[PSN] Entwined

Entwined é um jogo com um conceito bastante curioso. Ele conta a história de duas criaturas – um peixe e um pássaro – que se amam, mas se encontram separados de alguma forma, e precisam progredir juntos para finalmente alcançarem a união que desejam. Ao fim da vida, eles reencarnam e a busca de ambos recomeça.

As implicações emocionais dessa premissa são mais ou menos óbvias. Batalhas infinitas em nome do amor, que se destacam pela força dos obstáculos a superar e pela nobreza da causa por que lutam os heróis, não são estranhas em narrativas da nossa cultura, podendo ser encontradas com certa frequência. A execução desse tema em Entwined, entretanto, se destaca por seu caráter minimalista e alegórico, que desperta imediatamente a lembrança de jogos como Journey e Flower. Entretanto, essa comparação, no fim das contas, acaba apequenando o jogo, que deixa claro seus pontos fracos ao ser comparado a jogos tão bem realizados.

Em Entwined, o jogador controla simultaneamente o pássaro e o peixe, que se movem adiante constantemente por um caminho infinito. O objetivo do jogo é coletar pequenos itens espalhados pelo caminho visando aumentar duas barras, cada uma representando a quantidade de itens coletada pelos animais individualmente. Esse medidor diminui, entretanto, se as criaturas não obedecerem ao caminho correto, que é passando pelos obstáculos representados por pequenos trechos de cores diferentes, cada cor representando um dos animais.

Por exemplo: no cenário, há uma barreira pintada 70% de laranja e 30% de azul. O peixe, que é laranja, deve passar pelo trecho de mesma cor; já o pássaro precisa atravessar o pedaço azul, que é a sua cor. Se algum erro for cometido, a barra do animal que fez o caminho errado é diminuída, resultando na necessidade de coletar mais itens.

É claro que esse desafio descrito é o mais simples, e são inúmeras as variações feitas a partir desse conceito, com direito a sequências de barreiras com cores em posições diferentes, trechos em laranja e azul que se movem ou mudam de tamanho, caminhos que exigem movimentos diferentes de cada animal, etc.

O importante nessa dinâmica e que precisa ser ressaltado é que o jogador controla as duas criaturas ao mesmo tempo, com cada uma respondendo aos movimentos de um dos analógicos, semelhante ao que havia sido feito em Brothers. E, como nesse jogo, o grande desafio técnico é prestar atenção, simultaneamente, nos dois seres controlados. Na verdade, em Entwined, esse desafio se torna muito maior: como os animais estão sempre em movimento, é preciso aliar precisão e velocidade, e fazer isso controlando dois indivíduos não é fácil.

Como foi mencionado, o caminho é infinito, impedindo um eventual fracasso do jogador. Só há progressão de fato quando se consegue preencher as barras de ambos os animais num mesmo momento. Nesse instante, pode-se ativar uma ligação entre ambos, que vai aumentando a cada obstáculo superado com perfeição; da mesma forma, errar a posição e o movimentos das criaturas nesses momentos resulta na separação gradativa deles, até a ligação se quebrar, o que exige voltar à dinâmica de coletar itens.

No momento em que a ligação chega ao máximo, o pássaro e o peixe se fundem e criam um dragão verde, que é levado até um cenário aberto, pacífico e belamente desenhado, em que ainda é preciso coletar itens, mas sem a urgência de antes. Quando um número suficiente destes é coletado, o dragão voa mais rápido pelo cenário, deixando uma trilha de cores pelo caminho. Ao final desse voo, um pequeno portal se abre e todo o processo recomeça em outra fase, chamada de outra vida.

Cada fase tem um tema diferente e um cenário específico, e eles têm o seu interesse e são mais ou menos fundamentais na criação da experiência do jogo, que busca uma beleza visual, como fica mais nítido nos momentos em que se controla o dragão. Entretanto, esse aspecto fica constantemente fora de foco por causa da jogabilidade de Entwined, que preconiza, como já dito, velocidade e precisão no controle simultâneo de dois seres diferentes. Dificilmente tiram-se os olhos do próximo desafio que já se avizinha, não havendo tempo hábil para contemplar um pouco a bela arte que povoa cada minuto do jogo.

As criaturas do jogo, belamente elaboradas como origamis, acabam sendo mais ou menos negligenciadas pelo próprio design das fases, que sempre as coloca de costas, impedindo o jogador de apreciar os detalhes. A única exceção a isso é o dragão, que não encontra obstáculos, mas que representa pequena parcela da experiência. Nesse sentido, faltou aos desenvolvedores pensar nas implicações de suas decisões de design. Se pensarmos no jogo em comparação com títulos como Flower e Journey, fica claro como a velocidade que Entwined imprime à sua jogabilidade compromete um efeito que os três jogos tentaram alcançar (a beleza visual como ferramenta para despertar um sentimento positivo no jogador).

O som cai na mesma armadilha. A trilha sonora de Entwined é suave e bela, buscando uma experiência tranquila, o que acaba criando um contraste com o fato de que se está numa pressa constante, especialmente nos últimos níveis, que apresentam obstáculos bastante complexos.

É inegável que os obstáculos e o domínio técnico exigido para superá-los simbolizam a dificuldade dos dois animais de finalmente se encontrarem e se unirem, o que mostra como esse aspecto é coerente com o conceito do jogo, como também é o ambiente belo e tranquilo que circunda a experiência. Em contrapartida, é igualmente inegável que a execução desses elementos se choca e priva o jogo do seu potencial expressivo maior.

Ao terminar Entwined, fica a sensação de que os desenvolvedores do jogo não se decidiram se ele deveria ser arcade – portanto, mais focado no desafio – ou conceitual, voltado para despertar um sentimento no jogador. Misturar gêneros não é problema, mas o resultado aqui parece simplesmente uma mistura heterogênea, que não forma um todo orgânico. Outra grande pista nesse sentido é que o jogo tem um modo história, que se passa pelas nove vidas e onde o jogo tenta exibir seu conceito, e um modo de desafio, cujo objetivo é passar pelo máximo de obstáculos com um número limitado de vidas, desbloqueando outras fases. Esse modo, como um bom arcade, apresenta contador de tempo e pontos, marcador da melhor pontuação e leaderboards com a pontuação dos seus amigos e dos melhores do mundo.

Jogo analisado com cópia adquirida na PlayStation Network brasileira.