Quando a Telltale Games e a Gearbox anunciaram Tales from the Borderlands, muitas pessoas não acreditaram que seria uma parceria que pudesse dar certo. No entanto, com o lançamento do primeiro episódio, percebemos que a verdade é outra. Todas as características que amamos na franquia Borderlands e nos jogos da empresa californiana estão presentes e muito bem adaptados. É quase um evento natural, e que teria de acontecer mais cedo ou mais tarde.
Fãs do shooter sabem que a história nunca foi uma parte tão importante da franquia. A própria publicidade do jogo gira em torno do famoso loot e da diversão garantida. No entanto, existe uma boa mitologia a ser explorada e pontas soltas a serem amarradas. A Telltale sabe muito bem farejar boas histórias, e vemos isso ser feito de maneira grandiosa e consciente logo no primeiro episódio.
Uma das perguntas mais frequentes em relação ao título é sobre a necessidade de conhecer os jogos – e a história – da franquia para poder aproveitá-lo. A resposta é não. O jogo possui uma boa introdução ao mundo de Pandora e fala sobre toda a questão envolvendo Hyperion, Vault Hunters e, é claro, Handsome Jack. A única nota que eu deixo é relacionada a spoilers para quem não conhece os jogos anteriores. Informações muito importantes são descritas logo no início e isso pode chatear alguns mais desavisados e que pretendem jogar a série depois.
A Telltale está desenvolvendo cada vez mais melhores maneiras de despertar o interesse do jogador por uma narrativa. Podemos comparar essa capacidade àquela geralmente encontrada em grandes romances, quando muitas vezes o fluxo narrativo é abandonado na primeira metade, aparecendo, então, certo personagem, que muda toda a história. Zer0 Sum é um episódio introdutório bastante satisfatório e já constroi situações curiosas e interessantes.
No jogo, controlamos dois personagens distintos. O primeiro é Rhys (dublado pelo impecável Troy Baker), que espera ser promovido para as mais altas patentes da Hyperion e que tem um semblante que me lembra, inconscientemente, Handsome Jack. Ele está sempre acompanhado pelo amigo Vaughn, que também é o cérebro da operação. A segunda personagem controlável é Fiona (com a voz da não menos impressionante Laura Bailey), que, ao contrário de Rhys, é mais enigmática. Vivendo com a irmã e o mentor Felix, ela foi treinada a vida toda para ser uma excelente “con artist”, termo que designa pessoas que usam de artimanhas diversas para conquistar a confiança dos outros e efetuar furtos e grandes golpes.
Os dois personagens são muito diferentes e ao mesmo tempo têm objetivo bem semelhante: serem ricos. Conforme a história avança, eles são ligados, por meio de flashbacks, e percebemos como o destino provocxou seu encontro. A jogabilidade dos dois possui características bem interessantes, como, por exemplo, Rhys ser capaz de escanear o local em busca de novos itens e informações adicionais. Fiona, por outro lado, possui dinheiro e suas abordagens podem ser bem diferentes. Logo no primeiro episódio existem algumas situações em que esse dinheiro pode fazer uma pequena diferença. Até o design do local onde aparecem as possíveis escolhas do personagem muda em relação aos dois. São esses pequenos detalhes que mostram o cuidado e compromisso da Telltale com o jogador.
Outra parte muito importante do jogo é o humor. É praticamente impossível passar cinco minutos sem sorrir. O carisma da série foi incorporado de maneira quase perfeita ao jogo. Mas isso já era de se esperar de uma empresa que tem Sam & Max no currículo. A ação é outra característica que foi adaptada de maneira bastante fiel. Durante as duas horas do primeiro episódio, nos deparamos com diversas cenas de explosões e tiroteios, e todas funcionaram muito bem.
O loot também foi empregado de maneira interessante e acredito que será mais amplo nos próximos episódios que serão, obviamente, menos introdutórios. Já as escolhas feitas pelo jogador são bem legais e distintas. Podemos escolher como gastar o dinheiro em algumas situações, como programar seu robô de defesa, qual caminho escolher e como proceder. As escolhas são várias e logo no primeiro capítulo vi algumas feitas no início interferindo no final. Imagino que as consequências se arrastaram por um longo caminho.
Podemos afirmar, portanto, que Tales from the Borderlands é uma das experiências mais bem sucedidas da Telltale. São cenas emocionantes, muito bem construídas e bem atuadas. Todos os aspectos técnicos são favoráveis, o estilo de jogo continua único e até as travadas melhoraram em relação aos jogos anteriores. Mas nem tudo está melhor: como sempre, os loadings demoram e existem aquelas ocasionais quedas de framerate, mas pelo menos não atrapalharam tanto como em The Wolf Among Us, por exemplo. O jogo tem tudo para se tornar um dos melhores da empresa e atrair grandes parcerias para o futuro. O final é outro ponto alto, que me deixou bastante curioso e ansioso pelo próximo capítulo.
Veredito
A Telltale acerta mais uma vez e Tales from the Borderlands é um dos seus melhores jogos até agora. A mistura da série com o estilo único da empresa criou uma das experiências mais memoráveis do ano. Acredito que seja apenas uma singela demonstração do que ainda está por vir. Zer0 Sum é um episódio obrigatório para quem é fã da série, da empresa ou do gênero. Parabéns, Telltale, por criar mais uma obra-prima.
Jogo analisado com código fornecido pela Telltale Games.