Não é comum uma produção indie com gráficos que beiram o fotorrealismo. Desde a sua primeira imagem divulgada, The Vanishing of Ethan Carter surpreendeu por seus visuais belíssimos. Dez meses após o lançamento da versão PC, a versão PS4 chega ao mercado ainda mais impressionante, fruto da mudança da Unreal Engine 3 para a 4.
Mas o jogo não surpreende apenas nos seus gráficos. O monólogo introdutório é suficiente para cativar os jogadores interessados por uma boa história. The Vanishing of Ethan Carter é um adventure em primeira pessoa, protagonizado pelo detetive sobrenatural Paul Prospero. O jogo começa assim que Paul chega na remota e decadente região de Red Creek Valley, em busca de Ethan Carter – um garoto desaparecido de forma misteriosa.
Basta caminhar alguns poucos minutos para notar que se trata de um lugar obscuro e hostil. O fantástico também é característico do jogo: para desvendar o passado do local, seu personagem consegue recompor cenas de crime (ou de tragédias) por meio de visões sobrenaturais. Mas o trabalho de detetive não é tão fácil e o usuário do game precisa buscar por pistas e detalhes que possibilitem a criação de tal visão.
Boa parte do jogo exige exploração, mas puzzles também são parte integrante dos mistérios. Em determinados momentos, é preciso desvendar a ordem certa dos acontecimentos, após uma visão sobrenatural. Um exemplo disso é escolher a sequência correta das ações de uma dada pessoa ou determinar sua trajetória em um lugar. Ao extrair todos os rastros ou pistas em um espaço, um pedaço da história é revelado. Podem ser por meio de cutscenes em tempo real ou por meio de arquivos de texto deixados por Ethan.
The Vanishing of Ethan Carter conta com áreas vastas, no entanto, a exploração em locais importantes não se dispersa: itens e pistas sempre ficam próximos um do outro. Essa é uma decisão de design bem feita, visto que o jogo não dá pista alguma para o jogador. Quase tudo é intuitivo, bastando um pouco de dedicação para desvendar os mistérios de Red Creek Valley.
Por conta de um mapa relativamente grande, boa parte do espaço do game é “vazio”. A exploração por itens extras ou detalhes em áreas remotas é quase sempre em vão. Existe um imenso capricho no cenário, mas a interatividade neste é praticamente nula. Nesse sentido, algumas localidades talvez pudessem ser mais recheadas e melhor aproveitadas. Ainda que exista essa limitação interativa e esse vazio, isso não é um grande problema no jogo. O silêncio, a solidão e o posicionamento de elementos restritos a locais-chave são o que conferem seu design e atmosfera singulares.
Conforme dito anteriormente, o adventure é um espetáculo técnico. Não apenas por seus gráficos, mas também por um trabalho de ponta nos efeitos de aúdio e na sua trilha sonora orquestrada. As músicas de cada background são sutis, mas intensificam a natureza sombria e pesada do jogo. Os diversos efeitos sonoros que simulam os componentes de um ambiente são reproduzidos com fidelidade, desde detalhes como o som do vento balançando a vegetação ou o barulho da caminhada em superfícies variadas.
As florestas, casas, estradas e outros ambientes em Red Creek Valley foram construídos com uma grande riqueza de detalhes. Modelos poligonais, e, principalmente, a texturização são espantosamente boas – decorrentes da técnica de fotogrametria usada para replicar cenários e objetos de forma super realista. E não apenas isso, a iluminação, os efeitos de partícula, o draw distance, sombra, tudo é extremamente detalhado em um nível equivalente a jogos AAA recentes. Somente os modelos humanos que não preservam o mesmo grau de detalhes. Contudo releva-se facilmente tal problema, pois em grande parte do game há um efeito (filtro azulado) que esconde essa imperfeição nos personagens.
A jornada de Paul Prospero pode ser completada da primeira vez entre três a quatro horas. Nas seguintes, em menos de uma hora, mas não há incentivos para revisitar o jogo. Pode parecer pequeno demais, mas é razoável para o gênero e mais do que suficiente para dar um desfecho satisfatório para a história.
Apesar de ter um final previsível, o emocionante encerramento recompensa o investimento no jogo. Cabe ressaltar que o game não oferece uma experiência perfeita, pois existem diversos bugs que podem “quebrá-lo”. Ainda assim, são problemas que podem ser facilmente evitados ou recuperados com certa rapidez e não comprometem a qualidade do jogo.
Veredito
O primeiro jogo da The Astronauts carrega uma beleza incomum, especialmente quando comparado a outros projetos indies. Suas qualidades não ficam restritas aos aspectos audio-visuais: sua história e atmosfera são os fatores que justificam a experiência. No entanto, seu gameplay de interatividade limitada e ritmo lento (pejorativamente chamado de simulador de caminhada por alguns) é simples e pode desestimular os mais impacientes. Se este não for o seu caso, é um jogo que não deve ser ignorado. São poucos produtos interativos que oferecem uma narrativa tão bem feita e interessante quanto The Vanishing of Ethan Carter.
Jogo analisado com código fornecido pela The Astronauts.