[PSN] SteamWorld Dig

SteamWorld Dig é um jogo curioso. Seu conceito é extraordinariamente simples e banal, mas os detalhes de sua execução fazem dele algo bastante apreciável. O primeiro momento em que isso se verifica é na história: você controla o robô Rusty, que surge na pequena cidade onde morava seu tio, o qual morre logo antes do protagonista chegar. Rusty, então, herda as minas de seu tio e o objetivo do jogo é explorá-las.

Esse conceito simples está envolto em um projeto estético bastante inusitado, que mistura uma ambientação de faroeste (o subtítulo do jogo é A fistful of dirt, uma clara referência ao filme A fistful of dollars, com Clint Eastwood) e robôs. Os habitantes da cidade são todos robôs bastante coloridos e cada um se distingue do outro dentro dos estereótipos visuais que representam: de início, temos a matrona dona do saloon, a menina aventureira e o velho um tanto resmungão. Essas ferramentas visuais ajudam a criar no jogador um entendimento visual imediato do mundo em que se passa o jogo e, assim, ele pode ir direto à ação.

SteamWorld Dig se identifica como sendo um jogo de aventura e plataforma de mineração. É algo difícil de entender só com esses termos, mas na prática é tudo muito simples: você começa no nível mais básico da mina, logo abaixo da cidade, e possui apenas uma picareta. Seu trabalho, a princípio, é escavar e procurar riquezas. Existem diversos tipos de solo para escavar: uns demandam mais golpes de picareta, outros exigem ferramentas mais complexas, e alguns são simplesmente inquebráveis. Levando em consideração o tipo de solo, o jogador pode explorar livremente, mas existe um limite de tempo, representado pela duração da sua lanterna, que permite ver os outros pedaços de solo à sua volta. Você até pode continuar mesmo depois do combustível da lanterna acabar, mas vai ser difícil enxergar qualquer coisa. Para recuperar o combustível, você precisa voltar para a cidade.

Cavar pode parecer uma atividade banal, porém em SteamWorld Dig ela ganha um status muito interessante. Pequenos tesouros estão escondidos por todo o cenário, e o caminho para obtê-los depende quase que exclusivamente do jogador. São as escolhas feitas por ele durante a mineração que determinam o caminho percorrido e os tesouros coletados.

Nesse sentido, o elemento de plataforma de SteamWorld Dig é bastante inovador. Primeiro, porque funciona num eixo vertical de cima para baixo, contrariando os modelos estabelecidos do 2D, que geralmente envolvem o eixo horizontal (notadamente da esquerda para a direita) ou então o vertical de baixo para cima; segundo, porque o caminho é determinado, em grande parte, pelo jogador. É claro que o design do cenário é de autoria dos desenvolvedores, e isso fica óbvio nos usos dos diversos tipos de solos, por exemplo, mas, ainda assim, a margem de liberdade dada ao jogador é bem grande e o tempo todo existe a sensação de que se está trilhando um caminho próprio, e não aquilo que foi planejado por outra pessoa.

Rusty pode carregar um número limitado de itens – o que, na verdade, é bastante restrito no começo do jogo. Com isso, o jogador tem duas escolhas: pode voltar à cidade ou descartar algum minério coletado, selecionando-o com a tela de toque do Vita. O jogo deixa bem claro o quanto vale o minério selecionado, de modo que o jogador tome sua decisão conscientemente. De qualquer forma, seja pelo excesso de minério, seja pela escassez de combustível da lanterna, será necessário voltar à cidade, o que quer dizer escalar pelo caminho escavado. O mapa, que fica à direita na tela, faz um bom trabalho em guiar o jogador pelo caminho. Posteriormente, também vão surgindo atalhos para voltar à superfície. Além disso, depois de algum tempo, o próprio jogador vai poder colocar esses atalhos onde for mais conveniente.

Ao chegar à cidade, Rusty entrega os minérios coletados, ganhando dinheiro, o que significa desbloquear itens e upgrades e poder comprá-los. Com isso, o personagem ganha os meios de evoluir suas habilidade num ritmo mais ou menos semelhante ao da progressão da dificuldade do cenário, que vai oferecendo tipos de solo e inimigos mais complicados conforme o jogador se desenvolve.

Continuar a escavação até o ponto mais profundo, entretanto, não é o foco de SteamWorld Dig. No momento em que o jogador já vendeu os minérios e volta à mina, o ideal não é ele retomar do ponto mais profundo da escavação, de onde ele saiu há pouco, mas sim ir para o lado oposto do mapa, e buscar um caminho diferente, onde ele poderá encontrar mais tesouros. A falta de guia sobre a localização dos minérios age de forma poderosa ao dar ao jogador a sensação de que cada descoberta é fruto de sua habilidade, e faz do ato de cavar um vício, talvez mais interessante do que os pontos-chave que desbloqueiam o andamento da história.

Esses pontos são as cavernas. Conforme explora, Rusty chega até algumas cavernas, que agem mais como puzzles horizontais (embora ainda com elementos verticais) e consistem em encontrar o caminho adequado para chegar até uma máquina que dá uma nova habilidade ao protagonista: ganhar uma broca, poder correr mais, poder usar um pulo duplo, etc. Alguns desses upgrades exigem também o uso de vapor como combustível, o que demanda do jogador saber administrar sua barra de água, essencial para chegar a certas áreas.

As cavernas são momentos pontuais do jogo e focam mais na habilidade do jogador do que no planejamento. Há mais inimigos e trechos perigosos nelas, requerendo quase um posicionamento diferente do jogador enquanto passa por elas. Como são mais objetivas e apresentam uma meta clara, elas não têm o andamento tranquilo e pessoal das escavações e, por isso, não viciam tanto. De um total de seis horas de jogo, talvez eu tenha passado apenas meia hora nelas.

De fato, o grande prazer de SteamWorld Dig está na exploração do solo das minas, na recompensa em dinheiro e nos upgrades para continuar essa exploração. Para deixar a mineração ainda mais interessante, o cenário sabe variar muito bem, com três fases distintas. Todas são muito belas na tela do Vita e dotadas de interesse e peculiaridades que precisam ser dominadas para alcançar todos os tesouros. É preciso atentar também para os inimigos, que são bem resistentes e oferecem um desafio bastante significativo em determinados momentos, talvez até grande demais para o andamento tranquilo do jogo. Caso Rusty fique sem vida, o tesouro que ele detinha na hora da derrota fica no ponto onde o inimigo o derrotou. Assim, o jogador tem a chance de coletá-lo novamente.

A grande questão que paira sobre SteamWorld Dig e que decidirá se uma pessoa gostará ou não da experiência é como ela vai se relacionar com a prática da mineração: o jogo pode parecer ser só cavar e nada mais, porém, se esse andamento mais livre e pessoal agradar ao jogador, cavar se torna uma experiência diferente, uma aventura por puzzles cuja recompensa é ser capaz de adquirir tudo que for possível. Seu foco, portanto, está no processo, no intervalo entre um ponto importante e outro.

Veredito

SteamWorld Dig é uma experiência muito agradável e bastante recompensadora para quem gostar de jogos com andamento tranquilo e pequenas recompensas. Seus puzzles são divertidos, mas seu valor está na busca de tesouros pelo cenário durante a escavação, algo que exige paciência e planejamento. E vicia rapidamente.

Jogo analisado com código fornecido pela Image & Form.

Veredito

90

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