Na época em que comprei meu PS3, um jogo chamado Brütal Legend me chamou a atenção, não pelo jogo em si, mas sim por ser protagonizado por Jack Black. Tive uma agradável surpresa ao jogá-lo e ver como ele era divertido e conseguia misturar Heavy Metal, personagens cartunescos e humor de forma cativante. Foi assim que conheci a Double Fine.
De forma similar, quis experimentar Psychonauts in the Rhombus of Ruin não pelo jogo em si, mas sim para expandir meu catálogo de títulos para o PSVR. Novamente, tive uma agradável surpresa com um jogo divertido, bem desenvolvido e de um título até então desconhecido por mim. Novamente, a Double Fine me cativou, mais especificamente um cara chamado Tim Schafer.
Psychonauts é um jogo de plataforma desenvolvido pela Double Fine Productions e lançado em 2005. Confesso que, infelizmente, não o conhecia, mas pelo que pude experimentar de Rhombus of Ruin e de outros jogos de Tim Schafer que tive contato até então (Grim Fandango e Broken Age), ele é mais um título criativo que conta com uma narrativa forte e bem desenvolvida, personagens cativantes e diálogos cheios de humor, acompanhados por um ótimo trabalho de dublagem (a mesma do Psychonauts original).
RoR, jogo exclusivo para PSVR, foi feito para agradar tanto aos fãs antigos quanto aos novatos na franquia. Mesmo assim, vale apontar que ele é uma sequência direta do primeiro jogo e, por isso, vou tentar fazer um pequeno resumo da história até então. Vale o aviso: pequenos spoilers (de 12 anos atrás) nos próximos três parágrafos.
O protagonista chama Razputin, ou simplesmente Raz, uma criança/adolescente dotada de poderes psíquicos. Ele (foge de casa) vai para um acampamento de verão destinado a outras crianças como ele, e tem o objetivo de se tornar um Psychonaut, um agente secreto/espião com poderes psíquicos.
Como toda boa história clichê de videogames, algumas coisas saem do controle no acampamento e Raz se vê em uma trama para salvar o mundo das mãos de um vilão. No final do primeiro jogo, Raz de fato livra o mundo de mais um mal e, por causa disso, atinge seu objetivo de se tornar um Psychonaut.
O primeiro jogo termina com um cliffhanger que se resolve agora em RoR, 12 anos depois… No final do jogo, Truman Zanotto, chefe dos Psychonauts, é sequestrado. Por uma grande coincidência, Truman Zanotto também é o pai de Lili, a namoradinha de Raz. O garoto parte então com Lili e outros Psychonauts (seus tutores no acampamento) para resgatar o chefe/sogro.
Rhombus of Ruin tem então início com Raz e seu grupo em uma espaçonave procurando por pistas de Truman Zanotto, o que os leva até as Rhombus of Ruin, uma espécie de Triângulo das Bermudas. Como é de se esperar, as coisas não saem como planejado e grupo acaba sequestrado e separado. Para piorar, a região possui uma alta concentração de Psilirium, um mineral que afeta os poderes psíquicos. Cabe então a Raz agora resgatar não apenas Truman Zanotto, mas todo seu grupo e encontrar uma forma de escapar.
Diferente do primeiro Psychonaut, RoR se encontra no gênero de adventure point-and-click, algo que se encaixa com perfeição na realidade virtual. Você controla Raz em primeira pessoa e, ao invés de um cursor, são os movimentos da sua cabeça os responsáveis por apontar para objetos e personagens passíveis de alguma interação, em cenários exploráveis para qualquer direção que você olhe.
O jogo é baseado na resolução de pequenos puzzles para se avançar na história. Por sorte, eles não são tão complicados nem exigem ideias mirabolantes para serem resolvidos. Todos envolvem a exploração do cenário e utilização dos poderes psíquicos de Raz, dentre os quais telecinese (levitar objetos) e pirocinese (atear fogo).
Outro poder psíquico de Raz, clarividência, resolve de maneira criativa a não movimentação do personagem. Raz se encontra preso durante todo o jogo, porém, por meio da clarividência, ele consegue se teleportar para a mente de outros indivíduos, e da mente deles para outros, desse modo você “caminha” pelos cenários do jogo. Isso, além de se encaixar na narrativa, ameniza o incômodo problema de cinetose (enjôo por movimento).
O jogo faz um ótimo uso do PSVR e mostra como o gênero point-and-click tem um alto potencial na plataforma (alô, Telltale!). A possibilidade de se explorar minuciosamente o cenário e interagir com objetos ganha mais imersão em realidade virtual. As cenas também são bem feitas para o jogador se sentir parte da história, isso somado a gráficos muito bonitos em uma escala gigante e boa performance, tornando a experiência uma das mais agradáveis que tive até agora em RV.
Uma das coisas que não se encaixam bem são as legendas. Como você está imerso no mundo do jogo, as coisas não se passam somente à sua frente. Ações e diálogos acontecem ao seu redor, e você é obrigado a virar em alguns momentos. As legendas tentam acompanhar seus movimentos, mas acabam se perdendo e muitas vezes são colocadas em posições ruins ou obstruídas por objetos do cenário. Além disso, o jogo, infelizmente, não está localizado para PT-BR, algo bem chato, visto que seu visual cartunesco e divertido apela para um público mais jovem.
Minha outra crítica é a mesma para tantos outros jogos nesse início de vida do PSVR: o jogo é uma experiência curta de 3 horas. Por ser um adventure baseado na resolução de puzzles, há pouco espaço para replays. O valor cobrado, 20 dólares, para mim é um tanto alto e provavelmente irá desestimular alguns jogadores. Mesmo assim, para aqueles interessados, podem comprar sem medo que a diversão e boas doses de bom humor estão garantidas (além do que, Rhombus of Ruin é um aperitivo para Psychonauts 2, previsto para ser lançado em 2018).
Veredito
Psychonauts in the Rhombus of Ruin traz de volta uma franquia que terminou em um cliffhanger há 12 anos atrás. Sendo uma sequência direta de Psychonauts (porém, possível de se acompanhar sem ter jogado o primeiro), a história segue Raz e seu grupo no resgate de Truman Zanotto, chefe dos Psychonauts. Exclusivo para PSVR, o jogo se encaixa no gênero de adventure point-and-click, baseado na resolução de puzzles, e mostra como tal gênero tem alto potencial para ser explorado em realidade virtual. Apesar da curta duração, a experiência é agradável e traz mais uma história divertida saída da mente criativa de Tim Schafer, além de preparar o terreno para Psychonauts 2, a ser lançado para PC e consoles em 2018.
Jogo analisado com código fornecido pela desenvolvedora.