouram quando você chega perto.
Há elementos de RPG na parte de customização do Styx. O goblin possui uma árvore de habilidades que foi incrementada e dividida em cinco ramificações. Você pode investir em habilidades furtivas, assassinas ou de percepção de ambiente. É também possível investir em melhorias para seu poder de clonagem, bem como sua capacidade de criação de itens, uma novidade para este jogo.
Styx agora pode criar diversos itens que o auxiliam principalmente no combate furtivo. Um dos mais legais é a armadilha de ácido, acionada quando o inimigo pisa nela, matando-o e dissolvendo seu corpo, possibilitando uma morte sem deixar rastros. Styx também consegue criar itens para recuperar vida e Amber e, em níveis mais altos, é possível até mesmo confeccionar uma nova adaga e roupa que trazem bônus e penalidades quando equipadas. Os materiais necessários para a criação dos itens são encontrados pelo cenário.
Habilidades são destravadas com o gasto de Skill Points, obtidos ao se cumprir objetivos obrigatórios e opcionais em cada missão. Uma coisa legal é a possibilidade de ativar ou desativar as habilidades sem penalização, ou seja, se não estiver satisfeito com uma delas, pode desativá-la e gastar os Skill Points em outra. Isso possibilita ao jogador testar diversas opções e usar aquelas que achar mais adequadas para cada missão.
Vamos falar então sobre as missões. Cada uma possui um roteiro definido, com indicações dos objetivos a serem cumpridos, tanto principais quanto secundários. O brilho do jogo, no entanto, é a liberdade que ele te dá para cumprir cada missão do jeito que você quiser. Os cenários são muito amplos e suas estruturas dão diversas opções de abordagem, tanto para aqueles que preferem a furtividade pura, quanto aqueles que gostam de criar caos e sair de fininho.
O ambiente possui objetos de interação que trazem algumas opções interessantes. Styx pode fazer candelabros caírem na cabeça de algum guarda desavisado, apagar tochas para se esconder na penumbra, ou até cuspir em comidas e bebidas, envenenando-as. Baús e armários servem tanto para se esconder quanto para ocultar um corpo. Quando inimigos encontram corpos caídos por aí, eles entram em estado de alerta, mudando sua rota de passagem e fazendo buscas próximas ao local, e isso pode ser tanto uma vantagem quanto uma desvantagem, dependendo da sua abordagem.
A desenvolvedora foi muito competente no design de fases e no posicionamento e movimentação dos inimigos no mapa. Até mesmo jogadores mais cuidadosos, vez ou outra, serão surpreendidos por um inimigo escondido em um canto ou fazendo uma mudança repentina de rota. Apesar de ter um foco no stealth, há também pequenas porções do jogo que envolvem resolução de quebra-cabeças e até batalhas contra chefões, que são bem elaboradas.
Uma coisa que não gostei são as partes de plataforma do jogo. Há um bom destaque para a verticalidade dos mapas, então várias vezes você irá fazer o Styx escalar e pular estruturas, mas o jeito como isso é feito não foi bem implementado. O pulo não é preciso, chegando a irritar a quantidade de vezes em que você morre de bobeira ou quando o Styx, ao invés de subir em uma plataforma de maneira sorrateira, dá um pulo e anuncia a todos sua posição.
Todas as missões podem ser repetidas quantas vezes quiser e Shards of Darkness traz alguns incentivos para isso. Além de objetivos principais e secundários, as missões possuem desafios que podem ser cumpridos para se obter mais Skill Points. São quatro desafios, classificados em ouro, prata e bronze de acordo com seu desempenho: terminar a missão em determinado tempo, ser visto pelo inimigo o mínimo possível, matar nenhum ou poucos inimigos, e coletar tokens, os colecionáveis do jogo. Dos quatro, o desafio que envolve tempo é o mais complicado.
A trilha sonora é bem bacana e me faz lembrar de música árabe misturada com trilhas épicas. As dublagens com sotaque de inglês britânico são medianas, à exceção, novamente, de Styx que tem aquele tom de deboche e malandragem muito bem aplicados. Não espere também um bom trabalho de sincronia labial, pois ela é inexistente. O jogo, infelizmente, não está localizado para o português brasileiro, nem mesmo com legendas, o que acaba prejudicando sua ampla aceitação por aqui.
Finalizando, Styx: Shards of Darkness possui um sistema de coop online, com partidas públicas e privadas. Todas as missões podem ser jogadas neste modo, mas existem algumas regras: caso um dos jogadores morra, é possível trazê-lo de volta ao jogo ao custo de metade das barras de vida restantes do outro jogador (game over se houver apenas uma barra de vida); não é possível entrar em confronto direto, então, ao ser detectado pelo inimigo você deve fugir, senão é game over; por fim, não é possível salvar manualmente durante a missão, desse modo, em caso de game over, é necessário reiniciá-la (e aturar o loading mais demorado).
A meu ver as regras aplicadas ao coop são bem punitivas e exigem uma boa comunicação e sincronia entre os jogadores, senão a frustração pode ser bem alta. Durante meus testes com o jogo, tive bastante dificuldade em encontrar alguma sessão para entrar, conseguindo testar o coop somente ao abrir minha própria sessão como host, e mesmo assim esperando um bom tempo até algum jogador aparecer. Talvez a razão para isso seja pelo fato de o jogo ter sido lançado recentemente. Mesmo assim, para mim, essa foi uma função que não teve utilidade ou necessidade, conseguindo me divertir muito bem sem ela.
Veredito
Styx: Shards of Darkness é a sequência de um título pouco conhecido, Styx: Master of Shadows, que ainda é um spin off de um título mais desconhecido ainda, Of Orcs and Men. Isso acaba sendo uma injustiça, pois é um jogo muito bom, de um gênero não tão popular no PS4: o Stealth. Styx, o goblin desbocado e ladino é um personagem muito carismático que adora quebrar a quarta parede e zoar os erros do jogador. O jogo é muito bem desenvolvido na parte de furtividade, trazendo uma dificuldade alta que pode afugentar os mais impacientes. Ele possui diversas melhorias com relação ao seu antecessor, principalmente na parte técnica. Apesar de uma história rasa e um modo coop sem muita relevância, vale a pena ser conferido.
Jogo analisado com código fornecido pela desenvolvedora.
Veredito
Veredict
Styx: Shards of Darkness is the sequel to a not well-known title, Styx: Master of Shadows, which in turn is a spin-off of an even more unknown title, Of Orcs and Men. This is kind of unfair to a great game, from a genre not so popular on PS4: Stealth. Styx, the cunning goblin with a potty mouth is a very charismatic character who loves breaking the fourth wall and mocks the player’s mistakes. The game is greatly built on stealth, with a high difficulty that may chase away those more impatient. It has several improvements when compared to its predecessor, especially on the technical field. Despite having a shallow story and an irrelevant coop mode, it is worth checking out.