Root Film – Review

Root Film é a segunda visual novel para PlayStation 4 da série de jogos de mistério que começou com Root Letter em 2016, ambos desenvolvidos pela Kadokawa e publicados no Ocidente pela PQube Games.

Em Root Film, acompanhamos a história de Max Yagumo, um jovem diretor de filmes e curtas de mistério, juntamente de sua equipe, composta por Magari, sua aprendiz, e Kanade, seu cameraman, que após habitarem nesse nicho por alguns anos, recebem uma oferta imperdível de um grande canal de televisão para competirem com outras duas equipes na produção e lançamento de um importante projeto de mistério.

Ocorre que esse importante projeto é baseado na retomada de outro projeto de mistério que teve sua produção “amaldiçoada” dez anos atrás após circunstâncias inexplicáveis causarem não apenas seu cancelamento, como também o silêncio sepulcral de todos os envolvidos e o desaparecimento de todas as filmagens realizadas até então.

É nessa tocada que Max Yagumo e sua equipe assumem não apenas o desafio de competir com as outras equipes para conquistar e vencer essa grande chance de gravar o projeto para esse canal, como também desvendar os mistérios que causaram o projeto anterior a ser considerado “amaldiçoado” e cancelado sem alarde. Max e sua equipe perceberão que estão muito mais relacionados aos acontecimentos de dez anos atrás do que imaginam.

Algumas diferenças entre Root Letter e Root Film foram para melhor. Enquanto Root Letter focava numa história única do começo ao fim, Root Film se divide em capítulos sequenciais, mas com mistérios diferentes para cada capítulo. Existe um arco relacionando os casos com a história geral da equipe de Yagumo e a produção do projeto, mas o próprio jogo termina cada capítulo com cenas de créditos, dando a entender que cada capítulo é um mistério desvendado e então superado pelo protagonista.

Apesar dos dois jogos ocorrerem na cidade real de Shimane no Japão, Root Film usa as localizações e os cenários reais para dar pano de fundo para possíveis locais de gravação para a equipe de Yagumo, enquanto Root Letter se apresentava um pouco mais como um projeto turístico para a cidade que existe na vida real. Nesse aspecto, Root Film tem mais em comum com jogos de “detetive” como Daedalus: The Awakening Of Golden Jazz por exemplo do que com Root Letter, por se apoiar mais no gênero de “mistério” e de desvendar crimes.

A jogabilidade envolve analisar pontos específicos no cenário, interagir com os demais personagens do jogo e se locomover entre locais da cidade para investigação e solução dos casos de cada capítulo. Uma novidade é a “sinestesia” de Yagumo – enquanto o termo é utilizado para o cruzamento de sentidos, como “enxergar ruídos”, o jogo utiliza como forma do protagonista “enxergar” as frases-chave ditas por outros personagens e assim memorizá-las.

É com o avanço da história e o acúmulo dessas frases-chave que o protagonista confronta outros personagens na história para desvendar o mistério ou desmascarar o culpado por trás daquele caso. Nesses momentos de clímax chamados “Max Mode”, o jogador deve escolher as frases corretas que mostram a contradição na fala do outro e assim solucionar o problema. Quando você acerta, chega mais perto de completar a barra de “verdade revelada”, e quando erra, mais próximo chega da barra de “caso não solucionado”.

Os casos começam com uma menor complexidade de mistério e até mesmo uma menor duração, e conforme o jogador vai avançando e a história vai se abrindo, mais difíceis e demorados são os casos. Apesar disso, o jogo é bastante leniente – é impossível você avançar muito e perder uma pista, por exemplo, já o jogo só avança aquela parte da história quando todas as pistas necessárias são encontradas, impedindo que você trave o avanço ou que chegue nesses momentos de clímax sem as informações necessárias para desvendá-los.

A arte do jogo é novamente feita por Mino Tarou (Minoboshi Tarou), o artista por trás das ilustrações de Root Letter e alguns outros jogos, porém em Root Film, ele traz um traço notadamente diferente do jogo anterior. Os personagens agora estão mais “estilizados”, com traços mais fortes e uma paleta de cores muito mais colorida e chamativa. Um problema que encontrei com a arte, no entanto, foi a falta de variedade de expressões no retrato dos personagens; em muitas cenas, eles estão tristes ou bravos pelo diálogo, mas o retrato reproduzido é o mesmo em quase todas as cenas, independente da emoção.

A trilha sonora do jogo está no mesmo nível de qualidade de Root Letter, assim como a dublagem dos personagens. Nota-se que é uma visual novel com um orçamento considerável, pois conta com todas as ferramentas que se espera de um jogo do gênero, como poder pular texto lido, auto-save após cada cena, fluxograma de capítulos permitindo que o jogador escolha jogar novamente algum deles em específico, etc. O jogo possui apenas dublagem em japonês e legendas em inglês.

A localização do jogo, porém, é um problema, que também preciso ressaltar, está virando marca registrada da publisher no Ocidente, a PQube. O jogo começa bem, sem erros e com um script bem adaptado, porém conforme o tempo vai passando, os erros de escrita e até mesmo de concordância vão surgindo. Em algumas cenas, trocam os nomes dos personagens e até mesmo misturam gêneros, como em uma cena específica, um dos personagens diz “ele é a irmã mais nova…”, se referindo a um homem. Esse erro ocorre várias vezes no jogo, dentre os demais erros mais corriqueiros (e que não deveriam ser), como os de escrita.

Apesar de ser o segundo da série – e da tentativa da desenvolvedora e publisher original da série no Japão, a Kadokawa, tentar emplacar os jogos como uma franquia, sinto que Root Film alcançaria mais jogadores se fosse lançado como um jogo novo, sem laços prévios. O jogo é notadamente mais interessante, os personagens são mais relacionáveis (em forte contraste com o protagonista estúpido do primeiro jogo), praticamente é superior a todos os aspectos em relação ao primeiro jogo, com forte exceção da localização. Entretanto, como Root Letter não foi tão bem recebido pelo público, tanto no Japão quanto no Ocidente, muitos irão ignorar Root Film por conta dessa relação, o que acaba sendo injusto com um jogo que é bem melhor.

Após dez a quinze horas de jogo, Root Film fecha as cortinas e encerra a história em um tom satisfatório. Apesar de não existirem quaisquer incentivos a jogar novamente após seu fim, tirando caça de troféus, sinto que Root Film me surpreendeu depois do lançamento pouco notável de seu antecessor, e que se outros jogadores derem uma chance, também se surpreenderão.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela PQube Games.

Veredito

Após o lançamento sem muito destaque de Root Letter, Root Film, um jogo melhor em todos os aspectos que seu antecessor, é amaldiçoado por essa ligação e talvez não alcance o maior público que merece.

85

Root Film

Fabricante: Kadokawa

Plataforma: PS4

Gênero: Visual Novel

Distribuidora: PQube Games

Lançamento: 19/03/2021

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

Comprar na

Veredict

After Root Letter’s lackluster launch, Root Film, a big improvement over its predecessor, is cursed by that connection and may not reach the wider audience it deserves.