Em uma geração repleta de sequências e jogos que pouco ousam arriscar, se o fazem, é um alívio ver que algumas empresas ainda possuem a coragem de fazer algo diferente. Spec Ops: The Line à primeira vista parece apenas mais um shooter em terceira pessoa. Porém, por trás dessa fachada há um jogo não somente muito bom, mas também profundo em seus temas e que não tem medo de chocar você com as suas escolhas.
The Line se passa em Dubai num futuro próximo. Uma tempestade de areia sem precedentes arrasou a cidade, e um 33º Batalhão do Exército dos Estados Unidos, liderado pelo Coronel Konrad, é levado ao local para ajudar a população. Porém, eventos diversos levaram o Batalhão a deserdar e a cortar comunicação com o mundo exterior. Uma equipe de 3 membros da Força Delta, liderada por Martin Walker (quem você controla durante o jogo) é levada até a cidade para averiguar a situação e entender o que aconteceu com Konrad.
O sistema de combate do jogo é o que poderia se esperar de um jogo do tipo, e funciona muito bem em todos os momentos. Você pode carregar duas armas ao mesmo tempo e 3 tipos de granadas diferentes, e nas batalhas é possível usar cover para se proteger dos tiros. O sistema de cover é inteligente e permite que você alterne a mira entre as laterais e o topo das barreiras de cover enquanto se move, sem interromper a ação. Os seus companheiros também sempre o ajudam nos tiroteios, enfrentando inimigos e ajudando a dispersar o foco em você. Também é possível dar alguns poucos comandos para eles, quando você achar necessário.
Os gráficos são bonitos e bem vivos, sempre destacando o principal elemento visual do jogo: a areia. Em momentos de calmaria ela brilha em um tom dourado muito bonito, e em momentos de ventania forte ela escurece toda a tela e afeta não somente a sua visão, como o funcionamento das próprias batalhas. A areia foi muito bem pensada e utilizada aqui, e pode ser inclusive a sua aliada em alguns momentos. Algumas janelas e vidros podem ser quebrados e a areia que ficava amparada por eles cai e pode cobrir os seus inimigos. Quando você joga granadas, depois da explosão voa areia para todos os lados, obscurecendo a visão de seus inimigos. Em suma, o combate do jogo foi bem feito e é muito divertido.
Mesmo com um gameplay tão bom, a estrela do jogo é a sua história e seus personagens. Poucos jogos ousaram tanto em mostrar um lado humano tão sombrio quanto The Line faz. Ao longo do jogo você irá encontrar diversas situações que o farão questionar as suas ações. Na maioria dos jogos nós costumamos matar centenas ou milhares de inimigos sem pensar nas consequências, mas aqui você irá sempre se questionar se está fazendo a coisa certa.
The Line também consegue fazer uma coisa muito rara nos jogos: ele me fez odiar profundamente o protagonista. Você controla Walker e, no papel dele, deve tomar algumas decisões simplesmente horrendas ao longo do jogo. Algumas dessas decisões são parte do progresso natural do jogo, mas em algumas você realmente pode escolher se quer fazer isso ou aquilo, e geralmente ambas as decisões são desagradáveis. Também vale ressaltar que o jogo oferece múltiplos finais, nem todos eles óbvios mas todos fantásticos.
A história do jogo é realmente sensacional e é extremamente chocante em vários momentos. Você vai se sentir mal por fazer o que deve fazer, e vai se questionar a todo instante, duvidando de si mesmo e de suas ações. Poucos jogos tem a coragem de apresentar esses aspectos sombrios ao jogador, e a Yager merece os meus parabéns por não ter tido medo de contar a história da forma que o fez.
O jogo também oferece um modo multiplayer, mas ele é tão ruim que não merece mais do que 5 minutos da sua atenção. Ele foi feito por uma empresa diferente e não oferece nada de interessante que já não tenha sido usado em dezenas de jogos similares.
O jogo também dá uma pequena travada sempre que você ganha um troféu, e isso geralmente dura uns 2 ou 3 segundos, então com o tempo isso acaba irritando bastante. Por usar a Unreal Engine 3, The Line também sofre do problema de carregamento de texturas da engine: vários cenários e personagens, quando aparecem na tela, possuem texturas toscas que são substituídas por outras melhores enquanto você as vê. Apesar de isso ser comum em vários jogos, não deixa de ser uma falha técnica.
Porém, nem o multiplayer descartável nem as falhas técnicas tiram o brilho do jogo. Spec Ops: The Line é uma experiência única e deve ser jogado por todos que não tem medo de dar uma chance a um jogo de tiro diferente. Ele irá colocar você em situações impossíveis, e você sairá do jogo, ao seu final, questionando as suas próprias decisões. O horror, o horror.
— Resumo —
+ História e ambientação
+ Personagens
+ Uso inteligente da areia
+ Sistema de combate
+ Escolhas ao longo do jogo
– Multiplayer totalmente dispensável
– Pequenas travadas ao longo do jogo
– Problemas no carregamento de texturas
Veredito
90