O termo “seu passado te condena” cabe muito bem para Extreme Exorcism. Desenvolvido pelo estúdio indie Golden Ruby Games, em parceria com a distribuidora Ripstone, é um game de arena/plataforma com uma premissa interessante: os jogadores têm como objetivo exorcizar fantasmas que agem de acordo com as ações das rodadas anteriores. Basicamente um Caça-Fantasmas do gênero, dominado e popularizado por jogos como Towerfall: Ascension e Samurai Gunn.
A essência do gameplay possibilita partidas divertidas e interessantes. Criar a I.A. do inimigo através das ações que o jogador teve nas últimas rodadas possibilita maneiras estratégicas de memorizar o que foi feito e procurar novas opções de exorcizar os fantasmas. Você pode “sabotar” o inimigo futuro, por exemplo, indo para um local especifico da tela, para que na outra rodada, as ações do fantasma fiquem restritas àquele local. Vale notar que depois de um tempo, o fantasma age “independente”, após repetir todas as ações anteriores.
O jogo tem três modos: Arcade, em que as fases são dividas no estilo dos clássicos como Castlevania e Ghouls 'n Ghosts, só que ao invés de castelos e masmorras, há cômodos de uma casa mal-assombrada. Do jardim até o sótão, há um total de 10 fases para serem desbloqueadas. Exorcizar um fantasma normal dá um ponto, exorcizar o fantasma coroado, que repete as ações da rodada passada, oferece 10 pontos e leva-o para a próxima rodada. Para desbloquear as telas, o jogador precisa fazer um mínimo de pontos por partida, sendo que esse número vai gradualmente aumentando com o decorrer das fases.
O modo Desafios, que consiste em partidas com diferentes objetivos, como derrotar 5 inimigos em 5 rodadas, passar de fase com apenas uma arma, etc, diverte e dá maneiras do jogo brincar com suas mecânicas. Pra finalizar, o modo multiplayer local, que suporta até 4 pessoas, chamado Deathmatch, é aonde talvez a maioria de quem compre vá gastar horas e horas jogando com os amigos. A estrutura do jogo faz dele um ótimo título para partidas multiplayer locais, porém, não há um componente online, se restringindo a apenas rankings dos placares de jogadores. É compreensível que esse tipo de game preze pela diversão local, mas não ter ao menos a possibilidade de se divertir online perde um pouco do potencial que ele carrega.
A variedade de armas é um dos destaques do game e dá o charme necessário. Quanto mais vai se jogando, mais armas vão sendo desbloqueadas, dando motivação para prosseguir nos modos do jogo. Com a possibilidade de se carregar até duas armas simultaneamente e um upgrade de movimento, como o dash, que mata fantasmas que estiverem no caminho, ou um super soco pra cima. De pistolas, arco-e-flechas, granadas de mão, bazookas, a variedade é grande. A arma mais eficiente, porém, são as asas de anjo, que possibilitam extinguir a existência de fantasmas que forem pegos no redemoinho que envolve o personagem, impossibilitando que ele volte nas próximas rodadas.
Mas não apenas isso, detalhes que as armas carregam possibilitam estratégias e diferentes abordagens. Algumas pistolas e metralhadoras, por exemplo, criam um recuo ao serem disparadas. A bazooka causa uma fumaça que ainda sim mata o fantasma que for pego. A flecha disparada por um arco fica presa na superfície, onde o jogador poderá usá-la como uma plataforma de disparos, etc.
Infelizmente, mesmo com esse preciosismo, o jogo peca por simplificar algumas mecânicas. Não poder disparar uma arma por vez, sendo que apertar o botão de ação no controle ativa todo o arsenal e habilidades que o jogador estiver usando, acaba sendo divertido visualmente ao ver o caos que se instaura com vários tiros, lasers e poderes disparados ao mesmo tempo, mas peca em não dar base para estratégias mais profundas de jogadores com mais experiência.
À primeira vista parecendo interessante e caprichado, o estilo do jogo não tem personalidade ou algo que o destaque dos demais títulos. Há certo desequilíbrio em algumas fases no esmero gráfico, com algumas telas sendo extremamente coloridas e bem animadas, como a Biblioteca, e outras extremamente simplórias e sem personalidade, como a do Cemitério. Isso também vale na parte da trilha sonora, com músicas bem produzidas, com as batidas 8-bits, mas que cansam e repetem após certo tempo.
Na seleção de personagens, há quatro avatares a serem escolhidos: Mae Barrons, Ace Blade, Mikoto Itako e Sylvia Barrons. Cada um com uma cor principal, o que facilita na visibilidade de cada um no multiplayer. Apesar dos nomes extravagantes, falta personalidade neles, com nenhum tipo de background ou movimentos que os diferencie. Fica difícil pro jogador simpatizar os personagens.
Há uma progressão de dificuldade ao longo das telas, mas o design das fases acaba por ser instável, com algumas tendo superfícies escorregadias, labaredas dificultando o caminho e obstáculos, tudo isso envolvido por um cenário bem produzido ("A Sacada" sendo um ótimo exemplo, com rajadas de vento que alternam frequentemente a direção e dificultam o deslocamento do personagem). Outras fases, entretanto, são pouco polidas e pobres de elementos.
Bugs e aleatoriedades na partida, seja pegar um item e ele se transformar em outro ou, ironicamente, conseguir se safar de um fantasma passando por ele sem que não se receba nenhum dano, impede o game de ter um âmbito mais estratégico como alguns de seus concorrentes.
As versões de PS3 e PS4 são idênticas, com nenhuma melhora gráfica no PS4. É cross-buy, mas não há como alternar saves entre as versões. Há tradução em PT-BR. A falta do jogo no Vita é sentida, já que cairia muito bem para um portátil, especialmente se fosse incluso um modo online.
Veredito
Extreme Exorcism é gostoso e divertido de se jogar. Alguns bugs de colisão, simplificação de mecânicas e gráficos simplórios deixam o título aquém de seus concorrentes. Porém, mesmo repetitiva a longo prazo, tem uma premissa que funciona tanto para uma noite descompromissada de multiplayer quanto sozinho.
Jogo analisado com cópia digital fornecida pela Ripstone