Grow Home game de plataforma em 3D feito pelo estúdio Ubisoft Reflections, famoso por anteriormente fazer jogos como Driver e Shadow of the Beast, conta a história de B.U.D. (Botanical Utility Droid), um robô explorador que está em missão de sua terra-natal para encontrar sementes de uma planta alienígena que poderá salvar seu planeta. Quem dá as ordens na jornada é M.O.M., uma inteligência artificial que orienta B.U.D. e, consequentemente, o jogador.
Diferente de muitos games por aí, o design de Grow Home prioriza a verticalidade. B.U.D. escala as superfícies do cenário com os botões R1/L1 ou R2/L2, que dão o controle individual de cada braço do robô. De pedaços de ilhas no céu até a mencionada planta alienígena, ele consegue se segurar em qualquer canto. O objetivo é alcançar o topo do planeta fazendo com que a enorme planta crie suas ramificações e cresça até a estratosfera, assim B.U.D. poderá levar a semente para sua nave-mãe e consequentemente salvar seu planeta.
A jogabilidade não é tão simples quanto parece. Os primeiros passos que se dá com B.U.D. podem ser desajeitados e imprecisos. Mover o personagem é uma tarefa complicada no começo, mas que com o passar do tempo vai sendo dominada pelo jogador. A frustração de cair e perder todo o progresso da escalada rumo ao topo dão ao jogador motivação para aprender os controles e manejar melhor seus movimentos.
O personagem pode explorar o planeta cadastrando animais, plantas e minérios ao levá-los aos checkpoints que serão desbloqueados. Alguns itens facilitam a travessia de B.U.D., como flores e folhas que podem ser pegas para o robozinho flutuar. Além de upgrades ao coletar 100 cristais espalhados pelo mapa, que dão a ele itens como um jetpack, que auxilia na hora de alcançar locais distantes. Com o pressionar do botão círculo, por três segundos, o jogador ativa a opção de se matar, reaparecendo no último checkpoint encontrado. Isso é útil em situações quando se cai em lugares íngremes ou distantes de qualquer local.
O sistema mais interessante, porém, fica para os Stars Shoots, em que B.U.D. tem controle das ramificações da planta alienígena até locais luminosos localizados em ilhas flutuantes, chamadas de Energy Rocks. Com o analógico, B.U.D. consegue direcionar as ramificações para qualquer direção, criando caminhos e atalhos para locais inacessíveis. Com a geografia do planeta consistindo basicamente de pequenas ilhas flutuantes no céu (como no filme Avatar, por exemplo), o jogo dá ilusão de liberdade em alcançar o objetivo, mesmo sendo uma tarefa bem simples e direta. A sensação de olhar o horizonte e ver todo o caminho já percorrido, com os galhos criados depois de horas explorando e progredindo é gratificante, vertiginosa e profunda.
Os gráficos coloridos usam o poder da engine Unity. Artisticamente lembrando muito as animações iniciais em 3D, como os primeiros filmes da Pixar, com todos os objetos e criaturas quadradonas e robóticas. O visual contribui não só para a experiência de imersão, mas também para a capacidade gráfica do game, que permite um longo draw distance , justificando a falta de detalhes em benefício da escala. A ausência de HUD na tela ajuda na imersão e deixa o visual limpo e direto. A experiência seria um pouco monótona se não fosse a mudança de dia e noite que oferece noção de tempo e ainda mais apelo visual pro jogo.
B.U.D. é um personagem extremamente carismático, com seu andar desajeitado e os bipes eletrônicos que faz a cada movimento – lembrando um pouco clássicos robôs da cultura pop, como R2-D2 e Wall-E. M.O.M., que se comunica através de mensagens de texto que oferecem dicas e informações pro jogador, lembra muito GLaDOS da série Portal: irônica, ácida, e às vezes dando a sensação de que quer ver o jogador morrer várias e várias vezes.
A trilha sonora, escassa e repetitiva, dá apenas uma ambientação para o mundo do jogo. O destaque fica para os carismáticos sons que B.U.D. faz e os roncos profundos e graves da planta. Sons úteis, como o tilintar dos diamantes brilhando na proximidade, auxiliam na procura sem necessitar de um mapa. Apesar disso, a falta de uma dublagem na personagem M.O.M. é sentida – daria muito mais personalidade ao personagem. Infelizmente não há dublagem nem tradução em PT-BR no game.
Alguns problemas técnicos aparecem com o passar do tempo, como a queda brusca de framerate à medida que se progride. Quanto mais elementos vão sendo adicionados no horizonte, mais lenta a taxa de quadros fica. Chegando ao destino final, espere uma visão linda, e ao mesmo tempo lenta. A câmera do jogo, especialmente em locais fechados, enlouquece e acaba atrapalhando na hora do pulo. Ajuda que, ao pressionar R3, a câmera se distancia e mostra uma visão panorâmica, mas isso contribui mais em locais abertos.
O jogo dura mais ou menos 2 horas para quem quer completar a experiência principal. Mas os jogadores mais hardcore terão algumas horas extras depois dos créditos, caso queiram explorar cada pedacinho do planeta, pegar todos os diamantes e conseguir as melhorias, roupas, etc. Para caçadores de troféus de plantão, tive problema em desbloqueá-los em alguns momentos – algo raro na geração PS4, mas que parece persistir – uma dica é reiniciar o jogo que o troféu eventualmente vai aparecer.
Veredito
Grow Home tem personalidade no visual simplista e atrai pela experiência grandiosa, recompensadora e leve. Mas falta-lhe um pouco mais de cuidado nos detalhes gráficos e em sua jogabilidade. Por remeter a jogos de plataforma 3D do começo dos anos 2000/final dos anos 90, gênero tão escasso nos últimos tempos, vale a pena para aqueles que estão com saudade desse tipo ou para os que apenas querem um jogo curto que traga uma experiência diferente dos grandes jogos AAA.
Jogo analisado com cópia digital adquirida na PlayStation Store americana