Contos de fadas são histórias populares que fazem parte da vida de muitas pessoas. Crianças atentas ouvindo os pais antes de dormir. Garotos com medo do lobo mau ou admirados com a coragem do caçador, e as garotas que dariam tudo para ser a Branca de Neve ou a Bela Adormecida. É algo tão conhecido por todos nós que inconsequentemente já sabemos de toda a história. Mas no caso de The Wolf Among Us isso não é verdade. É uma fábula que não sabemos o que vem a seguir. Não sabemos em quem confiar. E essa é a magia do jogo.
Minha crítica em relação ao episódio anterior foi que nada aconteceu, que os personagens se desenvolveram pouco, que a história não avançou como deveria e que era bastante curto. O quinto episódio, Cry Wolf, corrige a maioria desses erros. É um pouco mais longo e existem muito mais coisas para fazer e observar.
Um dos motivos do atraso dessa análise foi a minha tentativa de descobrir todas as possibilidades do jogo. Depois de terminar o título pela primeira vez, decidi começar do primeiro episódio novamente e fazer um novo caminho, com novas escolhas. E não me arrependo. O jogo é incrível. E essa minha experiência só me fez olhar mais a fundo e admirar ainda mais a Telltale Games.
O episódio é muito bem construído e possui várias cenas que são memoráveis. Começando pela parte inicial que já apresenta muito bem o pano de fundo de tudo que está acontecendo. Várias coisas são solucionadas e muitos pontos são expostos, fazendo com que a trama consiga se desenrolar de maneira quase natural. Claro que os travamentos continuam incomodando nas cenas de ação, sendo necessário até pausar o jogo para ver se ajuda a carregar mais rápido, mas não há muito o que possa ser feito.
Em sequência, somos convidados a participar de uma das cenas de perseguição mais empolgante da história dos videogames. E não estou exagerando. É muito bem construída e visualmente fantástica. Não sei se é devido ao estilo gráfico ou porque foi algo inesperado, mas a velocidade com que tudo acontece, somada às luzes da cidade, formam um dos momentos que mais gostei nos jogos da empresa até hoje.
Existem algumas cenas que eu particularmente não gostei tanto, e vou evitar explicar exatamente o que acontece para não haver spoilers, citando apenas os personagens envolvidos. Um exemplo é a cena de Georgie e Vivian. Era algo que eu esperava muito mais e acabei me decepcinando. Outra parte que não gostei tanto foi o desenrolar da história com o Crooked Man. Acho que é algo meio pessoal, pois sempre espero o máximo de um vilão.
Não podemos dizer o mesmo sobre Bloody Mary. Todo o desenrolar da cena com ela é algo épico. Na verdade, desde o momento em que ela aparece nesse episódio é algo amedrontador. Trata-se, porém, de outra cena prejudicada pelos travamentos constantes. Mas nada é capaz de tirar o brilhantismo do que é feito nesses momentos.
Outra parte maravilhosa é o julgamento. Só vou dizer isso para evitar mais spoilers. Mas preciso ressaltar três personagens que me chamaram muito a atenção. A postura do Crooked Man durante esse momento é incrível e condiz completamente com o personagem, fazendo com que você comece a questionar se realmente está resolvendo o caso. É algo grandioso e que merece ser citado. Segundo, é a presença do Bluebeard. Ele é sinceramente o personagem com quem mais me decepcionei durante o jogo, sempre esperando algo dele e todas as vezes servindo apenas para complicar ainda mais a situação. Existe também outro elo muito forte no jogo: Nerissa. Além de ser uma das personagens mais interessantes de toda a trama, é também uma das maiores incógnitas. Acredito que ela funcione de certa maneira como a consciência, servindo para tirar dúvidas das suas costas quando você precisa, e isso é utilizado com tamanha destreza pelos criadores do jogo que passa despercebido.
Mas quem rouba verdadeiramente a cena é o protagonista, Xerife Bigby Wolf. Depois de ter o prazer de acompanhá-lo por cinco episódios, cheguei a uma conclusão: eu preciso de uma segunda temporada de The Wolf Among Us. Quero conhecer mais sobre esse personagem que eu ajudei a criar e moldar. Ao longo de todos os episódios vamos percebendo o verdadeiro significado do seu apelido, Big Bad Wolf, e começamos a entender a origem do medo que sua mera presença gera nos outros. Existe uma frase no terceiro episódio que condensa exatamente o que eu penso sobre ele. É um pequeno comentário da Branca de Neve para ele que diz (em tradução livre): “Eu acho que você gosta quando as coisas dão errado, porque isso te dá uma desculpa para parar de fingir.” Wolf não é um cara bonzinho. Ele não é daqueles heróis que fazem tudo para todos ficarem bem. Ele é o xerife e quer manter a ordem, mesmo que algumas cabeças rolem pelo caminho. E isso ele faz bem.
Eu, particularmente, adorei a minha experiência com o jogo desde o primeiro episódio. Mesmo enfrentando alguns pontos baixos ao longo da jornada, não consigo ver um lado verdadeiramente ruim aqui. A narrativa é acima da média, os personagens são incrivelmente bem construídos, a trilha sonora dá o tom certo, os cenários são lindos, as partes de ação funcionam muito bem – quando não há problemas de travamento – e o mais importante: a história te prende do começo ao fim. Todas as escolhas que você fez até agora vão aparecer de alguma maneira, mesmo que nem sempre seja explícito.
Muitas pessoas comparam esse título com The Walking Dead, por razões óbvias, é claro. São da mesma empresa, apresentam o mesmo estilo de jogo e são ambos baseados em histórias em quadrinhos. Mas diferente da franquia de zumbis, que tenta conquistar o público através de ações emocionais e envolvimento direto com os personagens que o cerca, Wolf tenta criar um ar mais investigativo e tenta um distanciamento dos personagens. É necessária certa distância para ver o quadro investigativo por completo, e envolver com personagens só tornaria isso mais nebuloso. Essas diferenças básicas criam dois excelentes jogos completamente diferentes e que merecem ser elogiados por suas características únicas.
O final do episódio também gera muita controvérsia. Muitos acharam simplesmente genial, outros ficaram surpresos e outros odiaram. Eu fico no primeiro grupo. Achei que o último suspiro retrata bem o que vivemos durante toda a aventura: sempre existe algo que não sabemos. São vários panos de fundo que ainda não foram explorados e que precisam de uma segunda (ou terceira) temporadas para que isso aconteça, e o final se encaixa muito bem aí. “Esses lábios estão selados.” Pode parecer algo simples, mas que carrega uma carga semântica tão forte, que de certa maneira explica grande parte do que está acontecendo por toda a Fabletown. Existe muito a ser contado, mas pouco pode ser dito.
E assim se encerra a excelente primeira temporada de The Wolf Among Us, e mesmo que não tenha tido um reconhecimento tão grande quanto The Walking Dead, não deixa de ser magnífica. Mesmo com alguns problemas, é necessário enxergar a grandiosidade da trama e de seus personagens. Acho que são necessários alguns movimentos na indústria para conhecer novos mundos e explorar diferentes abordagens. Acho que a Telltale está no caminho certo e espero muito que Tales of the Borderlands e Game of Thrones sejam tão bons assim.
Veredito
The Wolf Among Us se encerra de maneira excelente. Todos os personagens são explorados e existe muito a descobrir. Mesmo que existam alguns problemas que persistem, não há como negar a grandiosidade do jogo. As qualidades são tantas que os poucos defeitos perdem força. Um dos meus jogos favoritos do ano e espero ansiosamente que exista uma segunda temporada.
Jogo analisado com código fornecido pela Telltale Games.