Resistance: Fall of Man (FoM) foi um dos primeiros jogos do PS3, e um dos melhores títulos iniciais do console. Desenvolvido pela Insomniac, responsável pela aclamada série Ratchet and Clank (R&C), FoM conseguiu sucesso entre jogadores e críticas, e uma sequência foi inevitável. Resistance 2 (R2), enquanto ainda aclamado pelos críticos, não foi tão bem vistos pelos fãs por conta de algumas mudanças de design. Para Resistance 3 (R3), a Insomniac garantiu que daria ouvido aos fãs, e embora o resultado não seja perfeito, ele ainda é mais que satisfatório.
Enquanto FoM e R2 contavam a história de Nathan Hale, o personagem principal de R3 é Joseph Capelli, um dos personagens mais importantes de R2. Capelli foi dispensado do serviço militar por ação desonrosa, e encontrou abrigo em uma comunidade em Oklahoma, onde constituiu família e desde então protege a sia mesmo e aos outros contra os monstruosos Chimeras. A guerra contra os Chimeras, por sinal, não vai bem. Os poucos focos de resistência humana não têm como resistir à superioridade numérica e bélica dos inimigos, e para piorar, o mundo está congelando – ambiente que favorece os Chimeras e prejudica ainda mais os humanos. Os humanos são, portanto, forçados a se esconder em abrigos como o que Cappeli está.
Este abrigo é atacado logo no início do jogo, e enquanto Capelli e outros membros da resistência repelem o ataque, o motivo deste se revela – Dr. Malikov. O cientista veio ao abrigo buscando Capelli, e quer ajuda do ex-soldado para chegar a Nova Iorque e desativar um imensa torre dos Chimeras, que ele deduziu ser a causa do resfriamento global. Embora inicialmente recuse-se a ajudar, Capelli percebe que está é a única chance que tem de dar à sua família uma vida normal, saindo então em sua jornada. FPSs não costumam se focar muito nos personagens, e sim nos acontecimentos ao seu redor – algumas poucas exceções, como Half-Life e Bulletstorm vêm à mente. Embora ainda seja uma história de “salvar o mundo”, a trama de R3 é bem pessoal, e nunca perde de vista seu componente humano. Com uma boa dose de reviravoltas e um ritmo excelente, R3 não decepciona em seu enredo.
Um ponto que quero destacar é o arsenal de Capelli – acredito que ele seja a grande estrela do jogo. A Insomniac já está acostumada a fazer armas esdrúxulas e originais para R&C e os dois Resistances anteriores, e R3 não decepciona. Algumas favoritas dos dois jogos anteriores retornam, como a Auger, Bullseye e Marksman, e dividem espaço com novidades como a Mutator – cada arma é decidiamente única, e nenhuma é inútil. Para melhorar, cada utensílio de matar que Capelli carrega possui um tiro secundário (também único, diga-se de passagem). A Bullseye, por exemplo, cria uma linha entre você e o inimigo, fazendo com que seus tiros se tornem teleguiados, enquanto a Auger cria um escudo contra projéteis e a Marksman solta um turret para ajudar a eliminar os inimigos. Com tanta variedade de arsenal, os combates do jogo se tornam divertidíssimos.
R3, aliás, funciona de forma bastante “velha-guarda”. Nada de regenerar energia automaticamente, cover ou carregar 2 ou 3 armas. Em R3, sua energia deve ser recarregada por Health Packs, Capelli não se gruda ao cover e você tem todo o seu arsenal disponível o tempo todo. Enquanto essas decisões de design soam sutis, na prática elas fazem com que os combates sejam muito mais tensos, já que você não tem abrigo e deve monitorar sua energia de perto, jogando de forma mais cautelosa e inteligente, possuindo sempre diversar formas de se matar os Chimeras com o variadíssimo arsenal – e é justamente isso que diferencia R3 de tantos outros shooters do mercado. Vale lembrar que estas decisões de design são frutos das críticas que R2 recebeu dos fãs, em particular poder carregar todas as armas novamente, e provavelmente agradará àqueles que ficaram insatisfeitos com as mudanças de R2.
Os dois componentes Multiplayer de R3 foram drasticamente reduzidos em relação ao seu antecessor. O modo cooperativo de até 8 pessoas em um campanha separada se foi, dando lugar à campanha com até 2 jogadores. Infelizmente, este modo cooperativo deixa um pouco a desejar. Primeiramente, você pode jogar online apenas com pessoas da sua lista de amigos, o que significa que, caso ninguém na sua lista possua o jogo, você estará sozinho em R3. Outro problema se deve ao fato de que o segundo jogador, embora tenha nome (Jack) e voz própria, simplesmente não aparece na história, e conta apenas com algumas poucas linhas de diálogo em alguns pontos do jogo – ou seja, a campanha cooperativa é exatamente a mesma da solo, mas sem nenhum polimento para abrigar o segundo jogador. Por outro lado, o jogo dá a opção de se jogar cooperativamente em split-screen, o que sempre é uma adição muito bem-vinda.
Do lado competitivo, R3 também perdeu em muito sua identidade. FoM contava com até 40 jogadores em cada partida e R2 abrigava até 60, mas esse número caiu para meros 16 em R3. O que mais me incomoda, porém, é que o Multiplayer de R3 é parecido demais com o visto em Call of Duty, e sem o grande número de jogadores, R3 não consegue se diferenciar da concorrência. Os modos de jogo são os mesmos que já conhecemos em tantos outros FPSs, como (Team) Deathmatch, Capture the Flag e modos de objetivos – como Breach (semelhante ao Rush de Battlefield) e Chain Reaction. Não quero dizer que o Multiplayer de R3 seja ruim (pelo contrário, é bem divertido), mas entre os mapas gigantes e a estratégia de Battlefield 3 e a matança desenfreada de Modern Warfare 3, R3 acaba parecendo pouco inspirado. Completo, mas ainda assim pouco inspirado. Por fim, péssima notícia aos que compram jogos usados: R3 é o pioneiro da PSN Pass, o Online Pass dos jogos First-Party da Sony e que também estará presente em Uncharted 3. Quem quiser jogar R3 online com uma cópia usada terá que desembolsar mais 10 dólares na Store para se juntar ao Multiplayer.
Inspiração, porém, é o que não falta na arte de R3. O jogo é bonito e conta com ótimas texturas (agradam-me principalmente as texturas das peles dos personagens, muito bem feitas), ambientes amplos e uma boa variedade de inimigos. Os efeitos de luz e iluminação são ótimos, e R3 consegue passar uma atmosfera de desolamento, tristeza e terror como poucos. Dados momentos do jogo me lembraram em muito Half-Life 2, e francamente, isso não tem como ser ruim. As músicas são ótimas (ainda que o jogo não conte com temas memoráveis) e a dublagem está afiada, mas acredito que o melhor do departamento sonoro sejam os efeitos – em especial o grito de morte dos Chimeras, que é a cereja da atmosfera do jogo.
Antes de concluir a análise, quero levantar aqui uma crítica que não influencia minha recomendação final de R3: o suporte ao Move e à Sharp Shooter. R3 fez muita propaganda sobre seu suporte ao controle de movimento da Sony e seu periférico em forma de armas, mas a implementação deixou muito a desejar. Vamos por partes. Para início de conversa, a crosshair jogando com o Move é simplesmente horrenda, muito grande e opaca, prejudicando em muito a visibilidade. Segundo, ao se usar o Aim Down Sights (L1), o controle responde de forma absurdamente lerda, tornando impossível usar essa função de zoom para tiros mais precisos em meio aos combates frenéticos contra os Chimeras. Esse defeito foi corrigido em partes com o patch 1.04, mas ele deixa a visão da arma muito estranha, e o controle ainda sofre com um pouco de atraso na reprodução dos movimentos – ainda que esteja muitas vezes melhor que na versão original. Por fim, o jogo não permite a customização de botões, o que prejudica em muito o uso da Sharp Shooter. Por quê? Primeiro, lembrem-se que a disposição de botões dela é excelente, com os botões quadrado e triângulo próximos ao gatilho e X e O no próprio Navigation Controller. Entretanto, o botão de pulo em R3 é X, e isso não muda se você estiver usando o Move – ou seja, é impossível pular para frente enquano se usa a Sharp Shooter. Além disso, não existe botão especializado para o ataque melee, e “socar” o Move ou a Sharp Shooter para frente frequentemente resulta em trepidação da câmera. Eu só tive a oportunidade de jogar Killzone 3 com o Move/Sharp Shooter recentemente, e a implementação do controle de movimento no jogo da Guerilla só faz a de R3 ser ainda mais vergonhosa. Felizmente, o Move é um acessório 100% opcional, e controle no Dual Shock 3 é excelente – daí o motivo deste suporte mal-feito não influenciar a recomendação final.
R3 é um jogo bastante sólido e divertido, com decisões de design que, embora não mais “populares” (como os Health Packs, por exemplo), ajudam a separar o jogo do saturado mundo dos FPSs. É uma pena que a Campanha seja curta e exista uma certa dificuldade para se jogar de forma cooperativa, mas a história bacana e o divertidíssimo combate garantem um ótimo jogo. Quem gosta do gênero dificilmente encontrará resistência à história de Joe Capelli.
— Resumo —
+ Armas originais e variadas
+ Ótimo enredo
+ Excelente atmosfera
+ Combate muito divertido
+ Belos gráficos
– Curto
– Modo cooperativo só pode ser jogado com amigos
– Multiplayer pouco inspirado
– Suportes ao Move e Sharp Shooter mal implementados