Stories: A Path of Destinies é o jogo desenvolvido pelo estúdio independente canadense Spearhead Games e conta a história de Reynardo, a Raposa, um infame corsário que, fugindo de uma vida de compromissos e problemas, vive bebendo e navegando com sua airship por ilhas flutuantes afora. Mas após um acidente tentando resgatar um garoto de ser pego pelos guardas do Império, acaba se vendo no meio de uma trama envolvendo o tirano Imperador e seus soldados Corvos contra os membros da Rebelião, que almejam tirá-lo do poder. Acima de tudo, Reynardo terá que sair da história com vida e salvar o mundo para completar sua jornada. Um destino difícil e cheio de obstáculos o aguarda e é o jogador que terá que decidir quais escolhas serão tomadas por Reynardo para que isso aconteça.
Stories traz consigo uma proposta interessante que tenta inovar no jeito de contar uma história no gênero Action-RPG. Com toques de hack-and-slash e uma visão isométrica, o jogador passará pelas telas do jogo fatiando Corvos imperiais e encontrando tesouros e upgrades para as armas. Ao final de cada fase, terá que escolher o destino de seu personagem diante de certas opções impostas pelo jogo. Você quer vê-lo tomar o império com uma arma milenar poderosíssima capaz de destruir metade do planeta? Ou ainda tentar capturar a filha feiticeira do imperador e fazê-la se voltar contra seu próprio pai? As opções são variadas e o tempo é curto para Reynardo e seus amigos.
O principal objetivo da mecânica narrativa é tentar revelar todos os quatro mistérios da história, revivendo múltiplas vezes os mesmos eventos e selecionando diferentes destinos para que Reynardo descubra os segredos por trás de certos personagens e momentos chaves. O universo e a história do jogo se baseiam no clássico esquema da chamada do herói para a aventura, em um mundo com personagens antropomórficos como raposas, coelhos, corvos e sapos que vivem em ilhas que flutuam no céu límpido e azul. Pense em uma fábula misturada com a trama do filme Feitiço do Tempo.
O jogador terá em cinco capítulos a missão de resolver a história, reunindo a experiência dos destinos anteriores até revelar todos seus segredos e concluí-la da melhor forma possível. No desenrolar do game, dicas de quais caminhos a serem percorridos para chegar a certos finais são dadas ao jogador, que pode ou não segui-las. Ao final de cada jornada, o jogo apresenta todos os possíveis finais e quais mistérios faltam para serem resolvidos em uma espécie de tabuleiro, mostrando que tipo de herói você se tornou na última passagem.
A história é contada através de um narrador, que a lê como um livro interativo, dublando todos os personagens e dando vozes e personalidades para cada um. Isso, porém, acaba sendo um obstáculo para a caracterização de alguns personagens e pode incomodar em alguns momentos por não ser condizente e expressivo o suficiente. O lado positivo da narração é que ela quase nunca se repete e o bom humor funciona na maioria das vezes. Comentários do narrador diante de certas ações mundanas, como quebrar caixas e abrir portas surpreendem por quase nunca serem as mesmas conseguem fugir da mesmice das repetitivas mecânicas.
Falando em mecânicas, é talvez onde o jogo provavelmente mais falha pela simplicidade e repetição. Com a natureza de se retornar múltiplas vezes nos cenários, espera-se um pouco mais de cuidado para que a experiência não se torne maçante para o jogador, o que não é exatamente o caso. Você terá que percorrer múltiplas vezes os mesmos locais e concluí-los para poder escolher outras opções no destino de Reynardo, o que acaba cansando a longo prazo em sua experiência. Há sim caminhos secretos e baús escondidos nas fases, que apenas poderão ser acessados depois de alguns retornos, desbloqueando-os através de novas espadas que destravam portões antes inacessíveis, mas que ainda não são o suficiente para o percurso não se tornar repetitivo e entediante até o jogador concluir toda a jornada. O jogo se beneficiaria de um sistema de cenários gerados aleatoriamente ou algo similar para a que a experiência não se tornasse exaustiva.
A mecânica de combate, embora simples, é eficiente e fluida. Apertando o comando de atacar e controlando a direção com o analógico, o jogador pode impedir qualquer ataque de qualquer lado apenas movendo o direcional para aonde o inimigo se encontra. O sistema preza pelo timing e reflexo do jogador, com diferentes animações de ataques e finalizações. Junte a isso um sistema de upgrade de habilidades e espadas, que oferecem atributos como fogo e gelo para derrotar inimigos mais facilmente com boa resposta nos controles, e o combate se torna agradável pela facilidade. Mesmo passando pelos mesmos cenários e não tendo um chefão de fase ou um desafio singular, novos tipos de inimigos vão surgindo e o combate vai se tornando mais complexo e cativante com o passar do tempo.
O visual do game é um dos destaques por ser bem diversificado. Se utilizando da Unreal Engine 4, que cria efeitos de luz e partículas muito bonitos e distintos, é realçada a diversidade dos cenários e ambientes atravessados, como vilarejos, florestas tropicais, desertos e cavernas cobertas de brilhantes cristais. Um dos detalhes visuais que mais impressionam é o draw distance dos cenários, que possibilitam enxergar toda a área percorrida verticalmente através da perspectiva isométrica do jogo. Mas por ser um espetáculo visual e mostrar o máximo de cores e efeitos simultaneamente, chega a ser difícil de acompanhar o personagem em partes avançadas do combate, devido a tantas pirotecnias e efeitos que seus ataques produzem na tela.
Outras falhas técnicas ficam na questão do polimento de alguns locais, com bugs que bloqueiam o personagem de se movimentar, fazendo o jogador reiniciar o capítulo inteiro, às vezes ocorrendo depois de quebrar um jarro pelo cenário ou passar por cima de algum local mal programado. E há quedas de framerate consideráveis quando há muitos inimigos em tela.
O jogo dura de 6 a 7 horas, dependendo das escolhas feitas para revelar os segredos da trama. Com uma boa tradução que não descaracteriza as piadas feitas no roteiro, a adaptação em PT-BR consegue ser consistente e não apresenta erros graves. Depois de finalizada a jornada, o jogador poderá desbloquear outros finais escolhendo rotas diferentes nos capítulos, porém, devido à já excessiva ida e volta nos cenários, dificilmente você terá vontade de retornar pela milésima vez apenas para assistir um novo diálogo engraçado ou cutscene.
Veredito
Com uma proposta de narrativa interessante que infelizmente não condiz com a repetição no design e nas mecânicas, Stories: The Path of Destinies é um jogo com uma boa ideia que poderia ter sido mais bem utilizada na prática. Apesar de tais falhas, o belo visual, bom-humor e o clima aventuresco dão a jornada um tom leve e colorido que cativa suficientemente o jogador para completar a jornada de Reynardo. Além de ter um sistema de combate simples e consistente que funciona de forma bem fluída e acessível. Há diversão descompromissada e doses de fantasia para quem deseja mergulhar em um livro de fantasia interativo.
Jogo analisado com o código fornecido pela desenvolvedora.