A mitologia nórdica, ao contrário de outras como a grega e japonesa, nunca foi muito explorada no mundo dos games e na cultura pop em geral. De louvores à Valhalla em mundos pós-apocalípticos a até super-heróis de capa munidos de um Mjolnir, há sim exemplos de alguns elementos da cultura germânica, mas poucas obras entram de cabeça no reino de Odin e Cia.
Um desses raros casos se encontra em Jotun, game desenvolvido pelo estúdio independente Thunder Lotus Games e desenvolvido através da campanha bem sucedida de financiamento coletivo no Kickstarter, arrecadando mais de $64.000. O game finalmente chega aos consoles na versão Valhalla Edition, que acrescenta um modo no estilo boss rush, em que o jogador deve enfrentar os Jotun em sequência.
O jogo conta a história de uma jovem viking que chega ao reino dos deuses após perecer em trágico evento. Necessitando impressioná-los para alcançar o reino de Valhalla, ela deve enfrentar os tais Jotun: seres com poderes sobrenaturais que se opõem aos deuses e se encontram em vários locais do reino nórdico, escondidos em montanhas e cavernas escuras. Superando desafios e feridas de seu passado, não será uma tarefa simples e muito menos fácil.
Com uma visão isométrica, o jogador percorrerá diversos locais das lendas nórdicas para coletar runas e abrir os portões dos locais onde os gigantes estão. O combate e gameplay são bem simples. Um botão de ataque forte e com um timing prolongado e outro mais rápido e que oferece menos dano, com o X para esquivar dos ataques inimigos.
Cada uma das cinco áreas principais acessadas no Vácuo Ginnungagap, o HUB do jogo, dão destaque a um tipo de clima e geografia: neve, florestas, vulcões, montanhas e o estrelado e tempestuoso céu, sendo extremamente variado tematicamente e em seu level design. Em cada fase há melhorias para a personagem, como maçãs de Ithunn, que concedem um upgrade na sua barra de vida, e as magias oferecidas pelos deuses. Esses poderes especiais são adquiridos em estátuas dos diferentes deuses nórdicos que concedem tais dons, no mesmo estilo de jogos como God of War.
Cada poder traz a assinatura de um ser divino, como Loki, que oferece uma habilidade de ilusão que distrai os inimigos temporariamente, ou Thor, que concede um martelo de energia forte o suficiente para esmagar os inimigos próximos. Cada poder fica limitado pelo estoque que você carrega, que é recarregado em fontes de restauração de energia chamados “Poço sagrado de Mimir”. Eles podem ou não ser adquiridos, já que as tais estátuas se localizam em partes de difícil acesso no mapa do jogo, o que nos leva ao nível de dificuldade do game.
Aliado com as proporções épicas dos monstros, o jogo oferece uma dificuldade que está à altura desses gigantes. Nos confrontos com os Jotun – certamente os eventos mais memoráveis da experiência do jogo – o que dita é o quão rápido você memoriza os padrões de ataque dos inimigos. Por serem gigantes, seus ataques são lentos e pesados, mas não menos eficientes, tirando boa parte de sua vida se recebidos em cheio. Geralmente, dá para se utilizar da sombra do próximo ataque deles para saber a área que será atingida, dando tempo de reação para o jogador e assim não se tornando uma dificuldade gratuita ou impiedosa.
Fora isso, há diferentes desafios propostos nas fases intermediárias. Deslizar nas raízes certas da Yggdrasil ou enfrentar um exército de anões nas cavernas de Forja de Brokkr oferece boa variedade no trajeto. Fora isso, o jogo também incentiva eliminar os gigantes com diversas táticas e requisitos, como acabar com eles sem nenhum upgrade ou encontrar todos os upgrades nos mapas. Na edição para PS4 há um novo modo chamado Valhalla Mode, no qual o jogador deverá enfrentar consecutivamente todos os Jotun encontrados no modo história, sendo certamente um desafio extra para aqueles que já experimentaram o game em outras plataformas.
Alguns sistemas do jogo pecam pela sua simplicidade. Ter um mapa estático no menu de pausa como fonte de sua localização é frustrante e pouco intuitivo, podendo ao menos indicar onde o personagem se localiza no mapa. Em alguns cenários, as plataformas são muito pequenas, dificultando a precisão quando o personagem deve ser propelido . E em outras situações as dimensões dos cenários acabam sobrepujando a própria protagonista, com a câmera se distanciando de tal forma que o jogador a perde de vista no meio da ação, no calor da batalha. Apesar disso, é ainda um gameplay simples e dinâmico o suficiente para a experiência cativar do início ao fim.
O jogo usa belos gráficos desenhados à mão em 2D na protagonista e em seus inimigos, com incrível detalhamento e fluidez nas animações. Os cenários, por outro lado, são mais estáticos e planos, mas não menos bonitos e fascinantes, com profundidade e escala usando magistralmente efeitos de paralaxe para acentuar a paisagem inóspita.
A jornada não só cativa pelos diferentes locais de Midgard, mas também se aprofunda na história da menina viking ao longo de cada chefe derrotado, explicando sobre seu passado e motivações de derrotar os gigantes, em uma narração em off. O jogo tem uma duração de 4 a 5 horas. Uma jornada curta, mas não menos interessante e fascinante para quem gosta de mitologia e quer conhecer um pouco mais sobre a nórdica.
Veredito
Jotun: Valhalla Edition é desafiador, lindo e simples. Apesar de tal simplicidade, é muito mais do que apenas enfrentar os gigantes chefões de fase do título. Ele proporciona uma viagem aos reinos de Odin, pelas áreas mais longínquas das terras nórdicas, em uma experiência sólida e interessante para quem é fã do gênero de ação em cenários 2D isométricos e procura um desafio e fator replay com o modo Boss Rush, incluso nessa edição para os consoles. Definitivamente uma experiência que impressionaria os habitantes de Valhalla.
Jogo analisado com o código fornecido pela desenvolvedora.