Em anos recentes, temos visto um crescimento constante no volume de jogos focados em storytelling. Desde os jogos da Quantic Dream até os recentes sucessos da Telltale, passando por jogos independentes como Gone Home, deixar um pouco de lado o gameplay em favor da história tem sido a cartada de vários desenvolvedores para se destacar em um mercado cada vez mais convoluto. Parece ter sido com essa proposta em mente que a DONTNOD concebeu Life is Strange.
Lançado no dia 30 de janeiro para PlayStation 3 e PlayStation 4, custando $4,99/R$10,99, Life is Strange: Episode 01 – Chrysalis, é mais um jogo episódico, publicado pela Square Enix, e focado na história e no desenvolvimento dos seus personagens. O primeiro episódio tem uma função muito bem definida: apresentar o jogador ao mundo daquele jogo, já que, por se tratar de uma franquia totalmente nova, ele não se beneficia de um universo já conhecido como os jogos lançados pela Telltale até aqui. Coloca-se o jogador na pele de Maxine Caulfield, uma jovem que retorna a sua terra natal após cinco anos estudando em Seattle. Ela vai cursar Fotografia na Universidade local, aonde reencontra algumas figuras do seu passado, hoje completamente diferentes das imagens que ela tinha em sua memória.
Memórias que, se não possuem o mesmo peso do jogo anterior da DONTNOD (o razoável Remember Me), ainda possuem certo peso na narrativa de Life is Strange. Logo no começo do jogo, Max descobre que é capaz de voltar no tempo e alterar eventos, para melhor ou pior. As mecânicas dessas mudanças não são tão dinâmicas quanto entrar nas memórias das pessoas e alterar suas lembranças, como era em Remember Me, mas os resultados são mais interessantes e colocam o jogador em algumas posições que muitos já se imaginaram: e se eu pudesse voltar no tempo e mudar aquela conversa? Ou tomar uma decisão, ver seu resultado e alterá-la, caso as coisas não saiam como eu quero?
Os puzzles do jogo, que são poucos, são bem simplórios, mas o seu principal apelo são as características conhecidas do jogador. Life is Strange nos coloca em uma posição que a maioria já esteve: um ambiente escolar/universitário, cheio de dinâmicas sociais complicadas. Por mais que a caracterização de alguns personagens pareça bem clichê à primeira vista, há espaço para que isso mude nos próximos episódios. O que tira o jogo um pouco desse ar “comum” é o mistério por trás do mesmo: Max descobre que uma estudante chamada Rachel Amber desapareceu e, munida de sua nova habilidade, decide investigar o ocorrido junto com sua antiga melhor amiga (e hoje adolescente rebelde) Chloe Price. O jogo tem algumas surpresas, já que algumas decisões, mesmo quando levemente exploradas e alteradas pelo jogador, podem ter resultados bem diferentes do esperado na história.
Max, independente de qual seja a decisão final do jogador, mantém qualquer informação e item que ela possa ter obtido ao longo dos diferentes diálogos com um mesmo personagem em uma mesma situação, o que acaba pesando no desenrolar do jogo e pode vir a ter influências em decisões nos episódios posteriores. Por ser o primeiro episódio, não há grandes twists nessas mecânicas, mas a desenvolvedora promete que veremos evoluções aos longos dos episódios, à medida que Max ganha maior controle sobre seus poderes. A história parece ter grandes influências do filme “Efeito Borboleta”, então talvez mais dos efeitos que essa “viagem no tempo” tem no filme podem vir a serem transpostas para Life is Strange.
O jogo parece tecnicamente afiado, sem quedas de frames, com um visual caprichado e uma trilha sonora charmosa, que combina bem com a ambientação do jogo. O roteiro ainda precisa ser um pouco mais afiado, o que acaba sendo um ponto negativo para um jogo que, por sua proposta, coloca todo o peso do seu sucesso nele. Há uma certa indecisão sobre qual o principal foco da trama, o que pode ser relevado dado que se trata do primeiro episódio, uma introdução a esse universo.
O primeiro episódio é uma boa introdução ao mundo de Life is Strange e ao que a DONTNOD se propõe a fazer com ele, com algumas boas ideias e dialógos bem elaborados que, se às vezes deixam a desejar, merecem ainda um voto de confiança, uma vez que algumas das tramas do primeiro episódio têm muito potencial. Colocar o jogador em uma situação relativamente familiar, com mecânicas novas e que podem vir a ter melhores resultados com o desenrolar dos episódios foi uma boa sacada.
Veredito
Life is Strange começa bem, com boas ideias que apresentam grande potencial em seu primeiro episódio. O roteiro ainda apresenta alguns problemas, mas a ambientação e o acréscimo de ficção científica mantêm a ideia do jogo fresca, valendo a pena ser conferido.
Jogo analisado com código fornecido pela Square Enix.